Editorial
Dossiês Temático: Teatralidades negras, africanas e afrodiaspóricas
Florianópolis, v.4, n.53, p.1-7, dez. 2024
um repertório estético e cultural negro originário tanto da Diáspora quanto da
África pré-colonial. Enquanto processos que ultrapassam os arranjos formais
delineados pela teoria das artes cênicas, essas teatralidades negras não se
restringem ao teatro, mas abrangem também as danças, performances e práticas
culturais que se materializam por meio da cena. Dada a dificuldade da teoria em
capturar a complexidade intrínseca às práticas mobilizadas, é importante
reconhecer que, embora abrangente, este conceito talvez não seja capaz de
abarcar completamente a multiplicidade de temas e formas que os pesquisadores
e pesquisadoras deste dossiê exploram.
Em
Teatralidades negras
, artigo de abertura da publicação, Conrado Dess
(USP) examina o fenômeno da teatralidade negra, adotando uma abordagem que
tensiona a construção histórica do conceito de teatralidade com perspectivas
históricas, sociais e filosóficas que atravessam e moldam a existência negra.
Referenciando pensadores como Fred Moten, Zora Neale Hurston, Josette Féral e
Cedric Robinson, o autor discute a ideia de teatralidades negras, ressaltando as
múltiplas complexidades e camadas de significação que atravessam a noção. Por
fim, são analisadas formas de teatralidade negra produzidas pelos
drag balls
e
pelo
voguing
e explorados modos como tais expressões são articuladas no
espetáculo sul-africano
Nkoli - The Vogue Opera
.
No texto seguinte, é a noção de performatividade negra que é colocada em
debate.
Em Performatividades das Negruras: em busca de um conceito de
Teatro Negro Performativo
, Altemar Di Monteiro (UFMG) parte de autores como
Leda Maria Martins e Richard Schechner para propor uma conceitualização dos
teatros negros performativos como eventos que se integram à vida, ao abordar as
experiências e formas de expressão das populações negridadiaspóricas. Nesse
contexto, a força vital das negruras, ou axé, assume um papel central,
configurando-se como um elemento essencial na criação de espaços de liberdade,
identidade e resistência nas práticas cênicas contemporâneas.
Na sequência, o artigo
Encruza: metafísica yorùbá para uma epistemologia
da dança negro-brasileira
, de Maicom Souza e Silva (UNB), investiga a estética da
dança negro-brasileira a partir de filosofias afrodiaspóricas e das epistemologias
do mito, do corpo e da ancestralidade. Adotando uma perspectiva crítica e