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liberdade na escrita atrás das grades?
Práticas teatrais e a construção de saídas
Caroline Vetori de Souza
Vicente Concilio
Para citar este artigo:
SOUZA, Caroline Vetori de; CONCILIO, Vicente. liberdade
na escrita atrás das grades? Práticas teatrais e a construção
de saídas.
Urdimento
Revista de Estudos em Artes Cênicas,
Florianópolis, v. 2, n. 55, ago. 2025.
DOI: 10.5965/1414573102552025e0204
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Caroline Vetori de Souza | Vicente Concilio
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liberdade na escrita atrás das grades? Práticas teatrais e a construção de
saídas1
Caroline Vetori de Souza2
Vicente Concilio3
Resumo
O presente texto aborda o potencial das práticas artístico-pedagógicas no contexto
de privação de liberdade, tomando como ponto de partida o caderno de atividades
Das saídas que moram nas palavra
s. Assim, investiga-se o teatro e a escrita como
possíveis práticas abolicionistas, que atravessam muros, abrindo janelas para outras
possibilidades.
Palavras-chave
: Pedagogia das Artes Cênicas. Escrita. Prisão. Abolicionismo.
Is there freedom in writing behind bars? Theatrical practices and the construction of
exits
Abstract
This text explores the potential of artistic-pedagogical practices in the context of
incarceration, taking the activity notebook
Das saídas que moram nas palavras
as a
starting point. Theater and writing are thus investigated as possible abolitionist
practices, which transcend walls, opening windows to other glimpses of freedom.
Keywords:
Theater pedagogy. Writing. Prison. Abolitionism.
¿Hay libertad en la escritura detrás de las rejas? Prácticas teatrales y la construcción
de salidas
Resumen
Este texto explora el potencial de las prácticas artístico-pedagógicas en el contexto
de la privación de libertad, tomando como punto de partida el cuaderno de
actividades
Das saídas que moram nas palavras
. Así, se investigan el teatro y la
escritura como posibles prácticas abolicionistas que atraviesan muros, abriendo
ventanas a otros vislumbres de libertad.
Palabras clave
: Pedagogía de las Artes Escénicas. Escritura. Prisión. Abolicionismo.
1 Revisão ortográfica, gramatical e contextual do artigo realizada por Fernanda Aparecida Rohden. Licenciada
em Letras-Inglês e Literaturas correspondentes pela UFSC, Florianópolis-SC e WSU - Wayne State University,
Detroit-MI-EUA. Especialista em Estudos Avançados em Comunicação Informação e Cultura pela UnC -
Concórdia-SC http://lattes.cnpq.br/9289386023506940
2 Doutorado em Artes Cênica pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Mestrado em Teatro
pela UDESC. Graduação em Teatro pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Profa. Adjunta
no curso de Licenciatura em Teatro na Faculdade de Artes do Paraná/ Universidade Estadual do Paraná
(UNESPAR). cacavetori@gmail.com
http://lattes.cnpq.br/5944868538223342 https://orcid.org/0000-0001-9389-272X
3 Doutorado e mestrado em Artes Cênicas pela Universidade de São Paulo (USP). Graduação Licenciatura
Educação Artísticas Habilitação em Arte Cênicas pela USP. Prof. Adjunto da Graduação e Pós-Graduação,
metrado e doutorado, em Artes Cênicas do Centro de Artes UDESC. viconcilio@gmail.com
http://lattes.cnpq.br/3283711708471437 https://orcid.org/0000-0003-2897-1581
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Da chegada
a grande boca do mundo cospe gente
e a gente escarrada esgarça nossa morada
ri com todos os dentes
os que restam
os que atestam
que boca é território de festa
é templo de anunciação
é tempo de enunciação
que as bocas estejam alimentadas
que as bocas encontrem beijos, sabores, sentires
que sejam amadas
sejam faladas
cantadas
dançadas
e explodam no ato de rebeldia da risada
no encontro de muitas bocas abertas para conceber outros mundos
(Vetori, 2023, p.96)
Figura 1 - Foto de base de Samantha Joane e sobreposição de imagem com
caligrafia por Caroline Vetori, 2022. Acervo da pesquisa.
