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Meu corpo não é um só: corpo, culturas
cênicas negro-brasileiras e questões curriculares
Alexandra Gouvea Dumas
Para citar este artigo:
DUMAS, Alexandra Gouvea. Meu corpo não é um só:
corpo, culturas cênicas negro-brasileiras e questões
curriculares .
Urdimento
Revista de Estudos em Artes
Cênicas, Florianópolis, v. 3, n. 56, dez. 2025.
DOI: 10.5965/1414573103562025e0206
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Alexandra Gouvea Dumas
Florianópolis, v.3, n.56, p.1-24, dez. 2025
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Meu corpo não é um só: corpo, culturas cênicas negro-brasileiras e questões
curriculares1
Alexandra Gouvea Dumas2
Resumo
É possível borrar a hegemonia da noção de corpo que rege estruturas de dominação e
implica o epistemicídio de culturas corporais negras? Em diversos campos culturais,
observa-se a predominância de uma concepção de corpo orientada prioritariamente
por critérios biologizantes. Contudo, outras fundamentações geraram noções de corpo,
assim como manifestações cênicas, pautadas por princípios distintos, como a
ancestralidade e a vida comunal. Neste estudo, foram realizadas análises de currículos
de graduação em Teatro, revisão de literatura sobre o corpo negro e seus
fundamentos, além de investigações sobre experiências cênicas negrorreferenciadas
em espaços acadêmicos.
Palavras-chave
: Corpo negro. Culturas Cênica negro-brasileiras. Currículo.
My body is not one: body, Afro-Brazilian performing arts cultures, and curricular issues
Abstract
Is it possible to blur the hegemony of the notion of body that governs structures of
domination that imply the epistemicide of Black bodily cultures? In various cultural
fields, the predominance of a conception of the body primarily oriented by biologizing
criteria is observed. However, other foundations have generated notions of bodies, as
well as performing arts manifestations, guided by distinct principles such as ancestry
and communal life. In this study, analyses of undergraduate theater curricula, a
literature review on the Black body and its foundations, and investigations into
performing arts experiences that incorporated this perspective of the body in academic
spaces were carried out.
Keywords
: Black body. Afro-Brazilian performing arts cultures. Curriculum.
Mi cuerpo no es uno: Cuerpo, culturas escénicas afrobrasileñas y cuestiones curriculares
Resumen
¿Es posible desdibujar la hegemonía de la noción de cuerpo que rige las estructuras de
dominación que implican el epistemicidio de las culturas corporales negras? En
diversos campos culturales, se observa el predominio de una concepción del cuerpo
orientada principalmente por criterios biologizantes. Sin embargo, otros fundamentos
han generado nociones de cuerpos, así como manifestaciones escénicas, guiadas por
principios distintos como la ascendencia y la vida comunitaria. En este estudio, se
realizaron análisis de currículos de pregrado en Teatro, una revisión bibliográfica sobre
el cuerpo negro y sus fundamentos, e investigaciones sobre experiencias escénicas que
incorporaron esta perspectiva del cuerpo en espacios académicos.
Palabras clave
: Cuerpo negro. Culturas escénicas afrobrasileñas. Currículo
1 Revisão ortográfica, gramatical e contextual do artigo realizada por Éverton de Jesus Santos. Doutorado em
Letras pela Universidade Federal de Sergipe.
2 Pós-doutorado na Université de Paris X, Nanterre, França. Pós-doutorado pela Universidade de Brasília
(UnB). Doutorado em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), com período cotutela em
Université de Paris X, Nanterre. Mestrado em Artes Cênicas pela UFBA. Especialização em Metodologia do
Ensino da Educação Física pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Graduação em
Licenciatura em Educação Física pela UFBA. Graduação em Licenciatura em Teatro pela UFBA.
adumas@ufba.com
http://lattes.cnpq.br/5041254022481817 https://orcid.org/0000-0001-8622-9591
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[...] o corpo é um grande sistema de razão.
Por detrás de nossos pensamentos acha-se um senhor poderoso,
um sábio desconhecido.
(Mestre Pastinha)
Inicio este texto partilhando uma reflexão da socióloga nigeriana Oyèrónkẹ"
Oyèwùmí, a partir da qual ela critica a “velha somatocentralidade do pensamento
ocidental” (2021, p. 15). A autora, na obra intitulada
A invenção das mulheres:
construindo um sentido africano para os discursos ocidentais de gênero
(2021),
evidencia que a “[...] lógica cultural das categorias sociais ocidentais é baseada
em uma ideologia do determinismo biológico: a concepção de que a biologia
fornece a base lógica para a organização do mundo social” (Oyèwùmí, 2021, p. 15-
16).
Oyèwùmí nos oferece uma crítica ao uso do pensamento ocidental ao
pontuar sua universalização e a consequente aplicabilidade dele para a
compreensão e a afirmação de distintas culturas. “As teorias ocidentais tornam-
se ferramentas de hegemonia na medida em que são aplicadas universalmente,
partindo do pressuposto de que as experiências ocidentais definem o humano”,
afirma (Oyèwùmí, 2021, p. 46-47).
É a partir das constatações expostas brevemente acima a
somatocentralidade e sua universalização – que caminho para um esgarçamento
desse pensamento, tendo como foco o contexto brasileiro, especialmente na
observação de expressões de caráter cênico que acontecem em ambientes não
hegemônicos da arte, em territórios de culturas negro-brasileiras3, e as noções
que permeiam currículos de graduação em Teatro4. Ouso ressaltar que a questão
levantada não está exatamente na centralidade do corpo, como aponta a
socióloga citada, mas sim em uma imposição interpretativa pautada,
sobremaneira, na perspectiva biologizante do que seja corpo. Temos, e somos,
outros corpos, para além da noção dominante e reinante pelo e para o homem
3 Não se pretende aqui homogeneizar a diversidade de culturas negro-brasileiras. A delimitação desse
escopo, aqui, está associada aos trabalhos citados pelas professoras e suas respectivas obras, mais adiante
comentadas: Inaicyra Falcão, Sandra Petit, Onisajé com trabalhos embasados em itans, capoeira e
candomblé, respectivamente.
4 Projeto de pós-doutorado voltado para a análise de currículos de graduação em Teatro/Artes
Cênicas/Encontro de Saberes realizado, no período de março de 2022 a março de 2023, sob a supervisão do
professor José Jorge de Carvalho (UnB).
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branco europeu.
