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Duetos com o futuro: Um convite à participação
nos arquivos corporais do Lume Teatro
Luciana Mizutani
Para citar este artigo:
MIZUTANI, Luciana. Duetos com o futuro: Um convite à
participação nos arquivos corporais do Lume Teatro.
Urdimento
Revista de Estudos em Artes Cênicas,
Florianópolis, v. 2, n. 55, ago. 2025.
DOI: 10.5965/1414573102552025e0111
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Luciana Mizutani
Florianópolis, v. 2, n. 55, p.1-28, ago. 2025.
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Duetos com o futuro1: Um convite à participação nos arquivos corporais do Lume Teatro2
Luciana Mizutani3
Resumo
Este estudo propõe novas abordagens para arquivos corporais, inspiradas nas perspectivas
relacionais e de presença do Lume Teatro e no conceito de obra aberta (Campos, 1955; Eco,
1976). Considera linhas de força da contemporaneidade, como a hibridização cultural
(Canclini, 2008) e a desconstrução do indivíduo (Hall, 2006). Destaca arquivos corporais que
incentivam multiplicidade interpretativa e interação criativa, como no projeto
Bottle Duets
,
que faz um convite performativo para ressignificar memórias e experiências em diálogo com
um devir coletivo e aberto.
Palavras-chave
: Auto documentação. Obra aberta. Convite à participação. Lume Teatro.
Arquivo corporal.
Duets with the Future: An Invitation to Participate in Lume Teatro’s Body Archives
Abstract
This study proposes new approaches to body archives, inspired by the relational and
presence-based perspectives of Lume Teatro and the concept of the open work (Campos,
1955; Eco, 1976). It considers contemporary forces such as cultural hybridization (Canclini,
2008) and the deconstruction of the individual (Hall, 2006). The research highlights body
archives that encourage interpretative multiplicity and creative interaction, as in the
Bottle
Duets
project, which performs an open invitation to resignify memories and experiences
through dialogue with a collective and open becoming.
Keywords:
Self-documentation. Open work. Invitation to participation. Lume Teatro. Body
archive.
Dúos con el Futuro: Una Invitación a Participar en los Archivos Corporales de Lume Teatro
Resumen
Este estudio propone nuevos enfoques para los archivos corporales, inspirados en las
perspectivas relacionales y de presencia del Lume Teatro y en el concepto de obra abierta
(Campos, 1955; Eco, 1976). Considera fuerzas contemporáneas como la hibridación cultural
(Canclini, 2008) y la desconstrucción del individuo (Hall, 2006). La investigación destaca
archivos corporales que fomentan la multiplicidad interpretativa y la interacción creativa,
como en el proyecto
Bottle Duets
, que ofrece una invitación performativa a resignificar
memorias y experiencias en diálogo con un devenir colectivo y abierto.
Palabras clave
: Auto documentación. Obra abierta. Invitación a la participación. Lume Teatro.
Archivo corporal.
1 Revisão ortográfica, gramatical e contextual do artigo realizada pela Dra. Karina Ribeiro Yamamoto. Doutorado em Artes
da Cena pela Universidade Estadual de Campinas. Mestrado e Graduação em Artes Cênicas pela Universidade de São
Paulo (USP).
2 Vinculado à pesquisa de pós-doutorado de Luciana Mizutani na Ghent University (UGENT), Bélgica com bolsa de pesquisa
da CNPq.
3 Pós-doutorado pela Ghent University (UGENT), Bélgica. Doutorado e Mestrado em Artes da Cena pela Universidade
Estadual de Campinas (UNICAMP). Graduação em Artes Cênicas pela UNICAMP.
lumizu@gmail.com http://lattes.cnpq.br/3230513470024488 https://orcid.org/0000-0002-8936-5780
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Introdução
A trajetória histórica e cultural da humanidade se mantém acessível no
presente, em grande parte, pelas práticas de documentar, que, ao registrar as
experiências e acontecimentos, permite uma representação de recortes do
passado que podem ser visitados no futuro. A documentação de subjetividades
lida com a tarefa impossível em sua completude de criar materialidade para o
intangível, onde suas expressões podem acontecer por meio de elementos
artísticos. A ação transcende o mero ato de lembrar, pois a formalização faz com
que emerja da documentação perspectivas, intenções e desejos de quem
documenta. Esses documentos transformam-se em um dispositivo de acesso
para uma representação do passado, passível de ser visitada e reinterpretada.
Ao registrar o corpo vivo, a documentação encontra abordagens e desafios
específicos, especialmente em um contexto atravessado pela hibridização cultural
e a crise da noção de identidades fixas. Esses cenários evidenciam um devir
instável e em rápida transformação que seria difícil de apreender em uma
documentação fechada e acabada. Por isso, se o objetivo da captura de registros
ou arquivos corporais é se alinhar com esses devires, é essencial que a
documentação possua mobilidade e flexibilidade. Essa fluidez, por sua vez, está
em sintonia com as perspectivas e práticas do Lume Teatro, que entende o
acontecimento artístico como um processo em fluxo.
Para tanto, emprestamos o conceito introduzido por Haroldo de Campos4 de
abertura em
A obra de arte aberta
(1955), originalmente aplicado à literatura, que
é posteriormente expandido em
Obra aberta
de Umberto Eco5 (1976) em obras
artísticas de forma mais ampla. Em linhas gerais, a abertura surgiria de um
4 Haroldo de Campos (1929-2003) foi um poeta, tradutor e crítico literário brasileiro, um dos fundadores do
movimento concretista nos anos 1950. Reconhecido por sua abordagem inovadora da poesia, defendia o
conceito de “transcriação” em vez de tradução quando na nova língua havia uma recriação poética do texto
para além de uma tradução literal ou semântica.
5 Umberto Eco (1932-2016) foi um filósofo, semioticista e escritor italiano, conhecido por romances como
O
Nome da rosa
e
Pêndulo de Foucault
e ensaios como a
Obra aberta
.
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“inacabamento” proposital, o que teria como resultado uma fuga de uma
linearidade óbvia, em que se alargam as múltiplas interpretações por parte de
quem as experiencia. Adicionalmente, algumas obras se abrem para uma abertura
em uma camada extra, ao convidar intérpretes e público para compor com a obra,
borrando as fronteiras da noção de autoria. Do estudo da transposição de alguns
desses princípios para as documentações corporais do Lume teatro, surgiu o
projeto Bottle Duets, onde são tecidos espaços de interação entre multiplicidades
corporais do presente com futuros desconhecidos, instrumentalizando princípios
cênicos para fomentar respostas artísticas criativas e colaborativas. Tais
documentações foram realizadas nesse projeto principalmente em vídeos para
posterior conversão em arquivos de movimento em 3D que foram recriados em
avatares que podem ser experienciados em óculos de realidade virtual.
