Espelho, espelho meu... a ferida narcísica de um colonialismo falocêntrico
DOI:
https://doi.org/10.5965/1984724622482021061Palabras clave:
Feminismo, Decolonial, Gênero, RacismoResumen
O que aconteceria se nossos corpos falassem, se nossas bocas amordaçadas gritassem o silêncio de todos esses séculos? Grada Kilomba, em A memória da plantação, nos expõe que, através da criação de uma nova linguagem decolonial, é possível a reconstrução das estruturas de poder e que as identidades marginalizadas podem, então, reconfigurar a noção de conhecimento. Sabemos que o sistema patriarcal moderno colonizou ao longo da história nossas narrativas, nossas línguas, que são intraduzíveis para os colonizadores, sendo a língua um ideal regulatório. bell hooks, em E eu não sou uma mulher?, descreve como a literatura foi eficaz na criação de um imaginário dos corpos negros. Lugones nos fala como o processo moderno colonial de gênero aprisiona os corpos latino-americanos, ou mesmo, como Lélia Gonzalez chama, amerifricanos. A partir dessas vozes e do pensamento feminista decolonial, defendo a urgência que temos em criar uma nova linguagem fugindo das restrições gramaticais que perpassam o gênero, a sexualidade e racialidade, sendo essas categorias imbricadas. É preciso tomar uma posição de autores e não de objetos, narrar nossa própria história, dando lugar a um outro vocabulário, delatando nossos silêncios, nossas máscaras de mordaças colonizadoras, nossas vozes torturadas, nossas línguas rompidas, idiomas impostos, discursos impedidos. Escrever é, portanto, um ato de resistência e uma fome coletiva e política de ganhar voz. Proponho um trabalho que é, ao mesmo tempo, um discurso político e uma narrativa pessoal e poética, que coloque a precariedade, a dor, a emoção, as experiências dos corpos amerifricanos incorporados no discurso e que rompa com a lógica colonial moderna capitalista, e que também é patriarcal.
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