Por uma epistemologia sul-americana com base nas culturas afro-brasileiras: um debate sobre o ensino culturalmente relevante nas escolas públicas de Ensino Fundamental
DOI:
https://doi.org/10.5965/198431781632020073Palavras-chave:
Epistemologia afro-brasileira, Teoria crítica e o debate afrocêntrico, Emancipação social e reconhecimento na escola públicaResumo
Boaventura Santos (2000, 2017) propõe a reinvenção da emancipação social a partir de uma ecologia de saberes e de conceitos não hegemônicos, definidas como epistemologias do sul, contrapondo-as às monoculturas do saber eurocentrado, visto como ineficaz para a superação das condições sociais e econômicas que oprimem grande parte da população mundial. Neste artigo, pretende-se tensionar alguns conceitos ligados à teoria crítica, como a luta pelo reconhecimento das populações historicamente prejudicadas (HONNETH, 2009), aproximando-os do contexto educacional brasileiro, à luz de teorias afrocentradas. Com base na pesquisa de campo desenvolvida por meio de docências compartilhadas com professoras de escolas do ensino fundamental público de São Paulo-SP, propomo-nos a refletir sobre o potencial emancipatório da pedagogia hip-hop, apresentada por Hill (2014), para o ensino de história afro-brasileira e africana, como forma de repensar a prática docente, bem como as estratégias de ensino, com um olhar atento para as marcas deixadas pela ideologia do embranquecimento (MUNANGA, 2004) no ensino brasileiro. Discorre-se ainda sobre a história do movimento hip-hop e da gênese dos raps socialmente engajados de maneira a evidenciar o processo de escolha de uma estratégia de ensino de história da África e afro-brasileira culturalmente relevante a partir das letras de rap selecionadas.Downloads
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