Ensino de História: temporalidade, pós-verdade e verdade poética

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5965/21751803ne2021e0110

Resumo

Ouvindo alunos da graduação nos 4 estágios supervisionados que temos no departamento de História da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), percebi que 2 temas têm aparecido e retornado com frequência: a) certo desinteresse, ao menos inicial, dos estudantes do ensino básico pelo passado, pela história e pelo ensino de História, especialmente no que diz respeito a um modo específico de relacionamento com passados: o epistemológico-crítico-pragmático; e, também, b) certo questionamento dos alunos (às vezes até mais enérgico/violento) de determinadas interpretações propostas pelos professores. Temos pensado sobre esses desafios ao longo de nossos cursos, de modo que este artigo aborda parte de nossas discussões sobre as questões da temporalidade e da pós-verdade, especialmente naquilo que diz respeito a certo desinteresse pela história e pelo ensino de história. E, por fim, tematizamos um comportamento epistemológico a partir do qual seria possível certo reencantamento da história e do ensino de História, o que denomino verdade poética.

Palavras-chave: temporalidade; pós-verdade; verdade poética.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Marcelo de Mello Rangel, Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP)

Doutor em História Social da Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Professor dos Programas de Pós-Graduação em História e em Filosofia da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP)

Referências

ABREU, Marcelo Santos de; CUNHA, Nara Rúbia de Carvalho. Cultura de história, história pública e ensino de história: a investigação e formação de professores de história. História Hoje, [s.l.], v. 8, p. 111-134, 2019.

ABREU, Marcelo Santos de; RANGEL, Marcelo de Mello. Memória, cultura histórica e ensino de história. História e Cultura, v. 4, p. 7-24, 2015.

ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz. Fazer defeitos nas memórias: para que servem a escrita e o ensino da história? In.: GONÇALVES, Márcia de Almeida; ROCHA, Helenice; REZNIK, Luís; Ana Maria Monteiro (org.). Qual o valor da História hoje? Rio de Janeiro: Editora da FGV, p. 21-39, 2012. p. 21-39.

ARAÚJO, Helena Maria Marques. Produzindo narrativas e memórias decoloniais no ensino de história. In.: GUIMARÃES, Géssica; PINHA, Daniel; RANGEL, Marcelo de Mello (org.). Diante da crise: teoria, história da historiografia e ensino de história hoje. Vitória: Milfontes, 2021.

ARAUJO, Valdei Lopes de; PEREIRA, Mateus. Atualismo 1.0. como a ideia de atualização mudou o século XXI. Vitória: Milfontes; Mariana: Editora da SBTHH, 2019.

ARAUJO, Valdei Lopes de; RANGEL, Marcelo de Mello. Apresentação; teoria e história da historiografia: do giro linguístico ao giro ético-político. História da Historiografia, Ouro Preto, v.8, n. 17, p. 318-332, abr. 2015.

BENJAMIN, Walter. Experiência e pobreza. In.: Walter Benjamin. Obras escolhidas. Magia e técnica, arte e política. Ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994a.

BENJAMIN, Walter. O narrador. Considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. In.: Walter Benjamin: obras escolhidas: magia e técnica, arte e política. Ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994b.

BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito de história. In.: LÖWY, Michael (org.). Walter Benjamin: aviso de incêndio: uma leitura das teses “Sobre o conceito de história”. São Paulo: Boitempo, 2005.

BENTIVOGLIO, Julio. História & distopia. Vitória: Milfontes, 2019.

BEVERNAGE, Berber. History, Memory, and State-Sponsored Violence: Time and Justice. New York: Routledge, 2012.

BUTLER, Judith. Vida precária: os poderes do luto e da violência. Belo Horizonte: Autêntica, 2019.

CARVALHO, Augusto de; RANGEL, Marcelo de Mello. História e filosofia e outros mundos possíveis. In.: CARVALHO, Augusto de; RANGEL, Marcelo de Mello (org.). História & Filosofia: problemas ético-políticos. Vitória: Milfontes, 2020.

CEZAR, Temístocles. O que fabrica o historiador quando faz história, hoje? Ensaio sobre a crença na história (Brasil séculos XIX-XXI). Revista de Antropologia, São Paulo, v. 61, p. 78-95, 2018.

DELEUZE, Gilles. Empirismo e subjetividade. Ensaio sobre a natureza humana segundo Hume. São Paulo: Editora 34, 2001.

DELEUZE, Gilles. Lógica do sentido. São Paulo: Perspectiva, 1998.

DERRIDA, Jacques. A universidade sem condições. São Paulo: Estação Liberdade, 2003.

DERRIDA, Jacques. Espectros de Marx. O estado da dívida, o trabalho do luto e a nova Internacional. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994.

DERRIDA, Jacques. O olho da universidade. São Paulo: Estação Liberdade, 1999.

DERRIDA, Jacques. Vadios. Coimbra: Palimage, 2009.

DOMANSKA, Ewa; SIMON, Zoltán Boldizsár; TAMM, Marek. Anthropocenic historical knowledge: promises and pitfalls (no prelo).

DOMANSKA, Ewa. The Material Presence of the Past. History and Theory, v. 45, p. 337-348, 2006.