Este artigo, para além de pensar formatos e tecnologias para arquivar os
saberes corporais do Lume teatro coerente com sua epistemologia, percebe como
práticas que se engajam para horizontalizar as relações podem transformar o ato
de documentar, gerando abordagens que promovem acessibilidade, multiplicidade
de protagonismos e sensibilidade em relação ao devir coletivo. Ao conceber a
memória do corpo como uma construção compartilhada, propõe-se um modelo
de documentação onde os arquivos do corpo passam a integrar no projeto
Bottle
Duets
- um acervo artístico e de saberes da cena que pode ser navegado e
ressignificado. Nessa relação artística promove-se uma dinâmica de cidadania que
é participativa com a história, com as culturas e com o outro.
Documentação como um dispositivo de
hackear
o tempo
O ato de documentar é intrínseco às histórias humanas. Ao longo dos tempos
e em diversas culturas, os povos têm registrado suas experiências por meio de
pinturas, sistemas gráficos, histórias, músicas e, mais recentemente, por meio de
vídeos, fotografias e outros formatos digitais. Alguns desses registros, por acaso
ou preservação intencional, sobrevivem ao tempo, permitindo-nos,
ocasionalmente, espiar pela janela do passado de povos em múltiplos recortes
temporais, e assim, vislumbrar como eram os eventos sociais, quais eram as
inquietações cotidianas, as estruturas de organização coletiva ou as formas de se
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eternizar um amor.
As pistas do passado nos ensinam, criam sentido, pertencimento e justificam
decisões futuras. Por isso, embora o presente artigo se concentre nas micro
relações da documentação que se inserem em macro relações, vale o registro de
que essa relação de causalidade, criada pelas documentações, transforma a
memória em um campo de disputa sociopolítica. Pois quem controla “o que se
lembra” e “como se lembra”, detém os dispositivos da memória e o poder de
ressignificar o passado sob prismas favoráveis no presente e no futuro.
Seja nas macro ou nas micro relações, observado por uma perspectiva linear,
o tempo segue impassível, ignorando os mais puros ou egoístas desejos de detê-
lo, caminhando em uma única direção, para o futuro. Desse modo, o ato de
documentar, embora incapaz de barrar sua passagem, persiste como uma das
poucas formas de criar uma microfissura temporal. Contudo, diferente das viagens
no tempo retratadas no cinema, o tempo não pode ser pausado, rebobinado ou
reeditado. O ato de documentar surge estritamente como uma máquina do tempo
simbólica, que nos oferece acesso aos vestígios sobreviventes do passado e,
simultaneamente, possibilita que o presente deixe suas marcas nas memórias das
gerações futuras. Desse modo, as documentações não permitem que realmente
se reviva o que ficou para trás, o que esta operação faz é criar uma representação
do passado, enquanto a experiência de visitar a documentação pertence sempre
ao momento presente6.
Por esse prisma, é possível perceber analogias entre a mimesis corpórea7 e o
processo de documentação, pois as diversas matrizes e materiais expressivos do
Lume poderiam ser encarados como estruturas poéticas de documentação. Os
materiais “originais” foram experienciados no passado, decupados e poeticamente
trabalhados e recriados em corpo. Deste modo, mesmo que remeta a um material
decodificado do passado, as matrizes pertencem sempre ao presente, seja em sua
realização durante o acontecimento artístico, seja enquanto possibilidade latente,
6 Esse princípio faz parte do que Piérre Levy conceitua como
virtual
(2011), termo que não foi utilizado nesse
texto para evitar confusão com a virtualidade proporcionada pelas tecnologias.
7 Mimesis Corpórea é uma metodologia de criação de ações físicas desenvolvida pelo Lume Teatro. Baseia-
se na observação artística e poética de corpos, matérias, imagens e palavras, onde o ator-observador, em
diálogo com esses materiais, cria um repertório expressivo.
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ou seja, não materializada. Em ambos os casos o corpo dos atuantes é o mediador,
para abrigar as matrizes enquanto uma possibilidade e para operacionalizar a sua
realização.
O acontecimento artístico cênico comumente é marcado por esta
efemeridade, essa irrepetibilidade que traz a beleza da singularidade para quem
observa, mas que gera desafios óbvios para pesquisadores. A possibilidade de não
poder experienciar ou fruir novamente, provoca o desejo de documentar para
perpetuar este efêmero. Não por acaso, tiramos mais fotos de crianças do que dos
adultos, queremos preservar a doçura de cada primeira vivência, pois a infância se
espicha a centímetros vistos de uma semana para outra. Pesquisadores do
acontecimento artístico, assim como turistas, são regidos pela temporalidade de
um presente irrepetível, e por essa razão farão demasiados registros que servirão
de mediadores para a memória.
Por outro lado, os atuantes do Lume se aproximam do que seriam os
moradores locais, como aqueles que podem revisitar cotidianamente lugares e
experiências. Isso porque dispõe de acesso constante e então podem se dar ao
luxo de dispensar a mediação por aparatos tecnológicos. Eles possuem o privilégio
- e a sina - de registrar lentamente, documentar em corpo, os lugares pelos quais
passam todos os dias, as pessoas ao redor e até o tédio de mais uma semana que
é uma rima da anterior. A documentação é tecida no delicado tecido da memória,
forjada na carne, sem a urgência de capturas instantâneas.
O ato de documentar, salvo nos casos em que essa ação se transforma em
uma atividade compulsiva, tem para quem o registra um valor digno de memória.
Seja no curto prazo, como um lembrete de algo a se fazer, ou mais longo como
um saber, um acontecimento, uma experiência ou um contrato. Nesse último caso,
trata-se de uma questão objetiva — onde o registro atua como sua representação
dentro de um acordo social. Esse registro é catalogado, integrando os pactos
coletivos, como as leis de um país. Nesses casos, o registro é informacional, onde
o que importa é o conteúdo da mensagem, onde o formato e estilo condizem com
sua função pragmática de organização e legitimidade.
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No entanto, e se o propósito do registro for de outra natureza? E se o objetivo
for capturar uma experiência, um acontecimento, subjetividades, as sensações e
sentimentos que estes provocam? E se houver a intenção de recriar uma
experiência análoga no futuro, como é o caso de tantas obras artísticas? Ainda
mais, no recorte dos arquivos corporais, e se estiver para além de um
arquivamento de uma representação do corpo? E se houver o desejo de que a
documentação esteja de acordo com os valores imateriais do objeto do arquivo,
neste caso nas bases teórico-práticas do Lume teatro?
Em linhas gerais, as bases do Lume são: a
cartografia
, a
presença
e as
intensificações
. Ao adotar a cartografia como metodologia, o Lume percebe o
campo sempre em transformação, o que engloba o corpo dos atuantes que se
torna um território vivo de experimentação. O mapeamento dos fluxos de força e
subjetividade não se limitam a ser uma metodologia analítica, mas uma
ferramenta criativa, que permite o atuante experienciar e reinventar sua
corporeidade, enquanto se mantém aberto para o inesperado. A
presença
é
compreendida como um fenômeno relacional, uma rede de forças entre atuantes,
tempo, espaço, contexto e público. A presença é, dessa maneira, uma expansão
de um corpo coletivo, atento aos desdobramentos do porvir, e se manifesta por
meio de uma escuta ampliada e sensível do ambiente e dos parceiros de cena. Por
último existem as
intensificações
que encaram o corpo como âncora da
experiência, como um território de intensidades e potencialidade8, ou seja,
entendendo-o para além de um instrumento físico. Esse corpo media a exploração
de zonas liminares, desestabilizando padrões e abrindo espaço para novas formas
de expressão.
