Os pronomes empáticos e o perspectivismo dramatúrgico: sobre “Nós Outros”, da Fala Companhia de Teatro
DOI:
https://doi.org/10.5965/1414573101432022e0113Palavras-chave:
Perspectivismo, Antropologia, Criação teatral, Povos indígenasResumo
Em 2018, acompanhei parte do processo criativo do espetáculo teatral
Nós Outros, concebido pela Fala Companhia de Teatro, de Curitiba, criado a partir da vivência dos atores e do dramaturgo e diretor Don Correa com indígenas das etnias Guarani e Kaingang, na Aldeia Tupã Nhe´e Kretã, em Morretes, Paraná. Este artigo busca cotejar memórias do processo criativo do diretor do espetáculo com algumas reflexões a partir da minha atuação como antropólogo convidado no processo de criação do espetáculo. Procurei interpretar os dispositivos cênicos e dramatúrgicos propostos por Don Correa inspirado pelo perspectivismo ameríndio (Viveiros de Castro, 1996) e pela “arte antropológica” (Ingold, 2020). O texto revela cruzamentos de fronteiras do dramaturgo como etnógrafo e do antropólogo como espectador, crítico e participante do processo criativo e permite sublinhar instâncias comuns entre a escrita dramatúrgica e a escrita antropológica, apresentando-as como formas criativas e autorais de relações com a alteridade.
Downloads
Referências
BAPTISTA, Patrick Leandro. “Cacique” Kretã: Aquele que olha por cima da montanha enxerga mais alto. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) - Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2015.
BAUMGARTEL, Stephan. Meta-textualidade, instâncias de enunciação e conflitos não-narrativos reflexões sobre impulsos não-dramáticos na dramaturgia brasileira contemporânea. Urdimento – Revista de Estudos em Artes Cênicas, Florianópolis, v. 18, p.141-154, 2012. Disponível em:
https://www.revistas.udesc.br/index.php/urdimento/article/view/1414573101182012141 . Acesso em: jan. 2022.
BOURSCHEID, Marcelo. Performatividade, jogo e linguagem na dramaturgia de Don Correa. Revista Científica da FAP, v. 24, p. 142-150, 2021. Disponível em: http://periodicos.unespar.edu.br/index.php/revistacientifica/article/viewFile/4275/2946 Acesso em: jan. 2022.
CALDEIRA, Teresa Pires do Rio. A presença do autor e a pós-modernidade na antropologia. Novos Estudos CEBRAP, São Paulo, v. 2, n. 21, p. 133-157, julho, 1988.
CARLSON, Marvin. Performance: a critical introduction. Londres e Nova Iorque: Routledge, 1996.
CASTRO, Laura. “Variações do corpo selvagem: a potência nômade de Hélio Oiticica e Waly Salomão”. Urdimento - Revista de Estudos em Artes Cênicas, Florianópolis, v. 2, n. 27, p. 154-167, 2016. DOI: 10.5965/1414573102272016154. Disponível em: https://www.revistas.udesc.br/index.php/urdimento/article/view/8720 . Acesso em: 14 jan. 2022.
CLIFFORD, James; MARCUS, George. Writing Culture: the poetics and politics of ethnography. Berkley: University of California Press, 1986.
CLIFFORD, James. “Sobre o surrealismo etnográfico” In: CLIFFORD, James; GONÇALVES, José Reginaldo dos Santos (org.). A Experiência Etnográfica: Antropologia e literatura no séc. XX. Rio de Janeiro: ed. UFRJ, 2002.
CORREA, Don. Nós Outros - Notas sobre o processo criativo. Não Publicado. 2021.
CORREA, Don. Nós Outros. Dramaturgia do espetáculo. Não Publicado, 2018.
DAMATTA, Roberto. Carnavais, Malandros e Heróis. Rio de Janeiro, Ed: Zahar, 1983.
DAWSEY, John C. Turner, Benjamin e Antropologia da Performance: O lugar olhado (e ouvido) das coisas. Campos, N.7, (2), p. 17-25, 2006. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/campos/article/view/7322. Acesso em 23 de março de 2022.
DAWSEY, John C. Victor Turner e a antropologia da experiência. Cadernos de campo. N.13, p.163-176, 2005. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/cadernosdecampo/article/view/50264. Acesso em 23 de março de 2022.
DUMONT, Louis. Homo hierarchicus: o sistema de castas e suas implicações. São Paulo: EDUSP. 1992.
FOSTER, Hal. “O artista como etnógrafo” In: O retorno do real. São Paulo, Cosac & Naify, 2014.
FRENKEL BARRETTO, E. Nós sós: Performance conectiva em isolamento - Fundamentos e Processos. Urdimento - Revista de Estudos em Artes Cênicas, Florianópolis, v. 1, n. 40, p.1-17, 2021. Disponível em: https://www.revistas.udesc.br/index.php/urdimento/article/view/19306 Acesso em: 14 jan. 2022.
