Dez anos da “PEC das domésticas”: da eterna luta interseccional aos seus avanços e contradições

Autores/as

DOI:

https://doi.org/10.5965/19847246252024e0506

Palabras clave:

trabalho feminino, trabalho doméstico, Lei nº. 150/15, interseccionalidade, gênero

Resumen

Ao longo dos últimos dez anos, desde a “PEC das domésticas” até a Lei nº. 150/2015, ainda é necessário compreender as realidades do trabalho doméstico e os aspectos sociais e culturais no processo de reconhecimento de direitos das trabalhadoras domésticas. Esta análise é contextualizada por meio de pesquisa bibliográfica concatenada com os dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (2022), de forma a verificar a realidade empírica do trabalho doméstico no Brasil sob uma perspectiva interseccional. Os resultados empíricos indicam a colonialidade do poder nas relações sociais e legais, a divisão racial do trabalho, o empobrecimento da chefia familiar feminina e a migração para a categoria “diarista”. Ao analisar os avanços nos aspectos sociais e culturais, vislumbra-se a mobilização associativa e sindical na luta interseccional em prol do reconhecimento, a questão da resistência e a visibilidade do trabalho doméstico da esfera privada para a pública.

Descargas

Los datos de descargas todavía no están disponibles.

Biografía del autor/a

Guélmer Júnior Almeida de Faria, Universidade Federal de Viçosa

Doutor em Desenvolvimento Social pela Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES).  Pesquisador do Instituto de Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável (IPPDS/UFV). 

Citas

ACCIARI, Louisa. Practicing intersectionality: Brazilian domestic workers’ strategies of building alliances and mobilizing identity. Latin American Research Review, Cambridge, v. 56, n. 1, p. 67-81, 2021.

AGÊNCIA SENADO. Luta por direitos das domésticas é permanente, dizem debatedores. Brasília, DF: Senado da República, 2023. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2023/04/17/luta-por-direitos-das-domesticas-e-permanente-dizem-debatedores. Acesso em: 18 abr. 2023.

BERNARDINO-COSTA, Joaze. Decolonialidade e interseccionalidade emancipadora: a organização política das trabalhadoras domésticas no brasil. Sociedade e Estado, [S.l.], v. 30, n. 1, p. 147-163, 2015.

BRASIL. Lei Complementar nº. 150, de 1º de junho de 2015. Dispõe sobre o contrato de trabalho doméstico; altera as Leis nº. 8.212, de 24 de julho de 1991, nº. 8.213, de 24 de julho de 1991, e nº. 11.196, de 21 de novembro de 2005; revoga o inciso I do art. 3º da Lei nº. 8.009, de 29 de março de 1990, o art. 36 da Lei nº. 8.213, de 24 de julho de 1991, a Lei nº. 5.859, de 11 de dezembro de 1972, e o inciso VII do art. 12 da Lei nº. 9.250, de 26 de dezembro 1995; e dá outras providências. Brasília, DF: Câmara dos Deputados, 2015. Disponível em https://www2.camara. leg.br/legin/fed/leicom/2015/leicomplementar-150-1-junho-2015-780907-publicacaooriginal147120-pl.html. Acesso em: 03 mar. 2023.

BRASIL. Lei 13.467, de 13 de julho de 2017. Altera a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, e as Leis nº. 6.019, de 3 de janeiro de 1974, nº. 8.036, de 11 de maio de 1990, e nº. 8.212, de 24 de julho de 1991, a fim de adequar a legislação às novas relações de trabalho. Diário Oficial da União, Brasília, DF, seção 1, ano 154, , nº 134, p. 27, 14 jul. 2017. Disponível em: https://repositorio.cgu.gov.br/bitstream/1/33433/22/Publicacao_lei_13467_2017.pdf. Acesso em: 13 de dez. 2023.

BRITES, Jurema; PICANÇO, Felícia. O emprego doméstico no Brasil em números, tensões e contradições: alguns achados de pesquisas. Revista Latino-americana de Estudos do Trabalho, Rio de Janeiro, v. 19, n. 31, p. 131-158, 2014.

CARNEIRO, Sueli Aparecida. Escritos de uma vida: Sueli Carneiro. Belo Horizon¬te: Letramento, 2018.

CARVALHO, Mônica Gurjão; GONÇALVES, Maria da Graça Marchina. Trabalho doméstico remunerado e resistência: interseccionando raça, gênero e classe. Psicologia: Ciência e Profissão, Brasília, v. 43, p. 1-16, 2023.

CRENSHAW, Kimberlé. Documento para o encontro de especialistas em aspectos da discriminação racial relativos ao gênero. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 1, p. 171-188, 2002.

COLLINS, Patricia Hill. Black feminist thought: knowledge, consciousness, and the politics of empowerment. Nova York: Routledge, 2008.

COSTA, Ana Cláudia Gurgel Passos da; FERNANDES, Estevão Rafael. Violações e desvalorização dos direitos humanos e trabalhistas das empregadas domésticas. Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação, São Paulo, v. 9, n. 9, p. 754-753, 2023.

DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATÍSTICA E ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS. Trabalho doméstico no Brasil. In: Estudos e Pesquisa, São Paulo, p. 1-2, 2022. Disponível em: https://www.dieese.org.br/outraspublicacoes/2021/trabalhoDomestico.pdf. Acesso em: 26 fev. 2023.

DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATÍSTICA E ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS. O trabalho doméstico 10 anos após a PEC das Domésticas. In: Estudos e Pesquisa, São Paulo, p. 1-25, 2023. Disponível em: https://www.dieese.org.br/estudosepesquisas/2023/estPesq106trabDomestico.pdf. Acesso em: 20 dez. 2023.

FARIA, Guélmer Júnior Almeida de; SANTOS, Lilian Maria; PAULA, Andrea Maria Narciso Rocha de. “Ir ou não ir à oficina?”: relato de experiência de pesquisa social com empregadas domésticas migrantes. In: BANDEIRA, Gláucio Martins da Silva; FREITAS, Patrícia Gonçalves de (orgs.). Psicologia: reflexões, métodos e processos integrados em sociedade: volume 1. Rio de Janeiro: ePublicar, 2021. p. 327-347.

FEDERICI, Silvia. Calibã e a bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva. São Paulo: Elefante, 2017. 406 p.

FONTANA, Mónica G. Zoppi; CESTARI, Mariana Jafet. Cara de empregada doméstica: discursos sobre os corpos de mulheres negras no Brasil. Revista Rua, Campinas, p. 167-185, 2014. Edição Especial – 20 anos.

FRAGA, Alexandre Barbosa; MONTICELLI, Thays Almeida. “PEC das domésticas”: holofotes e bastidores. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 29, n. 3, p. 1-17, 2021.

FRAGA, Alexandre Barbosa. De empregada a diarista: as novas configurações do trabalho doméstico remunerado. Rio de Janeiro: Editora Multifoco, 2013.

GOLDSTEIN, Donna. The aesthtics of domination: class, culture, and the lives of domestic workers. In: Laughter out of place: race, class and sexuality in a Rio Shanytown. Berkeley: University of California Press, 2003. p. 58-102.

GONZALEZ, Lélia. E a trabalhadora negra, cumé que fica? Jornal Mulherio, São Paulo, v. 2, n. 7, p. 9-10, 1982.

HONNET, Axel. A luta pelo reconhecimento: a gramática moral dos conflitos. São Paulo: Editora 34, 2003.

IPEA. INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Retratos das desigualdades de gênero e raça. Brasília, DF: IPEA, 2014. Recuperado de: http://www.ipea.gov.br/ retrato/pdf/revista.pdf. Acesso em: 23 maio 2020.

LE GUILLANT, Louis. Incidências psicopatológicas da condição de empregada doméstica. In: LIMA, Maria Elizabeth Antunes (org.). Escritos de Louis Le Guillant: da ergoterapia à psicopatologia do trabalho. Petrópolis: Vozes, 2006. p. 242-286.

LEITE, Gisele. Comentários á ementa constitucional 72/2013 (PEC das domésticas). In: Research Gate, [S. l.], 2013. Disponível em: https://www.researchgate.net/profile/Gisele-Leite2/publication/236965361_Comentarios_a_PEC_das_Domesticas/links/0deec51a7e7 85cd1aa000000/Comentarios-a-PEC-das-Domesticas.pdf?origin=publication_detail. Acesso em: 20 abr. 2023.

LIMA, Márcia; PRATES, Ian. Emprego doméstico e mudança social Reprodução e heterogeneidade na base da estrutura ocupacional brasileira. Tempo Social, São Paulo, v. 31, n. 2, p. 149-172, 2019. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ts/a/mZtFVwnF8twnKKwnD9FhZnG/. Acesso em: 12 set. 2023.

MATOS, Marlise. As mulheres brasileiras lutam: suas conquistas e sua resistência. In: CARVALHO, Daniela Tiffany Prado de; SILVA, Elisa Maria Taborda da; SANTOS, Polianna Pereira dos (orgs.). Mulheres na sociedade: desafios para a visibilidade feminina. Belo Horizonte: Editora D’Plácido, 2018. p. 11- 22.

MELO, Cecy Bezerra de. A diarização do trabalho doméstico e o processo de tornar-se diarista. In: ENCONTRO ANUAL DA ANPOCS, 47., 18 a 27 out. 2023, Campinas. Anais [...]. Campinas: ANPOCS, 2023. p. 1-18.

NUNES, Sthefany Cristina da Silva. Interseccionalidade e o trabalho doméstico: uma análise jurídico-sociológica. 37 f. 2022. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel em Direito) – Faculdade de Direito Professor Jacy de Assis – FADIR, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2022.

OIT - ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Convenção e recomendação sobre trabalho decente para as trabalhadoras e os trabalhadores domésticos. In: ONU Mulheres, [S. l.], 2010. Disponível em: http://www.oitbrasil.org.br/sites/default/iles/topic/gender/pub/ trabalho_ domestico_nota_5_565_739.pdf. Acesso em: 06 dez. 2023.