Materializar em arquivos corporais as bases metodológicas do Lume
representa um desafio de ordem ontológica. Pois se tais arquivos falharem nessa
recriação conceitual, deixariam em certo grau de ser documentações do grupo.
Essa constatação nos lança em questões fundamentais: como capturar em
8 A compreensão do Lume sobre o conceito de potência se baseia em pensadores como Espinosa e Deleuze.
Assim, potência se refere a força de existir e de agir de um corpo ou ideia em sua relação com o mundo. Se
relaciona a capacidade de afetar e ser afetado, em constante variação.
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documentação a força-presença que emerge da relação entre atuante, espaço e
espectador? É possível conceber um formato documental que mantenha a
natureza fluida do acontecimento artístico, em vez de congelá-lo em registros
estáticos? Os modelos convencionais de documentação, quando aplicados a esse
corpo-território em constante transformação, não estariam fadados a trair sua
essência?
Metodologias de documentação que desconsideram as linhas de força em
ação acabam, invariavelmente, por deformar o objeto, forçando-o a se encaixar
em modelos limitantes. A crítica aqui não se dirige às restrições materiais — como
aquelas impostas por tecnologias específicas mas a uma hierarquização
conceitual que subordina o objeto desde o princípio. Ainda que, à primeira vista, o
“todo” pareça estar presente, desconsiderar fundamentos sociais, filosóficos,
conceituais — transforma a documentação em um agente de despotencialização.
O esvaziamento de sentido e existência que daí decorre, além de desrespeitar o
objeto e seu contexto, inviabiliza uma fruição plena e ética da própria
documentação.
Essa perspectiva muda a natureza do ato de documentar, pois a busca por
procedimentos que pudessem materializar as qualidades, a ética e a poética
dentro das possibilidades técnicas da documentação se torna chave. Por exemplo,
uma documentação das raízes exercício base para o Lume não poderia se
focar em uma transmissão informativa lógico-teórica, focando-se em uma
decupação do movimento, elencando as partes do que propõe um caminho
em espiral que sobe pela perna. Segundo as bases do grupo, a questão estaria
mais em documentar, por exemplo, como as metodologias são agenciadoras de
uma intensificação geradora de novas expressões, de presença relacional ou de
abertura para o inesperado.
Nesse caso, a documentação precisa transbordar em obra artística, pois
mesmo que seja aplicada com finalidades pedagógicas, ela lida com algo imaterial
e subjetivo, e para ser documentado é preciso uma configuração poética. Estariam
sobrepostos então, os campos da documentação e da arte, pois mantém-se a
intencionalidade do registro, mas se coloca a indissociabilidade de uma existência
que se atrela a uma formalização, o que é característico de obras artísticas.
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O procedimento de criar forma para algo intangível requer um processo de
transcriação
. Emprestamos aqui, o termo da crítica literária, conceito desenvolvido
por Haroldo de Campos. Transcriação refere-se a uma tradução estética, que vai
além da equivalência linguística ou transmissão semântica de uma informação,
pois reinterpreta e reinventa a obra original em um novo contexto cultural. Ao
transcriar, busca-se preservar não apenas o significado, mas o próprio signo, sua
fisicalidade (sonoridade, ritmo e imagética), promovendo uma experiência de
leitura que ressoe de maneira similar com o público-alvo (Campos, 1963).
Transcriar o efêmero em um fragmento tangível pode carregar ainda forças
imaginativas, assim como observado nas matrizes corporais do Lume, onde a
documentação não é apenas uma representação do que foi, mas uma
possibilidade de ressignificar o objeto de documentação, ou seja, como este será
experienciado. Nas obras artísticas documentais vemos uma versão escolhida e
trabalhada poeticamente para se desdobrar através do tempo, perpetuando não
apenas a ânsia de lembrar, mas de como lembrar. Essa documentação recheada
pela imaginação ganha forma por meio de um processo de confecção habilidosa
de quem documenta, o que torna o documento integrante tanto do campo da
história quanto das artes. Famosas documentações se tornaram ícones, não por
representar um cenário factual mas por transcriar o espírito de um período
histórico, como é
La liberté guidant le peuple
de Eugène Delacroix (1830) para a
Revolução Francesa, a foto de Che Guevara por Alberto Diaz Korda (1960) para a
Revolução Cubana, ou a música
Bella Ciao
para o movimento antifascista italiano.
Vale aqui fazer uma distinção entre o que chamo de processos imaginativos
e processos de deformação. Ainda que diferentes parâmetros possam ser
adotados a cada contexto, é preciso considerar os níveis de potência que emergem
no corpo resultante. O processo
imaginativo
se diferencia pela sua potencialização,
onde os elementos se articulam de forma horizontal e dialógica, ampliando na
simbiose as capacidades de afetar, ou seja, de promover mudança. Na deformação
há um desequilíbrio entre os elementos, no qual um ou mais têm sua potência de
afecção reduzida, configurando uma despotencialização.
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Essas perspectivas de documentar se encontram com o passar das eras com
novas técnicas, materiais e tecnologias, possibilitando formas que podem ser mais
imersivas e interativas. Quando é possível estabelecer uma relação de diálogo com
a documentação, o “eu” se torna parte propositiva, permitindo que as
documentações sejam experimentadas em uma camada mais profunda da
experiência. Este seria, por exemplo, o caso de uma documentação corporal feita
com a tecnologia de
motion capture
e experienciada em um ambiente de realidade
virtual, que permite uma escolha do ponto de vista do objeto documentado por
quem frui. Documentações corporais que englobam subjetividades proporcionam
um interessante atravessamento temporal, pois, pode gerar-se uma espécie de
temporalidade híbrida, onde o corpo registrado no passado, é simulado
digitalmente e experienciado no presente, e - havendo transcriação - pode ainda
se lançar ao diálogo com possíveis futuros.
Uma questão ética antecede, no entanto, um aprofundamento metodológico
nos arquivamentos corporais do Lume que desencadeiam uma conversa temporal:
ao documentar pessoas e culturas - que são atravessadas por contextos e
questões sociais - sobre com quais princípios éticos lidar com esses materiais?
Como propor relações mais horizontais e democráticas nesse cenário? Como
elaborar documentações transcriadas que potencializem os futuros coletivos
possíveis?