Se tomarmos como medida a medicina em perspectiva hegemônica, no
Brasil a noção de corpo predominante se aproxima do que afirma João Paulo
Medina: “O próprio saber médico-científico muito raramente incursiona para
além do meramente fisiológico e psicológico, demonstrando uma visão não
limitada como também fragmentada e, às vezes, distorcida do corpo” (1987, p.
68).
Uma concepção de corpo baseada em uma lógica essencialmente
anatomobiológica ainda predomina em grande parte das universidades
brasileiras. Um exemplo corriqueiro disso é o modo como se organiza o uso dos
banheiros: neles, homens e mulheres são separados a partir de um critério
majoritariamente biológico: a genitália.
Embora alguns campos acadêmicos tenham avançado em direções mais
emancipatórias, sobretudo nas discussões de gênero, propondo compreensões
do corpo que ultrapassam reducionismos biológicos, o cotidiano social ainda é
marcado por uma hegemonia conceitual que privilegia a biologização como eixo
central da epistemologia corporal. Essa lógica continua funcionando como
elemento determinante para definir raça, gênero e os modos de operação social
do corpo.
Do alcance que um dicionário de abordagem geral tem, o corpo aparece
como sendo um constructo anatômico, sendo assim conceituado: “Conjunto de
elementos físicos que constitui o organismo do homem ou do animal, formado
por cabeça, tronco e membros”, ou como “a estrutura física de uma pessoa”
(Dicionário Michaelis da Língua Portuguesa, 2024). Em outros dicionários, o corpo
é apresentado em estado de individualidade, com foco na matéria física. Destaco
alguns desses conceitos segundo o Dicionário Priberam (2024): 1. Tudo o que
ocupa espaço e constitui unidade orgânica ou inorgânica. 2. O que constitui o ser
animal (vivo ou morto). 3. Cadáver.
A partir da posição discursiva dos estudos sobre o corpo, noções se
evidenciam, sobretudo em relação à área de origem dessas fontes. No caso
relatado, advindo de verbetes selecionados, o corpo aparece como uma
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materialidade que se apresenta como representativa do humano. Nota-se uma
ênfase em aspectos físicos e biológicos. De forma geral, não nas ciências
médicas, mas também na religião (especificamente nas tradições judaico-
cristãs), assim como na Filosofia, a questão do corpo traz uma discussão
subjacente no que tange à sua materialidade e à sua dimensão metafísica: alma,
espírito, mente. Na perspectiva colonizadora, aplica-se um modelo dual e
opositor, como se o corpo tivesse sido, ou fosse, um composto de excertos,
ainda que porventura em circunstâncias dialógicas, um aglomerado de partes:
ora a materialização estrita da existência, ora uma abstração dessa materialidade
projetada em algo não palpável e em um tempo existencial por vir.
René Descartes (1596-1650), filósofo e matemático francês bastante
representativo do pensamento moderno, baseia-se no dualismo ontológico:
“Descartes afirma que a mente é uma substância diferente do corpo. Isso
permite à mente estar indeterminada e incondicionada pelo corpo” (Grosfoguel,
2016, p.19).
Por sua vez, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), conhecedor e
crítico da cultura ocidental, apresenta uma noção mais ampla do corpo. Para ele:
Eu sou todo corpo e nada além disso; a alma é somente uma palavra
para alguma coisa do corpo; o corpo é uma grande razão, uma
multiplicidade com um sentido, uma guerra e uma paz, um rebanho e
um pastor. Instrumento do teu corpo é, também, a tua pequena razão,
meu irmão, à qual chamas “espírito”, pequeno instrumento e brinquedo
da tua grande razão (Nietzsche, 1992, p. 51).
Poderíamos fazer um maior aprofundamento sobre as noções de corpo
pelo ponto de vista das obras de pensadores europeus, pois, dada a sua vasta
complexidade interpretativa, elas são foco de reflexões em diversos campos
literários do conhecimento. Porém, como afirma o filósofo francês Maurice
Merleau-Ponty (1908-1961), “Ver-se-á que o corpo próprio se furta, na própria
ciência, ao tratamento que a ele se quer impor” (Merleau-Ponty, 2018, p. 110).
Sendo assim, o corpo é, sim, fundamento de muitas tradições culturais,
sobretudo as africanas e negro-brasileiras. O sociólogo Muniz Sodré, a respeito
da cultura nagô, declara que “[...] a presença do paradigma africano se atesta
pelo posicionamento do corpo no primeiro plano do pensamento cosmológico”
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(Sodré, 2017, p. 116). No entanto, o que se diferencia, basicamente, da
determinação ocidentalizada é justamente a sua própria noção, que escapa à
hierarquização produzida pelo fundacionismo biológico.
De modo geral, a discussão aqui posta busca reconhecer e tornar visíveis
noções de corpo presentes em tradições negro-brasileiras e, assim, contribuir
para a desuniversalização da concepção hegemônica de corpo branca e
ocidental que ainda prevalece, inclusive nos currículos de cursos de graduação
em Teatro.
O modelo de homem universal, moderno, que imprime a condição de existir
parte da ideia de que pensar é uma ação que determina a existência humana.
Isso faz com que o pensar, representado pela mente, esteja em uma alta
categoria devido à sua valoração. Vemos, assim, um corpo metonímico: um
fragmento do corpo (mente/cabeça) que se torna representativo de sua
totalidade. Trata-se de uma concepção de base cartesiana que separa e
fragmenta o corpo, orientando modos de pensar. Essa lógica continua
estruturando grande parte da produção de conhecimentos no meio acadêmico.
Para Oyěwùmí, a definição desse corpo governado por uma bio-lógica
evidencia o seguinte:
Paradoxalmente, no pensamento europeu, apesar do fato de que a
sociedade era vista como habitada por corpos, apenas mulheres eram
percebidas como corporificadas; os homens não tinham corpos eram
mentes caminhantes, o que coloca em evidência que o “homem é da
razão” e a “mulher é do corpo” (2021, p. 34).
Nesse contexto, para essa autora, “[...] o homem de ideias frequentemente
tinha a mulher e os outros corpos em sua mente” (Oyěwùmí, 2021, p. 34).
Considerando a universalização do pensamento ocidental e sua penetração
impositiva nos mundos alvo da colonização, essa noção de corpo também é
impetrada como ideia dominante: seja por meio da Igreja, das instituições de
ensino ou mesmo da arte, sem desprezar outros dispositivos atuantes na
formação do corpo ou do pensamento sobre ele. Houve e uma categorização
social na qual o determinismo biológico, advindo da centralização dessa noção
de corpo, define quem é homem, quem é mulher, quem é negro, quem é
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branco... e, dessas categorias, constroem-se e afirmam-se relações de
dominação. É “[...] a concepção de que a biologia fornece a lógica para a
organização do mundo social”, como dito. Sodré afirma que “[...] a noção de
corpo, caudatária da tradição cultural greco-latina, integra-se na civilização cristã
do Ocidente como ideia de um objeto à parte do sujeito” (1997, p. 30).
