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Drama com pessoas surdas em ambiente remoto:
o material didático Catálogo de Drama
Douglas Vicente Leopold
Marcia Berselli
Para citar este artigo:
LEOPOLD, Douglas Vicente; BERSELLI, Marcia. Drama com
pessoas surdas em ambiente remoto: o material didático
Catálogo de Drama.
Urdimento
Revista de Estudos em
Artes Cênicas, Florianópolis, v. 2, n. 55, ago. 2025.
DOI: 10.5965/1414573102552025e0106
A Urdimento esta licenciada com: Licença de Atribuição Creative Commons (CC BY 4.0)
Drama com pessoas surdas em ambiente remoto: o material didático Catálogo de Drama
Douglas Vicente Leopold | Marcia Berselli
Florianópolis, v.2, n.55, p.1-25, abr. 2025
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Drama com pessoas surdas em ambiente remoto: o material didático Catálogo de Drama1
Douglas Vicente Leopold2
Marcia Berselli3
Resumo
O artigo apresenta o desenvolvimento de um material didático sobre Drama voltado a
pessoas surdas. Intitulado Catálogo de Drama, o material reúne conteúdos destinados à
preparação e à realização de cinco processos de Drama em sessões únicas, inicialmente
concebidas para o ambiente remoto. Discute-se a origem desse material, vinculado a práticas
desenvolvidas em um Trabalho de Conclusão de Curso em Teatro, destacando as principais
referências teóricas e especificidades do trabalho teatral com pessoas surdas. Além disso,
aborda-se a escassez de materiais didáticos acessíveis a esse público específico, articulada
a uma reflexão sobre a relevância do estudo da Cultura Surda no ensino de teatro.
Palavras-chaves
: Teatro. Surdez. Drama. Material didático.
Drama with deaf people in a remote environment: the teaching material Catálogo de Drama
Abstract
This article presents the development of a teaching material about Process Drama for deaf
people. The Catálogo de Drama is composed of content for the preparation and execution of
five Process Drama in single sessions, initially proposed to be developed in a remote
environment. The article presents the origin of the material, linked to practices carried out in
a Theater final course work, highlighting the main references and delving into specificities of
theatrical work with deaf people. The lack of accessible teaching material, aimed at a specific
audience, is also addressed, together with a reflection on the importance of the study of Deaf
Culture in theater teaching.
Keywords
: Theater. Deafness. Process Drama. Teaching material.
Teatro con personas sordas en medio virtual: el material didáctico Catálogo de Drama
Resumen
Este artículo presenta el desarrollo de un material didáctico sobre procesos teatrales con
personas sordas. El Catálogo de Drama contiene contenido para la preparación y ejecución
de cinco procesos teatrales en sesiones individuales, inicialmente propuestos para su
desarrollo a distancia. El artículo presenta el origen del material, vinculado a las prácticas
realizadas en un trabajo final de curso de Teatro, destacando las principales referencias y
profundizando en las especificidades del trabajo teatral con personas sordas. También se
aborda la escasez de material didáctico accesible, dirigido a este público específico, junto
con una reflexión sobre la importancia del estudio de la Cultura Sorda en la enseñanza
teatral.
Palabras clave
: Teatro. Sordez. Proceso de Drama. Materiales didácticos.
1 Revisão textual realizada por Camila Steinhorst. Doutoranda em Letras na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
2 Mestrando em Educação e Graduação em Teatro pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
douglasleopold13@gmail.com http://lattes.cnpq.br/2994513847573810 https://orcid.org/0000-0002-9816-9511
3 Doutorado e Mestrado em Artes Cênicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Graduação em Teatro
pela UFRGS. Profa. Adjunta de Artes Cênicas na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
bersellimarcia@gmail.com http://lattes.cnpq.br/0739122615811316 https://orcid.org/0000-0002-2731-1373
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Introdução
Este artigo tem por objetivo apresentar o material didático
Catálogo de
Drama: propostas de processos de Drama para pessoas surdas
(Leopold; Berselli,
2023), elaborado a partir da pesquisa desenvolvida no Trabalho de Conclusão de
Curso (TCC) intitulado
Entre telas, ficções, espaços e tempos: processos de Drama
em sessões únicas com Surdos em ambiente virtual
(Leopold, 2023), do curso de
Licenciatura em Teatro da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
O foco do catálogo, produzido posteriormente ao TCC, é a descrição de cinco
planejamentos de Drama destinados a serem realizados com pessoas surdas em
ambiente remoto. O público-alvo compreende professoras, professores e demais
interessados em desenvolver práticas teatrais com a comunidade surda. No
Catálogo de Drama
, encontram-se sistematizados os processos desenvolvidos
pelo autor ao longo de 2022, no âmbito do projeto
Oficinas Online de Teatro para
Surdos
4, vinculado ao grupo de pesquisa
Teatro Flexível: práticas cênicas e
acessibilidade
(CNPq/UFSM).
Para reforçar a relevância do material criado, foi realizada uma pesquisa no
Portal de Periódicos da CAPES e no Catálogo de Teses e Dissertações, utilizando
os descritores “Drama-surdez/surdo”. No primeiro, não encontramos teses ou
dissertações que tratassem da relação entre Drama e surdez; no segundo,
identificamos apenas três artigos relacionados ao tema: um de autoria do próprio
criador do material didático e dois de pesquisadoras vinculadas ao nosso grupo de
pesquisa. Além disso, ao buscar pelos descritores “drama-online”, com filtro para
pesquisas em língua portuguesa, entre os 23 resultados apresentados, nenhum
apresenta o Drama como abordagem de ensino, na perspectiva apresentada neste
artigo.
Ainda, é necessário que destaquemos nosso lugar de fala enquanto ouvintes
que propõe práticas para surdos. Reconhecemos a importância de a comunidade
surda falar sobre sua cultura e estar à frente em processos de ensino-
4 Com apoio financeiro do Fundo de Incentivo à Extensão (FIEX-CAL/PRE/UFSM).
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aprendizagem com surdos, bem como em produções artísticas. Entretanto,
entendemo-nos enquanto professora e professor de teatro, com interesse em
investigar práticas cênicas acessíveis e compartilhar os resultados, na expectativa
que outras pessoas sejam provocadas a pesquisar sobre a temática, dada a
escassez de materiais encontrados. Acreditamos que a acessibilidade deve ser um
fazer coletivo.