Corpos em arquivo na era digital
O início desta pesquisa se deu por um convite, e o chamado propunha uma
aventura para desbravar os arquivos corporais digitais do Lume Teatro. Durante
um encontro com integrantes do Lume Teatro em meados de maio de 2024,
discutiu-se uma parceria com a Universidade de Gent, Bélgica, relacionado ao
Projeto
Practicing Odin Teatret’s Archive
9 (
Pota
). Um dos principais pontos de
preocupação dos atores-pesquisadores era o de evitar que a captação de
Motion
9
Practicing Odin Teatret’s Archive
(POTA) é um projeto de pesquisa que investiga o desenvolvimento, prática
e performance através do arquivo do legado
embodied
do Odin Teatret em ambientes virtuais. Mais
informações no site: <https://asil.ugent.be/projects/pota/>. Acesso em: 04 nov. 2024.
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Capture
realizada meses antes se transformasse em um “manual de treinamento”.
A dedicação exaustiva para desenvolver técnicas, embora tenha sua importância
histórica na metodologia e tenha se tornado saber incorporado, pertence a um
horizonte do passado, não refletindo os atuais encaminhamentos das pesquisas
do grupo.
A preocupação é compreensível: uma documentação que pudesse ser
interpretada como um manual para as técnicas do Lume, se tornaria um ruído no
devir do grupo. Documentar o passado no presente pode reforçar excessivamente
as forças daquele passado, o que tem potencial para alterar a identidade atual do
grupo. A produção de uma documentação desse tipo, teria, é claro, serventia para
pesquisadores interessados na história do Lume, contudo de pouco diálogo, pois
oferece pouca flexibilidade por se tratar, de certa forma, de um “arquivo morto”.
Como dito anteriormente, a pesquisa do grupo se funda em bases relacionais
e podem ser percebidas em múltiplas esferas. Abrir-se para ser afetado pelo outro
é uma forma de engajar-se na prática, trata-se uma escolha que parte da escuta
para construir relações cada vez mais horizontais, plurais e democráticas. É um
caminho, uma ética em processo, onde se atualiza a cada momento as formas de
potencializar o corpo de envolvidos como um todo. Assim, as demandas por
renovação modificam continuamente as práticas e a reflexão do grupo, que
precisam se adaptar e se reconfigurar nas relações formadas.
A história do Lume ilustra essa trajetória, onde as técnicas desenvolvidas se
tornaram independentes, próprias do grupo, em vez de derivativas de técnicas da
cena europeia; onde a mimesis de corporalidades de pessoas passam a ser
problematizadas pelo debate de apropriação cultural, onde a aproximação para a
técnica passa a ser revista também por esse prisma. Essa porosidade e interação
entre corpos, é motor de potencialização de saberes e práticas, e ecoam com a
noção de presença como abordada pelo grupo, transcendendo o acontecimento
artístico (Ferracini; Feitosa, 2017) Em resumo, a busca pela potencialização de cada
corpo formado é um ato contínuo, e o resultado ecoa mudanças nas práticas
pedagógicas - que fortuitamente se alargam com multiplicidades de estratos
sociais e culturais; e em um repertório artístico diverso em temáticas e poéticas.
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Embora Stuart Hall10 (2006) discuta a crise da identidade na relação individual
e em grupos sociais, sua perspectiva de que as antigas identidades fixas estão em
declínio pode ser facilmente transposta a coletivos artísticos contemporâneos,
como o Lume Teatro. Antes, estéticas e técnicas específicas podiam ser os
principais traços definidores de um grupo artístico, como em companhias de ópera
chinesa, ballet clássico ou teatro elisabetano; hoje, no entanto, grupos que
mantém essas identidades precisam lidar com forças que são frequentemente
contraditórias: o esforço quase museológico de manutenção da memória, e
realizar necessárias atualizações para se manterem em diálogo com a
contemporaneidade.
A documentação de práticas corporais codificadas em
Motion Capture
possui
um valor significativo pela sua precisão e quantidade de informação. Lacunas de
tridimensionalidade e posicionamento preciso no espaço tempo, que antes
precisavam ser intuídas ou imaginadas, em notações como as de Rudolf Laban11
ou registros audiovisuais, podem hoje ser mitigadas por essa tecnologia. No
entanto, ao considerar a crise da identidade, ou ao percebê-las de formas mais
fluidas, se reconfigurando em cada relação que se estabelece, surge a questão da
atualidade para o ato de documentar: como arquivar uma identidade-devir? Desse
ou de outros artistas que também estejam nesse estado de constante
transformação? Como transcriar em uma documentação uma multiplicidade que
é estrutural, poética, descentralizada e não unívoca?
Além da multiplicidade que abrange a identidade artística, as técnicas
empregadas e os materiais utilizados, ainda o contexto no qual essa
documentação se insere. As atuais tecnologias de arquivamento digital corporal -
como nas câmeras, microfones,
softwares
que geram arquivos 3D, entre outros -
pertencem a um contexto histórico, onde se tornou usual o processo de
10 Stuart Hall (1932-2014) foi um teórico cultural jamaicano-britânico, pioneiro nos estudos culturais e um dos
fundadores da Escola de Birmingham. Sua obra aborda temas como identidade, raça, etnicidade e cultura.
11 Rudolf Laban (1879-1958) foi um importante dançarino, coreógrafo e teórico da dança húngaro, conhecido
por desenvolver o sistema de notação Labanotation, que permite a análise e registro do movimento. Ele é
amplamente reconhecido por suas contribuições à dança moderna e à educação do movimento,
influenciando práticas de dança e teatro ao redor do mundo.
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desterritorialização de culturas serem reterritorializadas em ambientes digitais.
Adotamos os conceitos de desterritorialização e reterritorialização, como
presentes na obra
Mil Platôs
, Deleuze e Guattari12, que se refere aos processos de
desmantelamento e reconfiguração de significados, identidades e práticas sociais
em contextos culturais e sociais. Desterritorialização envolve a dispersão de
elementos de uma cultura ou identidade, enquanto reterritorialização se refere ao
processo de reintegração ou recontextualização desses elementos em novos
ambientes ou condições. Essa dinâmica é central para compreender a fluidez das
identidades e das interações entre culturas em um mundo globalizado (Deleuze;
Guattari, 2011).
Essas características ressoam com a urbanização, onde as perspectivas da
geografia e das relações sociais deixaram de ser o principal delimitador para as
fronteiras de uma cultura (Canclini, 2008). Se esse processo podia circunscrever
ao menos dois territórios - o de partida e o de chegada - hoje este tende a ser
mais complexo, pois a facilidade de reterritorializações em ambientes virtuais,
favorece o diálogo e negociações entre múltiplas documentações, práticas
culturais e epistemes. Isto cria um ciclo de intensificação das hibridizações
culturais - onde as regiões fronteiriças borradas facilitam os processos de des e
re-territorialização, tornando as bordas, por sua vez, ainda mais porosas e
maleáveis. Este intenso processo, torna difícil reconhecimentos singulares de
deslocamentos e reconfigurações, ou mesmo a delimitação de inícios e finais.
