O ensino de história dos traumas sociais coletivos e dos temas socialmente vivos: trajetórias de um campo disciplinar

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5965/2175180314362022e0108

Palavras-chave:

ensino de história, traumas coletivos, questões socialmente vivas

Resumo

O ensino de história de traumas coletivos e das questões socialmente vivas disseminou-se na historiografia a partir da década de 1960. Contribuíram para isso a difusão de pesquisas realizadas na Alemanha e França sobre a experiência nacional-socialista e a historicização do Holocausto, cujo evento foi enquadrado no interior do campo de estudos dos genocídios. Na França e no Brasil, as reflexões sobre este tema almejaram a necessária compreensão dos traumas coletivos e os seus impactos sociais. Em nossa análise, as reflexões sobre estes conceitos são necessárias em razão da banalização do debate sobre os fascismos históricos e outros traumas coletivos em nosso tempo presente. As preocupações decorrentes deste cenário, desafiador aos historiadores e ao processo de ensino-aprendizagem na sala de aula, nos motivaram a apresentar as reflexões realizadas neste artigo, que apresentou algumas perspectivas sobre o ensino de história dos traumas sociais coletivos e dos temas socialmente vivos.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Karl Schurster, Universidad de Vigo

possui graduação História pela Universidade de Pernambuco, Mestrado em História pela Universidade Federal Rural de Pernambuco e Doutorado em História Comparada na Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ com estágio de pesquisa na Freie Universität Berlin. Realizou o primeiro estágio de Pós-doutorado na Universidade Federal Rural de Pernambuco com período de pesquisa na Universidade Nacional de La Plata/Argentina e segundo Pós-Doutorado na Universidade Livre de Berlim. Coordenador do Laboratório de Estudos do Tempo Presente/Núcleo UPE. Tem experiência na área de História Contemporânea com ênfase em História do Tempo Presente, Fascismos, História da Alemanha (século XX e XXI) e estudos sobre o Holocausto, Genocídios e Ensino de História de Traumas Coletivos. Organizou juntamente com Francisco Carlos Teixeira da Silva e com Francisco Eduardo Alves de Almeida a obra Atlântico: a História de um Oceano (Civilização Brasileira), vencedora do prêmio jabuti (2º lugar em Ciências Humanas 2014). É um dos organizadores das obras Por que a guerra? das batalhas gregas à ciberguerra - uma história da violência entre os homens (Civilização Brasileira - 2018), O Brasil, Segunda Guerra Mundial, Políticas Educacionais, ensino e traumas coletivos (Edupe/Edipucrs), O Cinema Vai à Guerra (Campus/Elsevier), Pequeno Dicionário de Grandes Personagens Históricos (Altabooks), dentre outras. Escreveu o livro infantojuvenil "Ester, uma estrela na guerra". Participou como historiador convidado do projeto "1914-1918-online ?International Encyclopedia of the First World War" organizado pela Freie Universität e pelo Friedrich-Meinecke-Institut. É filiado a rede International Network for Theory of History com representantes de todos os continentes. É professor permanente do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade de Pernambuco e Coordenador Acadêmico do Mestrado Profissional em Ensino de História da UPE. Defendeu tese de livre docente: Para além da condição humana: história e ensino do Holocausto em Israel (2017) na Universidade de Pernambuco. Foi bolsista do Instituto Yad Vashem em Jerusalém/Israel (2014) onde desenvolveu pesquisa sobre a memória do Holocausto, recebendo nova bolsa de estudos em 2018. É professor colaborador do Programa de Pós-graduação em Relações Internacionais da Universidade Nacional de La Plata/Argentina. Exerceu na Pró Reitoria de Graduação da Universidade de Pernambuco o cargo de Coordenador de Desenvolvimento da Graduação de 2015 à 2018. Foi Diretor de Relações Internacionais de 2019 a 2021. Exerce a coordenação científica da EDUPE/UPE. Possuí certificação do Goethe Institut Berlin nível B2 de alemão. Foi Investigador Visitante no Departamento de História da Universidade do Porto (2021-2022), Consultor Acadêmico do Memorial do Holocausto do Rio de Janeiro e Coordena o projeto Milhões de vozes: testemunho, Shoah e o ensino de história do tempo presente, junto com o Departamento de Ensino do Museu do Holocausto de Curitiba. Atualmente é investigador na Universidad de Vigo, no grupo de Traducción & Paratraducción pela beca Maria Zambrano de Talento Internacional.