Contextualização da pesquisa
Para contextualizar a/o leitora/or, é importante explicar que esta pesquisa
resulta de uma trajetória construída ao longo de alguns anos com alguns
percalços. Em 2018, o autor ingressou no curso de Licenciatura em Teatro da
UFSM, onde se aproximou de um colega surdo matriculado no curso. Essa
convivência despertou no autor um “incômodo” por não conseguir se comunicar
diretamente com o colega, o que o motivou a buscar, de forma autodidata, o
aprendizado da Língua Brasileira de Sinais (Libras), visando estreitar esse contato.
Essa relação aumentou seu desejo por investigar a Cultura Surda e as práticas
de teatro com essa comunidade. Em 2019, recebeu a oportunidade de uma bolsa
de extensão no grupo de pesquisa
Teatro Flexível: práticas cênicas e acessibilidade
(CNPq/UFSM), liderado pela professora Marcia Berselli, atuando como mediador
das aulas do projeto
Oficinas de Teatro para surdos
5. Inicialmente, as atividades
eram desenvolvidas de forma convivial na Escola Estadual de Educação Especial
Dr. Reinaldo Fernando Cóser, localizada na cidade de Santa Maria Rio Grande do
Sul. O foco das oficinas era o desenvolvimento de jogos teatrais e exercícios de
Contato Improvisação6.
No ano de 2020, a pandemia de Covid-19 nos levou a um distanciamento
físico. Tanto na área da educação quanto do teatro, profissionais precisaram
reorganizar-se, adaptar-se àquela realidade para seguirem seus trabalhos. Com as
oficinas de teatro não foi diferente, pois necessitamos repensar as aulas para o
5 Apoio: Fundo de Incentivo à Extensão (FIEX-CAL/PRE/UFSM).
6 Técnica de dança desenvolvida pelo estadunidense Steve Paxton, junto a colaboradoras e colaboradores, na
década de 1970. No Contato Improvisação, a prática ocorre a partir de pontos de contato compartilhados
entre as e os participantes, sem passos pré-definidos, investindo no compartilhamento de peso, quedas,
rolamentos e apoios corporais.
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ambiente remoto. Dessa forma, foram criadas as
Oficinas Online de Teatro para
Surdos
7, ofertadas para o público surdo de todo o Brasil por meio do aplicativo
Zoom
. Esse projeto contou com a parceria da professora de teatro Priscila Jardim
como mediadora e colaboradora das aulas, além do professor e pesquisador Diego
de Medeiros Pereira, especialista em Drama. Durante essa primeira experiência,
optamos por realizar um processo de Drama
online
. O relato e considerações
sobre o projeto podem ser encontrados no artigo
Luzes, câmera, ação!: práticas
teatrais com surdos em ambiente virtual
(Pereira
et al
., 2021).
Em 2021, tendo percebido características sobre o formato de trabalho,
ofertamos novas oficinas
online
, ainda com o desejo de trabalhar com o Drama
como abordagem metodológica. Organizamos um cronograma que contava com
cinco aulas com foco em jogos teatrais e outros exercícios cênicos antes de iniciar
o processo de Drama. Essas aulas também serviram para encontrar um pré-texto8
para nosso processo, sendo ele a série
La Casa de Papel
(
Netflix
, 2017-2021). O
processo contou com quatro participantes, aconteceu pelo
Google Meet
e teve
como contexto ficcional um grupo de assaltantes, planejando o maior roubo do
século. Nessa prática, composta de onze episódios9, pudemos discutir questões,
como o uso do dinheiro, a desigualdade social, além de pontos específicos como
as diferentes línguas de sinais.
Ainda, naquele ano, percebemos uma estratégia essencial para a prática do
Drama
online
com surdos: o uso de imagens compartilhadas na tela. Nelas foram
identificadas duas características diferentes: imagens que serviam como
estratégia de ambientação cênica10 e imagens utilizadas como registro. As
primeiras eram projetadas durante o jogo, de modo síncrono, possibilitando uma
maior imersão no contexto ficcional11. As segundas eram compartilhadas de modo
síncrono ou assíncrono, após o final de cada episódio, como um registro do que
7 Apoio: Fundo de Incentivo à Extensão (FIEX-CAL/PRE/UFSM).
8 Material base para o desenvolvimento do Drama.
9 Segundo Pereira (2015, p. 131), “[c]ada nova proposição, situação criada ou atividade realizada é considerada
um episódio do Drama”.
10 Organização de espaço e materiais de modo a representar o local em que ocorre o Drama.
11 Universo criado pelo coletivo.
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havia acontecido no episódio anterior. Para a construção das imagens como
registro, usamos o recurso de montagens fotográficas das/dos participantes nos
locais investigados durante o processo.
Após dois anos trabalhando com a prática do Drama de forma remota com
a comunidade surda, foi possível perceber os pontos positivos: uso de imagens,
foco na visualidade, ampliação do público sem a necessidade de deslocamento; e
as dificuldades que não favoreciam o processo: instabilidade da conexão com a
Internet
, tamanho e qualidade das imagens da câmera dos aplicativos de vídeo,
inconstância das/dos participantes. No ano de 2022, foi estabelecida a decisão de
vincular o terceiro ano das
Oficinas online de teatro para surdos
com o TCC do
autor, de modo a investir na análise das práticas e investigar a possibilidade de
desenvolvimento de processos em sessões únicas.
O Drama
Antes de discorrer sobre o trabalho realizado nas oficinas, consideramos
necessária uma contextualização sobre o Drama. Nos anos 1950, a professora e
atriz inglesa Dorothy Heathcote desenvolveu a abordagem do Drama Vivencial
(Pereira, 2015, p. 99), pensando em uma alternativa para o teatro no contexto
educacional. Após quatro décadas, em 1990, o Drama passou a ser difundido no
Brasil pela professora e pesquisadora Beatriz Ângela Vieira Cabral (Biange), depois
de seu contato com Heathcote. Cabral (2006) comenta sobre o Drama no ensino:
O drama como método de ensino, eixo curricular e/ou tema gerador
constitui-se atualmente numa subárea do fazer teatral e está baseado
num processo contínuo de exploração de formas e conteúdos
relacionados com um determinado foco de investigação (selecionado
pelo professor ou negociado entre professor e aluno). Como processo, o
drama articula uma série de episódios, os quais são construídos e
definidos com base em convenções teatrais criadas para possibilitar seu
sequenciamento e aprofundamento (Cabral, 2006, p. 12).
