Nova objetividade, análise cultural e a oposição entre “artista” e “trabalhador”:
uma contribuição metodológica potencialmente desfetichizante
DOI:
https://doi.org/10.5965/2525530410012025e0207Palavras-chave:
trabalho com música, cultura, ontologia, materialismo dialético, fetichismoResumo
O artigo coloca o problema, para o entendimento da categoria trabalho no campo musical, representado pelas concepções ontológicas dualistas, que contrapõem ideia e matéria. Argumenta que tais concepções foram responsáveis por instituir uma cisão entre a condição de artista e de trabalhador/a da música, resultando – na vigência de relações sociais fetichizadas – no ocultamento do trabalho do músico. Como superação desse impasse, propõe a descoberta marxiano-engelsiana do trabalho como categoria fundante do ser social, incluindo o aporte lukácsiano: por meio do trabalho, o ser social produz uma nova objetividade. A partir da mediação da consciência, a matéria natural é organizada pelo trabalho, originando entes e relações ontologicamente novos, sínteses entre ideia e mundo natural: ideias objetivadas. Por esta via, supera-se a contradição herdada entre arte e trabalho e abre-se a possibilidade do desvelamento do real e para a práxis de construção da generalidade humana-para-si.
Downloads
Referências
ADORNO, Theodor W. O fetichismo na música e a regressão da audição. In: ADORNO, Theodor W. Textos escolhidos. São Paulo: Nova Cultural, 1996. (Coleção Os Pensadores).
ALBUQUERQUE, Elaine Deccache Porto e. Linguagem e experiência: a singularidade do olhar para o contexto da escola a partir das contribuições de Wittgenstein e Bakhtin. 2008. 225f. Tese. (Doutorado em Psicologia) – Pontifícia Universidade Católica, Rio de Janeiro, 2008.
BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na ldade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais. São Paulo: Hucitec, 1987.
BURAWOY, Michael. Marxismo sociológico: quatro países, quatro décadas, quatro grandes transformações e uma tradição crítica. 1ª ed. Tradução: Marcelo Cizaurre Guirau, Fernando Rogério Jardim. São Paulo: Alameda, 2014.
BERNAL, J. D. Science in history. v. 1. New York: Cameron, 1954.
BONDS, Mark Evan. Absolute music: the history of an idea. New York: Oxford University Press, 2014.
CARLI, Ranieri. O método em Marx: a verdade e a essência da matéria. Campinas: Papel Social, 2019.
CASTORIADIS, Cornelius. A instituição imaginária da sociedade. Tradução: Guy Reynaud. Revisão: Luiz Roberto Salinas Fortes. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
CHRISTENSEN, Thomas (Ed.). The Cambridge history of Western music theory. Cambridge, UK: Cambridge UP, 2001.
CUERVO, Luciane. Concepções de musicalidade entre estudantes de música. In: ENCUENTRO DE CIENCIAS COGNITIVAS DE LA MÚSICA, X, 2011, Buenos Aires: Sociedad Argentina para las Ciencias Cognitivas de la Música - SACCOM, 2011.
DAVIES, Stephen. Musical Meaning and Expression. London: Cornell UP, 1994.
DINUŠ, Peter. The Twilight of the Bourgeoisie in Art and Science. Major Trends in the Decline of Capitalist Society. Philosophica Critica, vol. 8, n. 2, pp. 48-73, 2022 [s.l.]
ELIAS, Norbert. Mozart, sociologia de um gênio. Tradução: Sérgio Góes de Paula. Revisão: Renato Janine Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1995.
FIIF – Federação Internacional da Indústria Fonográfica. Global Music Report 2024. 2024. Disponível em: https://globalmusicreport.ifpi.org/. Acesso em: 04 jun 2024. [s.l.: s.n.]
HANSLICK, Eduard. Do Belo Musical. Um contributo para a revisão da estética da arte dos sons. Tradução: Artur Mourão. Covilhã, Portugal: Universidade da Beira Interior, 2011.