Essa criação de corpo, no recorte histórico colonizador, atende a um projeto
de exploração e dominação de territórios, culturas e povos:
A coisificação do corpo em relação oposta à elevação da alma foi um
fundamento essencial para justificar a escravização de povos negros, os
corpos que serviriam ao labor cruel e extenuante para atender ao
projeto de produção e acumulação de riquezas. Então, os detentores do
projeto eram os que tinham alma e buscavam a sua elevação cada vez
mais e os corpos escravizados os destituídos de espírito, portanto,
objetos de manipulação, comandados pelos autointitulados seres
superiores (Dumas, 2019, p. 3).
Compreende-se que a hiperbiologização do corpo atende a um ideal
político, pois, ao afirmar essa noção por meio de proposições e derivações
comportamentais humanas, gera-se um pensamento-ação que funciona em prol
da criação, materialização e sustentação de modos de controle pelos modos de
cultura. A professora e pesquisadora Leda Maria Martins enfatiza que “[...] todas
as manifestações culturais e artísticas exprimem, de algum modo, a visão de
mundo que matiza as sociedades e, nestas, os sujeitos que ali se constituem”
(2021, p. 22). Diante dessa afirmação, podemos inferir que existem múltiplas
formas de expressão e diversas visões de mundo. No entanto, o que se destaca
para esta discussão é aquilo que se universaliza, ou seja, o que é tomado como
parâmetro para a totalidade da experiência humana. Mais especificamente,
interessa-nos questionar o que se entende por corpo e, de forma articulada,
evidenciar as reverberações conceituais dessa noção em componentes
curriculares de cursos de graduação em Teatro ou Artes Cênicas.
O corpo que reina no universo cênico-acadêmico: sobre currículo e
aspectos colonizantes da cultura branco-europeia
Questionar a hegemonia branca, atualmente, pode soar como um lugar
comum. No entanto, lançar um olhar crítico-analítico sobre o que está
estabelecido pode ir além do simples gesto de denúncia, funcionando como um
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ponto de partida para transformações. É familiar operar na lógica colonizadora, o
que torna ainda mais urgente problematizar a universalização de referências e
valores hegemônicos. Esse movimento pode permitir desnaturalizar a
centralidade branco-europeia, especialmente no que se refere à noção de corpo
presente nos cursos de graduação em Teatro.
A estrutura curricular predominante nos cursos de Licenciatura e
Bacharelado em Teatro alinha-se, em certa medida, ao pensamento hegemônico
de corpo presente na Medicina, sobretudo no que se refere à fragmentação em
especialidades baseadas no fundacionismo biológico.
Esses currículos são compostos por disciplinas (ou componentes
curriculares) organizadas em fluxogramas que obedecem a uma lógica
sequencial (com pré-requisitos, ordenação semestral, entre outros critérios), mas
que nem sempre estabelecem relações dialógicas entre si. Assim, a própria
estrutura curricular expressa um modo de pensamento que tem na
sequencialidade e na separabilidade seus princípios orientadores, refletindo uma
determinada percepção de mundo e de educação.
Nas universidades públicas federais foco desta pesquisa e onde se
concentra grande parte das graduações em Teatro –, é comum encontrar, nas
grades curriculares, disciplinas dedicadas explicitamente ao corpo, tais como:
Técnicas Corporais, Expressão Corporal, Corpo e Movimento, Improvisação
Corporal, Movimento e Linguagem, entre outras. Muitas dessas disciplinas
apresentam, em suas ementas, conteúdos programáticos e referências
bibliográficas uma noção de corpo alinhada ao tecnicismo, ao biologicismo e às
matrizes culturais ocidentais eurocentradas.
Tomemos como exemplo um dos cursos mais antigos entre as
universidades brasileiras: o Bacharelado em Atuação Cênica da Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)5, que teve o seu início de
5 A escolha especificamente desse curso e nessa universidade se também por conta do prestígio social
devotado ao Rio de Janeiro, especialmente por ser a cidade onde está localizado o conjunto de estúdios da
Rede Globo, grande rede de telecomunicação, de largo alcance no Brasil, conhecida por produzir telenovelas
em constância e de grande popularidade. Uma das expectativas voltadas a jovens que ingressam em cursos
de Teatro é largamente revelada na seguinte pergunta: “E quando você vai pra Globo?”. Sobre o curso, o
currículo e as demais informações que constam neste texto, foram acessadas no site da referida
universidade, disponível em: https://www.unirio.br/cla/escoladeteatro.
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funcionamento em 1975. Sua grade curricular, especialmente nas disciplinas
obrigatórias, revela um conjunto de referências bibliográficas que privilegia
técnicas e tradições de pensamento de determinados/as autores/as, entre eles:
o austríaco Rudolf Laban, o russo Vsevolod Meyerhold, o polonês Jerzy
Grotowski, o brasileiro Klaus Vianna e a alemã Pina Bausch. Nota-se que os
autores referenciados são, em sua totalidade, identificáveis racialmente como
brancos, predominantemente homens, e que as temáticas abordadas estão
majoritariamente vinculadas a técnicas e perspectivas inscritas em matrizes
culturais europeias, mesmo quando apresentadas por autoras brasileiras, como
no caso do livro
O corpo em movimento: o sistema Laban/Bartenieff na
formação e pesquisa em Artes Cênicas.
As ementas curriculares evidenciam a centralidade de técnicas como Ballet
Clássico, Contato-Improvisação, Teatro-Dança, entre outras. Embora algumas
delas proponham como objetivo “desenvolver a sensibilização, a consciência e a
percepção corporais”, observa-se que, no mesmo componente curricular, entre
os quatro conteúdos programáticos apresentados, dois são estruturados a partir
de uma perspectiva marcadamente biológica: “2: Sistemas ósseo, muscular e
articular” e “3: Apoios e tonicidade”.
A hiperbiologização, assim como o tecnicismo, está em consonância com a
universalização da noção cultural de corpo. O Balé Clássico, por exemplo, é uma
disciplina obrigatória no Bacharelado em Atuação Cênica da UNIRIO, tornando-se,
nesse contexto, um conhecimento considerado imprescindível à formação de
atores e atrizes. Em contraste, não se observa, nomeadamente, a presença de
componentes obrigatórios que sustentem outras noções de corpo, entre elas
aquelas provenientes das expressões negras que constituem a história cultural
do Rio de Janeiro, como o samba.