Ou seja, uma documentação fluida ressoa em vários níveis com o Lume e o
contexto de documentação: com as linhas de força que o atravessam; com seu
ethos
; com seus procedimentos metodológicos; e finalmente dialoga com a
hibridização cultural no qual se insere. Tal perspectiva fluida de documentação se
conecta com a necessidade de dialogar com um estrato instável que demanda
uma dinâmica mutável. O contexto da documentação em ambientes virtuais se
relaciona com mapear um devir coletivo, que precisa perceber as tendências dos
fluxos e circuitos dos proprietários das plataformas, de quem as regulamenta, de
quem as usa - em níveis pessoais, coletivos e institucionais - bem como a
12 Gilles Deleuze (1925-1995) e Félix Guattari (1930-1992) foram filósofos franceses conhecidos por suas
contribuições à filosofia contemporânea. Suas obras, como
Mil Platôs
, exploram conceitos como “devir”,
“rizoma” e “corpo sem órgãos”, propondo uma filosofia da multiplicidade e da transformação contínua.
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resultante dessas relações de forças.
Mapear a interconexão de devires é um desafio complexo que reverbera na
escolha daquilo que pode ser considerado digno de documentação. No entanto,
vale lembrar para aqueles que reclamam do espaço virtual, que tantas vezes
aceleram o fim de tradições e certezas como eram no passado, que a
reterritorialização digital pode carregar benefícios como o acesso, a difusão e
fomentar o diálogo entre culturas. Além disso, com sorte, poderiam levar à
supressão de estruturas estratificadas debilitantes. Canclini13, no entanto, nos traz
um alerta:
…não razões para lamentar a decomposição das coleções rígidas.
Vemos nos cruzamentos irreverentes ocasiões de relativizar os
fundamentalismos religiosos, políticos, nacionais, étnicos, artísticos, que
absolutizam certos patrimônios e discriminam os demais. Mas nos
perguntamos se a descontinuidade extrema como hábito perceptivo, não
reforça o poder das transnacionais e dos Estados (Canclini, 2008, p. 307).
As linhas de força presentes nos encontros entre culturas, mesmo quando
não acontecem em embates violentos e sim em negociações, tende a privilegiar
as linhas fortes do
status quo
: colonialismo sobre perspectivas decoloniais,
masculinas sobre as demais identidades de gênero, branca sob as demais raças,
cristã sob as demais religiões, capitalismo sobre outras formas de organização da
sociedade, entre outros. Contudo, não se trata de uma simples relação de poder
onde a hierarquia é óbvia e tangível, para Canclini o que conta mais é a “astúcia
com que os fios se mesclam” (Canclini 2011, p. 346-347), onde acabam
prevalecendo as hierarquias de poder silenciosamente e sem alardes, criando uma
percepção de legitimidade e justiça.
O exercício de documentar pode reivindicar um papel chave nesse contexto,
ao construir memórias por perspectivas plurais, colocando em xeque as relações
de poder históricas entre grupos étnicos, gêneros, classes sociais, entre outros.
Assim, a problemática de como posicionar-se eticamente no entrecruzamento
entre culturas se torna evidente. Por isso, para além da documentação do Lume
13 Néstor García Canclini (1939), antropólogo e teórico cultural argentino radicado no México, conhecido por
suas contribuições ao campo dos estudos culturais e da comunicação, especialmente por suas análises
sobre modernidade, globalização e cultura latino-americana.
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teatro, respeitando suas bases epistemológicas, metodológicas e olhando para as
linhas de força atuantes, como escolher o que documentar e como documentar?
Especialmente em um estrato marcado pela instabilidade? Como realizar uma
documentação que não se limite a registrar o mundo, sem criticidade como ele se
apresenta, servindo como mais uma linha de força na manutenção das atuais
estruturas de poder? Seria possível que a documentação atue como meio para a
ressignificação, fazendo com que se configure como uma força ativa de mudança
que busca um futuro potencializador?
Aberturas para documentar corpos em devir
Em
A obra de arte aberta
de Haroldo de Campos (1955) e em
A obra aberta
de Umberto Eco (1976) existem princípios que dialogam com as inquietações
levantadas até aqui. Embora voltados para a literatura ou para obras artísticas de
forma mais ampla, tais princípios serão aplicados neste estudo para desenvolver
procedimentos para arquivamentos em devir.
Como regra geral, a polissemia é inerente à fruição artística, o que torna
qualquer obra intrinsecamente aberta, dada a multiplicidade de interpretações
proporcionadas por cada espectador em diferentes contextos (Eco, 1976).
Entretanto, o foco desse estudo recairá sobre uma abertura que pressupõe a
flexibilidade das obras: na interação com intérpretes a partir de um material
disparador aberto como, por exemplo, a execução de um programa performativo
de outro proponente –; ou de obras que se materializam e se tornam
acontecimento no momento da interação com o público, tendo como princípio
basilar o convite à participação.
Campos cita
Finnegans Wake
de James Joyce (1939) como obra aberta, que
com sua estrutura circular com um fim que retoma ao começo, torna qualquer
ponto equidistante do centro da obra. Segundo o autor, isso proporciona uma
abertura, ou seja, uma forma menos fixa para se aproximar do texto. Eco se
debruça, entre outros, sobre obras musicais como o
Sequenza per flauto solo
(1958), de Luciano Berio, que não indica o tempo exato das notas, contudo, propõe
uma textura musical composta pela sucessão de sons e suas intensidades.
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Essas obras não são como diamantes acabados e lapidados, são obras
porosas que propõem um jogo em suas concepções e estruturas. Outras obras
mencionadas exploram diferentes formas de abertura, como módulos
combinatórios ou regras que permitem ordenar seções musicais de forma variável.
Algumas oferecem poucos trechos que podem ser organizados livremente durante
a execução; outras apresentam 16 seções que além de organizadas podem ser
suprimidas ou repetidas indefinidamente, conforme a escolha do intérprete.
A abertura, contudo, não implica em ausência de intencionalidade artística.
Pelo contrário, segundo Eco, a obra aberta que convida à participação é fruto de
uma escolha artística consciente, cuja estrutura é propositalmente inacabada, e
precisa ser completada posteriormente. Assim, artistas definem limites e
direcionamentos, mas deixam espaço para “atos de liberdades conscientes”, que
emergem da criatividade e subjetividade de quem interage com a obra (Eco, 1976).
Esses modelos de obras abertas trazem pistas para uma diferente perspectiva na
proposição de documentações, com uma estrutura que pode ser completada
tanto por intérpretes, quanto pelo próprio público. Onde, em ambos os casos, o
jogo proporcionado pela abertura borra os papéis, transformando quem quer que
interaja com a obra em um coautor. O que, no caso de uma auto documentação,
teria ainda um efeito interessante de horizontalizar as relações, onde cada
integrante pode ter protagonismo no ato de contar-se e representar-se.
Nesses breves exemplos é possível identificar que variados elementos podem
ser agenciadores de abertura e se tornar convite para a participação. Um maior
número de elementos móveis aumenta exponencialmente as possibilidades, ou
seja, a abertura da obra.
