
Homenagem
José Rafael Madureira
Florianópolis, v.2, n.55, p.1-3, ago. 2025
calados diante da camaradagem do governo com um país que desenhou,
deliberadamente, os massacres de Hiroshima e Nagasaki, ocorridos, justamente,
há 80 anos (
um minuto de silêncio...
).
O pai de Tadashi sabia que seu destemperado filho não poderia permanecer
no Japão – ele chegou a ser preso pela polícia, depois de arremessar um coquetel
molotov sobre a brigada de choque. Em uma conversa franca, sugeriu-lhe que
fosse estudar no exterior. Ele aceitou o conselho e foi para a Alemanha estudar
filosofia. Depois de algum tempo, convencido de que o universo acadêmico não
tinha o menor sentido para ele, mudou-se para Viena a fim de estudar direção
teatral no conceituado e elitizado
Max Reinhardt Seminar
.
Ao finalizar os estudos, voltou à Alemanha e deu início a uma promissora
carreira como diretor teatral. Ele adorava estar com os atores e orquestrar, com
alguma ousadia, o processo de montagem dos espetáculos, mas as rígidas
cláusulas contratuais eram insuportáveis para seu gênio criativo – ele se sentia
como se estivesse trabalhando em um banco ou, ainda, vivendo em uma prisão.
Entre esperar, calmamente, pela conquista da sonhada liberdade criativa e
arriscar, de imediato, uma nova vida, Tadashi escolheu a segunda opção. Ele
rescindiu os contratos e passou a fazer mímica e truques de mágica em festas de
aniversário de crianças e
performances
de rua com músicos de
jazz
.
Os trabalhos como
performer
, muito bem acolhidos pelos músicos e pelo
público, além de garantir seu sustento, possibilitou a participação em importantes
festivais de jazz, mas ele continuava descontente. Essa situação perdurou até o
encontro com Kazuo Ohno, em 1989, arranjado por Gabriele, sua esposa e grande
incentivadora (Tadashi estava com quase 42 anos nessa época).
Kazuo Ohno descortinou uma realidade que já o habitava, embora latente, e
indicou o caminho para a descoberta de uma dança pessoal despojada de
convenções técnicas arbitrárias e maneirismos ridículos: “Eu não sou dançarino e
nunca aprendi a dançar; mas aprendi muito com Kazuo Ohno, não propriamente
sobre dança, mas sobre a vida, e é sobre isso que eu danço”2.
O butô passou a ser a matéria poética de suas criações e o meio de extravasar
suas violentas angústias e pulsões de vida e morte. Durante a longa carreira como
2 Máxima extraída e traduzida do fotolivro Tadashi Endo’s Dance, editado por Gabriele Endo (Butoh Centrum
Mamu, 2008, p. 95).