Revisitar o passado, pensar o presente: Considerações sobre a branquitude portuguesa no trabalho com a memória colonial

Autores

  • Marcela Pedersen FPCEUP

DOI:

https://doi.org/10.5965/2175234617422025e0011

Palavras-chave:

Mediação, arte-educação, branquitude, memória colonial portuguesa, reparação

Resumo

Em 1934, o Palácio de Cristal, no Porto (Portugal), sediou a Primeira Exposição Colonial Portuguesa, evento de propaganda das ações colonizadoras e supostos sucessos do Império português. Entre suas marcas, destacam-se a exotização de corpos negros e racializados, materializada na criação de um “zoológico humano”, e os monumentos nacionalistas atualmente exaltados pela cidade. Embora deixados em uma suposta invisibilidade, evitando sua lembrança, permanecem latentes no imaginário colonial que molda as relações sociais no presente. Em 2020, no mesmo local, a Galeria Municipal do Porto inaugura o Programa de Incursão à Galeria (PING!), um projeto de mediação e educação que toma esse passado como matéria de trabalho, convidando pessoas de lugares de fala diversos para questionar sua suposta invisibilidade e seus impactos no presente. Este estudo propõe uma reflexão sobre o PING!, analisando as disputas e negociações do trabalho educativo em um lugar de memória a partir dos conceitos de zona de contato e zona de conflito agonística. A abordagem metodológica se baseia em uma análise episódica, articulada a uma escrita ensaística e narrativa, a partir de situações registradas nos diários de campo do acompanhamento das ações do PING!. A reflexão evidencia que a branquitude portuguesa emerge como eixo central de tensão, manifestando resistências e atitudes racistas diante do confronto com responsabilidades históricas. Conclui-se que lidar com esse desconforto racial branco constitui uma tarefa importante para que práticas educativas possam caminhar para gestos reparativos da história colonial. 

 

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Publicado

28-10-2025

Como Citar

PEDERSEN, Marcela. Revisitar o passado, pensar o presente: Considerações sobre a branquitude portuguesa no trabalho com a memória colonial. Palíndromo, Florianópolis, v. 17, n. 42, p. 1–24, 2025. DOI: 10.5965/2175234617422025e0011. Disponível em: https://revistas.udesc.br/index.php/palindromo/article/view/27081. Acesso em: 30 out. 2025.