HOBSBAWM, Eric. A era das revoluções. Rio de Janeiro: 1977.
KANT, Immanuel. Critique of judgement. Oxford University Press, 2007.
KIVY, Peter. Music Alone: Philosophical Reflections on the Purely Musical Experience. London: Cornell UP, 1990.
LE GOFF, Jacques; TRUONG, Nicolas. Uma história do corpo na Idade Média. Tradução: Marcos Flamínio Peres. Revisão: Marcos de Castro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.
LESSA, Sérgio. Lukács e a Ontologia: uma introdução. Outubro, São Paulo, n. 5, p. 83-100, 2001.
LESSA, Sérgio. Para compreender a ontologia de Lukács. 4. ed. Maceió: Coletivo Veredas, 2016.
LESSA, Sérgio. Trabalho imaterial. In: PEREIRA, Isabel Brasil; LIMA, Júlio César França. Dicionário da educação profissional em saúde. 2.ed. rev. ampl. Rio de Janeiro: EPSJV, 2008.
LIPPMAN, Edward. The Philosophy & Aesthetics of Music. Lincoln, NE: University of Nebraska Press, 1999.
LUKÁCS, György. Arte e sociedade: escritos estéticos 1932-1967. Organização, apresentação e tradução: Carlos Nelson Coutinho e José Paulo Netto. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2009.
LUKÁCS, Georg. As bases ontológicas do pensamento e da atividade do homem. In: LUKÁCS, Georg. O jovem Marx e outros escritos de filosofia. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2007.
LUKÁCS, Georg. Estetica I – La peculiaridad de lo estetico. Tradução: Manuel Sacristán. Barcelona/México, D.F.: Grijalbo, 1966.
LUKÁCS, Georg. Para a ontologia do ser social. v. 14. Tradução: Sergio Lessa. Revisão: Mariana Andrade. Maceió: Coletivo Veredas, 2018.
MARTINS, Ângela; NEVES, Lúcia. Cultura e transformação social: Gramsci, Thompson e Williams. Campinas: Mercado de Letras, 2021.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. Crítica da mais recente filosofia alemã em seus representantes Feuerbach, B. Bauer e Stirner, e do socialismo alemão em seus diferentes profetas. Tradução: Rubens Enderle, Nélio Schneider e Luciano Cavini Martorano. São Paulo: Boitempo, 2007.
MARX, Karl. Contribuição à crítica da economia política. Tradução: Florestan Fernandes. São Paulo: Expressão Popular, 2008a.
MARX, Karl. Manuscritos econômico-filosóficos. Tradução: Jesus Ranieri. São Paulo: Boitempo, 2008b.
MARX, Karl. Grundrisse: manuscritos econômicos de 1857-1858: esboços da crítica da economia política. Tradução: Mario Duayer e Nélio Schneider (colaboração de Alice Helga Werner e Rudiger Hoffman). São Paulo: Boitempo; Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2011a.
MARX, Karl. O 18 de brumário de Luís Bonaparte. Tradução e notas: Nélio Schneider. Prólogo: Herbert Marcuse. São Paulo: Boitempo, 2011b.
MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. Livro I – O processo de produção do capital. Tradução: Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2013.
MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. Livro III – O processo global de produção capitalista. Tradução: Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2017.
MARX, Karl. Teses sobre Feuerbach. Lisboa: Editorial “Avante!”; Moscou: Edições Progresso, 1982. Disponível em: https://www.marxists.org/portugues/marx/1845/tesfeuer.htm. Acesso em: 07 ago 2024.
MÉSZÁROS, István. A crise estrutural do capital. Tradução: Raul Francisco Cornejo et al. 2ª ed. rev. ampl. São Paulo: Boitempo, 2011a.
MÉSZÁROS, István. Para além do capital: rumo a uma teoria da transição. Tradução: Paulo César Castanheira e Sérgio Lessa. São Paulo: Boitempo, 2011b.
