Dossiê: Movimentos rebeldes e populações afro-ameríndias na América Latina

Este dossiê explora a trajetória histórica dos movimentos rebeldes protagonizados por populações afro-ameríndias na América Latina, destacando suas contribuições para a formação de resistências coletivas e ressignificação da ação política e da cultura no presente. O foco será em movimentos ocorridos nos séculos XX e XXI na perspectiva da história do tempo presente. O dossiê busca revelar como essas comunidades marginalizadas articularam estratégias de enfrentamento contra as estruturas opressivas, tanto de caráter colonial quanto republicano.

A história da América Latina é marcada por uma série de revoltas populares e insurgências que envolveram diretamente africanos escravizados, descendentes e populações indígenas. As feridas dessas revoltas têm sido mobilizadas em movimentos contemporâneos, tanto por meio de pedidos de reparação histórica, quanto por ataques e tentativas de desqualificação política das ações realizadas no passado. Movimento Zapatista (México), Guerrilhas das FARC e ELN (Colômbia), Caracazo (Venezuela) e, no Brasil, o Contestado, Canudos, Quilombos e Quilombolas, assim como as múltiplas atuações indígenas contemporâneas são alguns exemplos de insurgências e movimentos contemporâneos a nós.

O dossiê pretende reunir artigos que investiguem, sob diversas perspectivas, os fatores que impulsionaram movimentos e insurgências contemporâneas no Brasil e na América Latina. Entre os temas de interesse, estão as relações entre identidade étnica e resistência, as práticas culturais e religiosas como formas de subversão, e a influência dos movimentos afro-ameríndios sobre as lutas contemporâneas por direitos civis, territoriais e sociais. Além disso, o dossiê examinará o impacto dessas resistências na formação de uma memória coletiva e de discursos de identidade afro-ameríndia na América Latina.

Autores são convidados a explorar tanto o papel das comunidades africanas e indígenas na organização de movimentos armados ou pacíficos, quanto as alianças entre essas populações e outros setores marginalizados, como camponeses e trabalhadores urbanos. A interação entre diferentes etnias e culturas dentro dos movimentos insurgentes será um ponto-chave, assim como a adaptação e transformação dessas lutas ao longo do tempo, em resposta às dinâmicas locais e globais de poder.

Outro aspecto central deste dossiê será a análise da memória e do legado dos movimentos e insurgências do passado distante no contexto contemporâneo. Como as populações afro-ameríndias têm reconfigurado suas narrativas históricas? De que forma as suas reivindicações de direitos têm sido articuladas em diálogos com o Estado e outras esferas sociais? Tais questões são fundamentais para entender como a história das resistências afro-ameríndias continua a moldar a política e a cultura da América Latina nos dias atuais.

Organizadores:

Dr. João Paulo Avelãs Nunes -  Universidade de Coimbra

Dr. Rogério Rosa Rodrigues – Universidade do Estado de Santa Catarina