Sobre os graus de abertura, Eco nos diz que:
O dicionário, que nos apresenta milhares de palavras com as quais
livremente podemos compor poemas e tratados físicos, cartas anônimas
ou listas de gêneros alimentícios, é muito “aberto” a qualquer
recomposição do material que exibe, mas não é uma obra. A abertura e
o dinamismo de uma obra, ao contrário, consistem em tornar-se
disponível a várias integrações, complementos produtivos concretos,
canalizando-os a priori para o jogo de uma vitalidade estrutural que a
obra possui, embora inacabada, e que parece válida também em vista de
resultados diversos e múltiplos (Eco, 1976, p. 63).
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Dessa forma, supor que aberturas sejam mais convidativas simplesmente
pela liberdade proporcionada, pode se provar um equívoco. O convite à
participação precisa, é claro, ser instigante - seja pela autoria do propositor, pelo
jogo ou pela temática proposta. Contudo, em relação à mobilidade, uma abertura
menor pode tornar as regras do jogo mais claras e acessíveis, tanto para
intérpretes quanto para o público. Na prática, isso pode resultar em uma vitalidade
maior para a obra, com participação mais efetiva por delinear mais claramente os
caminhos possíveis, ou seja, o jogo que se propõe.
A completude da obra torna-se, assim, impossível de ser apreendida em uma
única versão, uma vez que sua totalidade é composta pela soma dos possíveis:
tanto das versões concretizadas quanto aquelas que permanecem como
possibilidades em suspensão, obras em potência que podem, a qualquer
momento, ser chamadas à existência e vivenciadas como acontecimento artístico.
Tal percepção não se limita às obras que convidam à participação, pois Campos
percebe a abertura de
Finnegans Wake
de Joyce com similar descrição estrutural,
pois ele a descreve como um “fluxo polidimensional sem fim”, onde haveria uma
atomização da linguagem, onde cada unidade cumpriria uma função metonímica
representando o conteúdo da obra inteira (1955).
Essa estrutura aberta muda a forma de olhar para aquilo que caracteriza uma
obra ou que poderia caracterizar uma documentação. Pois enquanto a estética da
obra acabada tende a concentrar-se no resultado, a estética da obra inacabada
desloca seu foco para a estrutura que possibilita o jogo que gera a multiplicidade.
Essa multiplicidade se assemelha a ramificações que remetem a uma estrutura
geradora, responsável por organizar e dar suporte às variadas formas de
manifestação da obra (Eco, 1976).
Então, de forma resumida, as características de obras abertas que deram
suporte para conceber a arquitetura que operacionaliza as documentações em
devir nesse projeto são: a proposição de um jogo com espectadores; e o não
“acabamento”, isto é, com elementos móveis que incentivem a coautoria. E, com
base nas inquietações sociais e pela perspectiva relacional que visa a
potencialização, adotamos como busca fundamental a des-hierarquização em
várias etapas da cadeia de produção da documentação: na concepção, na autoria,
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no acesso, entre outros. Por isso optamos pela auto documentação, propondo
uma quebra com propostas onde pessoas se tornam objeto, ou seja, destituídas
de agência nas próprias narrativas. Por último, para nos afirmarmos em devir - de
forma individual e coletiva - incentivamos que a documentação proponha um
atravessamento temporal, que se transcrie um presente para dialogar com o
futuro.
Esse diálogo proposto em uma auto documentação aberta é marcado pela
temporalidade, pois ao propor um material inacabado que precisa ser completo
na interação com um outro, abre-se para uma temporalidade distinta a do
espectador. O que em um dado contexto é digno para se tornar uma auto
documentação? E dentro dessa perspectiva, que materiais e formas poderiam ser
convidativos ao jogo? Ou seja, assegurar a vitalidade dessa documentação aberta?
Com essa premissa relacional e temporal, este estudo propôs uma forma de
arquivamento corporal por princípios semelhantes: uma auto documentação de
corporeidades e um convite para uma parceria de composição - um dueto com o
desconhecido que poderá ser completado, ou não, no futuro.
Notas sobre proposições de documentações em devir
Retomando a ideia de que documentamos aquilo que julgamos dignos de
memória, o exercício de escolher qual corporeidade documentar, é em si um
diálogo com o seu contexto. Esse processo é atravessado não apenas pelas
relações de forças do momento, mas também pelos futuros possíveis, que são
forças em potência que agem sobre o presente. Por isso, as formas de
documentação que se propõem a dialogar com o desconhecido futuro - que não
pode ser visto ou ouvido, que pode ser apenas intuído - podem ser encaradas não
apenas como uma previsão de futuro, mas como um exercício de alteridade e
empatia com o devir coletivo. Tal documentação vai além do registro, é uma
aposta no encontro, na continuidade e na transformação, mantendo uma abertura
para aquilo que o futuro, em sua imprevisibilidade, poderá trazer.
Os
discos de ouro
enviados nas sondas Voyager, lançadas pela Nasa em 1977,
exemplificam esse exercício criativo de abrir-se ao desconhecido e,
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simultaneamente, traduzir a nós mesmos. Sem saber quando, ou mesmo se,
alguma civilização poderia por um acaso astronômico encontrar esses discos, sua
forma e conteúdo foram projetados para maximizar a possibilidade de um
encontro de culturas. Produzidos com materiais resistentes para suportar as
intempéries do espaço, os discos condensam a maior quantidade possível de
informação de maneira clara e concisa. Os discos incluem instruções baseadas
em princípios científicos, e não em linguagem verbal, para orientar eventuais
descobridores sobre como acessá-los. Como mensagem, os discos carregam a
localização da Terra no espaço, sons da natureza, imagens, trechos de músicas e
saudações em diversos idiomas e culturas14.
Embora uma documentação corporal não enfrente as mesmas exigências de
síntese nem as complexidades técnicas para encontrar interlocutores como os
Discos de ouro
, as questões subjacentes são análogas, guardadas as devidas
proporções. O que colocar nessa cápsula do tempo? Como escolher
corporeidades representativas e dignas de documentação dentro de um contexto
específico? Como organizar o material para propor uma relação dialógica com um
futuro desconhecido? E, finalmente, por quais princípios projetar as aberturas para
sustentar esse diálogo?
Se a busca era por encontrar pistas para estruturar a mobilidade em uma
auto documentação corporal que se propõe relacional e temporal, tornou-se
essencial uma ampliação da amostragem. Embora mais precisas, as captações em
MoCap estão longe de ser acessíveis mesmo que estejam surgindo tecnologias
parcialmente gratuitas online que são capazes de gerar arquivos de movimento
em 3D. Pensando na questão do gargalo tecnológico, optei por vídeos, e convidei
artistas da cena da minha rede de conhecidos para gravar propostas de cenas,
partituras, ou coreografias curtas, com duração de 1 ou 2 minutos. Essas
produções deveriam funcionar como interações com interlocutores que não
saberiam de antemão quem seriam e que poderiam acontecer, ou não, em algum
momento no futuro. Assim, foi possível observar como diferentes artistas da cena
criaram aberturas para dialogar com o desconhecido. O intuito era que essas
documentações fornecessem pistas para captar as documentações do Lume em
14 Para informações adicionais: https://science.nasa.gov/mission/voyager/voyager-golden-record-overview/
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MoCap
que aconteceriam a posteriori.