OLIVEIRA, Ayesha Danielle Rezende Macedo de; PEDROSA, Jussara Melo. Fiscalização do trabalho escravo doméstico: a provável violação de domicílio do empregador. Revista de Direito do Trabalho, São Paulo, v. 42, n. 168, p. 1-14, mar./abr. 2016.

PINHEIRO, Luana; GONZALEZ, Roberto; FONTOURA, Natália. Expansão dos direitos das trabalhadoras domésticas no Brasil. Nota Técnica, Brasília, DF: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, n. 10, p. 1-50, 2012. Disponível em:

https://portalantigo.ipea.gov.br/agencia/images/stories/PDFs/nota_tecnica/120830_notatecnicadisoc010.pdf. Acesso em: 23 dez. 2023.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In: LANDER, Edgardo (org.). A colonialidadedo saber: eurocentrismo e ciências sociais – perspectivas latino-americanas. [S. l.]: Clacso, 2005. p. 107-130.

RARA, Preta. Eu, empregada doméstica: a senzala moderna é o quartinho de empregada. Belo Horizonte: Letramento, 2019.

RIBEIRO FILHO, Francisco Domiro; RIBEIRO, Sofia Regina Paiva. Evolução histórico-jurídica do trabalho doméstico. Lex Humana, Petrópolis, v. 8, n. 2, p. 45-71, 2017.

ROBERTS, Madeleine Octavia. De “um pé na cozinha” a “um pé na porta”: a PEC das Domésticas no Brasil, suas oportunidades e seus desafios. Revista Mundos do Trabalho, Florianópolis, v. 10, n. 20, p. 31-59, 2019. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/mundosdotrabalho/article/view/1984-9222.2018v10n20p31/40890. Acesso em: 23 ago. 2023.

RODRIGUES, Marta Bonow; ALFONSO, Louise Prado; RIETH, Flávia Maria Silva. Ações participativas com trabalhadoras domésticas fomentando debates para visibilizar a profissão desde o passado escravista até a atualidade em Pelotas/RS. Cadernos de Gênero e Diversidade, Salvador, v. 3, n. 4, p. 8-29, out./dez. 2017.

RUY, Marco Aurélio. Dieese aponta as dificuldades das trabalhadoras domésticas em meio à pandemia. [S. l.]: Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil, 17 jul. 2020. Disponível em: https://ctb.org.br/direito-do-trabalho/dieese-aponta-as-dificuldades-das-trabalhadoras-domesticas-em-meio-a-pandemia/. Acesso em: 19 abr. 2023.

SAVICKI, Michele. Mulher, pobre, negra e doméstica: efetivação de direitos e desafios na realização da justiça social. 2019. 121 f. Dissertação (Mestrado em Sociologia) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2019. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/211532. Acesso em: 18 abr. 2023.

SORATTO, Lúcia Helena. Quando o trabalho é na casa do outro: um estudo sobre empregadas domésticas. 328 f. 2006. Tese (Doutorado em Psicologia) – Instituto de Psicologia, Universidade de Brasília, Brasília, 2006.

TANAKA, Sheila. Interseccionalidade e trabalho doméstico: o debate público sobre a emenda constitucional 72 no Brasil. 123. ed. São Paulo: Cadernos Cedec, 2017. 80 p.

TEIXEIRA, Alessandra; RODRIGUES, Priscila dos Santos. “Limpar o mundo” em tempos de Covid-19: trabalhadoras domésticas entre a reprodução e a expropriação social. Sociologias, Porto Alegre, v. 24, n. 60, p. 170-196, 2022. Disponível em: https://www.scielo.br/j/soc/a/bwgTx7NjwrM9nMQGwmqzvmw/#:~:text=A%20pandemia%20e%20a%20crise,trabalhadores%2Fas%20assalariados%2Fas. Acesso em: 02 out. 2023.

VALERIANO, Marta Maria; TOSTA, Tania Ludmila Dias. Trabalho e família de trabalhadoras domésticas em tempos de pandemia: uma análise interseccional. Civitas - Revista de Ciências Sociais, Porto Alegre, v. 21, n. 3, p. 412-422, 2021. Disponível em: https://revistaseletronicas.pucrs.br/index.php/civitas/article/view/40571/27239. Acesso em: 11 nov. 2023.

VERGÈS, Françoise. Um feminismo decolonial. São Paulo: Ubu Editora, 2020.

Publicado

2024-07-24

Cómo citar

FARIA, Guélmer Júnior Almeida de. Dez anos da “PEC das domésticas”: da eterna luta interseccional aos seus avanços e contradições. PerCursos, Florianópolis, v. 25, p. e0506, 2024. DOI: 10.5965/19847246252024e0506. Disponível em: https://revistas.udesc.br/index.php/percursos/article/view/23656. Acesso em: 27 jul. 2024.

Número

Sección

Artículos Demanda Continuada