Cabral (2006) sinaliza aspectos fundamentais da prática do Drama, como as
convenções e estratégias. As convenções apresentadas pela autora são o contexto
ficcional, o pré-texto, a vivência de papéis e os episódios. Elas “definem
artisticamente e representam códigos sociais e interações” (Cabral, Pereira, 2017,
p. 288
apud
Leopold, 2023, p. 22).
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O contexto ficcional diz respeito ao universo criado e compartilhado
coletivamente pelo grupo, sendo nele que as relações e os conflitos se
estabelecem. Como pontua Cabral (2006, p. 12), “o contexto da ficção permite
focalizar ou desafiar aquilo que é normalmente aceito sem questionamentos, tudo
o que devido à rotina é assumido sem maiores reflexões”. Essa convenção
possibilita, ainda, construir pontes com o contexto real das participantes e dos
participantes.
O pré-texto é o material que servirá de base para a construção do Drama,
como um livro, filme ou notícia, por exemplo. Essa materialidade não necessita
ser seguida à risca, porém, como um ponto de retorno, auxilia a/o mediadora/or a
não se afastar muito da ideia primeira que se está desenvolvendo (Pereira, 2015).
Cabral e Pereira (2017, p. 288) afirmam que o pré-texto “[...] deve ser desconstruído
ou retrabalhado de forma a ser atualizado, confrontado ou transformado pelos
participantes”, bem como escolhido previamente pela/o mediadora/or. Nesse
sentido, o pré-texto terá um caráter flexível dentro do Drama.
Sobre a convenção do processo, “pode ser definido como a negociação dos
elementos da forma dramática, quanto ao contexto e aos objetivos dos
participantes (O’Toole, 1992
apud
Cabral, 2006, p. 17). O caráter processual afasta
a ideia da necessidade de um produto final, permitindo desenvolver uma maior
profundidade nos temas, conteúdos trabalhados e/ou na vivência de papéis, por
exemplo. Por isso, geralmente, o Drama enquanto processo é dividido em
episódios verticalizados. Cada novo episódio deve relacionar-se com os
acontecimentos dos episódios anteriores – não implicando, necessariamente, em
uma linearidade.
No objeto de estudo aqui apresentado, a convenção dos episódios foi
entendida e organizada por momentos dentro de cada processo, uma vez que,
pela característica de sessão única, não se prevê mais de um encontro para cada
processo desenvolvido. Essa dinâmica dificulta trabalhar mais a fundo questões
referentes aos episódios anteriores, uma vez que,
a priori
, não pausas entre um
episódio e outro. Mesmo assim, é recomendado manter uma flexibilidade na
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estrutura de todos os processos.
A vivência de papéis foi fundamental nos processos que desenvolvemos. O
professor personagem (Cabral, 2006) ou professor-no-papel foi uma das
estratégias utilizadas em todos os processos, facilitando a ponte entre
participantes e o contexto ficcional. Uma vez que os encontros tinham uma
duração de duas horas, não cabia esmiuçar a explicação sobre a abordagem do
Drama em todos os encontros. Por conseguinte, o professor-no-papel, além de
conduzir as/os participantes dentro da narrativa, ajudou a introduzir o contexto de
cada processo.
Das estratégias adotadas nos processos apresentados no material didático,
escolhemos ressaltar a ambientação cênica, uma vez que, no ambiente remoto,
seu uso levantou alguns questionamentos. Pereira (2015, p. 152
apud
Leopold, 2023,
p. 25) destaca que “[u]m ambiente cênico com potencialidade imersiva contribui
para estimular os participantes a se envolverem com as circunstâncias ficcionais”.
Assim, em um ambiente mediado pela tecnologia, a ambientação cênica passa a
ser repensada a partir dos recursos disponíveis.
No Catálogo de Drama, indicamos o uso de imagens projetadas na tela, como
ambientação cênica, proporcionando uma imersão no processo. Para Cabral (2006,
p. 27
apud
Leopold, 2023, p. 27), a imersão significa “[a] experiência de ser
transportado a um local simulado, com tamanha precisão [...]”, o que em um
ambiente remoto traduziu-se em compartilhar as imagens dos espaços na tela. O
uso de imagens projetadas, ainda, pode ser associado à construção de uma
ambientação cênica no espaço físico de cada participante.
O trabalho desenvolvido nas oficinas
Como mencionado, no ano de 2022 o autor desenvolve seu TCC a partir do
projeto
Oficinas Online de Teatro para Surdos
12. Após a minuciosa observação de
alguns aspectos comuns às oficinas anteriores, sentiu-se a necessidade de
reformulação da dinâmica dos encontros. Para o desenvolvimento de um Drama,
é fundamental a frequência das/dos participantes envolvidas/os, uma vez que um
12 Apoio: Fundo de Incentivo à Extensão (FIEX-CAL/PRE/UFSM).
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processo se desenvolve em episódios que, geralmente, duram mais de um
encontro. No entanto, pela experiência nos processos anteriores em ambiente
remoto, a falta de constância das/dos participantes nas oficinas acabava
dificultando o processo, pois, algumas vezes, compareciam apenas duas pessoas,
sendo necessário recuperar no encontro seguinte o que havia acontecido.
O uso de estratégias, como as montagens, fotografias ou relatos, era uma
solução para realizar as rememorações dos acontecimentos. Entretanto,
buscando outras possibilidades para flexibilizar a participação das/dos
participantes nas oficinas, surgiu a ideia de realizar processos de Drama em
sessões únicas. Em outras palavras, cada processo iniciaria e finalizaria no mesmo
encontro em duas horas de oficina. No entanto, optar por esse formato implicava
em entender como se daria a convenção dos episódios nesse novo formato.
Cabral (2006, p. 18) afirma que “o desenvolvimento do processo através de
episódios permite focalizar perspectivas distintas, aprofundar detalhes ou ações
complementares, escolher caminhos secundários”. Tendo isso em vista,
entendemos os episódios como momentos dentro de cada processo
desenvolvido, ainda que tenha sido necessário renunciar a aspectos como o
aprofundamento de detalhes e a escolha de outros caminhos dentro do contexto
ficcional.