Figura 1 - Captura de tela do
Bottle Duet
de Naomi Silman
Prevendo a participação de artistas de diferentes países, propus que as cenas
não se baseassem em comunicação verbal atrelada a uma língua específica. Esse
direcionamento resultou na série
Bottle Duets
: vídeos pensados para serem
duetos com aquele ou aquela que encontrasse essa corporeidade e se sentisse
convidado a se mover. Como se fosse uma garrafa com uma mensagem lançada
ao mar, os arquivos aguardam respostas daqueles que desejem interagir.
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Figura 2 - Captura de tela do
Bottle Duet
de Raquel Hirson
Por um lado, a intuição de que as linguagens artísticas seriam extremamente
variadas se concretizou, com as cenas, performances, coreografias ou partituras
refletindo as linguagens individuais de domínio de cada artista, incluindo cenas
mais realistas, exercícios de butô e diferentes perspectivas coreográficas. Por
outro lado, alguns artistas adicionaram elementos que inicialmente eu havia
descartado por imaginar essa série vinculada à tecnologia de
MoCap
como
edições de vídeo, enquadramentos, figurino, cenário, filtros e trilhas sonoras,
expandindo os elementos que estavam abarcados na proposta original. Além
disso, com o passar do tempo, o material foi apresentado para artistas de fora das
artes da cena, onde alguns artistas se sentiram provocados, e perguntaram se as
respostas poderiam ser feitas em outras áreas como: artes plásticas ou música.
A escolha de “o quê” documentar foi uma constante entre artistas que se
interessaram em participar. Para não afugentar possíveis participantes, com um
pedido excessivamente complexo, o projeto se iniciou com o pedido de uma cena,
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partitura ou performance aberta que tinha o intuito de ser um dueto com um
alguém desconhecido no futuro. Com o passar do tempo, passei a pedir que a
proposição adicionalmente documentasse aquilo que julgassem importante para
dialogar com o futuro, como em uma cápsula temporal de seus contextos. O
exercício de cada participante imaginar suas propostas, passou a ser um momento
interessante do projeto, onde cada pessoa dialogava com as linhas de forças de
seu presente colocando-as em perspectiva com seus futuros imaginados. Era
possível ouvir as engrenagens próprias do ato de imaginar, que se iniciava em um
conceito amplo, que aos poucos ia sendo apurado, até se tornar uma síntese
transcriada de conceitos em corporeidades, artes e experiências. Elaborar uma
documentação de si aberta, se torna dessa forma um movimento duplo - para
dentro e para fora - um diálogo consigo mesmo, mas sempre em relação com o
coletivo e com o tempo.
As escolhas estéticas que até o momento não tinham relevância, ou não eram
delimitadas pela estrutura da obra aberta, emergiram na interação com
propositores. Onde a organização e composição de signos se tornaram a essência
de suas próprias obras-documentações, onde a representação e representado se
unificam. Dessa maneira percebemos como os
Bottle Duets
se tornaram um
exercício transcriação de si não unívoca, que se coloca para jogo ao abrir-se para
a interpretação do outro. Ou seja, o “eu” documentado que em primeira instância
pode parecer estático, se torna um eu em devir ao ser interpretado pelo outro.
Trata-se então de um dispositivo que tem potencial para revelar pluralidades,
descentralizando papéis e des-hierarquizando o ato de documentar.
Naomi Silman ao pensar em sua proposta me disse que achava interessante
pensar em um movimento que fosse revelador do hoje. Karina Yamamoto queria
partilhar a belíssima vista da Baía de Guanabara no Rio de Janeiro que ela por
sorte havia conseguido temporariamente alugar em um site. Mariana Lobo
aproveitou seus últimos momentos como graduanda de Artes Cênicas na
Universidade Estadual de Campinas para gravar uma cena recheada de cenografias
do Instituto de Artes. Elisa Abrão, em sua casa, transcriou seus gestos em cena. A
Sanna Hetzl fez no ímpeto, o que primeiro lhe surgiu ao ouvir a proposta. Renato
Ferracini moveu signos teatrais consigo. Raquel Hirson deixou que sua mão e braço
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dançassem na natureza. Ana Cristina Colla me enviou arquivos, e foi isso!15
Se por um lado um encantamento inerente a tecnologia MoCap, afinal por
meio dela, é possível ter acesso a documentações corporais de forma imersiva,
por outro lado o gargalo tecnológico torna essa forma de documentação
incongruente com o princípio de horizontalidade. Além disso, o projeto foi pensado
sob medida para realizar o arquivamento corporal do Lume teatro, mas ao alinhar-
se à ética relacional de pesquisa do grupo, ela demandou um esgarçamento do
projeto inicial. Ao colocar a horizontalidade como
ethos
que acontece como
prática continuada, passa a ser contraditório optar deliberadamente por caminhos
que resultem em exclusão, de propor uma forma de documentação que se
restrinja aos atores e atrizes do Lume teatro. Por isso, em diálogo com o contexto
presente, esse projeto percebeu-se mais potente ao colocar como seu princípio
básico a auto documentação em diálogo com futuros, em vez de se associar a
uma tecnologia específica ou mesmo ao Lume teatro.
Essa abertura para formatos é o que permite um maior acesso para a
realização de documentações de si, nas diferentes formas de contar-se, sob
diferentes linguagens e epistemes, abrindo espaço para protagonismos em temas
e formas. O corpo pode, dessa forma, se conectar e dialogar com seu contexto
temporal, e abrir-se a um possível futuro em perspectivas sensoriais para além do
significado, da linguagem verbal e da racionalidade.
Abrir-se para o outro é um exercício de escuta, de ler, vibrar, estar com o
outro, ser generoso no interpretar. Abrir os poros para encontrar os espaços de
encontro. Você recebeu o convite para participar de uma obra aberta? O quanto
você se sentiu convidado e escutado nesse processo? Existe uma resposta que
você desejou compartilhar?
Ao receber um convite, quantas fruições são necessárias para se afetar pela
documentação antes de responder? Até que se compreenda o jogo proposto? Até
que você quase memorize a documentação da proposta? Ou responderá no
impulso ao vivo, no exato momento da fruição? O que mediará essa fruição? Uma
15 Naomi, Ferracini, Hirson e Colla são integrantes do Lume teatro. Yamamoto e Abrão são parceiras, na
academia e na vida. Lobo e Hetz são felizes encontros artísticos que a vida me presenteou.
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tela, um celular, a própria obra, um óculos de realidade virtual? Qual elemento de
abertura será o ponto de início do diálogo?
O projeto
Bottle Duets
segue aberto para proposições e respostas para
aqueles que assim desejarem engajar-se em uma auto-documentação ou se
sintam convidados a responder a uma provocação, compondo um diálogo com
um outro. Tudo é fluxo, incluindo a nossa compreensão de nós mesmos, agora e
no futuro.