Este texto é escrito no encontro de corpos. Encontro de corpos que se
expandem em papel, lápis e letras. Imagens e escritas que flertam com outros
gêneros, abrem cada uma das janelas4 que compõem a escrita. Escrevemos,
4 No livro
Estendemos nossas memórias
: caminhos para uma dramaturgia da escuta, fruto da dissertação de
Caroline Vetori, inspirada no texto
Janela sobre a palavra
(IV), de Eduardo Galeano, a ideia de janela sobre
a imagem “[...] para que através do contato com outras representações possamos abrir outras perspectivas.
“Se as palavras contam o que acontece e anunciam o que acontecerá, anseio que as imagens também o
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Caroline e Vicente, duas pessoas cisgêneras, brancas, professoras-artistas-
pesquisadoras, assentadas no campo da(s) Pedagogia(s) das Artes Cênicas, que
compartilham como desejo comum o trabalho com pessoas que se encontram
cumprindo pena de privação de liberdade ou são sobreviventes do cárcere. Ou
seja, escrevemos entre muros. Adentramos muros. Podemos sair. Nossas parcerias
permanecem lá. Nosso desejo está além do público com o qual trabalhamos, está
no que intentamos: fomentar práticas artístico-pedagógicas abolicionistas. E, para
tanto, a saída deve ser de todas as pessoas.
Brevemente, é importante mencionar que atuamos dentro de universidades
públicas, o que proporciona a verticalização dos estudos e a reverberação das
propostas: Caroline atua na Universidade Estadual do Paraná (Unespar), na
Faculdade de Artes do Paraná (FAP), no curso de Licenciatura em Teatro e Vicente
na Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), no Centro de Artes, Design
e Moda (Ceart), no curso de Licenciatura em Artes Cênicas. Vicente desenvolve o
projeto de pesquisa
Teatro e Prisão
: Práticas de
infiltrações das artes cênicas nos
espaços de privação de liberdade
e o Programa de Extensão
Pedagogia das Artes
cênicas e Processos de Criação,
por meio do qual aulas de teatro são oferecidas
em espaços prisionais,
e Caroline coordenou na Unespar o projeto de pesquisa
Fissuras entre palavras
:
mapeamento e análise de dramaturgias brasileiras sobre
cárcere
e, atualmente, coordena o projeto de pesquisa
Vozes que ecoam além
muros: investigação de saídas-faíscas do cárcere
. Os projetos mencionados
contribuem diretamente para as reflexões aqui apresentadas.
Das saídas que moram nas palavras um caderno de
atividades
Nossa parceria de trabalho iniciou em 2018 e desde então são diversas as
ações que desenvolvemos. Nelas, um dos vetores estruturantes tem sido o
trabalho com a produção de escritas: as nossas próprias; as das pessoas que
participam de nossas oficinas. Assim, confluem teatro, pessoas em privação de
liberdade e escrita e é sobre esse processo que dialogaremos, tomando uma ação
possam” (Vetori, 2022, p.196). Esta é a inspiração para a construção do texto, inclusive seu formato assentado
nas imagens e escritos poéticos como marcadoras das seções.
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como base para a discussão: o caderno de atividades
Das saídas que moram nas
palavras5
.
A apresentação inicial, documento em mãos.
A inspeção dos materiais.
Cadernos e livros não devem conter grampos.
Tesoura? Sem ponta.
Tudo pode ser uma arma, incutem.
Não há como negar.
Tudo indica: você está dentro de um espaço de vigilância.
Mesmo na espreita da entrada.
Teatro em, não há como não marcar o que circunscreve.
Teatro que busca o encontro: com pessoas.
Primeiramente pessoas.
(Vetori, 2023, p.90)
Figura 2 - Foto de uma fotografia na qual a pessoa retratada recortou sua imagem,
ficando apenas a silhueta envolta do espaço prisional, 2022. Acervo da pesquisa.
O caderno foi uma ação desenvolvida ao longo dos anos em que o
distanciamento social provocado pela pandemia de Covid 19 impediu nosso acesso
físico ao cárcere. Inventamos, então, um conjunto de atividades que pudessem ser
realizadas dentro do cárcere e que pudessem posteriormente chegar a nossas
5 O livro foi traduzido para o inglês com o título
Escaping into the words: a creative writing workbook
, com
tradução de Ashley Lucas, da Universidade de Michigan. Foram impressas 1.500 unidades que serão
distribuídas em instituições de privação de liberdade do estado de Michigan, por meio do PCAP - Prison
Creative Arts Project. Fomos convidadas a ministrar oficinas em 11 unidades prisionais do estado de Michigan
relacionadas ao conteúdo do livro.
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mãos. Nos mobilizamos em uma ação que busca o rompimento do silenciamento.