Outra convenção a ser destacada é o pré-texto, que, no ano de 2021, por
exemplo, foi selecionado a partir dos interesses do grupo nas aulas que precediam
os encontros síncronos. Nesse caso, como as narrativas seriam criadas antes de
conhecer as pessoas participantes, os pré-textos foram definidos pelo autor,
considerando a busca por temáticas variadas.
Tendo compreendido como essas convenções se dariam em nossa proposta,
passou-se a pensar sobre as estratégias de divulgação das aulas. Considerando
que a visualidade “[…] é o primeiro dispositivo cultural das pessoas surdas, pois é
através da experiência visual que elas percebem o mundo e passam a refletir sobre
ele” (Rezende, 2019, p. 27), tornou-se essencial elaborar uma divulgação que
privilegiasse esse aspecto. Assim, o autor, que possuía conhecimentos prévios
em edição de imagens, optou pela criação de um material em formato de catálogo,
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reunindo as informações de cada processo, além do
link
para vídeos,
disponibilizados na plataforma
YouTube
, com as mesmas informações em Libras.
O design do catálogo é pensado a partir do entendimento da importância
da visualidade para as pessoas surdas. [...] A decisão de não produzir um
material apenas em Português escrito vem de um dos pilares de nosso
grupo de pesquisa: a acessibilidade. Uma acessibilidade que busca ser o
mais completa possível, reconhecendo as limitações de um material
produzido previamente ao encontro com as pessoas. Acreditamos ser
contraditório desenvolver um material relacionado com a oficina apenas
em uma língua que não é a primeira língua das pessoas surdas (Leopold,
2023, p. 43).
A ideia central era possibilitar que as pessoas acessassem o material e
escolhessem os processos que mais lhes despertassem interesse. A parte de
design
do catálogo, elaborada na plataforma
Canva
, não se restringiu apenas ao
aspecto estético: incluiu também informações visuais sobre a temática e o
contexto de cada processo. Destaca-se que o material não foi divulgado na íntegra;
a cada semana, os conteúdos correspondentes ao encontro eram compartilhados
em páginas da comunidade surda no
Facebook
, por meio do perfil pessoal do
autor. Junto à legenda das publicações, era disponibilizado o
link
de acesso a um
grupo no
WhatsApp
, onde, semanalmente, era compartilhado o endereço para
participação no encontro pelo
Google Meet
.
Após o cancelamento do segundo encontro, em razão da ausência de
participantes, tornou-se necessário reformular as estratégias de divulgação, o que
resultou na criação dos
teasers
. Esses vídeos curtos, elaborados para cada
processo, consistiam em compilações de imagens relacionadas à temática das
atividades a serem desenvolvidas. O autor justifica a escolha desse formato de
divulgação, associado ao
Catálogo de Drama
, por dois motivos principais: o alto
consumo de mídias audiovisuais breves (como
TikTok
e
reels
do
Instagram
) e a
valorização de elementos visuais, característica marcante da comunidade surda
(Leopold, 2023, p. 41-42). Essa estratégia contribuiu para o aumento no número de
pessoas no grupo das oficinas no
WhatsApp
.
O
Catálogo de Drama
: material de divulgação
Antes de apresentar o material didático desenvolvido, é necessário mostrar
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o material criado para a divulgação dos processos de Drama. No catálogo (Figura
1), cada processo ocupava três páginas: a primeira trazia o título, a data e o horário
do processo; a segunda apresentava o contexto do Drama, acompanhada do
link
para a tradução em Libras disponível no
YouTube
; e a terceira listava os materiais
sugeridos para que as pessoas pudessem separar antes do encontro.
Figura 1 - Material de divulgação “As pedras do destino”. Acervo do grupo
Descrição da imagem
: A imagem apresenta três páginas retangulares do material de divulgação,
dispostas lado a lado. A cor predominante nas imagens é o amarelo e os outros detalhes são em
preto, branco e laranja. As três páginas estão no estilo de história em quadrinhos. A primeira página
informa o título
As pedras do destino
, a data e o horário, além de uma ilustração de um grupo de
super-heróis e heroínas. Na segunda página, há a contextualização do processo, o
link
para o vídeo
em Libras no topo da página e ilustrações de um meteoro, um homem voando e prédios pretos
no horizonte. Na terceira página, no topo, à esquerda, está o texto
materiais sugeridos
; abaixo estão
dispostos textos e imagens informando os elementos sugeridos para a prática. As ilustrações desta
página são uma blusa laranja, uma touca amarela, super-heroína negra correndo e deixando poeira
para trás. Fim da descrição.
Convém comentar que os materiais sugeridos para os encontros eram
pensados, levando em conta que as/os participantes poderiam não ter acesso a
figurinos elaborados ou outros elementos. As sugestões buscavam ser amplas e,
de certa forma, estimulavam um olhar criativo para os materiais disponíveis na
casa de cada participante, uma vez que as pessoas deveriam selecionar materiais,
como as roupas, por exemplo, baseados na temática de cada processo.
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12
Ainda que o catálogo contivesse as mesmas informações em Libras através
do
link
, as informações escritas em português foram simplificadas, mantendo
aquilo que era mais relevante. Aliado a isso, as cores escolhidas branco, preto,
tons quentes de amarelo e laranja e tons frios de azul marinho e azul claro
buscavam construir uma identidade visual. Além disso, como o foco era na
visualidade, a seleção das cores visava manter uma harmonia.
Figura 2 Material de divulgação “T3RR4”. Acervo do grupo
Descrição da imagem
: A imagem apresenta três páginas do Catálogo de Drama dispostas lado a
lado. A cor predominante é o preto e há detalhes em branco, amarelo e tons de terra. Na primeira
página, o título T3RR4 em branco, a data e o horário, além da foto de um rosto robótico e uma
nave espacial entre nuvens escuras. Na segunda página, há a contextualização do processo, o
link
para o vídeo em Libras no topo da página e, na parte inferior, a imagem de uma mão robótica
tocando o planeta Terra. Na terceira página, no topo, à esquerda, está o texto
materiais sugeridos
;
abaixo estão dispostos textos e imagens, informando os elementos sugeridos para a prática. As
imagens da página são um balde, um guarda-chuva, um relógio, uma frigideira, talheres e um
planeta atrás de montanhas invertidas. Fim da descrição.