Se considerarmos a qualidade epistêmica, o alcance popular e a amplitude
histórica e cultural intrínsecos a esse fenômeno, o estudo do samba, com toda a
sua complexidade corporal, deveria ser um componente obrigatório na formação
de atores e atrizes.
Ao compreender o currículo como um espaço que orienta experiências e
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modos de produção de conhecimento no campo das noções de corpo, o
pesquisador Eduardo Oliveira, ao discutir os processos de colonização, afirma:
“Colonizar é tornar o Outro idêntico ao Eu” (Oliveira; Santos, 2023, p. 37). O autor
sequência a esse raciocínio, evidenciando a relação imbricada entre natureza
e experiência e mostrando como a colonização produz regimes de sentido que
definem o que pode ser reconhecido como corpo, conhecimento e existência
legítima.
A lógica da Modernidade não é apenas diferente, mas brutalmente
ofensiva à lógica do lugar próprio! São antagônicas! Enquanto a
Modernidade é proselitista de uma universalidade abstrata, porém com
efeitos nefastos sobre a realidade, a lógica do lugar próprio é paladina
de uma singularidade e do respeito dos processos múltiplos de habitar
o solo e suas paisagens (Oliveira; Santos, 2023, p. 21).
Portanto, a análise do currículo de Artes Cênicas da UNIRIO e das
disciplinas6 que conferem ênfase ao corpo revela a ausência de conteúdos e
metodologias voltados para a cultura territorial local, especialmente para as
culturas cênicas negras que constituem de forma decisiva o perfil da cidade
onde essa universidade se insere. A existência das diferenças culturais e
corporais, marcadas por tensionamentos e relações históricas, torna-se
invisibilizada quando se opta por reforçar, de modo sistemático, a centralidade
da cultura branca e europeia.
Trata-se do que se denomina racismo epistêmico, definido pela pedagoga e
pesquisadora Rita Santos como um processo que “[...] desvaloriza sistemas de
conhecimentos de povos negros e indígenas, assim como contribui para a
existência de currículo fragmentado em disciplinas sem diálogo entre si e entre
conhecimentos advindos de espaços não acadêmicos ou escolares” (Oliveira;
Santos, 2023, p. 63).
Faz-se pertinente perguntar: se o corpo é cultura e se vivemos,
indiscutivelmente, em uma cultura racista, em que medida disciplinas dos cursos
de graduação em Teatro nas quais a noção de corpo assume papel central
se articulam e expressam posicionamentos frente às questões raciais?
6 Movimento e Percepção: Obrigatória 60 Horas; Movimento e Análise: Obrigatória 60 Horas; Movimento
e Composição: Obrigatória 60 Horas; Balé Clássico: Obrigatória 60 Horas.
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A inserção das questões negras no espaço político do currículo pode
ocorrer de diferentes maneiras; contudo, uma compreensão histórica com
horizonte emancipatório exige tensionar não apenas a estrutura curricular e seus
componentes, mas também os critérios de concursos docentes, frequentemente
ancorados em epistemes branco-hegemônicas. Essa lógica reforça a
perpetuação de um modelo estreito de corpo e de arte, alinhado a matrizes
eurocêntricas.
A pesquisadora Rita Santos enfatiza que “[...] ler e questionar o currículo
desde as naturezas afrodiaspóricas se faz necessário às experiências favoráveis
para ampliar as tensões criativas e as atribuições de sentidos diferentes às
hegemonicamente existentes” (Oliveira; Santos, 2023, p. 63). Por esse motivo,
serão destacadas a seguir algumas experiências propostas e gerenciadas por
docentes/pesquisadoras negras, cujas realizações artístico-pedagógicas,
realizadas no âmbito acadêmico, tomaram como referência parâmetros
epistemológicos e culturais negros.
Em geral, foram experiências desenvolvidas como projetos de extensão,
pesquisa e ensino, mas à margem da formalidade curricular, isto é, não
necessariamente integradas a disciplinas, ementas, conteúdos programáticos ou
referências bibliográficas oficiais. Como consequência, observa-se que os
resultados dessas práticas desafiaram a hegemonia brancocentrada,
apresentando noções de corpo estruturadas a partir de outras perspectivas e
ampliando a pluralidade conceitual e cultural no campo das artes cênicas.
“Uma episteme, um saber, e não apenas uma epiderme, um lamento ou
um pesar”7: quando a noção de corpo na academia é enegrecida...
Com base na relação estabelecida com a terra, para o povo de santo, o
homem é corpo; ele é o seu próprio corpo, e não ha nada mais próximo
dele do que esta realidade, sua corporeidade [...] (Sousa Júnior, 2002,
p.127).
Diante do uso constante, séculos, dessa noção dominante de corpo
gestada pelo Ocidente, podemos exercitar outras formas de pensar e ser para
além, ou mesmo fora, do hegemônico e perceber que existem outras
7 A frase colocada entre aspas é de autoria de Leda Maria Martins. In:
Performances do tempo espiralar
,
2021, p. 188.
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possibilidades de existência. A partir de observações, vivências e reflexões sobre
manifestações culturais negro-brasileiras, notam-se noções de corpo que,
embora dialoguem com a perspectiva ocidentalizada, operam por outras lógicas.
Se Oyěwùmí afirma, sobre a sociedade iorubá, que “[...] o corpo nem sempre é
recrutado como base para classificação social” (2021, p. 43), abre-se a
possibilidade de que classificações sociais existam em fenômenos negro-
brasileiros, mas não necessariamente obedecendo a determinações biológicas.
Nos terreiros de candomblé, por exemplo, a maturidade da experiência do
corpo pode ser percebida para além da idade cronológica. Uma criança pode ser
hierarquicamente situada acima de um adulto com mais tempo de vida, mas
menos tempo de casa; ou a categoria “homem” pode ser vivida por alguém cujo
orixá se expressa de modo associado ao feminino. Temos uma gestão de
corpo na qual as categorias hegemônicas (homem/mulher, velho/novo) são
tensionadas e reorganizadas pela própria diferença. O corpo ancorado numa
cultura ancestral, em fricção com o corpo moldado pela cultura hegemônica, é
convocado a se recriar, a cocriar. Martins nos traz iluminações a esse respeito
quando diz:
Nas culturas predominantemente orais e gestuais, como as africanas e
as indígenas, o corpo é, por excelência, local e ambiente de memória.
