Pelagea para lhe prestar condolências. Travam então um diálogo em que a mãe
demonstra sua compreensão da realidade, compreensão essa já modificada em
relação à que demonstra no início da peça.
As visitantes tentam confortá-la, primeiramente alegando que a morte de
Pawel se devia à soberana e perfeita vontade de Deus – observação com que
Pelagea não concorda. Ela então silencia. Logo depois, uma das mulheres (a
senhoria, que tem posses) lhe oferece a Bíblia como leitura reconfortante; a mais
pobre das três lhe oferece uma sopa para que ela não precise se preocupar em
cozinhar nesse momento. A mãe recusa a bíblia e aceita a sopa.
Incomodada com o comportamento de Pelagea, a senhoria a repreende:
A SENHORIA – Sra. Wlassowa, o homem necessita de Deus. Ele é
importante contra o destino.
PELAGEA WLASSOWA – Nós costumamos dizer: o destino do homem é
o homem.
A SOBRINHA – Querida sra. Wlassowa, nós do campo...
A senhoria aponta para a sobrinha – A minha sobrinha está aqui apenas
de visita.
A SOBRINHA – Nós do campo pensamos de maneira diferente. Aqui a
senhora não tem a semente na terra, mas o pão no cesto. Vê apenas o
leite, não vê a vaca. Não passam a noite sem dormir quando a trovoada
percorre o céu, e para a senhora o que é o granizo?
PELAGEA WLASSOWA – Eu compreendo, e nessas situações rezam a
Deus?
A SOBRINHA – Sim.
PELAGEA WLASSOWA – E depois vem a trovoada e o granizo. E a vaca
também adoece. Ainda não há para as suas bandas, nenhum camponês
que esteja seguro contra as más colheitas e contra a peste do gado? O
seguro ajuda quando as rezas não adiantaram. Portanto vocês não
precisam mais rezar a Deus quando a trovoada correr o céu, vocês
precisam estar segurados. Isso os ajudará. Se Deus é tão pouco
importante, pior para ele. Ainda resta a esperança de que, depois de
desaparecer dos campos, desapareça também de suas cabeças. Na
minha juventude as pessoas ainda acreditavam piamente que ele fosse
um velho que habitava em algum lugar do céu. Depois apareceram os
aviões e nos jornais colocaram que no céu tudo podia ser medido.
Ninguém mais falou de um Deus que habitava no céu. Em compensação
agora se ouvia a opinião de que Deus era como um gás que não estava
em parte alguma e, no entanto, estava em todas as partes. Mas ao ler a
composição dos gases, não constava Deus, e nem como ar pode manter-
se, pois o ar já se conhecia. Assim ele foi sempre se rarefazendo, e por
assim dizer como que se volatizou. Agora lê-se, de vez em quando, que
ele nada mais é que uma concepção espiritual, e isso é ainda bastante
suspeito.
A MULHER POBRE – Então a senhora acha que ele não é mais tão
importante, já que a gente nem nota?