Na escolha das fontes, houve uma preocupação com o tamanho, as cores, a
estética relacionada à temática e a fácil compreensão do conteúdo. Optamos pelo
uso de letras em caixa alta e sem serifa, por favorecerem a leitura dos textos,
considerando que a língua portuguesa, em geral, não é a língua materna das
pessoas surdas. Perlin (2016) aborda as particularidades da cultura surda:
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A cultura ouvinte, no momento, existe como constituída de signos
essencialmente auditivos. No que tem de visual, como a escrita,
igualmente é constituída de signos audíveis. Um surdo não vai conseguir
utilizar-se de signos ouvintes como, por exemplo, a epistemologia de uma
palavra. Ele somente pode entendê-la até certo ponto, pois a entende
dentro de signos visuais. O mesmo acontece com a pronúncia do som de
palavras (Perlin, 2016, p. 57
apud
Leopold, 2023, p. 43).
Os elementos visuais, como ilustrados no terceiro quadro da Figura 2,
também ajudam a reforçar a informação escrita. Portanto, a associação da escrita
simples, o uso de imagens e os
links
com as informações em Libras contribuem
para este material ser acessível às pessoas surdas.
O material didático Catálogo de Drama: propostas de processos de Drama
para pessoas surdas
Do material criado para a divulgação das oficinas surgiu, posteriormente à
publicação do TCC, o material didático
Catálogo de Drama: propostas de processos
de Drama para pessoas surdas
(Leopold; Berselli, 2023). Esse catálogo reúne
informações sobre cinco propostas de Dramas que podem ser desenvolvidas com
pessoas surdas em ambiente virtual. O material não tem a pretensão de ser um
manual a ser seguido à risca, mas sim um dispositivo que sirva de inspiração para
quem deseja realizar esse tipo de trabalho com surdos, seja em ambiente remoto
ou convivial13.
A ideia de criar o material didático surgiu a partir da constatação da escassez
desses recursos voltados ao ensino de teatro para surdos. Dias (2013), em sua
monografia de conclusão de curso, discorre acerca da ausência de materiais
didáticos destinados ao ensino de teatro. A autora realizou uma pesquisa com
questionários e entrevistas aplicados a arte-educadores e estudantes, revelando
dados importantes e, ao mesmo tempo, preocupantes:
13 Sobre a experiência convivial e tecnovivial, apoiamo-nos em Dubatti (2021): “Chamamos convívio a
experiência que se produz em reunião de duas ou mais pessoas de corpo presente, em presença física, na
mesma territorialidade, em proximidade, em uma escala humana; tecnovívio é a experiência humana à
distância, sem presença física na mesma territorialidade, que permite a subtração do corpo vivente, e o
substitui pela presença telemática ou pela presença virtual através da intermediação tecnológica, em
proximidade dos corpos, em uma escala ampliada através de instrumentos.” (Dubatti, 2021, p. 257
apud
Leopold, 2023, p. 28)
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14
Os raros livros didáticos de Teatro que foram encontrados são
basicamente teóricos e destinados apenas ao Ensino Médio, revelando
uma resposta ao estímulo externo, provocado por universidades
brasileiras com a recente inclusão de conteúdos de Arte em provas de
vestibulares. No catálogo de livros didáticos de Artes, código 372.5, a
maior oferta ainda é a de livros de Artes Plásticas, principalmente aqueles
dirigidos ao ensino de técnicas de desenho geométrico. Essa evidente
desproporção está ligada, além de fatores inerentes à natureza de cada
uma dessas artes, ao processo de instituição do ensino de Arte e
caminhos metodológicos adotados por estes (Dias, 2013, p. 20).
Reconhecemos que a pesquisa de Dias foi realizada há mais de uma década
e, atualmente, é possível encontrar mais materiais didáticos voltados ao ensino de
teatro; entretanto, esses materiais em geral são pensados por e para pessoas
ouvintes. Em nossa concepção, materiais didáticos destinados ao trabalho com
surdos devem considerar, desde a concepção, as particularidades da cultura e das
experiências surdas. Dessa forma, reiteramos que o
Catálogo de Drama
foi
desenvolvido para atender tanto pessoas ouvintes quanto pessoas surdas com
domínio da língua portuguesa que desejem promover práticas teatrais com a
comunidade surda. Em ambos os casos, torna-se fundamental que as pessoas
envolvidas tenham conhecimento em Libras, aspecto essencial para o
desenvolvimento dos processos junto ao público surdo.
Tal como no material de divulgação, o didático também organiza as
informações de cada processo em seções, distribuídas em páginas distintas na
seguinte ordem: “título e contexto do Drama”, “para começar”, “planejamento do
processo” e “dicas”. Cada uma dessas seções investe na visualidade como
estratégia para estruturar e apresentar os conteúdos.
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Figura 3 - Material didático - título e contexto dos processos. Acervo do grupo.
Descrição da imagem
: A imagem apresenta duas páginas retangulares do material didático,
dispostas lado a lado. A primeira, com predominância da cor amarela apresenta o título “As
pedras do destino” na cor laranja, além da contextualização do processo. Nesta página, com
inspiração no
design
de histórias em quadrinhos, a ilustração de um grupo de heróis e
heroínas. Na segunda imagem, com predominância da cor preta, o título do processo
“Teriantropos”, na cor branca, e a contextualização. Ainda, a ilustração da silhueta preta
de um lobo sobrepondo o rosto de uma figura humana prateada. Fim da descrição.
A primeira página apresenta o título do processo e sua contextualização. A
informação de cada Drama é uma sugestão para introduzir o contexto ficcional ao
grupo, podendo ser reformulada de acordo com os interesses da/do mediadora/or.
Um
link
para a tradução em Libras do contexto pode ser encontrado sempre na
página seguinte.
