
Terreiro do brincar, terreiro de ancestrar: experiências no curso de Licenciatura em Teatro da URCA
Nayara Macedo Barbosa de Brito | Ana Beatriz Gonçalves Santos | Paloma Pincó de Oliveira
Florianópolis, v.3, n.56, p.1-15, dez. 2025
ativando um pouco da nossa memória, escrevendo como se davam as brincadeiras
na nossa infância, atentando, inclusive, para as diferenças geracionais. Ao
compartilhar os escritos, na sequência, comentamos sobre a figura do “café com
leite”, que é aquela pessoa que, nas brincadeiras, é dispensada de seguir todas as
regras, em geral, por ser a mais nova do grupo. Refletimos como, até uma certa
idade, ser café com leite é um privilégio, mas que, quanto mais preparada a pessoa
se sente para jogar de “igual para igual”, ser atribuída a esse lugar se torna uma
frustração, quando não uma ofensa. Frustração, decepção… Esse primeiro
momento da aula nos levou a refletir que, muito além do prazer, essas
experiências/sentimentos também existem no jogo, funcionando, desse modo,
como um espaço de aprendizagem.
Outro tópico levantado em nossos escritos foram os conflitos
intersubjetivos. Nós recordamos que, nos jogos, também existiam regras,
impostas, geralmente, pela pessoa mais velha do grupo e que, dependendo da
brincadeira, havia exclusões e até injustiças, mas que essas diferenças, na maioria
das vezes, eram resolvidas brincando. Entendemos, assim, que o brincar pode não
ser apenas um ato de diversão, mas um espaço de construção e respeito ao jogo;
muitas vezes é a partir do conflito que se constrói um aprendizado. Esse
entendimento é partilhado por Simone Silva e Theles Costa (2020) no artigo
A
importância dos jogos e brincadeiras na Educação Infantil
, que também tomamos
como referência para a elaboração do nosso plano de aula.
Com as brincadeiras, a criança torna-se capaz de explorar e refletir sobre
a realidade em que estão inseridas, buscando soluções e hipóteses para
possíveis conflitos e questionando algumas regras, incorporando valores,
apropriando-se de diversas linguagens corporais, promovendo a
autoimagem, autoestima e conduzindo a imaginação e criatividade,
permitindo assim a constituição de um pensamento crítico e uma visão
ampla (Silva; Costa, 2020, p. 85).
Na sequência de nossa aula, exibimos um trecho de uma entrevista5 com
Simas, em que o autor levanta alguns pontos discutidos no livro que tomamos
como referência. O que ele lamenta é justamente o fato de as ruas, espaço ímpar
para a realização das brincadeiras da/na infância, terem se desencantado. Antes
5 Disponível em: https://youtu.be/YEqjiNQb7IA?si=0Ox0CrIt1EuZ-oCS. Acesso em: 15 set. 2025.