Você se sentiu convidado a fazer um arquivo do corpo? No seu contexto,
o que você considera digno de documentação? Se desejar, envie sua
documentação para o projeto Bottle Duets que faremos o nosso melhor para
compartilhá-la.
Recomendações:
1 a 2 minutos.
Comunicação não verbal.
Evitar materiais com direitos autorais.
Links
Convite para o projeto Bottle Duets em português -
https://docs.google.com/document/d/1pAhiyRvuXDJn8sTxg6gGPjSdbFa
tHiEbpC6UHrI54uU/edit?usp=drive_link
Convite para o projeto Bottle Duets em inglês -
https://docs.google.com/document/d/1oo5oFPreJJZxp3pwMsqOyIzePd
RZY4A8qi_TSJck3b4/edit?usp=drive_link
Formulário e Termo de consentimento livre e esclarecido em
português -
https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLScazt6PLIYkVcohaPcAvk6Z
-1QWflZcI4nvz8GHtl8u_3jBug/viewform?usp=sharing
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Última mensagem dessa garrafa
O convite à participação, de certa maneira, passou a fazer parte de todas as
etapas desse projeto de documentação corporal, para: pensar princípios de
abertura; eleger temáticas; compor em corporeidades; e finalmente, para o
acontecimento da obra-documentação, pois esta apenas se completa no diálogo
com interlocutores no futuro.
Essa criação corporal e temporal, forjada coletivamente, promove diálogos
entre atravessamentos e engajamentos. Com sorte, o que dela resulta é a
valorização de culturas, perspectivas e subjetividades aquilo que cada pessoa
julga precioso o suficiente para ser perpetuado no tempo. As materializações que
emergem em cada
bottle duet
fazem parte de uma memória que é tecida em
coletivo. Essa construção acontece de forma compartilhada, seja no encontro
direto nos duetos com interlocutores, ou de forma indireta como parte de uma
obra maior, composta por fragmentos que, à maneira de Finnegans Wake,
remetem a um “centro” em uma relação metonímica que são representativas da
obra-documento como um todo.
Partir das perspectivas éticas e metodológicas do Lume teatro trouxe
potência não apenas para o arquivamento corporal dos atuantes do grupo, mas
propôs uma ampliação de perspectivas para a documentação corporal, ao elaborar
práticas de respeito e valorização, não apenas daquilo que se documenta, mas
também da episteme à qual pertence.
É claro que na documentação aberta não existe uma garantia ética de
potencialização, da vitalidade do jogo proposto, de um
qualis
artístico específico,
de que será lido por um prisma favorável, de que a arquitetura horizontalizada de
fato trará comportamentos e práticas que fujam de hierarquias de poder. Trata-
se, no entanto, de um voto em um futuro que seja mais coletivo e potencializador.
Esperamos que sim, nos movimentamos nesse sentido, e procuramos
documentar dessa maneira. Em uma abordagem que aponta para uma forma de
documentar a memória de forma coletiva, apostando nos encontros sensoriais no
presente e no porvir.
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Elisa Abrão
Bottle 1 (05/11/2024) - https://youtu.be/gXSVQHozC5c
Duet 1 - Luciana Mizutani (16/11/2024) - https://youtu.be/FUy7uIIy1R0
Bottle 2 (05/11/2024) - https://youtu.be/-U9uCc_gPNc
Duet 2 - Luciana Mizutani (16/11/2024) - https://youtu.be/Z6WTkz-1Tnc
Naomi Silman
Bottle 1 (15/11/2024) - https://youtu.be/fg0P1IhbcI0
Bottle 360o (15/11/2024) - https://youtu.be/j0Gn5FU0K9s
Duet - Luciana Mizutani (16/11/2024) - https://youtu.be/WIV2ofqCNnQ
Bottle 2 (29/11/2024) - https://www.youtube.com/shorts/2UtAMBfeC4c
Karina Ribeiro Yamamoto
Bottle (08/11/2024) - https://youtu.be/8TyDYzj6-2M
Duet - Luciana Mizutani (16/11/2024) - https://youtu.be/Ja2l4wbnhFw
Mariana Lobo
Bottle (04/12/2024) - https://youtu.be/vWdQ2lFkvcA
Duet - Luciana Mizutani (07/05/2025) - https://youtu.be/0c2dGiTm680
Sanna Hetzl
Bottle (04/12/2024) - https://youtu.be/5xvtCKyIWwU
Raquel Hirson
Bottle Duet (20/03/2025) -
https://youtube.com/shorts/df2AQDzVRi4?feature=share
Bottle Duet 360o (20/03/2025) - https://youtu.be/QJkjTCVrDP0
Duet 360.o - Luciana Mizutani (12/05/2025) -
https://youtu.be/oOLB37k6mLI?si=Qpr6z4I3kaEQHas1
Ana Cristina Colla
Bottle 360o (29/04/2025) - https://youtu.be/GBfP_oaQ9x4
Duet - Luciana Mizutani (07/05/2025) - https://youtu.be/MoG6s33m2p0
Luciana Mizutani
Bottle Duet 360o (30/04/2025) - https://youtu.be/TY2z9XgT86A
Isadora Alonso
Bottle Duet 360.o (05/05/2025) - https://youtu.be/9vmCNUJw3-c
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Referências
BELLA CIAO.
Canção popular italiana
. Interpretada por Giovanna Daffini. 1962.
CAMPOS, Haroldo de. A obra de arte aberta.
Diário de São Paulo
, São Paulo, 03 jul.
1955.
CAMPOS, Haroldo de
. Da Razão Antropofágica
: Tese apresentada no III Congresso
Brasileiro de Crítica e História Literária. João Pessoa: Universidade da Paraíba, 1962.
Publicada originalmente na revista Tempo Brasileiro, n. 4-6, jun./set. 1963.
CANCLINI, Néstor García.
Culturas Híbridas
- estratégias para entrar e sair da
modernidade. Trad. Ana Regina Lessa e Heloísa Pezza Cintrão. 4.a ed. São Paulo:
EDUSP, 2008.
BERIO, Luciano.
Sequenza I per flauto solo
. 1958.
DELACROIX, Eugène.
La Liberté guidant le peuple
[pintura]. 1830. Óleo sobre tela,
260 x 325 cm. Museu do Louvre, Paris, França. Acesso em: 4 nov. 2024.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix.
Mil platôs
: capitalismo e esquizofrenia. Trad. Luiz
B. Orlandi e Carolina Magalhães. 5. ed. São Paulo: Editora 34, 2011.
ECO, Umberto.
Obra aberta
. Trad. Giovanni Cutolo. São Paulo: Perspectiva, 1976.
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Recebido em: 09/06/25
Aprovado em: 28/07/25
Universidade do Estado de Santa Catarina
UDESC
Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas
PPGAC
Centro de Artes, Design e Moda CEART
Urdimento
Revista de Estudos em Artes Cênicas
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