Nota-se, ainda, que alguns elementos visuais, entre eles as cores do material
de divulgação, foram mantidos. Para apresentá-lo de maneira mais detalhada,
selecionamos as páginas sobre os processos
As pedras do destino
e
Teriantropos
(Figura 3), uma vez que possuem estéticas diferentes, facilmente percebidas pelas
imagens e cores. No primeiro, o predomínio de tons de amarelo, com elementos
destacados nas cores preto e branco; no segundo, prevalece a cor preta,
contrastando com elementos brancos e amarelos. Ademais, o estilo de história
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em quadrinhos é adotado na estética do processo
As pedras do destino
. O
design
do processo
Teriantropos
teve inspiração na técnica da colagem, apresentando
sobreposição de imagens, a fim de sugerir a mistura entre humanos e animais,
foco do processo.
Figura 4 - Material didático - para começar. Acervo do grupo.
Descrição da imagem
: A imagem apresenta duas páginas retangulares do material didático,
dispostas lado a lado. Ambas referem-se à segunda página de cada sessão do
Catálogo de Drama
intitulada
Para começar
e apresentam, de cima para baixo a informações:
link
para o vídeo em
Libras, pré-texto, contexto ficcional, papel dos participantes, tema e, por fim, estratégias. A primeira
imagem, com predominância da cor amarela, tem inspiração no
design
de histórias em quadrinhos
e mostra a ilustração de um homem voando e prédios pretos na borda inferior. Na segunda
imagem, com predominância da cor preta, há a ilustração de uma silhueta humana prateada com
esboços de uma cobra preta sobreposta a ela. Fim da descrição.
A segunda página (
Para começar
) contém as convenções do Drama
escolhidas, como o pré-texto utilizado e o contexto ficcional do Drama, bem como
as estratégias utilizadas. Ainda, no topo da página é possível acessar um
link
com
a contextualização do processo em Libras no
YouTube
. O vídeo é o mesmo
utilizado no material de divulgação.
Apesar de algumas convenções e estratégias terem sido selecionadas para
esses processos, é possível que a/o mediadora/o as altere conforme sua
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necessidade e interesse. O pré-texto, por exemplo, pode ser atualizado para algum
filme, série ou livro que tenha sido lançado recentemente. O tema a ser trabalhado
nos processos também é flexível; em
Teriantropos
, poderia ser abordada a
temática da sustentabilidade, os cuidados com meio ambiente, a devastação da
Floresta Amazônica etc.
Figura 5 - Material didático - planejamento do processo. Acervo do grupo.
Descrição da imagem
: A imagem apresenta duas páginas retangulares do material didático,
dispostas lado a lado. A primeira refere-se ao processo “As pedras do destino” e tem a
predominância da cor branca. A segunda refere-se ao processo “Teriantropos”, na qual predomina
o amarelo. Ambas as páginas apresentam três colunas divididas em
momentos
,
objetivos e
propostas
e
recursos
. As duas compartilham das ilustrações de relógios despertadores, mostrando
o tempo necessário para cada momento. Na primeira, a ilustração de uma heroína negra
correndo e deixando poeira para trás. Fim da descrição.
A terceira parte de cada processo pode conter mais de uma página e se
pela apresentação de uma tabela dividida em momentos, objetivos e propostas e
recursos. Nessa parte, é possível encontrar o planejamento de cada processo, feito
a partir do planejamento original do autor. Em
Momentos
, estão os nomes dos
episódios e a duração sugerida para cada um. Cada processo possui, em média,
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sete episódios ou momentos com durações variadas.
Na segunda coluna da tabela estão dispostos os objetivos e as descrições das
propostas a serem realizadas. Nessa parte, também, são apresentadas sugestões
de como a/o mediadora/or pode conduzir o processo, contendo dicas de
questionamentos e indicações às/aos participantes. Reforçamos, mais uma vez,
que essas propostas estão fundamentadas na experiência do autor com grupos
específicos. Desse modo, o que foi aplicado naquele contexto pode exigir
adaptações por parte de quem desejar desenvolver o trabalho em outros cenários.
A coluna denominada “Recursos” indica os materiais que podem ser
utilizados em cada etapa. Eles variam conforme o processo, mas priorizam itens
mais acessíveis, como roupas, utensílios de cozinha ou objetos de decoração que,
em muitos casos, as pessoas já têm em casa. Recomenda-se que esses materiais
(figurinos, objetos, imagens ou vídeos) sejam selecionados e organizados
previamente ao início das atividades. Caso as participantes e os participantes
precisem fazer uso de objetos durante o processo, a pessoa mediadora pode
definir um tempo específico para a escolha dos materiais ou, como ocorreu no
trabalho original, informar previamente ao grupo quais itens serão necessários. Em
nossas oficinas, mesmo com o material de divulgação solicitando os objetos
antecipadamente, o autor ainda reservava momentos durante os encontros para
que as pessoas pudessem buscar ou selecionar esses recursos dentro do contexto
de cada processo.
Devido à natureza imersiva do Drama, as práticas devem sempre ser
contextualizadas, inclusive no momento de selecionar figurinos ou outros objetos.
Por exemplo, no processo
As pedras do destino
, as jogadoras e os jogadores
tinham a missão de mergulhar em águas profundas para buscar dois tipos de
objetos. Essa busca acontecia dentro do contexto do jogo, de modo que a proposta
central era trabalhar as qualidades do movimento, ou seja, a forma como se
deslocavam pelo espaço durante a procura dos itens.
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Figura 6 - Material didático dicas. Acervo do grupo
Descrição da imagem
: A imagem apresenta duas páginas retangulares do material didático,
dispostas lado a lado. A primeira refere-se ao processo “As pedras do destino” e tem a
predominância da cor amarela. A segunda refere-se ao processo “Teriantropos”, na qual predomina
a cor preta. Ambas as páginas apresentam a sessão
dicas
, na qual são compartilhadas informações
pertinentes à realização das práticas. Na primeira página, a ilustração de três meteoros e, na
segunda, uma silhueta humana amarela com asas está sobreposta por nuvens brancas e pequenos
pássaros em voo. Fim da descrição.
Na última página, é possível encontrar dicas sobre as práticas,
considerando as experiências do autor. As dicas podem ser mais amplas ou
específicas para cada processo, como por exemplo para o Drama
Teriantropos
, no
qual o uso do Visual Vernacular - ou VV - favoreceu e enriqueceu o jogo, ao ser
utilizado nos exercícios de “transformação em animais”. Rezende (2019, p. 37)
explica que:
[a]s produções narrativas em língua de sinais contam com um arsenal de
recursos visuais que podem variar em níveis de detalhamento do que
está sendo narrado, na encenação do narrador dentro da história contada,
em detalhamento sofisticado de descrições tanto de objetos quanto de
pessoas, animais, plantas, dentre outros aspectos (
apud
Leopold, 2023,
p. 48).
