
Experimentum Cyborg
: investigando a escola em um processo de Drama na Educação Superior
Túlio Fernandes Silveira | Diego de Medeiros Pereira
Florianópolis, v.2, n.55, p.1-27, ago. 2025
A proposta de utilizar a escola como tema para o processo de Drama partiu
do desejo do então monitor da disciplina, coautor deste texto, de realizar, com
estudantes do Ensino Superior, um primeiro experimento relacionado à sua
pesquisa de doutorado5. Tal pesquisa busca investigar a própria escola como tema
de criação, junto a jovens da Educação Básica. Para esse experimento inicial, foi
utilizado, como pré-texto6, um trecho do livro
Em defesa da escola: uma questão
pública
(2021), de Jan Masschelein e Maarten Simons, como base para a
construção do contexto ficcional7 do Drama.
A escolha por esse texto teórico, de cunho filosófico, está relacionada ao
interesse desse pesquisador pelas reflexões de autores da Filosofia da Educação,
com os quais tem contato por meio do grupo de pesquisa de sua orientadora,
Profa. Dra. Heloise Baurich Vidor. Assim, o experimento em questão marca uma
primeira aproximação prática com sua investigação, na qual busca pensar a escola
como espaço de criação.
Desde o início da organização do processo, surgiram desafios relevantes:
como articular um texto teórico dentro de um processo de Drama? De que forma
construir um contexto ficcional que, sem tematizar diretamente a escola, a
abordasse de maneira metafórica? E, ainda: como provocar um pensamento
crítico sobre a instituição escolar por meio de propostas teatrais, a partir da
escolha de episódios8, personagens, papéis e status pertinentes ao tema?
5 A atividade descrita neste artigo refere-se a uma experimentação pedagógica realizada anteriormente à
definição da prática a ser realizada para o doutorado, atualmente em fase de finalização. Embora essa
experiência guarde relação temática com os estudos da tese, ela não compõe diretamente a pesquisa e,
portanto, não foi submetida ao Comitê de Ética da universidade. Ainda assim, os/as estudantes foram
informados/as sobre o registro da atividade e o uso pontual de imagens, que não expõem rostos ou
elementos que permitam a sua identificação. Posteriormente, o projeto de doutorado foi aprovado pelo
Comitê de Ética, validando as etapas práticas da pesquisa na Educação Básica.
6 O pré-texto, no Drama, foi introduzido por Cecily O’Neill, dramaturga e grande referência na área, sendo
compreendido como o impulso inicial para o processo criativo. Segundo Cabral (2012), o pré-texto funciona
como ponto de partida para a investigação artística e como orientação ao professor na elaboração do
percurso pedagógico. Por sua vez, Pereira (2021) observa que ele pode ser constantemente retomado ao
longo do processo, como fonte de novas ideias e sugestões para a criação coletiva.
7 O contexto ficcional é uma das convenções do Drama, sendo ele a situação imaginária que ocorre nas
explorações teatrais; os participantes vivenciam as situações como se pertencessem a essa ficção (Pereira,
2021). Para Cabral (2012), é por meio dele que se constrói uma narrativa dramática coletiva.
8 Os episódios são, para Pereira (2021), unidades cênicas que compõem o processo de Drama e que estão
conectadas por um mesmo foco de investigação. Uma nova questão cênica gera um novo problema e, com
isso, um novo episódio. No Drama cada episódio possui suas etapas e estratégias específicas, cabendo ao/à
condutor/a organizar essas unidades.