Mas o corpo, nessas tradições, não é tão somente a extensão ilustrativa
do conhecimento dinamicamente instaurado pelas convenções e pelos
paradigmas seculares. Esse
corpo/corpus
não apenas repete um hábito,
mas também institui, interpreta e revisa a ação, evento ou
acontecimento representado. Daí a importância de ressaltarmos nessas
tradições sua natureza metaconstitutiva, nas quais o fazer não elide o
ato de reflexão; o conteúdo imbrica-se na forma, a memória grafa-se
no corpo, que a registra, transmite e modifica perenemente (Martins,
2021, p. 89).
O corpo, em culturas de terreiro de candomblé, tem uma ligação
indissociável com o espaço. A propósito dos cuidados e das curas, uma
fundamentação pautada nas folhas, nas ervas e na natureza:
A forma que a gente pensa o cuidado dentro do terreiro é diferente da
forma como a gente pensa o cuidado na medicina hegemônica, sabe? A
gente pensa o cuidado no terreiro a partir de pilares que envolvem as
questões espirituais, físicas, emocionais e comunitárias. E todos esses
quatro valores, eles são balizados por planta (Igor Ramos, Podcast Axé
das Plantas: Cura do corpo e da alma. Episódio 4 Teteregun. Publicado
em: 15 agosto de 2024).
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Dessa forma, estamos diante de noções de corpo que se afirmam não
exatamente ou exclusivamente por uma determinação bioanatomofisiológica.
Assim, outras categorias de entendimento de corpo são convocadas a atuar em
nosso campo reflexivo. No candomblé, religião negro-brasileira, a noção de corpo
opera a partir de sua dimensão ancestral e espiritual, da conexão com elementos
da natureza, do espaço, do tempo e com outros corpos. Em diversas expressões
culturais e tradicionais negro-brasileiras, o corpo não é concebido apenas como
uma unidade individual apartada dos elementos que o compõem. Ele é, em si,
um todo e, simultaneamente, parte de um todo maior. Essa noção de integração
é apresentada pela professora Sandra Haydée Petit como o caráter holístico
dessa cosmovisão. A capoeira é um dos recortes de observação da professora,
que destaca: “[...] o que podemos deduzir em termos de valores filosóficos das
posturas corporais é que envolvem princípios tais como: unidade na diversidade,
firmeza junto com flexibilidade, integração das partes, do dentro e do fora, da
verticalidade com horizontalidade” (Petit, 2015, p. 99).
Fenômenos culturais negro-brasileiros trazem, em sua história diaspórica,
um corpo fundado por princípios que transcendem uma unicidade explicativa. A
ancestralidade, a memória, a ideia de continuum, a integridade, a existência e
suas ritualizações, bem como o comunitarismo, perpassam muitas experiências
que constituem um constructo de conhecimento, afinal, “O que no corpo e na
voz se repete é também uma episteme”, afirma Martins (2021, p. 23). Destarte, o
professor e antropólogo Júlio César de Tavares evidencia a necessidade de “[...]
compreender a ação corporal como pensamento e prática política” (2020, p. 20).
Já para o antropólogo Kabengele Munanga (apud Nogueira, 2021, p. 25-26),
O corpo, como sede material de todas as nossas identidades, de “raça”,
de “etnia ou de cultura”, de “sexo ou de gênero”, de “classe social”, de
“religião” ou de “nacionalidade”, entre outras, não é apenas um corpo
natural com diferenças morfológicas que podemos enxergar, tocar e
palpar. O corpo é mais do que isso, pois é uma categoria cognitiva,
objeto de imaginações e de representações permeadas pelas ideologias
e visões do mundo.
A ampliação das noções de corpo inclui a observação e a percepção das
existências negras, compreendendo-as como uma logia. Suas concepções,
elaboradas em processos geracionais e tradicionais, foram e são atravessadas
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pela colonialidade, mas existem além, à parte, com ou contra ela uma maneira
de ser corpo negro que “[...] transcende dualidades, por isso mesmo plástico,
dinâmico, autopoético, resiliente, adaptável e atravessado pelas mais distintas
formas de ‘dobras’ e ‘quebras’ localizadas na pós-travessia atlântica” (Tavares,
2020, p. 20).
Transcendendo a lógica biologizante e territorial que definiu o corpo negro
nos processos de colonização, o ponto que se destaca nesta reflexão é que as
experiências demarcadas no Brasil pelo processo de escravização foram uma
elaboração intencional de um grupo dominante. Entretanto, mesmo com todo o
aparato de afirmação dessa racialização dos corpos, houve escapes, fugas e
reelaborações culturais e corporais que constituem as trajetórias negras ainda
hoje no Brasil. Assim, “O corpo aparece como potente manifesto de múltiplos
cenários e figura-fundo de toda a construção do processo para o qual ele atua
de maneira consistente a evocar o estado de ser, a condição do estar e a
manifestação do pensar” (Tavares, 2020, p. 22).
Os rituais de construção constante da existência humana são fundamentais
em culturas indígenas, africanas e afrodiaspóricas. A propósito da cultura nagô, o
professor e pensador Sodré reconhece o ritual como “lugar próprio à plena
expressão e expansão do corpo”. Para ele,
No conjunto ritualizado de procedimentos cosmogônicos, o corpo
encontra a sua totalidade, resolvendo a dicotomia entre singular e
plural, entre sujeito e objeto ao se integrar no simbolismo coletivo na
forma de gestos, posturas, direções do olhar, mas também de signos e
inflexões microcorporais, que apontam para outras formas perceptivas.
Ao mesmo tempo, a corporeidade enseja um tipo de percepção
sensorial, que pode de fato ser concebida como “ecológica”, na medida
em que vincula o sujeito, à natureza íntima do ecossistema circundante
e abrangente. Pessoas, animais, plantas compõem uma espécie de
paisagem viva e atuante sobre o elemento humano (Sodré, 2017, p. 129).
A partir do momento em que afirmamos particularidades e
atravessamentos comuns na experiência histórica e cultural do/s corpo/s
negro/s, identificamos traços relacionados à escravidão, mas que a transcendem:
os corpos negros brasileiros pertencem a uma genealogia afroterritorial, são
herdeiros, mantenedores e criadores de tradições culturais africanas. Assim, sem
cair em essencialismos, é possível reconhecer fundamentos identificáveis em
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fenômenos negro-brasileiros, alguns mais diretamente vinculados às tradições
africanas, outros atualizados e recriados a partir dessas matrizes. Contudo, o
corpo negro não se sustenta em uma unidade conceitual identitária homogênea,
fixa e impermeável. Muito pelo contrário. A experiência negra atlântica e pós-
atlântica gerou vivências que produziram junções, reações e reformulações
contínuas. Tornou-se uma episteme que se move por espiralar-se sem cessar.
