Chamada para o dossiê "O belo exige nossa atenção"

2024-09-20

Dossiê: O belo exige nossa atenção

Organizadoras:  Sandra Makowiecky  (UDESC) e Luana M. Wedekin (UDESC)

Data limite de submissão: 30/11/2024

 

 [...] O que é certo, portanto, é que a obsessão desse olhar — a soberania da imagem — não cessará, mesmo se a semelhança interminável seja uma interminável falha, uma interminável lacuna, portanto uma interminável infelicidade. (Didi- Huberman apud Antelo, 2011, p. 9).

 

A frase de Didi- Huberman dita em um programa radiofônico em 2004, em Paris e com tradução Maria José Wener Salles, foi citada por Raul Antelo no artigo Me arquivo (2011). Existe, sabemos, uma obsessão do olhar, uma soberania da imagem por coisas belas. Mas o que é o belo?

Concordamos com a proposição de Sócrates (personagem do diálogo platônico), de uma inesperada não definição: “aquilo que é belo é difícil” (Platão, 2016). Talvez haja poucas coisas na arte mais complexas e intrigantes do que esses conceitos, em frase que pode sugerir a interpretação do “belo” como algo de que não se pode dar uma definição universal e inteligível.

Para Paul Valéry (1960), a natureza da beleza reside na impossibilidade de sua definição; beleza é exatamente "o inefável". Os gregos já diziam isso.

Athur Danto, em O abuso da beleza (2015), apresenta a evolução do conceito de beleza durante o último século. Mostra que ela foi removida da definição de arte: antes era quase unânime que o propósito final de uma obra de arte era ser bela; no século XX, essa ideia foi refutada e a beleza destronada, chegando, em alguns casos, a ser considerada um crime estético. Para Danto, a beleza não deve ser a finalidade da obra de arte, e muito menos ser evitada.

Em Ao mesmo tempo, Susan Sontag escreve um ensaio chamado Uma discussão sobre a beleza (2008, p.19-29). Para a autora, à medida que a postura relativista, em questões culturais, aumentou a pressão sobre os antigos juízos, as definições de beleza – descrições da sua essência – tornaram-se mais vazias. A beleza não podia mais ser algo tão positivo como a harmonia.

Roger Scruton, no livro Beleza (2013), defende que a beleza é um valor real e universal ancorado em nossa natureza racional, que o senso do belo desempenha papel indispensável na formação do nosso mundo. Para o autor, que lida com o conceito de beleza em termos filosóficos, julgá-la é algo que diz respeito ao gosto, e o gosto talvez não tenha algum fundamento racional. No prefácio do livro aponta-nos o caminho, afirmando que a beleza pode ser reconfortante, perturbadora, sagrada e profana; pode revigorar, encantar, atemorizar. Mas jamais é vista com indiferença; exige nossa atenção. O que você teria a dizer sobre o belo que exige nossa atenção?

Referências:

ANTELO, R. Me arquivo. Boletim de Pesquisa NELIC. v.11, n. 16, 2011-1. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/nelic/article/view/1984-784X.2011v11n16p04/18460. Acesso em: 10 fev. 2021.

DANTO, Arthur. O abuso da beleza. São Paulo: Martins Fontes, 2015.

PLATÃO. Hípias Maior. In: Diálogos. Tradução, notas e comentários de Edson Bini. São Paulo: Edipro, 2016, p. 233–272.

SCRUTON, Roger. Beleza. São Paulo: É Realizações, 2013.

SONTAG, Susan. Uma discussão sobre a beleza. In: SONTAG, Susan. Ao mesmo tempo. São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p. 19-29.

VALÉRY, Paul. Oeuvres II. Paris: Gallimard, 1960.