A questão indígena durante a ditadura militar brasileira e a opinião pública estrangeira em perspectiva transnacional
DOI :
https://doi.org/10.5965/2175180314352022e0106Résumé
Este artigo tem como objetivo analisar a questão indígena brasileira durante os anos centrais da ditadura militar a partir de uma perspectiva transnacional. Essa abordagem enfatiza fenômenos históricos baseados em pessoas e ideias, emancipando-os dos Estados nacionais como uma estrutura “natural” para o estudo da história. A primeira parte deste texto discute a importância da opinião pública nas relações internacionais para, posteriormente, compreender como o Estado brasileiro encarou as interferências estrangeiras em questões que os governantes do período ditatorial acreditavam ser de competência nacional. Posteriormente, a partir da reflexão acerca do poder simbólico dos povos indígenas no Brasil e no exterior, será feita uma análise em duas partes: na primeira, um estudo de caso focado no impacto que o Relatório Figueiredo – ao ser divulgado internacionalmente – teve na França; em seguida, estenderemos para o âmbito transnacional nossas observações sobre os prejuízos ocasionados pelas denúncias contidas no supracitado relatório, procurando encontrar os vasos comunicantes entre o que estava acontecendo no Brasil, sua leitura pela opinião pública internacional, as formas como as autoridades militares agiram para proteger a imagem externa do país e, também, as possíveis vantagens obtidas pelos atores nacionais que, nos anos 1970, atuavam em favor da causa indígena.
Palavras-chave: povos indígenas; ditadura militar; história transnacional; opinião pública; relações internacionais.
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