Sendo a racialização uma experiência radical e ontológica na existência
negra, como descartar sua potência epistêmica na produção de conhecimentos
que marcam experiências e rituais desse viver? inúmeras manifestações de
perfil tradicional e traços diaspóricos atuantes na dinâmica cultural brasileira.
Foco aqui no campo cênico-pedagógico para observar como a matriz africana
impulsionou elaborações sustentadas por fundamentos complexos, a exemplo
da ancestralidade, entrelaçada com memória, tradição e suas expressões
corporais.
A ancestralidade é um conceito recorrente em teses, dissertações e
reflexões sobre cultura negra. Costuma ser apresentada como algo ligado ao
passado cronológico, às pessoas que viveram antes, aos antepassados. Embora
difundido como palavra, seu significado é profundamente complexo. Trata-se de
um fundamento cosmológico central em culturas africanas e diaspóricas. A
professora Leda Maria Martins explicita essa complexidade ao perguntar: “De que
modos, então, essa sofisticada vivência da ancestralidade e a presença imanente
do ancestre na vida cotidiana dos sujeitos também inscrevem uma singular
compreensão e experiência da temporalidade como uma
sophya
?” (Martins, 2021,
p.23).
A professora e dançarina Inaicyra Falcão dos Santos realizou uma
experiência relevante com alunas do curso de Dança do Departamento de Artes
Corporais da Universidade de Campinas, em São Paulo, em montagem cênica e
poética intitulada
Ayán: símbolo de fogo
8, na qual a ancestralidade é apresentada
como um importante axioma gerador do processo criativo.
Para a artista e professora Santos, “A filosofia etno-crono-ética revela que
8 Para maior aprofundamento, consultar o livro
Corpo e ancestralidade: uma proposta pluricultural de
dança-arte-educação
, de autoria de Inaicyra Falcão dos Santos.
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existe uma outra noção de tempo e espaço, uma nova dinâmica, a de voltar para
o corpo e dizer ‘este corpo é assim, tem esse gingado, tem esse movimento, tem
essa qualidade’” (Santos, 2006, p. 47). O trabalho foi impulsionado pelo mito
iorubano de origem do tambor Batá, sendo, no percurso criativo, o corpo
considerado um “instrumento ativo” ou “que tem o conhecimento mítico
incorporado” (Santos, 2006, p. 55). Sobre o processo, ela afirma: “[...] foi por
assim dizer, marcado pela
ginga
, pelo
negaceio
, por um
vai-mas-não-vai: jogo de
cintura
para dar origem à “esperteza” do trabalho” (Santos, 2006, p. 85). É o
corpo que traz e traduz, em movimentos, pensamentos míticos recorrentes aos
tempos que se dobram sobre si. O corpo aciona memórias e esse mesmo corpo
pode responder processando conhecimentos trançados em subjetividades,
criando e recriando fundamentos e movimentos em áfricas e em brasis.
Pode ser pensado um diálogo entre a criação de Santos e o pensamento de
Martins, sobretudo quando esta afirma:
No contexto do pensamento que trança as diversas e diferentes
culturas africanas com as culturas da diáspora, movimentos de
retroação e de avanços simultâneos podem ser mensurados e
arguidos no âmbito mesmo de uma visão de mundo, de uma
concepção da vivência do tempo e das temporalidades, fundadas por
um pensamento matriz, o da ancestralidade, princípio mater que inter-
relaciona tudo o que no cosmos existe, transmissor da energia vital que
garante a existência ao mesmo tempo comum e diferenciada de todos
os seres e de tudo no cosmos, extensão das temporalidades curvilíneas
[...] (Martins, 2021, p. 42).
A reflexão sobre ancestralidade convoca outros conceitos que operam junto
a ela, como corpo e tempo, que o conhecimento, na perspectiva africana e
negro-brasileira, não se organiza em fragmentos isolados. Trata-se de um saber
que articula dimensões, não as separa. O professor Eduardo Oliveira, ao discutir
o corpo em culturas de matriz africana, afirma que
É ancestral, pois o corpo é uma anterioridade. O corpo ao mesmo
tempo é a ancestralidade como é por ela regido. Ancestralidade é
tradição, e não se pode entender o corpo sem tradição uma vez que
esta é um baluarte de signos e, dessa forma, a produtora da semiótica
que significa os corpos (Oliveira, 2005, p. 125).
A propósito da cultura nagô, Sodré volta-se para o tempo a fim de falar
sobre ancestralidade:
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[...] a temporalidade em que se inscreve o destino é próprio da
ancestralidade, isto é, da vigência ética do discurso de fundação do
grupo, em que se enlaçam origem e fim. Pode-se conceber um nível
de história, relativo ao conjunto de fatos e feitos humanos, mas
elaborado como uma articulação de passado, presente e futuro pelo
culto ao ancestral (Sodré, 2017, p. 128).
A professora Sandra Haydée Petit toma como exemplo um conhecimento
cultural afro-brasileiro: a capoeira. Nela, um conjunto de valores e
fundamentos gestados e paridos por e em corpos negros. Petit identifica ações
vinculadas à cosmologia da capoeira e as apresenta como valores da
ancestralidade: “[...] senhoridade, mestria, iniciação, respeito, espiritualidade,
relação comunitária, intergeracionalidade, etc., repassados no chamado ritual da
capoeira, e obviamente toda a movimentação que a capoeira exige como luta
dançante [...]” (Petit, 2015, p. 177).
Entre os valores frequentemente associados à ancestralidade nas culturas
negras, o comunitarismo ocupa lugar central. Vanda Machado, professora e
Egbome do Terreiro Ilê Axé Opo Afonjá, compartilha experiências e reflexões
provenientes do Irê Ayó, projeto pedagógico criado e desenvolvido por ela na
Escola Municipal Eugênia Anna dos Santos, situada no referido terreiro, em
Salvador, Bahia. A partir do vivido no chão da escola e do terreiro, Machado
destaca valores do “pensamento africano recriado na diáspora”. A vida comunal é
um dos elementos postos em relevo:
Ensina-se pelo
emi
, o sopro do encantamento da palavra e do outro.