GEERTZ, Clifford. “Do ponto de vista dos nativos”: a natureza do entendimento antropológico” In: O Saber Local. Petrópolis, Vozes, 2003.
GÓES, Paulo Homem de; KRÜGER, Cauê. Nós Outros: uma performance sobre alteridade, empatia e alterações. Não publicado. 2018
GOLDMAN, Marcio. Uma categoria do pensamento antropológico: a noção de pessoa. Revista De Antropologia, 39(1), p.83-109, 1996. https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.1996.111620.
INGOLD, Tim. Antropologia e/como Educação. Petrópolis, Vozes, 2020.
INGOLD, Tim. Chega de etnografia! A educação da atenção como propósito da antropologia. Educação, 39(3), 404-411, 2016. https://doi.org/10.15448/1981-2582.2016.3.21690
KRÜGER, Cauê. Antropologia da Performance ou Antropologia do Teatro Contemporâneo?: notas etnográficas a propósito da companhia brasileira de teatro e do PROJETO bRASIL. Revista Brasileira Estudos da Presença, Porto Alegre, v. 11, n. 2, p. 1 – 28, 2021. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbep/a/RWvhLHzDKjddsSJd73NDPkt/?format=pdf&lang=pt Acesso em 14 de jan. 2022.
KRÜGER, Cauê. A arte do encontro: uma etnografia da companhia brasileira de teatro e do PROJETO bRASIL. 2017. Tese (Doutorado em Sociologia e Antropologia) – Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia, Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017.
LANGDON, Jean; HARTMANN, Luciana. Tem um corpo nessa alma: encruzilhadas da antropologia da performance no Brasil. BIB. Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais, v. 91, p. 1-31, 2020. Disponível em: http://anpocs.com/images/BIB/n91/BIB_0009104_05-02_luciana.pdf . Acesso em: janeiro de 2022.
MAUSS, Marcel. Ensaio sobre a Dádiva. In: Sociologia e Antropologia. São Paulo, Eds: PUF e EDUSP, 1974b.
MAUSS, Marcel. Uma categoria do espírito humano, a noção de pessoa, a noção do “eu”. In: Sociologia e Antropologia. São Paulo, Eds: PUF e EDUSP, 1974a.
ROMAGNOLLI, Luciana. Convívio e presença como dramaturgia: a dimensão da materialidade e do encontro em Vida. Sala Preta, São Paulo, 14(2), 85-94, 2014. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/salapreta/article/view/83930/91852 . Acesso em: jan. 2022.
RYNGAERT, Jean-Pierre. Para ler o teatro contemporâneo. São Paulo: Martins Fontes, 2013.
SANSI, Roger. Art, Anthropology and the Gift. London and New York, Bloomsbury Publishing, 2015.
SARRAZAC, Jean-Pierre. Poética do drama moderno: de Ibsen a Koltés. São Paulo, Perspectiva, 2017.
SEEGER, Anthony; DAMATTA, Roberto; VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. “A construção da pessoa nas sociedades indígenas”. Rio de Janeiro, Boletim do Museu Nacional, n. 32, maio 1979.
SILVA, Rubens Alves da. “Entre artes e ciências: a noção de performance e drama no campo das ciências sociais” In: Horizontes Antropológicos, v.11 n.24, p. 35-65, 2005. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ha/a/GLxbmtS4ZtKGQwHhSmPPxSH/abstract/?lang=en&format=html. Acesso em: 23 de março de 2022.
SZTUTMAN, Renato (org.), Eduardo Viveiros de Castro. Encontros. Rio de Janeiro, Azougue, 2008.
TURNER, Victor. From ritual to theatre. New York: PAJ Press, 1982.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. "Os pronomes cosmológicos e o perspectivismo ameríndio", Mana, 2 (2), p.115–144, 1996. Disponível em: https://www.scielo.br/j/mana/a/F5BtW5NF3KVT4NRnfM93pSs. Acesso em 23 de março de 2022.
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2022 Urdimento - Revista de Estudos em Artes Cênicas
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Declaração de Direito Autoral
Os leitores são livres para transferir, imprimir e utilizar os artigos publicados na Revista, desde que haja sempre menção explícita ao(s) autor (es) e à Urdimentoe que não haja qualquer alteração no trabalho original. Qualquer outro uso dos textos precisa ser aprovado pelo(s) autor (es) e pela Revista. Ao submeter um artigo à Urdimento e tê-lo aprovado os autores concordam em ceder, sem remuneração, os seguintes direitos à Revista: os direitos de primeira publicação e a permissão para que a Revista redistribua esse artigo e seus meta dados aos serviços de indexação e referência que seus editores julguem apropriados.
Este periódico utiliza uma Licença de Atribuição Creative Commons– (CC BY 4.0)