
Espiral: motion capturando
danças para compor uma biblioteca digital de movimentos
Fellipe Santos Resende | Mônica Fagundes Dantas | Verônica Maria Prokopp de Oliveira
Florianópolis, v.2, n.55, p.1-31, ago. 2025
do que uma criadora. [...] Eu amo transformar corpos e acho que eu faço
isso bem. Eu vejo que os bailarinos saem com um escopo de
movimentos, com uma possibilidade de movimento que se adequa a
qualquer tipo de dança que eles vão querer fazer no futuro, então são
corpos que estão aptos a se mover. [...] como eu dou preferência ao
fluxo, vão ter um fluxo muito lindo, mas isso não quer dizer que eles não
possam entender como cortar esse fluxo. [...] Eles têm uma compreensão
do seu corpo e de como se mover muito fácil [...] Hoje, depois de uma
grande, uma longa vida, eu posso dizer que eu atingi um lugar como
mestre importante nesse sentido de que, os corpos que eu toquei se vê
que foram tocados por mim. Eu acho que a biblioteca digital vai trazer
essa possibilidade para muito mais gente do que eu posso alcançar,
apesar de não substituir. Aquela pessoa que não tem condições de chegar
até aqui tem alguma possibilidade de entender de onde saiu tudo isso e
o quê que isso tem de algum valor. Pode experimentar no seu corpo ou
no corpo de alunos ou coisa parecida, e reconhecer que isso pode fazer
alguma diferença. Eu sempre digo que ninguém inventa a roda. Eu dou
um conceito bem elaborado a partir do qual o outro pode começar a
pensar o seu e ir muito além. [...] Para mim, a biblioteca é
fundamentalmente o acesso a espraiar o conceito, fazer com que esse
conceito chegue em mais lugares. Recentemente eu fiz um discurso
quando eu recebi um prêmio, em que eu disse: quando tu moves um
átomo, tu moves o universo. Porque o átomo não é isolado, ele vai tocar
infinitos outros que vão tocar infinitos outros. Então, para mim, a
biblioteca virtual é isso. Eu começo tocando um e outro aqui, mas esse
um e outro podem ir tocando outros e outros e outros, e quando tu vê
uma grande multidão pode ter tido acesso a pelo menos essas ideias que
eu considero fundamentais. Podem não ser fundamentais para outros,
mas para mim são (Schul, 2022, n.p.).
Juntamente ao entendimento de que os movimentos da
Espiral
podem atuar
como
átomos de dança
no mundo, prolongando um alcance iniciado nas salas de
aula de Schul para outros espaços e tempos, a noção de
ecos digitais
, mediante o
dispositivo videográfico, contribui nesta reflexão ao pontuar que:
As gravações de vídeo deixam vestígios de evidências que assumem a
forma de ecos digitais; versões da obra que são uma reminiscência, uma
referência para a performance como foi em uma instância, enquanto
também distanciam a obra de sua versão “original” através do passar do
tempo. Se quisermos considerar a prática da documentação da dança e
seu papel na preservação do patrimônio cultural, devemos pensar sobre
as maneiras pelas quais os artefatos tangíveis desempenham múltiplos
papéis. Eles não apenas ficam em prateleiras em bibliotecas, armazéns e
galerias de museus, mas também atuam como canais através dos quais
se expressam memórias físicas de uma experiência vivida. Dessa forma,
os registros digitais têm a capacidade de preservar o passado e
simultaneamente reinventar o futuro (Reed, 2018, p. 245)21.
21 Video recordings leave behind traces of evidence that take the shape of digital echoes; versions of the work
that are reminiscent of, and referential to, the performance as it was in one instance, whilst also distancing
the work from its "original" version through the passing of time. If we are to consider the practice of dance