DUSSEL, Enrique. Filosofia da libertação: crítica à ideologia da exclusão. São Paulo: Paulus Editora, 1995.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. Rio de Janeiro: Paz & Terra, 1997.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: Editora UNESP, 2000.

GUIMARÃES, Géssica; PINHA, Daniel; RANGEL, Marcelo de Mello (Org.). Diante da crise. Teoria, história da historiografia e ensino de história hoje. Vitória: Milfontes, 2021.

GUIMARÃES, Géssica; RAUTER, Luisa. Ativismo, movimentos sociais e politização do tempo: possibilidades dos femininos no Brasil contemporâneo. In.: GUIMARÃES, Géssica; PINHA, Daniel; RANGEL, Marcelo de Mello (org.). Diante da crise: teoria, história da historiografia e ensino de história hoje. Vitória: Milfontes, 2021.

GUIMARÃES, Géssica; SOUSA, Francisco Gouvea de. Desmonte ou reconstrução da universidade: entre o capital e a democratização. Revista Hydra, [s.l.], v.4, p. 103-131, 2019.

GUMBRECHT, Hans Ulrich. Depois de “depois de aprender com a história”, o que fazer com o passado agora? In.: ARAUJO, Valdei Lopes de; MOLLO, Helena Miranda; NICOLAZZI, Fernando (org.). Aprender com a história? O passado e o futuro de uma questão. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2011.

GUMBRECHT, Hans Ulrich. Graciosidade e estagnação: ensaios escolhidos. Rio de Janeiro: Contraponto: Ed. PUC-Rio, 2012.

GUMBRECHT, Hans Ulrich. Nosso amplo presente: o tempo e a cultura contemporânea. São Paulo: Editora Unesp, 2015.

GUMBRECHT, Hans Ulrich. Produção de presença: o que o sentido não consegue transmitir. Rio de Janeiro: Contraponto: Ed. PUC-Rio, 2010.

HADDOCK-LOBO, Rafael. Os fantasmas da colônia. Notas de desconstrução e filosofia popular brasileira. Rio de Janeiro: Ape’Ku, 2020.

HEIDEGGER, Martin. A essência da verdade (1930). In.: Marcas do Caminho. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008a.

HEIDEGGER, Martin. A questão da técnica. In.: Ensaios e Conferências. Petrópolis: Vozes; Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2006.

HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. Petrópolis: Vozes: Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2008b.

HOOKS, bell. Ensinando pensamento crítico: sabedoria prática. São Paulo: Elefante, 2020.

HOOKS, bell. Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2017.

HOOKS, bell. Tudo sobre o amor: novas perspectivas. São Paulo: Elefante, 2020.

KLEINBERG, Ethan. Haunting history: deconstruction and the spirit of revision. History and Theory. 46, p. 113-143, 2007.

KLEINBERG, Ethan. Haunting history: for a deconstructive approach to the past. Stanford: Stanford University Press, 2017.

KLEINBERG, Ethan. Presence in absentia. In.: GHOSH, Ranjan; KLEINBERG, Ethan (eds.). Presence. Philosophy, History, and Cultural Theory for the Twenty-First Century. Ithaca; London: Cornell University Press, 2013.

KOSELLECK, Reinhart. Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Rio de Janeiro: Contraponto: Ed. Puc-Rio, 2006.

LYOTARD, Jean-François. Peregrinações: lei, forma, acontecimento. São Paulo: Estação Liberdade, 2000.

MATTOS, Ilmar Rohloff de. “Mas não somente assim!” leitores, autores, aulas como texto e ensino-aprendizagem em História. Tempo, v. 11, n. 21, 2007.

MENDES, Breno. Ensino de história, historiografia e currículo de história. Transversos, v. 18, p. 108-128, 2020.

MIGNOLO, Walter. Histórias locais/projetos globais: colonialidade, saberes subalternos e pensamento liminar. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2019.

MORAES, Marcelo. Democracias espectrais: por uma desconstrução da colonialidade. Rio de Janeiro: Nau, 2020.

MURUCI, Fábio; RANGEL, Marcelo de Mello. Algumas palavras sobre giro ético-político e história intelectual. Revista Ágora, Vitória, v.21, p. 7-14, 2015.

NICOLAZZI, Fernando. Muito além das virtudes epistêmicas: o historiador público em um mundo não linear. Maracanan, n. 18, p. 18-34, 2018.

OLIVEIRA, Rodrigo Perez; PINHA, Daniel; RANGEL, Marcelo de Mello. Teoria, historiografia e ensino de história em tempos de crise democrática. Transversos, [s.l.], n. 18, p. 6-16, abr. 2020.

PINHA, Daniel. Formação e corrosão democrática no Brasil do tempo presente: desafios à história da historiografia e ao ensino de história. In.: GUIMARÃES, Géssica; PINHA, Daniel; RANGEL, Marcelo de Mello (org.). Diante da crise: teoria, história da historiografia e ensino de história hoje. Vitória: Milfontes, 2021.

