Espelho, espelho meu... a ferida narcísica de um colonialismo falocêntrico

Autores

  • Aline de Oliveira Rosa Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ

DOI:

https://doi.org/10.5965/1984724622482021061

Palavras-chave:

Feminismo, Decolonial, Gênero, Racismo

Resumo

O que aconteceria se nossos corpos falassem, se nossas bocas amordaçadas gritassem o silêncio de todos esses séculos? Grada Kilomba, em A memória da plantação, nos expõe que, através da criação de uma nova linguagem decolonial, é possível a reconstrução das estruturas de poder e que as identidades marginalizadas podem, então, reconfigurar a noção de conhecimento. Sabemos que o sistema patriarcal moderno colonizou ao longo da história nossas narrativas, nossas línguas, que são intraduzíveis para os colonizadores, sendo a língua um ideal regulatório. bell hooks, em E eu não sou uma mulher?, descreve como a literatura foi eficaz na criação de um imaginário dos corpos negros. Lugones nos fala como o processo moderno colonial de gênero aprisiona os corpos latino-americanos, ou mesmo, como Lélia Gonzalez chama, amerifricanos. A partir dessas vozes e do pensamento feminista decolonial, defendo a urgência que temos em criar uma nova linguagem fugindo das restrições gramaticais que perpassam o gênero, a sexualidade e racialidade, sendo essas categorias imbricadas. É preciso tomar uma posição de autores e não de objetos, narrar nossa própria história, dando lugar a um outro vocabulário, delatando nossos silêncios, nossas máscaras de mordaças colonizadoras, nossas vozes torturadas, nossas línguas rompidas, idiomas impostos, discursos impedidos. Escrever é, portanto, um ato de resistência e uma fome coletiva e política de ganhar voz. Proponho um trabalho que é, ao mesmo tempo, um discurso político e uma narrativa pessoal e poética, que coloque a precariedade, a dor, a emoção, as experiências dos corpos amerifricanos incorporados no discurso e que rompa com a lógica colonial moderna capitalista, e que também é patriarcal.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Aline de Oliveira Rosa, Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ

Doutorando em filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa Descolonial Carolina Maria de Jesus, vinculado ao Laboratório Antígona de Filosofia e Gênero - UFRJ.

Referências

ABYA YALA. In: Enciclopédia Latino Americana. Por Carlos Walter Porto-Gonçalves. São Paulo: Boitempo, 2019. Disponível em: http://latinoamericana.wiki.br/verbetes/a/abya-yala. Acesso em: 26/08/2020.

BALLESTRIN, Luciana. América Latina e o giro decolonial. Revista Brasileira de Ciência Política, Brasília, n.11, maio/ago. 2013.

CUSICANQUI, Silvia Rivera. Un mundo ch’ixi es posible: ensayos desde un presente en crisis. Buenos Aires: Tinta Limón, 2018.

FEDERICI, Silvia. Calibã e a bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva. São Paulo: Elefante, 2017.

GONZALEZ, Lélia. Racismo e sexismo na cultura brasileira. Revista Ciências Sociais Hoje, São Paulo: Anpocs, p. 223-244, 1984.

GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano. In: HOLLANDA, Heloisa Buarque de (org.). Pensamento feminista hoje: perspectivas decoloniais. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2020.

KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.

LUGONES, Maria. Colonialidade e gênero. In: HOLLANDA, Heloisa Buarque de (org.). Pensamento feminista hoje: perspectivas decoloniais. Rio de Janeiro: Bazar do tempo, 2020. p. 53-83.

LUGONES, Maria. Rumo a um feminismo decolonial. In: HOLLANDA, Heloisa Buarque de (org.). Pensamento feminista: conceitos fundamentais. Rio de Janeiro: Bazar do tempo, 2019. p. 357-377.

MIGNOLO, Walter. Decolonizing western epistemology/building decolonial epistemologies. In: ISASI-DÍAZ, Ada María; MENDIETA, Eduardo (eds.). Decolonizing epistemologies: Latina/o theology and philosophy. New York: Fordham University Press, 2012. p. 19-43.

MIÑOSO, Yuderkys Espinosa. El ideal de mujer del feminismo implica la explotación de la mayoría de mujeres y varones extraeuropeos. [Entrevista cedida a] Amanda Andrade. GLEFAS, Colombia, n.1, jun./agos. 2020. Disponível em: http://glefas.org/entrevista-el-ideal-de-mujer-del-feminismo-implica-la-explotacion-de-la-mayoria-de-mujeres-y-varones-extraeuropeos/. Acesso em: 22/04/2020.

MIÑOSO, Yuderkys Espinosa. Fazendo uma genealogia da experiência: o método rumo a uma crítica da colonialidade da razão feminista a partir da experiência histórica na América Latina. In: HOLLANDA, Heloisa Buarque de (org.). Pensamento feminista hoje: perspectivas decoloniais. Rio de Janeiro: Bazar do tempo, 2020. p. 97-118.

MIÑOSO, Yuderkys Espinosa. Y la una no se mueve sin la otra: descolonialidad, antiracismo y feminismo. una trieja inseparable para los procesos de cambio. Revista Venezolana de Estudios de la mujer, Venezuela, vol. 21/n°46, p. 47-64, Jan - JUN. 2013.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidad del poder, globalización y democracia. Revista de Ciencias Sociales de la Universidad Autónoma de Nuevo León, Buenos Aires, ano 17, n. 37, p. 43-78, maio. 2001.

RESTREPO, Eduardo; ROJAS, Axel. Inflexión decolonial: fuentes, conceptos y cuestionamientos. Popayán: Editorial Universidad del Cauca, 2010.

OYĚWÙMÍ, Oyèrónkẹ́. DESAPRENDENDO LIÇÕES DA COLONIALIDADE: ESCAVANDO SABERES SUBJUGADOS E EPISTEMOLOGIAS MARGINALIZADAS. Por Decolonialidade e perspectiva negra. 2019. 1 vídeo (12 min). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=zeFI9vTl8ZU. Acesso em 29/05/2020.

Downloads

Publicado

2021-05-21

Como Citar

ROSA, Aline de Oliveira. Espelho, espelho meu... a ferida narcísica de um colonialismo falocêntrico. PerCursos, Florianópolis, v. 22, n. 48, p. 061–082, 2021. DOI: 10.5965/1984724622482021061. Disponível em: https://revistas.udesc.br/index.php/percursos/article/view/18972. Acesso em: 3 dez. 2024.