Dossiê: Decolonialidade e antirracismo na (re)escrita da História no tempo presente

Neste dossiê buscaremos reflexões que estabeleçam pontes entre a decolonialidade combativa e os complexos processos de (re)escríta da História a partir da perspectiva dos chamados “condenados da terra”. Entendemos a decolonialidade combativa como um tipo de conjugação entre teoria/prática (práxis) que possibilita perceber/refletir/atuar para a incorporação de saberes negros, africanos e indígenas em espaços acadêmicos e culturais. Não apenas fixando-os como objetos, mas na qualidade de agentes ativos no processo de estruturação e democratização da produção e reprodução do conhecimento no âmbito das ciências humanas, e, em especial, na História. Na contramão dessa perspectiva uma parte expressiva da recepção do chamado giro decolonial na América Latina tem reproduzido uma lógica extrativista e neoliberal das epistemologias dos chamados “outros” do colonialismo e do racismo. Está logica transforma as teses decoloniais (assim como de outras teorias subversivas em relação ao cânone) em commodities retóricas que produzem a acumulação de 'cheques simbólicos' para uma parcela da intelectualidade acadêmica ou artística, mas sem resultar na integração concreta daqueles que deveriam ser o centro de práxis decolonial: as pessoas a quem foram negadas a sua humanidade seja por questões de classe, raça, gênero, religião e/ou sexualidade(s). Para além desse diagnóstico negativo, há mudanças quanto à entrada cada vez mais pujante destas pessoas no espaço acadêmico, questionando as bases curriculares e epistemológicas não só dos cursos de História, mas das ciências humanas como um todo. A História do Tempo Presente, nesse contexto, não pode estar alheia a estas transformações. O debate sobre passados (presentes) traumáticos, negacionismos e o caráter público da história devem ser pensados a partir de aportes que levem em conta os espectros da colonialidade que constituem o Tempo Presente. Para isto, é preciso pensar geopolíticas outras do conhecimento que confrontem o epistemicídio fundado em políticas do tempo histórico passadistas, ou seja, que entendem que há uma ruptura profunda entre os males de um passado distante e a experiência do presente vivido. Portanto, daremos foco a contribuições que façam a intersecção entre os diversos dilemas do tempo presente e este processo de (re)escrita da História com ênfase especial nas pessoas que sofrem diretamente os efeitos dos espectros da racialidade/colonialidade.

Organizadores:

Cláudia Mortari (UDESC)

Marcello Felisberto Morais de Assunção (UFRGS)

Nelson Maldonado-Torres (Universidade de Connecticut-Storrs)