
Pedagogias imantadas pelo feminismo decolonial no ensino superior: estudo e criação em artes cênicas
Camila Bastos Bacellar
Florianópolis, v.3, n.56, p.1-24, dez. 2025
integrou temporariamente o currículo de interpretação teatral da UNIRIO,
ministrada por Isac Bernart durante seu estágio doutoral, quando pesquisava a
metodologia de Kouyaté. Trabalhamos contos de diferentes culturas e, em meu
grupo, escolhemos contar histórias de orixás como Obá, Iansã, Iroco e Iemanjá.
Desde então utilizo em minhas aulas diversos exercícios aprendidos nesse período
e frequentemente volto a relembrá-los por meio do repertório de Kouyaté descrito
em Encontros com o griot Sotigui Kouyaté (Bernart, 2013). Tais práticas, voltadas à
percepção corporal, ao ritmo cênico, à escuta coletiva e individual, bem como à
autorreflexão crítica, são úteis tanto à contação de histórias quanto a demais
processos de criação cênica, mobilizando corpo, voz, gesto, escuta e ritmo. Em
sua pesquisa e contato prolongado com Kouyaté, Bernat (2013), percebeu que
no ato de contar, três instâncias se estabelecem: a do narrador, a dos
personagens e a do próprio contador. As duas primeiras instâncias são
mediadas e conduzidas pela terceira, ou seja, pelo contador, que é a
própria pessoa, carregando consigo sua personalidade e história pessoal.
O narrador situa a história, descreve todos os elementos, relaciona-se
diretamente com a plateia, coloca e tira personagens. É fundamental que
a narração estabeleça os cenários, o enredo, e a progressão dos
acontecimentos. Quando o contador se coloca no lugar do personagem,
o faz com toda a sinceridade, podendo utilizar recursos gestuais e vocais
para diferenciá-los. Ao fazer os comentários, o contador estabelece um
elo direto com a plateia, tornando-a cumplice da história que está sendo
contada. A participação do contador com sua própria visão dos
acontecimentos o diferencia do outro contador. É exatamente este
aspecto que pode transformar uma história já conhecida pela plateia num
acontecimento extraordinário, pois cada contador traz consigo o frescor
de um novo olhar (Bernat, 2013, p. 25).
Na UERJ, durante os três semestres em que estivemos sem sala de aula, para
as disciplinas obrigatórias de Teatro foi estratégico partir das ferramentas de
criação cênica proporcionadas pelo repertório de Kouyaté para a contação de
histórias, pois ao final exigiam apenas a estrutura de roda, na qual o/a contador/a
e a plateia se encontram. Além disso, para adensar a criação do corpo cênico dos
discentes, e para proporcionar a construção de cenas, realizávamos exercícios de
improvisação teatral (Spolin,1992) e práticas de viewpoints (Bogart & Landau, 2017).
Já em 2023.1, com a sala reaberta, introduzi também o método de criação a partir
da cena-resposta (Rinaldi, 2006), tal qual trabalhado pelo Teatro da Vertigem e a
inspiração a partir de leituras de dramaturgias contemporâneas, como as de Grace