
Caos. Cosmos, Território, Arquitetura
Elizabeth Nane Grosz |Tradução: Mateus Scota
Florianópolis, v.3, n.56, p.1-24, dez. 2025
expressiva, não apenas para satisfazer, mas também para intensificar – ressoar e
se tornar mais do que ela mesma. Isso não quer dizer que a arte esteja sem
conceitos; simplesmente que os conceitos são subprodutos ou efeitos, e não o
próprio material da arte. A arte é a regulação e organização de seus materiais –
tinta, tela, concreto, aço, mármore, palavras, sons, movimentos corporais e, de
fato,
quaisquer
materiais – de acordo com restrições autoimpostas, a criação de
formas através das quais esses materiais geram e intensificam a sensação e,
assim, impactam diretamente corpos vivos, órgãos e sistemas nervosos.
O que a filosofia pode contribuir para uma compreensão da arte além da
estética, ou seja, uma teoria da arte, uma reflexão sobre a arte? Em vez de se
impor sobre a arte, tomando a arte como objeto, como a filosofia pode trabalhar
com a arte ou talvez com e ao lado da arte, um ponto de retransmissão ou
conexão com a arte? Somente buscando o que é compartilhado com a arte, que
origem comum elas compartilham nas forças da terra e do corpo vivo, que
maneiras elas dividem e organizam o caos para criar um plano de coerência, um
campo de consistência, um plano de composição no qual se pensa e se cria6. Em
outras palavras, que dívida comum a arte e a filosofia compartilham com essas
forças, caos, que cada uma a seu modo deve desacelerar, decompor, canalizar e
desenvolver (através da construção do plano de imanência na filosofia e a
constituição do plano de composição nas artes)? Como, em outras palavras, as
artes e a filosofia ("teoria") criam? Com quais recursos? Técnicas? Contraforças? E
o que elas criam quando criam "obras", obras filosóficas e artísticas? 7
está claro que seu entendimento da arte como monumentalização da sensação não seja uma caracterização
mais geral de todas as artes, incluindo as mais cotidianas e as mais populares, os objetos mais prontos ou
encontrados, a mais cotidiana das performances.
6 Se a filosofia não pode ser entendida como a disciplina mestra pela qual as artes podem ser compreendidas,
é igualmente verdade que a arte não pode ser entendida como o ponto culminante ou fruição da filosofia,
como um texto recente afirmou: "Em seus trabalhos posteriores, Deleuze aborda essas questões de
subjetividade, liberdade e criação e ele o faz em grande parte no domínio da estética. Deleuze transforma a
estética em uma espécie de disciplina mestra da filosofia, substituindo a ontologia do sentido e da repetição
desde o início do trabalho" (Due, 2007, p. 164). Isso é tanto confundir a compreensão de Deleuze da arte com
uma estética e a interpretar mal as relações entre filosofia e arte como uma relação de hierarquia ou
"domínio".
7 Peter Hallward argumenta uma posição oposta à de Due: que Deleuze posiciona a filosofia como o
contraponto mais espiritualizado e menos materializado da arte, um passo além e acima da arte naquilo que
ele percebe como o movimento de Deleuze além da materialidade: "Se, então, a filosofia possui algum
privilégio sobre a arte, é simplesmente o de ser capaz de ir ainda mais longe na espiritualização de seu meio.
Ou melhor, a filosofia é precisamente essa forma de pensar que não requer nenhum meio. Enquanto a arte
trabalha através do som, da luz ou da pintura, ou das palavras, a filosofia como Deleuze concebe funciona