Nesse contexto, é necessária a presença do outro que nos constrói. Eu
preciso do outro para ensinar, para encantar, para ser colocado no seu
caminho, que é também o meu caminho. Das aprendências do outro
depende a continuidade da tradição, da redistribuição da força da
espiritualidade gerada pela entrega de saberes necessários à condição
de ser e com-viver na comunidade (Machado, 2017, p. 26).
É interessante perceber em vivências e reflexões gestadas e nascidas em
grande parte das culturas negras que essa perspectiva comunitária não destitui o
corpo do seu sentido individual e único. Sodré, no que se refere ao que ele
chama de corpo-território, afirma:
Todo indivíduo percebe o mundo e suas coisas a partir de si mesmo, de
um campo que lhe é próprio e que se resume, em última instância, a
seu corpo. O corpo é lugar-zero do campo perceptivo, é um limite a
partir do qual se define um outro, seja coisa ou pessoa. O corpo serve-
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nos de bússola, meio de orientação com referência aos outros (2002, p.
135).
Por sua vez, Petit, ao sistematizar a proposta pedagógica denominada
Pretagogia9, coloca em relevo a valorização da construção coletiva do
conhecimento:
Em subgrupos e em coletivos maiores é que se atinge de modo geral
maior heterogeneidade e riqueza de ideias, noções e conceitos,
permitindo assim problematização e, sobretudo, a construção de
relações comunitárias, algo muito valioso na cosmovisão africana, uma
vez que eu existo por meio dos outros, ou seja, alimento-me do
convívio e da troca (Petit, 2015, p. 182).
Ao lado da tradição, da redistribuição da força vital, da heterogeneidade e
riqueza de ideias apontadas pelas professoras Machado, Santos e Petit, a
professora Martins acrescenta à vida comunitária mais um valor, o da estética:
A expressão artística, em todas as suas manifestações e realizações,
torna-se uma nobre qualidade quando em si reverbera, na potência de
sua funcionalidade, esse brilho do espírito, o fazer bem para o bem
coletivo, visando a suas necessidades de equilíbrio social, postura e
postulado da ética e da sophya que as informam (Martins, 2021, p. 70).
Até aqui, foi apresentada uma paisagem conceitual sobre fundamentos que
sustentam práticas culturais, curriculares e reflexões com ênfase em noções de
corpo/corpo negro. Reconhece-se, pela complexidade dessas manifestações, a
dificuldade de categorizar ritos e práticas de existência provenientes de culturas
negras em linguagens definidas pela cultura ocidentalizada, como teatro, artes
plásticas, música e dança. Não é aplicável, sob a ótica das culturas euro-branco-
colonizadoras, buscar equivalências conceituais nas culturas negras. As
diferenças culturais operam a partir de fundamentos próprios e, se nos furtamos
à lógica da dominação, o relevante é descobrir formas de existir nas diferenças,
na diversidade.
No que se refere ao corpo, observam-se questões que se particularizam em
fundamentos negros, sobretudo no Brasil, em jeitos de existir “umbilicalizados”
com as terras africanas. No campo da dança, a sacerdotisa e professora Makota
Valdina Pinto é citada:
9 Para maiores conhecimentos sobre Pretagogia, ver o livro de autoria de Sandra Haydée
Petit: Pretagogia:
pertencimento, corpo-dança afroancestral e tradição oral, contribuições do legado africano para a
implementação da Lei no 10.639/03 (2015).
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[...] evidencia aspectos de um processo de aprendizado em que o corpo
deve estar em seu estado completo de presença, rompendo com
modelos mais convencionais e eurocêntricos em que o tempo
sucessivo e a fragmentação do corpo são recursos frequentemente
explorados. Essa pensadora e líder religiosa descarta a imitação externa
e aposta na busca de uma dança interna, movida por elementos de um
corpo em ligação com elementos da natureza e em conexão consigo.
Ela afirma: “A gente que tem esse veio negro, esse antepassado negro,
queira ou não está na humanidade. [...] Você anda dançando e tudo
que a gente faz é dançando” (Alexandre, 2017, p. 42). Exalta-se uma
ideia de experiência corporal pautada na polivalência de sensações, de
sentidos e de expressões (apud Dumas, 2019, p. 8).
Compreendendo que fundamentos nesse “jeito de corpo”, nesse “veio
negro”, interessa-nos questionar a hegemonia que hierarquiza e define tensões,
dominações e eliminações do que é o corpo negro.
No campo da estética, que oficializa o corpo branco como centro de
importância em locais e ações como universidades, políticas públicas, galerias,
teatros, salas de concerto e documentos curriculares –, seria possível promover
interações com culturas tradicionais negras sem ferir seus fundamentos? A
relação com o território (e tudo aquilo que o compõe, inclusive os corpos) é tão
definidora desse existir que seu entrançamento com espaços ditos brancos
impossibilitaria uma realização plena? Ou a promoção do encruzilhamento,
considerando o enfrentamento digno das diferenças, seria, sim, uma fidelidade
aos princípios constituintes de corpo-pensamentos negros, agindo com e para o
outro?
Foram citadas experiências que consideramos fazeres-resposta às
perguntas acima apresentadas, a exemplo da elaboração pedagógica
denominada Pretagogia, do projeto com docentes de uma escola inserida no
terreiro, o Irê Ayó e da montagem cênica
Ayán: símbolo de fogo
experiências
orquestradas por mulheres negras, com vivências aprofundadas em tradições
diaspóricas e, simultaneamente, inseridas no campo acadêmico. Acrescentamos
mais uma experiência, também desenvolvida por uma mulher negra, Onisajé
(Fernanda Júlia Barbosa), que vem elaborando em pesquisas o que ela denomina
Teatro Preto de Candomblé10, que consiste em “[...] um fazer teatral que busca
10 Para maiores informações, consultar a tese da autora, intitulada
Teatro preto de candomblé: uma
construção ético-poética de encenação e atuação negras
, defendida no PPGAC-UFBA em 2021. Disponível
em: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/36704.
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no ritual do Candomblé o ponto de partida para a ritualidade cênica” (Barbosa,
2020, p. 77).
A Yakekerê11 e encenadora Onisajé nos apresenta indagações pertinentes:
Como acontecer um projeto poético que coloque diálogo e um encontro
entre candomblé e teatro sem que esse encontro fira, interfira na
intimidade da religiosidade? Sem que isso exponha fundamentos e
preceitos guardados desde nossos antepassados e que fazem com que
nossa religiosidade tenha a importância e o valor que ela tem? (Barbosa,
2016, p. 12).
