
Editorial - Acervos ex-cêntricos: As materialidades diversas da documentação nas Artes Cênicas
Esther Marinho Santana | Robin Driver | Phelippe Celestino
Florianópolis, v.2, n.55, p.1-9, ago. 2025
Janeiro, incluindo o contrato de Candiani. Assim, Stark contextualiza o episódio,
explorando as condições do teatro profissional da época – crises, epidemias e
legislação vigente –, ao passo que examina direitos e deveres dos artistas,
interpretação contratual e tratamento formal das disputas, destacando, inclusive,
a atuação feminina em uma época dominada por homens.
Em “Rastros de luz, traços de ofício: bases para uma análise arquivística da
documentação da iluminação cênica como práxis e conhecimento”, Berilo Luigi
Deiró Nosella e Fabiana Siqueira Fontana se baseiam em entrevistas e outros
intercâmbios com profissionais do Brasil, Argentina e Itália para propor
fundamentos teóricos e metodológicos para a pesquisa acerca da documentação
relativa à iluminação cênica. Ao adotar uma abordagem arquivístico-artística,
desenvolvida com referência ao pensamento de Cecília de Almeida Salles e Jorge
Dubatti, o artigo argumenta que os documentos da iluminação cênica deveriam
ser reconhecidos não apenas como registros operacionais, mas também como
expressões de saberes técnico-artísticos, que revelam perspectivas valiosas sobre
os processos criativos dos profissionais da área.
No texto seguinte, “Para escrever a História do Teatro: entre história oral,
arquivos pessoais e centros de documentação”, Juliana Ribeiro Wolkmer parte de
uma pesquisa realizada acerca da metodologia de ensino de teatro da diretora
gaúcha Maria Helena Lopes para contemplar questões fundamentais relacionadas
à historiografia da cena. Conjugando reflexões de Alessandro Portelli e Philippe
Artières sobre a história oral e os arquivos pessoais, Wolkmer destaca as relações
complexas entre fontes históricas de tipologias distintas e sublinha a urgência de
fomentar iniciativas visando a criação de acervos mais substantivos para o cuidado
da memória cênica no Brasil.
O artigo “Implementação de um centro de pesquisa sonora das artes cênicas:
projeto Arquivos Sonoros de Teatro”, de Ana Sara Cunha Lara, Miguel Antar e
Rafaella Uhiara, responde justamente à questão das lacunas de preservação,
abordando a negligência histórica do som nas ciências humanas, caracterizada
pelo “ocularcentrismo da historiografia teatral”, em contraste à atenção dedicada
aos elementos textuais e visuais. Todavia, diante da recente “virada sonora” e da
“virada arquivística”, que reimaginaram os arquivos como espaços ativos de