A musealização da fonografia “plataformizada”: canção popular brasileira como acervo aural no século XXI

Autores/as

DOI:

https://doi.org/10.5965/19847246252024e0305

Palabras clave:

fonografia, acervo, museu, música popular, plataformas de streaming

Resumen

Neste artigo, parto da premissa de que as mudanças sociais e tecnológicas que envolvem a produção e circulação de música popular hoje, com o declínio de certas mídias, ascensão de outras, como as plataformas de streaming, na tensão entre materialidade e imaterialidade desafiam os museus de tipologia de Imagem e Som (MIS) a desenvolver novas políticas museológicas ante o risco de se formarem lacunas em seus acervos, dificultando a produção da memória e da história referentes à canção popular brasileira do século XXI. Para tanto, proponho-me, num primeiro momento, a examinar historicamente a constituição do que estou denominando “objeto aural”, ou seja, o som – e por consequência, a música popular - capturado enquanto registro pelo advento da fonografia, e sua subsequente inserção nos cenários institucionalizados de salvaguarda patrimonial, conferindo destaque ao contexto brasileiro. Na segunda seção do texto, abordarei sinteticamente as transformações sofridas pela fonografia nos meios digitais. Trarei em caráter experimental e complementar, material empírico recolhido em pesquisa em andamento junto ao MIS-SP, pinçando dentre suas atividades regulares o projeto Estéreo MIS, dedicado a promover apresentações e registros audiovisuais por entrevistas concernentes a artistas associados à dita “música independente” no Brasil. Privilegiando a análise de alguns desses depoimentos, procuro demonstrar a valia desse tipo de política de acervo diante da problemática levantada e dos caminhos que esta pode apontar, aventando como resposta às questões a adaptação de experiências participativas no âmbito das políticas de patrimônio e de musealização associadas a objetos aurais.

Descargas

Los datos de descargas todavía no están disponibles.

Biografía del autor/a

Luiz Henrique Assis Garcia, Universidade Federal de Minas Gerais

Doutor em História pela Universidade Federal de Minas Gerais. Professor do Programa de Pós Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais.

 

 

Citas

ALMEIDA, Luiz Fernando de. Apropriação e salvaguarda do patrimônio imaterial. In: SANTʼANNA, Márcia (org.). Os sambas brasileiros: diversidade, apropriação e salvaguarda. Brasília, DF: Iphan, 2011. p. 06-18.

BASTOS, Ronaldo. As plataformas... Pau dos Ferros, Rio Grande do Norte, 21 de abril de 2023. Facebook: ronaldodubas.https://www.facebook.com/ronaldodubas/posts/pfbid02bQgnKpiD4tGvTteDo3bFrfdQE4XWx93s79GaHi3qt8D4r7byY3EqqnGJaG86Ya6Yl. Acesso em: 21 fev. 2024.

BELIVEAU, Jeremy E. Audio elements: understanding current uses of sound in museum exhibits. 68 p. 2015. Dissertação (Mestrado em Artes) – University of Washington, Washington, DC, 2015.

CHAGAS, Mário; ABREU, Regina. Museu da Maré: memórias e narrativas a favor da dignidade social. MUSAS- Revista Brasileira de Museus e Museologia, Rio de Janeiro: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Departamento de Museus e Centros Culturais, n.3, p. 130-152, 2007.

CURY, Marília. Xavier. O Protagonismo indígena e museu: abordagens e metodologias. Museologia & Interdisciplinaridade, Brasília, v. 10, n. 19, p. 14-21, 2021.

DE MARCHI, Leonardo. A indústria fonográfica digital: formatação, lógica e tendências. Rio de Janeiro: Mauad X, 2023.

DESVALLÉES, André.; MAIRESSE, François. Conceitos-chave de museologia. São Paulo: Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Museus: Pinacoteca do Estado de São Paulo: Secretaria de Estado da Cultura, 2013. 100 p.

ECO, Umberto. Apocalípticos e integrados. São Paulo: Perspectiva, 1976.

ESTEROMIS/AMENJR. https://mis-sp.org.br/evento/estereo-mis-amen-jr/. MIS-SP. São Paulo. Acesso em: 20 fev. 2024.

GALLETTA, Thiago. Cena musical paulistana dos anos 2010 e o “novo artista da música” na produção independente brasileira pós-internet. Música Popular em Revista, Campinas, ano 5, v. 2, p. 116-141, jan./jul. 2018.

GARCIA, Luiz Henrique A. Há lugares que eu me lembro: encenando o espaço urbano na exposição permanente do museu The Beatles Story. In: SEMINÁRIO BRASILEIRO DE

MUSEOLOGIA, 2., 2015. Recife. Anais eletrônicos [...]. Recife: MUHNE/Fundaj, 2017. v. 1. p. 1-16.

