
Estranhas criaturas
: o Drama na formação de professores em uma mirada às infâncias
Luiz Eduardo Gasperin
Florianópolis, v.2, n.55, p.1-26, ago. 2025
As tribos não se unificam. Vivem lado a lado, colaboram pontualmente,
mas permanecem distantes entre si. A clareira torna-se um espaço
dividido por estilos e valores de vida diferentes. Os anárquicos vivem de
forma organizada e cooperativa em uma cabana coletiva. As padeiras são
jovens encantadoras e ótimas cozinheiras. Elas têm um quintal simples,
mas bem-equipado com forno artesanal e ferramentas adaptadas. Ah...
elas têm um filhote de onça domesticado. Já os alemães vivem em um
acampamento precário, com uma lona, um regador e uma faca. Esse
grupo é liderado por um patriarca autoritário e pessimista. O filho mais
velho se diz filósofo; o do meio, xamã; já o caçula, extrovertido e
namoradeiro. E o Freddy vive isolado na floresta, em uma pequena
cabana, aparecendo só em momentos importantes, deixando mistério
(Relato de estudante participante, Neto, 2025).
A entrada dos animais na história. Os animais que viviam naquela floresta
tinham ficado longe por um ano de seu habitat, e que então voltavam aos
seus lares, mas ali tinha quintais desconhecidos. Nos transformamos
nesses animais. Nós, como animais, xeretamos as coisas estranhas
daquelas outras espécies e, com isso, nos revoltamos com a morte dos
animais; identificamos o roubo do filhote de onça; a invasão do nosso
território (Relato de estudante participante, Borges, 2025).
Estava acontecendo uma espécie de assembleia que reuniu todos os
animais que eram os verdadeiros donos daquele lugar. Todos estavam
muito revoltados, se sentindo invadidos e roubados, pois agora não
tinham mais onde morar. Falavam todos ao mesmo tempo. Os felinos,
especialmente a onça que teve seu filhote roubado, estavam decididos a
atacar o acampamento e destruir tudo; o quati só pensava em comida e
dizia que estava muito feliz, pois agora tinha comida de sobra; o sapo se
distraía constantemente com as moscas que pareciam provocá-lo o
tempo todo, mas, sempre deixando claro seu apoio aos felinos. A ideia
deles foi aprovada por unanimidade. Estava decidido que os animais iriam
invadir o acampamento e acabar com todos os invasores de uma vez por
todas! (Relato de estudante participante, Silva, 2025).
O terceiro e último episódio,
Estranho Culpado
, teve início com um salto
temporal dentro da ficção. A proposta era revisitar os acontecimentos anteriores
como se tivessem ocorrido há muito tempo, criando um distanciamento que
permitisse às/aos participantes refletir sobre as consequências da invasão do
território e do conflito entre humanos e animais. A narrativa se deslocava, agora,
para o campo da memória, da reconstrução e da responsabilização.
A entrada na nova camada ficcional foi mediada por imagens congeladas, nas
quais os grupos representavam diferentes reações à devastação da clareira. As
figuras humanas retornavam à cena, agora confrontadas com o rastro de
destruição deixado pelas disputas territoriais. Em seguida, foi proposto um
exercício coletivo de julgamento simbólico: quem seria o responsável por tudo