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Sendo assim, o VV configura-se como uma forma de usar sinais e
classificadores, conferindo características de teatralidade a quem discursa. Com
esse recurso, é possível contar e, ao mesmo tempo, ser aquilo que se conta. A
título de exemplo, uma participante transformou-se em um gato: utilizou o corpo
todo e, ao precisar escalar um prédio alto, em vez de subir numa cadeira,
representou o prédio à sua frente por meio do sinal e dos classificadores. Para
mostrar o gato escalando, ela alternava entre ser o animal, incorporando no corpo
as características de um gato, e narrar a escalada, como se apresentasse
diferentes ângulos de uma câmera, por exemplo.
Aspectos pertinentes à prática do Drama com surdos em ambiente
remoto
O material apresentado evidencia aspectos relevantes das práticas de Drama
em ambiente remoto com pessoas surdas. Embora seja um trabalho bastante
específico, é fundamental entender que algumas características observadas têm
aplicabilidade mais ampla no campo da prática pedagógica do teatro com surdos.
Dessa maneira, elencamos três aspectos principais do material didático
desenvolvido a partir das oficinas de teatro: i) o investimento no Visual Vernacular;
ii) o destaque para a visualidade; e iii) o uso do ambiente virtual.
Ainda que tenhamos comentado sobre o Visual Vernacular, cabe salientar
sua importância para o trabalho realizado com surdos. Segundo Resende (2023),
“[...] o VV é utilizado no Teatro Surdo como uma forma de expressão única que
combina elementos visuais, gestuais e narrativos para transmitir significados e
emoções” (Resende, 2023, p. 77). Portanto, além de contribuir com o trabalho
teatral, o VV faz parte da Cultura Surda:
A “teatrologia surda” cria um “espaço cênico para todos”, onde a
“teatralidade em Língua de Sinais” se manifesta com seus elementos e
práticas teatrais. A teatralidade surda traz consigo uma experiência que
preenche o espaço cênico do Teatro Surdo e da Literatura Surda por meio
de produções, espetáculos e seus gêneros. Atualmente, o Teatro Surdo
se desenvolve no cenário teatral junto aos elementos literários e teatrais
que utiliza. Esses elementos podem incluir poesias, narrativas,
monólogos, comédias, dramas, rengas, poesias em duetos, Visual
Vernacular (VV), slam, performances e outras formas específicas do
teatro físico e corporal na Língua de Sinais (Resende, 2023, p. 73).
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Valer-se de do VV nas práticas teatrais com surdos e, neste trabalho,
especificamente no Drama, pode revelar inúmeras possibilidades ao jogo, como
foi observado durante as oficinas. Essa forma de expressão pode potencializar
estratégias como a ambientação cênica, ao permitir que o próprio corpo crie seus
recursos para interagir com o espaço. Ainda, as/os participantes do Drama podem
se beneficiar do VV e seu aspecto performático, agregando em sua criação/vivência
de papéis. Por fim, em outros momentos como a apresentação de hipóteses
estratégia que aparece em alguns processos –, estimular o uso do Visual
Vernacular possibilita que as/os participantes criem ideias mais concretas,
conferindo teatralidade a suas respostas.
As possibilidades de emprego do VV no Drama dependem da criatividade e
da aproximação da pessoa mediadora com a Cultura Surda. Dessa maneira,
compreender que uma forma de expressão da própria comunidade surda pode
enriquecer o Drama abre espaço para uma relação de respeito e valorização da
cultura do público com o qual se trabalha. Reiterando que o material didático não
deve ser tomado como um livro de receitas, provocamos quem o acessa a refletir
sobre a adoção do VV em outros momentos, para além do que foi apresentado.
Na esteira desse pensamento, reforçamos a importância da ênfase à
visualidade no Drama com surdos. Nas palavras de Gesser:
[a] visualidade é um emblema usado nas comunidades surdas chegando
a ser quase um artefato cultural. Os artefatos culturais, além dos artigos
materiais, são subjetivações que fazem sentido na cultura e comunidade
constituindo as produções da pessoa surda que tem seu próprio modo
de ser, ver, entender e transformar a sua realidade; a isso se agregam as
formas de interlocução, nomeações individuais, tradições, valores e
normas, situações cotidianas (Gesser, 2009
apud
Rezende, 2019, p. 27).
O foco na visualidade não presume adaptações, mas propõe um ponto de
partida a partir dos elementos visuais. Por o Drama ser a construção de uma
narrativa ficcional em coletivo, na qual as/os participantes e mediadora/or agem
como se
estivessem na situação proposta pelo contexto ficcional, o uso de
materiais que priorizam a visualidade nos parece imprescindível, pois enriquece
ainda mais o processo criativo. Em sua tese, Resende (2023) comenta sobre o
Teatro Visual:
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A arte do teatro visual é caracterizada pela criação de imagens fortes e
simbólicas, que podem evocar emoções e transmitir significados
profundos. Através do uso criativo de recursos visuais, os artistas do
teatro visual podem explorar temas abstratos, criar atmosferas vívidas e
transportar o público para mundos imaginários. Na sua linguagem teatral
visual, em toda sua configuração, podemos considerar os métodos e as
práticas que ele engloba, além de seus aspectos artísticos como cenário,
figurino, gestos, expressões, performance, mímica e outros (Resende,
2023, p. 84).
No material didático referenciado neste artigo, são apresentadas dicas para
o emprego de elementos visuais em cada proposta de Drama. Esses elementos
variam entre figurinos e objetos de uso cotidiano, como utensílios de cozinha, itens
de decoração, enfim, qualquer um que possa ser incorporado como recurso
criativo. Dessa forma, a visualidade intrínseca à Libras articula-se à visualidade
construída a partir de recursos como os mencionados anteriormente.
[...] considero o corpo do ator surdo e a cultura visual ricos em si. Corpo
como suporte das informações abstratas e imagéticas, num mundo em
que a cultura reflete suas diferenças. Nessa cultura visual, a comunidade
surda vive a sua língua no próprio corpo, carregado de visualidade e como
arte nele manifestada (Resende, 2023, p. 86).