Rafael Pinheiro de Araújo, Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Doutor em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Referências

ALBERTI, Verena. Controversies around the teaching of Brazilian ‘Black History’. In: KIDD, Jenny; CAIRNS, Sam; DRAGO, Alex; RYALL, Amy; STEARN, Miranda (orgs.). Challenging history in the museum: international perspectives. Surrey: Ashgate Publishing Limited, 2014. p. 201-214.

ALBERTI, Verena. Palestra. In: COLÓQUIO NACIONAL HISTÓRIA CULTURAL E SENSIBILIDADES, 4., 17-21 nov. 2014, Caicó, RN. Anais [...]. Caicó: Centro de Ensino Superior do Seridó (Ceres), Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), 2014. Disponível em: https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/17189?show=full. Acesso em: 07 fev. 2022.

ALEXANDER, Jeffrey. Trauma: a social theory. Cambridge: Polity Pres, 2012.

ALPE, Yves. Quelle(s) légitimité(s) pour les savoirs scolaires sur la société: questions socialement vives, rapports aux savoirs et stratégies didactiques. Toulouse : Document de travail, IUFM d’Aix-Marseille, nov. 1999. Disponível em: http://journals.openedition.org/dse/95. Acesso em: 09 fev. 2022.

AYÉN, Xavi. Imre Kertész, la memoria de los campos de concentración. In: LAVANGUARDIA, [Barcelona], 2016. Disponível em: https://www.lavanguardia.com/cultura/20160331/40774053657/imre-kertesz-memoria-campos-concentracion-entrevista.html. Acesso em: 09 fev. 2022.

BAUER, Yehuda. Rethinking the Holocaust. New Haven: Yale University Press, 2012.

BIBER, Katherine. Bad Holocaust art. Law Text, Sydney, v. 13, p. 226-259, 2009. Disponível em: https://ssrn.com/abstract=1626500. Acesso em: 10 jan.2022.

BORRIES, Bodo von. Methods and aims of teaching history in Europe: a report on youth and history. In: STEARNS, Peter N.; SEIXAS, Peter; WINEBURG, Sam (eds.). Knowing, teaching and learning history: national and international perspectives. New York: New York University Press, 2000. p. 246-261.

BROWNING, Christopher. Interview: Shoah Resource Center, The International School for Holocaust Studies. In: THE MULTIMEDIA CD ‘ECLIPSE OF HUMANITY’. Jerusalem: Yad Vashem, 2000. p. 01-21.

CARNEIRO, Maria Luiza Tucci. A raça indesejável. Revista Pesquisa FAPESP, [São Paulo], n. 146, p. 12-17, 2008. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/a-raca-indesejavel/. Acesso em: 09 fev. 2022.

CARUTH, Cathy. Listening to trauma: conversations with leaders in the theory and treatment of catastrophic experience. Baltimore: The Johns Hopkins University Press, 2014.

CERTEAU, Michel de. La culture au pluriel. Paris: Seuil, 1993.

EPSTEIN, Terrie; PECK, Carla. Research on teaching and learning difficult histories: global concepts and contexts. New York: Hunter College: City University of New York, 2015. (Caderno de Resumos)

FALAIZE, Benoit. O ensino de temas controversos na escola francesa: os novos fundamentos da história escolar na França? Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 6, n. 11, p. 224-253, jan./abr. 2014. Título original: L’enseignement des sujets controversés dans l‘école française : les nouveaux fondements de l'histoire scolaire en France ? Traduzido por Fabrício Coelho.

FINCHELSTEIN, Federico. El canon del Holocausto. Buenos Aires: Prometeo, 2010.

FRIEDLANDER, Saul. When memories comes: the classic memoire. New York: Other Press, 2016.

G1. Quem é Monark: antes de defender existência do partido nazista, apresentador foi de youtuber a podcaster. In: G1, [s.l.], 2022. Disponível em: https://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2022/02/08/quem-e-monark-antes-de-defender-existencia-de-partido-nazista-apresentador-foi-de-youtuber-a-podcaster.ghtml. Acesso em: 09 fev. 2022.

GENSBURGER, Sarah et al. Penser les génocides et les crimes de masse avec les outils ordinaires des sciences sociales. In: PENSER KES GÉNOCIDES. Paris: CNRS Editions, 2021. p. 193-214.

GIL, Carmem Zeli de Vargas; EUGÊNIO, Jonas Camargo. Ensino de história e temas sensíveis: abordagens teórico-metodológicas. Revista História Hoje, São Paulo, v. 7, n. 13, 2018, p. 139-159.

INTERNATIONAL HOLOCAUST REMEMBRANCE ALLIANCE; ECKMANN, Monique; STEVICK, Doyle; AMBROZEWICZ-JACOBS; Jolanta (eds.). Research in teaching and learning about the Holocaust: a dialogue beyond borders. Berlim: Metropol, 2017.

