
Entre o jogador e o espectador: dimensões lúdicas e performativas no ensino do teatro
Luvel García Leyva
Florianópolis, v.2, n.55, p.1-17, ago. 2025
Constituindo-se como outra tradição inglesa diferente do jogo dramático
(
dramatic play
) analisado pelo Peter Slade7, o Drama como método de ensino
(
Drama in Education)
é outra modalidade cênica que nos permite discutir a
relação
jogador/espectador em processos de ensino e aprendizagem.
Criado por Dorothy Heathcote, a partir da segunda metade dos anos 50,
o Drama como método de ensino prioriza a ampliação do conhecimento
do aluno através de uma preocupação com a forma: confrontos
espaciais, signos visuais de linguagem (cartões, posters, banners, rótulos,
manchetes), atuação dialética através de uma troca de enquadramentos
e papéis, foco no gesto etc. (Cabral, 2008, p. 38).
O Drama, segundo Beatriz Cabral (2006), propõe um processo coletivo de
exploração de formas e conteúdos relacionados com um determinado foco de
investigação (selecionado pelo professor ou negociado entre professor e aluno) e
que visa à construção de uma narrativa dramática a partir da articulação de uma
série de episódios, os quais são construídos e definidos com base em convenções
teatrais criadas para possibilitar seu sequenciamento e aprofundamento por todos
os participantes.
Assim, algumas características básicas associadas ao Drama como atividade
de ensino podem ser ressaltadas (Cabral, 2006, p. 12):
contexto e circunstâncias de ficção
, que tenham alguma ressonância
com o contexto real ou com os interesses específicos dos participantes;
processo
em desenvolvimento através de episódios, um
pré-texto
que
delimite e potencialize a construção da narrativa teatral em grupo; e a
mediação de um
professor-personagem
, que permite focalizar a situação
sob perspectivas e obstáculos diversos. Entre as estratégias que
articulam essas características, algumas são fundamentais: as
convenções teatrais que identificam formas distintas de ação dramática,
a quantidade e a qualidade do material oferecido aos participantes, a
delimitação e ambientação cênica.
Ditas estratégias, que buscam o envolvimento do jogador com o estímulo
ficcional, confirmam que, no processo do Drama, o papel do espectador como
7 Peter Slade, em sua obra
An Introduction to Child Drama
(1958), publicada no Brasil como
O jogo dramático
infantil
(tradução de Tatiana Belinky, 1978), define o
dramatic play
como uma forma espontânea e livre de
expressão, na qual as crianças exploram suas emoções, ideias e relações por meio da imaginação e da
brincadeira dramática. Esse conceito destaca o jogo como uma atividade natural e instintiva, que promove
o desenvolvimento criativo, emocional e social, permitindo que as crianças experimentem papéis, histórias
e situações de forma simbólica. Slade (1978, p. 17-18) diferencia o
dramatic play
de "fazer teatro", explicando
que, enquanto o primeiro é espontâneo e centrado na expressão pessoal da criança, o segundo envolve uma
abordagem formal e estruturada, com ensaios, habilidades técnicas e o objetivo de criar um produto final
voltado à apresentação pública.