O uso de imagens projetadas na tela para a ambientação cênica, por exemplo,
surtiu efeito no contexto em que as práticas foram desenvolvidas. Esse recurso,
propiciado pelo ambiente remoto, favoreceu a imersão no Drama mas, ao mesmo
tempo, não substituiu a possibilidade de criar uma ambientação no espaço de
cada participante. O uso de imagens na tela permite à/ao mediadora/or uma
infinidade de espaços a serem explorados. Um exemplo a ser destacado do
processo realizado no ano de 2021 foi a visita ao Museu do Louvre, em Paris, por
meio do site14 oficial da instituição, que possibilita um passeio virtual pelas galerias
do prédio.
O trabalho de professoras e professores ouvintes com pessoas surdas deve
levar em conta a visualidade da Libras e seus recursos (como o VV, por exemplo),
procurando partir dessa outra forma de perceber o mundo, sem cair em
armadilhas como “colocar-se no lugar do Surdo” ou simplesmente adaptar
14 Disponível em:
https://www.ticketslouvre.com/en?utm_source=bing&utm_medium=cpc&utm_campaign=louvre_eng_eur
_sea&msclkid=23b286da7fa618fcb509ee9c985fbe0f&utm_term=louvre%20museum&utm_content=VNT_
USA_EN_KWS-Louvre. Acesso em: 09 jun. 2025.
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materiais que privilegiam a audição e a oralidade. Entendemos que realizar esse
exercício aproxima-se da própria formação de professoras e professores de teatro,
uma vez que a visualidade ocupa lugar central também na produção teatral de
pessoas ouvintes.
Por fim, um aspecto específico do trabalho realizado é o ambiente remoto.
Ainda que as propostas apresentadas no Catálogo de Drama possam ser
ressignificadas para o ambiente convivial, é importante abordarmos o contexto
original em que foram realizadas. O uso do ambiente virtual nos trouxe algumas
dificuldades no que tange à visualidade, por exemplo. O aplicativo
Google Meet
permite a organização das telas que estarão em destaque, porém, quanto mais
participantes na chamada, menor as telas ficam, o que dificulta a visualização das
pessoas que estão sinalizando.
Ao abordar sobre o uso da Libras e sobre a necessidade da visualidade no
Drama com surdos, encontramos obstáculos no contexto remoto. Uma
característica do
Google Meet
é destacar a tela de quem está oralizando ou
emitindo algum som. Dessa forma, entende-se que este aplicativo privilegia
pessoas ouvintes. Uma estratégia para contornar essa situação é sugerir que
utilizem recursos da plataforma como o “levantar a mão”, permitindo que a pessoa
receba um destaque ou chame a atenção para falar.
A dificuldade de conexão com a
Internet
também foi um desafio para a
dinamização das propostas. A sinalização da Libras precisa ser vista de forma clara
e quando a câmera começa a travar pela velocidade da conexão, essa
comunicação fica comprometida. O
chat
dentro da plataforma pode ser uma
possibilidade de solução, porém, depende se as pessoas na chamada sabem ler e
escrever português.
Mesmo com esses possíveis desafios, o ambiente remoto amplia o alcance
do público e favorece a diversidade de participantes, reunindo pessoas de
diferentes realidades e contextos culturais. Como destaca Leopold (2023), esse
espaço, “devido à desterritorialização, favorece a possibilidade de pessoas de
diferentes lugares do Brasil participarem, fomentando a troca entre sujeitos de
realidades, culturas e comunidades surdas distintas” (Leopold, 2023, p. 63).
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Como a Libras é uma língua viva, o contato com pessoas surdas de diferentes
regiões do país enriquece significativamente o processo de ensino-aprendizagem
e o trabalho com o Drama. Os regionalismos revelados na diferença entre alguns
sinais, bem como o conhecimento de realidades distintas proporcionam à/ao
professora/or e aos participantes ampliarem seus repertórios linguístico e cultural.
Para finalizar, gostaríamos de destacar a necessidade de que o/a professor/a
de teatro busque conhecer as características da Cultura Surda, seus artefatos
culturais e a Libras. Esses aspectos favorecem que a aula de teatro seja um espaço
de trocas e partilhas, no qual os conteúdos façam sentido e se aproximem do
contexto das/dos participantes. Ainda muito para avançar em termos de
acessibilidade no ensino de teatro em contexto brasileiro, conforme se constata
na escassez de pesquisas sobre Drama e surdez/Cultura Surda. Sendo o Drama
uma abordagem de ensino de teatro consolidada em nosso país,
compreendemos que é fundamental que sejam desenvolvidos estudos que
relacionem a prática com o contexto específico da surdez. O desenvolvimento do
material didático aqui apresentado, bem como sua breve difusão neste artigo
buscam contribuir para um ensino de teatro mais democrático, mais acessível e
mais plural, reconhecendo as diversas modalidades de ser e estar no mundo.
Referências
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CABRAL, Biange; PEREIRA, Diego de Medeiros. O espaço de jogo no contexto do
drama.
Urdimento
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DUBATTI, Jorge. Experiência teatral, experiência tecnovivial: nem identidade, nem
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. Direção: Álex Pina. Produção: Cristina López Ferraz. Roteiro: Álex
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: experimentos teatrais
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JARDIM, Priscila Lourenzo. Luzes, câmera, ação!: Práticas teatrais com surdos em
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- Revista de Estudos em Artes Cênicas, Florianópolis,
v. 2, n. 41, p. 1–25, 2021. DOI: 10.5965/1414573102412021e0113. Acesso em: 8 jun. 2025.
RESENDE, Lucas Sacramento.
Teatralidade no Teatro Surdo Brasileiro
: concepções
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REZENDE, Renata Cristina Fonseca de.
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de sinais. 2019. 132 f., il. Dissertação (Mestrado em Estudos da Tradução) -
Universidade de Brasília, Brasília, 2019.
Recebido em: 10/06/2025
Aprovado em: 17/07/2025
Universidade do Estado de Santa Catarina
UDESC
Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas
PPGAC
Centro de Arte, Design e ModaCEART
Urdimento
Revista de Estudos em Artes Cênicas
Urdimento.ceart@udesc.br