ISRAELI, Raphael. Old historians, new historians, no historians: the derailed debate on the genesis of Israel. Eugene: Wipf and Stock Publishers, 2016.

KOCKA, Jürgen. Historia social y consciencia histórica. Madrid: Marcel Poins, 2002.

KOCKA, Jürgen. Para além da comparação. Revista Esboços, Florianópolis, v. 21, n. 31, p. 279-286, ago. 2014.

KOTEK, Joel. Génocide, revenir à l’essentiel? In: PENSER LES GÉNOCIDES. Paris: CNRS, 2021. p. 115-122.

LEPRINCE, Chloé. Les contre-vérités d’Eric Zemmour sur Pétain et Vichy. Radiofrance, [Paris], 2019. Disponível em: https://www.franceculture.fr/histoire/trois-contre-verites-deric-zemmour-sur-petain-et-vichy-rassemblement-national. Acesso em: 09 fev. 2022.

MALERBA, Jurandir. Os historiadores e seus públicos: desafios ao conhecimento histórico na era digital. Revista Brasileira História, São Paulo, v. 37, n. 74, p. 135-154, 2017.

MARTINS, Estevão Rezende. Consciência Histórica. In: FERREIRA, Marieta de Moraes; OLIVEIRA, Margarida Dias de. Dicionário de ensino de história. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2019. p. 55-58.

NIETZSCHE, Friedrich. A gaia ciência. Lisboa: Relógio D’Água, 1998.

NOIRIEL, Gerard. Sur la crises de la histoire. Paris: Points, 2005.

PANDEL, Hans-Jürgen. Geschichtsdidaktik eine einführung. 2. aufl. Fankfurt: Wochenschau Verlag, 2017.

POULIOT, Chantal et al. SAQ, SSI and STSE education: defending and extending “science in context”. Cultural Studies of Science Education, [s.l.]: Springer, v. 15, Sept. 2020. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=7813082. Acesso em 09 de fev. 2022.

ROBIN, Regine. Memória saturada. São Paulo: Unicamp, 2016.

RÜSEN, Jörn. Didática da história: passado, presente e perspectivas a partir do caso alemão. Tradução Marcos Roberto Kusnick. Práxis Educativa, Ponta Grossa, v. 1, n. 2, p. 07-16, jul./dez. 2006.

RÜSEN, Jörn. Os princípios da aprendizagem: a filosofia da história na didática da história. In: ALVES, Luís Alberto Marques; GAGO, Marília. Diálogo(s), epistemologia(s) e educação histórica: um primeiro olhar. Porto: CITCEM, Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória, 2021. p. 11-20.

SADDI, Rafael. Didática da história na Alemanha e no Brasil: considerações sobre o ambiente de surgimento da Neu Geschichtsdidaktik na Alemanha e os desafios da nova didática da história no Brasil. OPSIS, Catalão, v. 14, n. 2, p. 133-147, jul./dez. 2014.

SCHURSTER, Karl; DA SILVA, Francisco Carlos Teixeira (orgs.). Ensino de história regimes autoritários e traumas coletivos. Recife: EDUPE; Porto Alegre: EdiPUCRS, 2017.

SCHWEBER, Simone. Holocaust fatigue in teaching today. Social Education, [s.l.], v. 70, n. 1, p. 44-49, 2006.

SERRANO, Miguel. Nietzsche y el eterno retorno. Madrid: Rustica, 2021.

SIMONNEAUX, Jean. La démarche d’enquête: une contribution à la didactique des questions socialement vives. Paris: Éducagri Editions, 2018.

SONTAG, Susan. Sob o signo de Saturno. Porto Alegre: LPM, 1984.

THE HISTORICAL ASSOCIATION. The T.E.A.C.H. report: a report from the historical association on the challenges and opportunities for teaching emotive and controversial history. United kingdom: [The Association], Sept. 2007. Disponível em: http://www.history.org.uk/resources/secondary_resource_780.html. Acesso em: 10 fev. 2022.

WIEVIORKA, Annette. The Era of witness. New York: Cornell University Press, 2006.

Downloads

Publicado

2022-09-16

Como Citar

SCHURSTER, Karl; ARAÚJO, Rafael Pinheiro de. O ensino de história dos traumas sociais coletivos e dos temas socialmente vivos: trajetórias de um campo disciplinar. Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 14, n. 36, p. e0108, 2022. DOI: 10.5965/2175180314362022e0108. Disponível em: https://revistas.udesc.br/index.php/tempo/article/view/2175180314362022e0108. Acesso em: 28 mar. 2024.