A radiografia do tempo. A Anunciação do Museu Nacional de Machado de Castro
DOI:
https://doi.org/10.5965/2175234614332022251Palavras-chave:
Bernardo Manuel, Pintura portuguesa do século XVI, Estudo material da pintura, Análises laboratoriais de pinturaResumo
A realidade que se observa em cada momento é a expressão de um olhar contaminado pelo observador e por um tempo mais ou menos longo que pertence aos objetos; neles se condensa um processo sempre ativo de interferências, que escapa, muitas vezes, à real descodificação das obras. A pintura da Anunciação (MNMC2528) é precisamente um dos casos que requer a concentração no detalhe para resgatar uma integridade perdida. Aparentemente unidos pela iconografia que lhe é própria (o Arcanjo Gabriel e a Virgem), os dois painéis que a constituem chegaram ao século XXI reunidos num só. Pela análise do detalhe foi possível intuir que, para além da camada pictórica observável, se escondia outra verdade, comprovada agora pelo trabalho de conservação e restauro e pelas análises laboratoriais realizadas. A pintura correspondia a dois painéis separados (e unidos em tempo incerto), ocultando também os sinais mais evidentes (como a presença de um cão) de uma outra cultura estética. O sentido humanista da pintura inicial transformou-se então em “panfleto” mais óbvio dos valores da Reforma Católica (com a atribuição ao pintor Bernardo Manuel), e assim chegou aos nossos dias e à capacidade para descodificar as camadas do tempo. Pilar num processo investigativo interdisciplinar, o detalhe assume-se, desta forma, como o grande protagonista que conduz à inteligibilidade das formas e da cultura do tempo.
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