PINHA, Daniel. O lugar do tempo presente na aula de história: limites e possibilidades. Tempo & Argumento. Florianópolis, v. 9, n. 20, p. 99-129, 2017.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidad del poder y clasificación social. Journal of World-Systems, v.11, n.2, 2000, p.342-86.

RANCIÈRE, Jacques. A partilha do sensível. Estética e política. São Paulo: Exo experimental org.; Editora 34, 2009.

RANCIÈRE, Jacques.O desentendimento. Política e filosofia. São Paulo: Editora 34, 2018.

RANGEL, Marcelo de Mello. A história e o impossível. Walter Benjamin e Derrida. Rio de Janeiro: Ape`Ku, 2020a.

RANGEL, Marcelo de Mello. A urgência do giro ético-político: o giro ético-político na teoria da história e na história da historiografia. Ponta de Lança, v. 13, p. 27-46, 2019a.

RANGEL, Marcelo de Mello. Da ternura com o passado. História e pensamento histórico na filosofia contemporânea. Rio de Janeiro: Editora Via Verita, 2019b.

RANGEL, Marcelo de Mello. Entrevista Marcelo de Mello Rangel. Ensaios Filosóficos, v. XVI, p. 119-139, 2017.

RANGEL, Marcelo de Mello. Giro ético-político, verdade e felicidade. In.: CARVALHO, Augusto de; RANGEL, Marcelo de Mello (org.). História & Filosofia. Problemas ético-políticos. Vitória: Milfontes, 2020b.

RANGEL, Marcelo de Mello. História e Stimmung a partir de Walter Benjamin: Sobre algumas possibilidades ético-políticas da historiografia. Cadernos Walter Benjamin, v.17, p. 165-178, 2016.

RANGEL, Marcelo de Mello. Rehistoricização da história, melancolia e ódio. In.: BENTIVOGLIO, Julio; CARVALHO, Augusto de (org.). Walter Benjamin. Testemunho e melancolia. Serra, Espírito Santo: Milfontes, 2019c.

RANGEL, Marcelo de Mello. Resistência, ódio e amor! In.: AMITRANO, Georgia; HADDOCK-LOBO, Rafael; RANGEL, Marcelo de Mello (org.). Rosas e pensamentos outros. Rio de Janeiro: Ape'Ku, 2020c.

RANGEL, Marcelo de Mello. Temporalidade e felicidade hoje: uma relação possível entre o pensamento histórico, a democracia e a experiência da felicidade. Artefilosofia, v.25, p. 52-67, 2018.

RANGEL, Marcelo de Mello; RODRIGUES, Thamara de Oliveira. Temporalidade e crise: sobre a (im)possibilidade do futuro e da política no Brasil e no mundo contemporâneo. Maracanan, n. 18, pp. 66-82, 2018.

RIBEIRO, Renato Janine. A universidade e a vida atual: Fellini não via filmes. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2014.

RODRIGUES, Thamara de Oliveira. Outros modos de pensar e sonhar: a experiência onírica em Reinhart Koselleck, Ailton Krenak e Davi Kopenawa. Revista de Teoria da História, v. 23, p. 156-177, 2020.

RODRIGUES, Thamara de Oliveira. Theory of history and history of historiography: Openings for unconventional histories. História da Historiografia, v. 12, n. 29, p. 96-123, 2019.

RÜSEN, JÖRN. Jörn Rüsen e o ensino de história. SCHMIDT, Maria Auxiliadora; BARCA, Isabel; MARTINS, Estevão de Rezende (org.). Curitiba: Ed. UFPR, 2011.

RÜSEN, JÖRN. Razão histórica. Teoria da história: os fundamentos da ciência histórica. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2001.

SANTAELLA, Lucia. A pós-verdade é verdadeira ou falsa? Barueri, SP: Estação das Letras e Cores, 2019.

SANTOS, Boaventura de Sousa. O fim do império cognitivo: a afirmação das epistemologias do Sul. Belo Horizonte: Autêntica, 2019.

SANTOS, Boaventura de Sousa; NUNES, João Arriscado; MENESES, Maria Paula. Opening up the Canon of knowledge and recognition of difference. In.: SANTOS, Boaventura de Sousa (ed.). Another knowledge is possible: beyond Northern epistemologies. London: Verso, 2007.

SIMAS, Luiz Antonio; RUFINO, Luiz. Flecha no tempo. Rio de Janeiro: Mórula, 2019.

SOUSA, Francisco Gouvea de. Ensino e cidadania, redemocratização e descolonização. In.: GUIMARÃES, Géssica; PINHA, Daniel; RANGEL, Marcelo de Mello (org.). Diante da crise: teoria, história da historiografia e ensino de história hoje. Vitória: Milfontes, 2021.

SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno falar? Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2014.

WHITE, Hayden. The practical past. Evanston, Illinois: Northwestern University Press, 2014.

Publicado

2021-10-06

Como Citar

RANGEL, Marcelo de Mello. Ensino de História: temporalidade, pós-verdade e verdade poética. Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, p. e0110, 2021. DOI: 10.5965/21751803ne2021e0110. Disponível em: https://revistas.udesc.br/index.php/tempo/article/view/21751803ne2021e0110. Acesso em: 18 abr. 2024.