As culturas corporais negras, como as que fundamentam o candomblé, ao
serem postas em diálogo com outros constructos culturais, inclusive o
hegemônico, exigem de quem conduz essa ação um conhecimento solidificado,
muitas vezes construído pelo próprio pertencimento. Com frequência, a própria
ação de pesquisar/aprender transcende as etapas convencionais de pesquisas
baseadas exclusivamente em leituras e observações. Solicita-se ao corpo de
quem pesquisa um tipo de imersão em que ele próprio é posto em estado de
vivência e aprendizado, pois, em geral, trata-se de conhecimentos produzidos e
assimilados na vida cotidiana, diluídos no estar presente no território, e não
apenas demarcados por tempo (dia e horário) e locais previamente
determinados (salas de aula).
Quando o/a pesquisador/a-professor/a-mestre/a assume a missão de
ensinar e de promover ações de diálogo entre terreiros e outros territórios, ele/a
precisa se colocar também na condição de vivenciar o que está sendo
apreendido. Decerto, o conhecimento, ao ser “traduzido” para espaços e
contextos distintos, torna-se acessível a indivíduos alheios aos códigos corporais
e culturais que o estruturam.
Em crítica às relações entre Ocidente e África, Oyěwùmí chama atenção
para o “abraço perigoso” e enfatiza que, nesse contato, “continuamos a confundir
o Ocidente com o Eu e, portanto, nos vemos como o Outro” (2021, p. 58). São
realidades distintas Brasil e África –, porém com muitos pontos de contato.
Assim, vale tomar emprestadas essas reflexões, adaptando-as às
11 Mãe pequena do terreiro Ilê Axé Oyá L’adê Inan, na cidade de Alagoinhas, Bahia.
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particularidades territoriais, históricas e culturais do nosso país. A autora, a partir
de sua experiência como mulher nigeriana, problematiza essa relação afirmando:
“Pensar que se pode habitar o território e depois mudar as regras é uma falácia
porque as regras e o território não são separáveis, eles são mutuamente
constituintes. Um não existe sem o outro” (Oyěwùmí, 2021, p. 58).
Dessa forma, compartilho uma interrogação: é pertinente que o
conhecimento gestado em corpos e culturas negras tradicionais seja
compartilhado em espaços hegemônicos e, assim, democratizado para corpos
alheios às questões negras? Faz-se necessário haver uma gestão das ocupações
e funções dessas presenças pautada na ética das diferenças, incluindo-as nos
currículos acadêmicos? Ou as culturas corporais negras devem ocupar apenas
seus espaços mais resguardados, em resposta à sua própria necessidade e à
histórica imposição de “não se misturar” para conseguir existir?
Trago esses questionamentos porque, ao mesmo tempo em que se pontua
a ausência negra em currículos, galerias e espaços culturais que representam
poder, é preciso também questionar as arquiteturas e os gerenciamentos
culturais desses lugares. Afinal, o espaço também é conceito. Assim, se as
culturas tradicionais gestadas em e com corpos negros avançam para ocupar
espaços pedagógicos e artísticos considerados hegemônicos, é necessário
promover alargamentos que comportem transformações estruturais e de
pensamento. A inclusão não pode pressupor submissão. A experiência radical do
diálogo implica trocas, tensões, transformações e complexos jogos de corpos.
Em relação aos currículos escolares e acadêmicos, Rita Santos evidencia:
Trazer as naturezas como experiência paradoxal para o currículo implica
na possibilidade de vivenciar o currículo como espaço de coexistência,
de relações poéticas desde o corpo. Essas experiências, fundadas na
coexistência complementar entre os opostos, contribuem para
conceber o currículo como uma tensão criativa e não uma rivalidade
(Oliveira; Santos, 2023, p.68).
Pelas experiências brevemente elencadas (Pretagogia; Irê Ayó; Ayán: símbolo
de fogo; Teatro Preto de Candomblé), nota-se que as proponentes possuem
relações aprofundadas tanto na academia quanto em linguagens artísticas, assim
como um pertencimento solidificado nos conhecimentos culturais negros por
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elas trabalhados (terreiros, capoeira, candomblé). Seus corpos registram a
experiência negra não apenas pelo caráter fenotípico, mas pela vivência
conceitual do que seja ancestralidade e vida comunitária.
O duplo (ou múltiplo) pertencimento das mulheres criadoras aqui
destacadas gera uma elaboração respeitosa na promoção dialógica entre as
diferenças, de modo a favorecer encontros, processos e resultados com menor
risco, numa perspectiva em que o outro (pessoas, espaços) não seja, a priori,
uma ameaça, mas sim uma possibilidade interativa. Isso se aproxima do que o
professor Júlio César de Tavares denomina “prática deglutidora dos sentidos de
alteridade” (2020, p. 23), capaz de gerar, com todos os sentidos críticos
aguçados, novos significados como resultado de uma proposição dialógica,
interacional e de encontro com distintas vivências culturais: “Potente a ponto de
permitir o aparecimento de uma nova pragmática na qual o operador centra-se
na totemização do corpo, espaço do agir, pensar, combater, orar e jogar”
(Tavares, 2020, p. 23).
Lançar mão de noções e orientações negras para compreender e analisar
práticas culturais dessa natureza revela-se uma atitude coerente, afinal, o corpo
negro, com toda a sua complexa malha conceitual e histórica, é constituído de
culturas, conceitos e existências em sua força corpórea. Existem formas de
elaboração cênica que carregam essas histórias e evidenciam essas memórias.
Essa afirmação não pretende sustentar uma ideia reducionista de herança
bioautomatizada, como na expressão popular direcionada prioritariamente a
corpos negros em estado cultural e ancestral manifestado: “Tá no sangue!”.
Trata-se de compreender fenômenos para além da visão de uma corporeidade
exclusivamente euro-branco-centrada.
Constituindo-se como episteme, as corporalidades negras precisam ser
abordadas como tal: com estudos aprofundados e respeito pleno aos seus
princípios. A inserção da noção de corpo negro em estudos acadêmicos nesse
campo passa por reconhecer seus jeitos: é uma experiência, é uma partilha, é
particular, é uma partícula, é uma e muitas epistemes.
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TAVARES, Júlio César de (Org).
Gramática das corporeidades afrodiaspóricas
:
Perspectivas etnográficas. Curitiba: Appris, 2020.
Recebido em: 11/01/2025
Aprovado em: 20/11/2025
Universidade do Estado de Santa Catarina
UDESC
Programa de Pós-Graduação em Teatro
PPGT
Centro de Arte CEART
Urdimento
Revista de Estudos em Artes Cênicas
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