A intelectualidade entre o terreiro e a academia no século XXI: a contribuição da Iyalorixá Dalzira Maria Aparecida Iyaguña no Sul do Brasil
DOI :
https://doi.org/10.5965/19847246252024e0108Mots-clés :
ancestralidade, matriz africana, terreiro, intelectualidadeRésumé
Este artigo propõe pensar a intelectualidade a partir da produção de conhecimento que se organiza fora dos padrões ocidentais, um lócus sagrado de práticas e ritos de Matriz Africana no Brasil, compreendido como terreiro. A proposta metodológica de perspectiva etnográfica foi realizada por meio de entrevista aberta no terreiro Ilê Asé Ologbo Ogum, com colaboração da Iyalorixá do Candomblé Dalzira Maria Aparecida Iyaguña de Ogum, Mulher Negra retinta — como ela se identifica — que defendeu sua tese de doutorado com oitenta anos. Observou-se por meio das provocações feitas à Iyalorixá e das respostas recebidas que há um tensionamento intelectual que perpassa o trânsito entre a academia e o terreiro. Problematizou-se o conhecimento formal institucionalizado e o conhecimento adquirido por meio das concepções vivenciadas na vertente religiosa de Matriz Africana que tem a ancestralidade como esteio de compreensão do mundo. Desse modo, as narrativas foram articuladas mediante os processos de identidade e resistência, considerando a memória como vínculo para a herança ancestral que, neste artigo, constitui-se por meio do afeto e do laço familiar. Destacou-se a oralidade que preserva, por meio da linguagem oral, a memória ancestral que move o tempo e permanência das pessoas de Tradição de Matriz Africana. Evidenciou-se que a razão epistemológica que desenvolve os processos da intelectualidade produzida no campo do saber, da filosofia e do pensamento de negras/os no Brasil se alicerça em conceitos estruturados a partir da cosmologia africana que atravessa a condição de ser e estar dos sujeitos.
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