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Tecnomoda: As Técnicas que Tecem e são Tecidas pela Moda
- Submissões: janeiro a julho de 2025
- Publicação: janeiro de 2026
Organizadoras
Ma. Bárbara Venturini Ábile (Unicamp)
http://lattes.cnpq.br/0425842724235734
Drª. Flávia Virgínia Santos Teixeira Lana (UFMG)
http://lattes.cnpq.br/1112017610768016
Drª. Luciana Nacif (UFMG)
http://lattes.cnpq.br/4177021252426683
A moda pode ser analisada na encruzilhada de diversas áreas de conhecimento, por exemplo, a partir da estética (que pensa o prazer estético, o estilo, o belo), da psicologia (que está ligada ao prestígio e à encenação da identidade pessoal), da economia (que se relaciona com a produção, o fluxo e o comércio de mercadorias), da semiologia e da antropologia (que se conecta com sistemas simbólicos de comunicação e com a expressão cultural), da política (através do poder que exerce sobre corpos, hábitos, imaginários) e da sociologia (a partir das dimensões entre produção e consumo deste bem simbólico, e suas interrelações). Uma chave de análise até então pouco explorada é a dimensão técnica da moda, que atravessa seu tecido nas mais variadas configurações.
Para o filósofo Vilém Flusser, entre arte e técnica não há diferença fundamental. Em grego, tanto arte como técnica são designadas por um mesmo vocábulo: tekné. Foi a partir da modernidade que o termo foi dividido em duas ações diferentes, pautadas pela “separação entre objetividade e subjetividade, na qual a ciência se tornou o lugar da objetividade e a arte [assim como a moda] passou a ocupar o pólo da subjetividade.” Mas hoje, diante das profundas transformações técnicas que afetam os mais variados setores, não podemos ignorar seus impactos sobre a forma como criamos, percebemos e consumimos moda.
Há todo um paradigma social, estético, subjetivo, econômico, comunicacional e político que se inscreve sobre as maneiras de se fazer, criar, produzir, pensar e vestir-se de moda. Tal paradigma nos aponta para um sistema complexo que passa pelo corpo, pelo vestuário, pelos dispositivos imagéticos, tecnológicos, pela indústria, pelas máquinas, pelo comércio e mais uma série de setores que ajudam a compor modos de produção, aparição e consumo de moda. No livro Sentidos da Moda, a autora Renata Pitombo Cidreira se propõe a pensar, junto ao pensador Marshall Sahlins, que "toda a produção é a realização de um esquema simbólico". Assim, toda indumentária reflete, em maior ou menor grau, uma estruturação simbólica de determinada cultura, sendo a roupa uma espécie de "universo simbólico transformado em matéria".
Segundo Flusser, “[a] técnica altera o objeto, o objeto alterado altera a técnica, a técnica alterada altera o sujeito, e o sujeito alterado altera a técnica”, ou seja, as técnicas alteram a forma como criamos/produzimos moda, que altera o produto de moda, que altera o sujeito que incorpora a moda, que altera a técnica, enfim, em um loop contínuo. Considerando isso, como poderíamos interpretar esse sistema de evidências revelado pela moda, caso, para além e aquém do vestuário, pensássemos sobre os diversos mecanismos técnicos que estruturam e são estruturados por esse tal universo simbólico?
Buscando responder a esta indagação, e, inspirada pela noção elaborada por Letícia Cesarino, que defende a impossibilidade de pensar a política desconectada de tecnologia, a proposta do dossiê Tecnomoda é abrir espaço para reflexões sobre moda a partir das técnicas que a perpassam. Buscamos artigos que apresentem reflexões interdisciplinares e que contemplem, de maneira não exaustiva, os seguintes tópicos:
- Técnicas que estruturam e são estruturadas simbolicamente pela cultura e participam na constituição de sujeitos;
- Moda como técnica corporal, capaz de determinar gestos, comportamentos, emoções;
- A técnica enquanto conjunto de regras de produção de uma peça de roupa, abarcando dos saberes tradicionais à Alta Costura;
- Diálogos entre técnicas e o contexto de globalização dos mercados e mundialização da cultura: formas de circulação, deslocamento, desterritorialização e processo produtivo;
- As inteligências artificiais enquanto uma nova camada de intermediação da moda, entre outros.
Referências
BORDO, Susan; JAGGAR, Alison M. (ed.). Gênero, corpo, conhecimento. Tradução Brítta Lemos de Freitas. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1997.
CIDREIRA, Renata Pitombo. Os sentidos da moda: vestuário, comunicação e cultura. São Paulo: Annablume, 2005.
BARRETO, Carol. Moda e aparência como ativismo político: notas introdutórias. Academia, 2015. Disponível em: https://encurtador.com.br/
Crane, Diana. 2006. A moda e seu papel social: classe, gênero e identidade das roupas. São Paulo: Editora Senac São Paulo.
Flusser, Vilém. 1985. Filosofia da caixa preta. São Paulo: Hucitec, 1985.
HOSKINS, T. E. Foot Work: What Your Shoes Tell You About Globalisation. Orion, 2020.
KURKDJIAN, S. Paris as the Capital of Fashion, 1858-1939: An Inquiry. Fashion Theory, v. 24, issue 3, p. 371-391. 2020.
Michetti, Miqueli. 2015. Moda brasileira e mundialização. São Paulo: Fapesp/Annablume.
Ortiz, Renato. 2019. O Universo do luxo. São Paulo: Alameda.
Steele, Valerie. 2019. Paris Capital of fashion. London: Bloomsbury Visual Arts.
Shusterman, Richard. 2016. "Fits of Fashion: Somaesthetics of Style"” In: Matteucci, G.; Marino, S. (Org.), Philosophical Perspectives of Fashion. London: Bloomsbury, 2016. p. 91-106.
STAUSS R. What fashion is not (only). Vestoj, 2022. Disponível em: http: //vestoj.com/what-fashion-is-