
Movimentos do teatro político brasileiro: da década de 1960 aos enfrentamentos com o neoliberalismo
Rafael Litvin Villas Bôas | Simone Menezes da Rosa | Julie Anna Wetzel Deeter
Florianópolis, v.1, n.54, p.1-23, abr. 2025
Coordenação Político Pedagógica (CPP) da ETPVP-DF. Por meio deles, busca-se
superar limites que são consensuais entre os integrantes da rede de escolas e, por
conseguinte, da escola do DF, como, por exemplo, a ação pontual por meio de
oficinas; o trabalho isolado de cada grupo em busca de seu público e de condições
de financiamento; a ausência de integração entre universidade, escolas públicas,
coletivos e movimentos sociais, ou articulação existente apenas para realização
de eventos específicos; a dificuldade para o fortalecimento do intercâmbio entre
coletivos e movimentos e para a criação de novos grupos em territórios de
movimentos, sindicatos e escolas; os desafios da integração das linguagens teatral
e audiovisual do ponto de vista estético e pedagógico.
Em relação a práxis da ETPVP, ao longo dos seus primeiros três anos de
existência, entre 2017 e 2019, a escola experimentou dois métodos de formação:
uma primeira turma com uma carga horária de 360 horas, distribuídas ao longo de
três semestres, que abarcou a formação política e estética, a socialização de
métodos e formas do Teatro do Oprimido, ações de agitação e propaganda6 e
leitura dramática de peças como “Scottsboro”7 e “O Líder”8. Nesta primeira turma,
foram experimentadas formas de articulação entre o teatro e o audiovisual, com
análise de obras e um módulo dedicado à socialização dos meios de produção do
vídeo popular. Como resultado deste processo, a escola produziu, juntamente com
o Coletivo Terra em Cena, o quinto episódio do programa Revoluções, que trata da
6 Além da montagem em espaços públicos de três cenas de Teatro Imagem que abordavam os temas
principais da escola: luta antirracista, luta feminista e o avanço do fascismo, a escola também esteve
presente na manifestação de militantes da Via Campesina contra a Reforma da Previdência proposta pelo
governo Temer. Realizou-se uma cena de Agitprop no salão verde do Congresso Nacional que obteve
cobertura midiática e fortaleceu as manifestações contrárias à reforma.
7 Esta é uma peça da tradição do Agitprop que foi produzida na década de 1930, quando nove adolescentes
negros foram injustamente acusados de estupro no estado do Alabama, Estados Unidos da América. A peça
era apresentada como forma de aquecer o debate antes de outras exibições, além de levantar a questão do
racismo estrutural presente no processo de julgamento desses jovens. A ETPVP realizou a leitura dramática
desta no primeiro aniversário da escola, em 2018. A apresentação precedeu a mesa de análise de conjuntura
e de balanço das ações realizadas pela escola e prospecção das ações futuras.
8 Peça de Lauro César Muniz, escrita em 1968, que relata a história de um pescador que foi escolhido líder de
sua comunidade por ser o único a saber ler e escrever. O líder atua como organizador do sindicato dos
pescadores de Tabatinga, mas é preso após o golpe militar de 1964 por sua atuação política. A peça faz parte
do conjunto de peças apresentadas na “1º Feira Paulista de Opinião”, realizada após a censura praticamente
integral das dramaturgias apresentadas. O evento foi enquadrado como ato de insubordinação civil, e as
peças foram publicadas em 2016 pela editora Expressão Popular, após organização destas pelo Laboratório
de Investigação Teatro e Sociedade (LITS/USP). Em 2019, a ETPVP realiza a sua leitura dramática em três
momentos distintos, e, a partir destas exibições, o grupo de teatro estudantil EPA da Escola Parque Anísio
Teixeira realiza também uma montagem da mesma peça.