MITHEN, Steven J. The singing Neanderthals: the origins of music, language, mind, and body. Cambridge, Mass.: Harvard UP, 2006.
NEDER, Álvaro; ROSA, Leandro Montovani da; FERREIRA, Pedro Luiz Fadel; VERAS, Gabriel; RAMOS, Tássio da Rosa; VIEIRA, Leonardo Marques. 'Tocando para as paredes': o trabalho do músico e a pandemia no Rio de Janeiro. In: X ENABET – Encontro Nacional da Associação Brasileira de Etnomusicologia, 2021, Porto Alegre (Remoto). Anais, 2021 [s.l]
PLATÃO. A república. Tradução: Maria Helena da Rocha Pereira. 3ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1980.
PRETTEJOHN, Elizabeth. Art for Art's Sake: Aestheticism in Victorian Painting, Literature, and Music. Londres: Yale University Press, 2008.
RAYNOR, Henry. A Social History of Music: From the Middle Ages to Beethoven. New York: Taplinger, 1976.
REQUIÃO, Luciana. Eis aí a Lapa…: processos e relações de trabalho do músico nas casas de shows da Lapa. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal Fluminense. Niterói: UFF, 2008.
REQUIÃO, Luciana. Eis aí a Lapa…: processos e relações de trabalho do músico nas casas de shows da Lapa. 1ª. ed. São Paulo: Annablume, 2010.
SÁNCHEZ VÁZQUEZ, Adolfo. Convite à Estética. Tradução: Gilson Baptista Soares. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999.
SCHOPENHAUER, Arthur. The World as Will and Representation. v. 1. Brattleboro: Echo Point Books & Media, 2021.
SCHROEDER, Sílvia Cordeiro Nassif. O músico: desconstruindo mitos. Revista da ABEM, Porto Alegre, v. 10, p. 109-118, mar. 2004.
SEASHORE, Carl. E. The psychology of musical talent. Boston: Silver, Burdett and Company, 1919.
SCRUTON, Roger. The Aesthetics of Music. New York: Oxford, 1999.
SEATON, Douglass. Ideas and Styles in the Western Musical Tradition. 4th ed. New York: Oxford UP, 2017.
THYSSEN, Fritz. Eu financiei Hitler. Tradução: Érico Veríssimo. Porto Alegre: Livraria do Globo, 1942.
VOTH, Hans-Joachim; FERGUSON, Thomas. Betting on Hitler – The Value of Political Connections in Nazi Germany. The Quarterly Journal of Economics, v. 123, issue 1, p. 101–137, Feb. 2008. DOI: https://doi.org/10.1162/qjec.2008.123.1.101. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/24092003_Betting_on_Hitler-The_Value_of_Political_Connections_in_Nazi_Germany. Acesso em: 12 set 2024.
WALKER, Nicholas. Introduction. In: KANT, Immanuel. Critique of judgement. Oxford: Oxford University Press, 2007.
WILLIAMS, Raymond. Cultura e sociedade: de Coleridge a Orwell. Tradução: Vera Joscelyne. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.
WOOD, Ellen Meiksins; FOSTER, John Bellamy (orgs.). Em defesa da história: marxismo e pós-modernismo. Tradução: Ruy Jungmann. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1999.
Documentos audiovisuais
DOR E ESPERANÇA. Compositores: Ademar Bogo e Edgar Kolling. Local: Gravadora, 1985. 1 Fita cassete. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=pIMheGWSL_E&t=50s. Acesso em: 05 jan 2020.
JEAN-PHILIPPE Rameau: La Orquesta de Luis XV - Concierto de Jordi Savall. Intérpretes: Le Concert des Nations. Diretor musical: Jordi Savail. [S. l.], 2011. 1 vídeo (1h 48min). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=v1ItcF7PWRM. Acesso em: 17 set. 2024.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Álvaro Neder

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.