
Está se sentindo melhor agora, Sr. Schmitt?
Carminda Mendes André
Florianópolis, v.1, n.54, p.1-17, abr. 2025
que poderíamos chamar de fato histórico? O que fazer diante de tal percepção?
“O amanhã é uma possibilidade que precisamos de trabalhar e porque, sobretudo,
temos de lutar para construir. O que ocorre hoje não produz inevitavelmente o
amanhã” (Freire, 2021, p. 42).
O que nos ensina Marx e Freire, senão, que a luta é permanente? Não há lugar
de chegada quando se trata de vida e valores humanos. Como, no entanto, manter
a chama da luta e a esperança nas mudanças diante do vai e vem da História?
Com a vontade enfraquecida, a resistência frágil, a identidade posta em
dúvida, a autoestima esfarrapada, não se pode lutar. [...] Como não se
pode lutar, por faltar coragem, vontade, rebeldia, se não se tem amanhã,
se não se tem esperança (Freire, 2021, p. 23).
Freire acreditava na falta de projetos de futuro aos ‘esfarrapados do mundo’
do mesmo modo que falta ‘amanhã’ aos subjugados pelas drogas (metáforas do
autor). Hoje, ao olhar para a sociedade brasileira, para seu conservadorismo em
todas as classes sociais em que este se manifesta, encontro, em sua maioria, a
aposta em um futuro sob a “proteção” do capital, da política do Estado mínimo e
em um Deus bíblico. Estaria Walter Benjamin (2013) certo ao afirmar que o
capitalismo é uma espécie de religião? Não sei realmente se falta algo para essa
gente ou se não é mais realista admitir que grande parcela da sociedade brasileira,
do pobre ao rico, é conservadora? É preciso descobrir para pensar em um teatro
político para a atualidade, teatro que dialogue com esses valores para não cairmos
na armadilha do “discursar para nós mesmos”.
Há algo que me parece interessante observar: a extrema direita – seja de que
classe social pertença, insisto – ao afirmar os valores do capital atrelado ao
fanatismo religioso parece ter-se incomodado com as mudanças operadas no
mundo. Os conservadores caçam, a todo custo, direitos conquistados de minorias
bem como continuam a violar modos de produção não capitalista e direitos
humanos dos revoltosos.
O que se afigura, portanto, para muitos analistas é que vivemos a colonização
por outros meios (Santos, 2002). Do ponto de vista das práticas sociais
progressistas, encontramos palavras como: descolonizar, sulear, empretecer.
Descolonizar, decolonizar, sulear, empretecer poderiam ser modos atualizados