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Submissões até 21 de junho de 2021.
Volvidos cerca de 45 anos da obtenção das suas independências, os Países Africanos de Língua Portuguesa (PALOP) estão sendo atravessados por uma vaga de revisionismo historiográfico que abre novas chaves de leitura sobre o período crucial das lutas pelas independências levadas a cabo em Guiné-Bissau e Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Moçambique e Angola, assim como sobre o processo de descolonização por parte do governo português liderado pelo General Spínola e depois pelo General Costa Gomes, imediatamente depois do 25 de Abril de 1974. Uma tal tentativa de releitura do recente passado está ocorrendo apesar de enormes dificuldades, derivantes basicamente de um clima político não favorável a tais iniciativas, pelo menos naqueles países dos PALOP cujo nível de democracia real continua baixo e em que nunca houve alternância de governo, entre os quais os dois maiores, Angola e Moçambique.
No caso dos PALOP, o lema de que “a história é escrita pelos vencedores” representa uma realidade concreta, que moldou toda a historiografia oficial, principalmente graças ao fato de que todos esses países passaram por uma experiência de adesão ao marxismo-leninismo, com regimes a partido único, que adotaram uma versão da história linear, apologista e unilateral, desconsiderando complexas dinâmicas internas aos movimentos de libertação, que ficaram assim quase que completamente negligenciadas.
Pelo contrário, em todos os PALOP existe uma “outra história”, que inicia de uma necessária reconsideração do processo de descolonização levado a cabo pelo governo português de Salvação Nacional, e termina com possíveis opções políticas “alternativas” que entretanto foram apagadas – por vezes, como no caso de Moçambique, de forma extremamente violenta – e que, apesar da introdução, na década de 1990, do multipartidarismo, da liberdade de expressão e de imprensa, até hoje continuam amplamente ocultadas e incapazes de competir com a historiografia oficial e suas versões de frequente “míticas” e construídas a partir de fontes duvidosas.
Por isso julgámos que tenha chegado a hora de repensar na fundação e na evolução das independências dos PALOP, usando fontes alternativas, quer orais, quer documentais, hoje em parte disponíveis, abrindo assim um debate historiográfico sério e desprovido do pendor político e ideológico que o tem caraterizado até hoje. O período que o dossier considera mais crucial é o das lutas de libertação, assim como dos primeiros anos das experiências socialistas dos PALOP, em que se construiu a historiografia oficial e em que os regimes socialistas expressaram a sua face mais dura.
O presente dossier tenciona portanto refletir sobre o pós-colonial nos PALOP, convidando os autores a propor artigos sobre assuntos inovadores e desafiadores, tais como, a mero título de exemplo:
A comparação entre os vários PALOP no que toca à experiência da luta de libertação nacional.
Organizadores:
Luca Bussotti (UFPE e CEI ISCTE-IUL)
Marc Jaquinet (Universidade Aberta de Lisboa)
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