Três gravações de campo na cidade do Rio de Janeiro

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5965/2525530405022020e0005

Palavras-chave:

Gravação de campo, escuta, caminhadas urbanas, espaço negativo, espaço opaco

Resumo

O artigo apresenta três caminhadas para escuta e captação fotográfica e fonográfica pelo autor por uma região da cidade do Rio de Janeiro, além de uma análise poética do material obtido. A fim de embasar a análise, faz uma revisão teórica que busca entrelaçar conceitos ligados ao deslocamento urbano e à escuta. A partir da tese de Steven Feld (2015), que parte da premissa de que o som é objeto de conhecimento de tecidos sociais, o sonoro pode se manifestar como foco da investigação dos lugares visitados que, pelas suas características urbanas, podem ser entendidos, no contexto da cidade contemporânea, como espaços negativos (SANTOS, 1994) ou espaços opacos (CARERI, 2017) – conceitos que terão repercussões nas três narrativas descritivo-analíticas. O material obtido procura inter-relacionar os registros textuais e fotográficos com o sonoro, a fim de contextualizar sua escuta. Apesar de uma das incursões resultar em uma instalação sonora, o material sonoro e visual obtido nas incursões é anterior a uma realização artística no formato obra, sendo que tanto sua escuta quanto as análises que seguem neste texto constituem parte de um processo composicional em curso ou, ao menos, uma metodologia para criação sonoro-musical a partir de gravações de campo.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Alexandre Sperandéo Fenerich, Unirio

Compositor e sound designer, é Doutor em Musicologia pela USP com pesquisa sobre a relação entre música concreta, intimidade e voz. Trabalha com composição musical sobre mídias digitais, com foco em “live eletronics”, espacialização aural e performances audiovisuais ao vivo. Participou de projetos internacionais como compositor e “sound designer” na Alemanha, em Portugal e no Brasil, além de diversos festivais de música e artes digitais como: Festival Ibrasotope, Live Cinema, Bienal de Música Contemporânea Brasileira, Bienal Música Nova de Curitiba, Festival Villa-Lobos (RJ), ZKM (Alemanha), Münchener Bienalle, Futura (França), Beliner März Musik. Tem colaborado, desde 2001, com compositores, diretores de cinema, dançarinos, artistas visuais e teatrólogos. Trabalhou com Tato Taborda em seu multi- instrumento Geralda e realizou a espacialização sonora de sua ópera  A Queda do Céu, que contou com récitas em Munique, Viena e São Paulo. Também tem atuado junto a Giuliano Obici no Duo N-1, centrado em experimentações sonoras e audiovisuais, com o qual já participou de diversos festivais no Brasil e na Alemanha. Ganhou diversos prêmios e editais com seu trabalho, como o Prêmio Funarte de Composição Clássica (2005). É professor adjunto do Instituto Villa-Lobos da Unirio e membro do Programa de Pós-graduação em Música da mesma universidade. Atualmente é professor visitante na Universität der Kunst, Berlim, e conta com uma bolsa para pesquisador experiente da Capes-Humboldt.

Referências

BANDEIRA, M. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1993 [1944].

BERENSTEIN, P. Elogio aos errantes. Salvador: Ud. UFBA, 2014.

CARERI, F. Walkscapes: o caminhar como prática estética. São Paulo: Gustavo Gili, 2013.

CARERI, F. Caminhar e parar. São Paulo: Gustavo Gili, 2017.

CAUX, J.; FERRARI, L. Presque Rien avec Luc Ferrari. Paris: Main d’Oeuvre, 2002.

DROTT, E. The Politics of Presque Rien. In: ADLINGTON, R. Sound commitments: avant-garde and the sixties. New York: Oxford University Press, 2009.

FELD, S. Acoustemology. In: NOVAK, D.; SAKAKEENY, M. Keyword in sound. Durham: Duke University Press, 2015.

FENERICH, A. S. A inscrição da intimidade na Symphonie pour un Homme Seul. Tese (Doutorado em Artes) – USP, São Paulo, 2012.

FENERICH, A. S. Wanderings through the aterro do mangue of Rio de Janeiro. In: BREITSAMETER, S.; KARAKIZ, C. The Global Composition 2018: conference on sound, ecology and media culture – proceedings. Dieburg: Hochschule Darmstadt, 2018.

FOSTER, H. O retorno do real. São Paulo: Cosac Naify, 2014.

GILKEY, R.; ANDERSON, T. Binaural and spatial hearing in real and virtual environments. New York: Psychology Press, 2014.

GUTIERREZ, A. Flâneuse>La caminanta. In: BREITSAMETER, S.; KARAKIZ, C. The global

composition 2018: conference on sound, ecology and media culture – proceedings. Dieburg: Hochschule Darmstadt, 2018.

KIM-COHEN, Seth. In the blink of an ear: toward an non-cochlear sound art. New York: Continuum, 2009.

LA BURTHE, A. The immersive power of binaural sound: an interwiew with Amaury La Burthe. [Entrevista cedida a] Benjamin Huguet. CMF Trends, 25 jan. 2017. Disponível em: https://trends.cmf-fmc.ca/the-immersive-power-of-binaural-sound-an-interview-with-amaury-la-burthe-audiogaming/. Acesso em: 23 jun. 2020.

NANCY, J. Listening. New York: Fordham University Press, 2007.

SANTOS, M. Técnica espaço tempo: globalização e meio técnico-científico informacional. São Paulo: Hucitec, 1994.

SANTOS, M. Elogio da lentidão. Folha de S.Paulo, São Paulo, 11 mar. 2001.

SCHAEFFER, P. À la recherche d’une musique concrète. Paris: Éditions du Seuil, 1952.

SCHAUB, M.; CARDIFF, J. Janet Cardiff: the walk book. Viena: Thyssen-Bornemisza Art Contemporary, 2005.

SMALLEY, D. La Spectromorphologie. Une explication des formes du son. Ars Sonora, n. 8, p. 64-114, 1999.

WESTERKAMP. H. Soundwalking as Ecological Practice. Hildegard Westerkamp, 3 nov. 2006. Disponível em: http://www.hildegardwesterkamp.ca/writings/writingsby/?post_id=14&title=%E2%80%8Bsoundwalkin g-as-ecological-practice. Acesso em: 20 fev. 2019.

Downloads

Publicado

2020-12-14

Como Citar

FENERICH, Alexandre Sperandéo. Três gravações de campo na cidade do Rio de Janeiro. Orfeu, Florianópolis, v. 5, n. 2, 2020. DOI: 10.5965/2525530405022020e0005. Disponível em: https://revistas.udesc.br/index.php/orfeu/article/view/17305. Acesso em: 26 dez. 2024.