GARCIA, Luiz Henrique A.; MARRA, Pedro S. Paisagem sonora e patrimônio cultural: um estudo exploratório. In: CUSTÓDIO, Maraluce Maria; BAROTTI, Fernando; MÁXIMO, Maria Flávia Cardoso. Direito de paisagem: aspectos jurídicos e interdisciplinares.1 ed.Belo Horizonte: D’Plácido, 2020. v. 1. p. 235-250.

GARCIA, Luiz Henrique; MELLER, Lauro; LENTZ, Guilherme. Relembrando e relendo “Sgt. Pepper”. Revista Vórtex, Curitiba, v. 10, n. 2, p. 1-18, 2022.

GARCIA, Luiz Henrique; PÚBLIO, Húdson Lima; SANTANA, Isac Daniel. Esquina com Abbey Road: a música popular como patrimônio cultural entre lugares, mídias e cidades. MusiMid: Revista Brasileira de Estudos em Música e Mídia, São Paulo, v. 3, n. 1, p. 62-75, 2022.

HAFSTEIN, Valdimar Tr. Intangible heritage as a festival; or, folklorization revisited. Journal of American Folklore, Bloomington, n. 131, p. 127-148, 2018.

KANNENBERG, John. Listening to museums: sound mapping towards a sonically inclusive museology. Museological Review, Leicester: University of Leicester, p. 6-17, 2016.

LEONARD, Marion. Exhibiting popular music: museum audiences, inclusion and social history. Journal of New Music Research, New York, v. 39, n. 2, p. 171-181, 2010.

MACHADO, Cacá. Entre o passado e o futuro das coleções e acervos de música no Brasil. Revista de História, São Paulo, n. 173, p. 457-484, 2015.

MAMMI, Lorenzo. A era do disco. Revista Piauí, Rio de Janeiro, n. 89, p. 36-41, 2014.

MIGUEL Nicolelis explica por que a IA nem é inteligência nem é artificial: reconversa #21. [S. l.: s. n.], 2023. 1 vídeo (101 min.). Publicado pelo canal Reinaldo Azevedo. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Fw8fJxWhQX8. Acesso em: 21fev. 2024.

NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Projeto História, São Paulo, v. 10, p. 7-28, dez. 1993.

OLIVEIRA, Denise da Silva. O som como “patrimônio”: museus sonoros e a experiência da Discoteca pública do Distrito Federal nos anos 1940. In: SEMINÁRIO NACIONAL HISTÓRIA E PATRIMÔNIO CULTURAL, 2., 2018, Rio de Janeiro. Anais [...]. Rio de Janeiro: Unirio, 2018. p. 121-134. GT história e patrimônio cultural.

PINTO, Tiago de Oliveira. Cem anos de etnomusicologia e a ‘era fonográfica’ da disciplina no Brasil. In: ENCONTRO NACIONAL DE ETNOMUSICOLOGIA, 2., 2004, Salvador. Anais [...]. [S. l.]: ABET; Brasília, DF: CNPq; São Paulo: Contexto, 2005. p. 103-124.

PRIMO, Judite. Pensar contemporaneamente a museologia. Cadernos de Sociomuseologia Centro de Estudos de Sociomuseologia, América do Norte, n. 16, p. 5-38, jun. 2009.

SANDRONI, Carlos. O acervo da Missão de Pesquisas Folclóricas, 1938-2012. Debates, Rio de Janeiro: Unirio, n. 12, p. 55-62, jun. 2014.

SANTOS, Maria Célia. Reflexões sobre a nova museologia. Cadernos de Sociomuseologia Centro de Estudos de Sociomuseologia, América do Norte, n. 18, p. 93-139, jun. 2002.

SCHAFER, R. Murray. A afinação do mundo. São Paulo: Editora Unesp, 1997.

STERNE, Jonathan. The audible past: cultural origins of sound reproduction. Durham: Duke University Press, 2003.

TRAVASSOS, Elizabeth. Poder e valor das listas nas políticas de patrimônio e na música popular. Porto Alegre, 03 maio 2006. 11 p. Mimeografado. Texto elaborado para o debate A memória da música popular promovido pelo Projeto Unimúsica 2006 – festa e folguedo.

VIANA, Natália. Spotify ameaça deixar Uruguai para não pagar mais a artistas. Pública, São Paulo, 28 nov. 2023. Disponível em: https://apublica.org/2023/11/spotify-ameaca-deixar-uruguai-para-nao-pagar-mais-a-artistas/?fbclid=IwAR06zY3oIFLt5WWGg7piekYid-NW4qKZG-QDQ_xqOiMSPBCMkADXiMGQMs0. Acesso em: 21 fev. 2024.

Publicado

2024-10-14

Cómo citar

GARCIA, Luiz Henrique Assis. A musealização da fonografia “plataformizada”: canção popular brasileira como acervo aural no século XXI. PerCursos, Florianópolis, v. 25, p. e0305, 2024. DOI: 10.5965/19847246252024e0305. Disponível em: https://revistas.udesc.br/index.php/percursos/article/view/25231. Acesso em: 3 dic. 2024.

Número

Sección

Dossiê 2024/3 "Canção popular, mercado musical e política no Brasil ..."