Somos a terceira maior população carcerária do mundo. Há, como aponta
Juliana Borges em
O que é encarceramento em massa?
, um projeto sistemático
de encarceramento, ligado à criminalização de comunidades específicas, o que se
explicita ao lançarmos o olhar para o perfil racial da população aprisionada.
Paralelamente, o silêncio é a tônica em relação à problemática (Borges, 2020),
corroborando para a manutenção do sistema e mesmo a construção da percepção
social dele.
Defendemos, portanto, a necessidade de romper com o silêncio, pois “[...] ao
não falarmos das prisões, consentimos com a situação de total desrespeito ao
humano vivenciada e reproduzida cotidianamente nesses espaços. [...] as prisões
são espelhos da sociedade” (Borges, 2020, p. 11).
Precisamos escrever contra o silêncio; propor processos artístico-
pedagógicos contra o silêncio, fomentar a discussão por meio da fabulação e
criação de outros imaginários, propor processos artístico-pedagógicos em prol de
outros imaginários para pautar o fim das prisões.
Nesse contexto, em algumas publicações justificamos a escolha da escrita
em nossos processos, que se assenta nos seguintes eixos: possibilitar a
documentação das práticas, em contraponto à fugacidade constitutiva do fazer
teatral; fomentar a expressão das pessoas que estão privadas de liberdade,
irrompendo contra o apagamento forjado pelo sistema prisional (Vetori, 2023;
Concilio, 20226), indo ao encontro de seu caráter político, “[...] como ato de
tornar-
se
” (Kilomba, 2019, p. 28, grifo da autora).
Em consonância com Grada Kilomba (2019, p.14), ainda compreendemos que
a língua, que toma carne na escrita, tem “[...] uma dimensão política de criar, fixar
e perpetuar relações de poder e de violência, pois cada palavra que usamos define
o lugar de uma identidade”. Logo, buscamos seu inverso, dialogando com
conceitos-corpos, vozes corporificadas que convidam articulações rebeldes, que
se dão contra e além muros.
6 Concilio, Vicente. Fala do evento II Jornada Direito no Cárcere e Direitos Humanos.
Youtube
, 09 ago. 2022.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=qYBsl4qv34Y. Acesso em: 19 de set. de 2024.
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Nesse sentido, defendemos que “Quem faz teatro do lado de fora, no ‘mundo
livre’ tem muito a aprender com as pessoas que estão na prisão sobre o que o
teatro é e pode ser” (Lucas, 2021, p. 32), e estendemos essa defesa a todas as
pessoas, não apenas da área. Operamos, assim, uma virada de compreensão: nós
temos a oportunidade de aprender com pessoas que estão privadas de liberdade,
numa relação de alteridade, na qual trocamos experiências, sobretudo vivências
que não tivemos.
Eu escrevo porque na escrita encontro um meio de pôr pra fora tudo o
que está fora de ordem dentro de mim, e sempre que estou passando
por um momento de conflitos, recorro ao caderno e a caneta e ali ponho
pra fora o mar confusão (Rô36, 2023).
Figura 3 Foto de cadernos, 2022. Acervo da pesquisa.
Nesse sentido, retomamos a sobrevoo algumas das produções encarnadas
na articulação teatro e escrita: o espetáculo
Estendemos nossas memórias ao sol
e a publicação de
História(s) da chuva
:
escrevendo história(s) com mulheres
encarceradas.
Estendemos nossas memórias ao sol
foi uma criação do grupo de mulheres
que fez a oficina em 2019, tendo o processo pautado nas histórias, oralidade e
escrita. Ainda, o trabalho resultou na publicação de
História(s) da chuva:
escrevendo história(s) com mulheres encarceradas
. Assinamos a organização do
livro que tem como autoria as atrizes que participaram do processo acima
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mencionado: Camila Renata Camargo da Silva, Cléia Pereira Monte, Cleusa de
Almeida Santana, Daihany Neves de Mello, Elaine Cristina Pacheco, Fabiana Pereira,
Jenifer Sueli dos Santos, Jéssica Alexandre Farias, Jurema Aparecida Vilela, Mara
Chaves Damacena, Marinalva dos Santos, Maria Andréia Nascimento Alves e
Suelem dos Santos. Ainda, a equipe de trabalho foi composta por Ricardo
Rodrigues, na ilustração, Mariana Nada, na produção geral e revisão, e Alexandra
de Melo, Naguissa Takemoto e Thuanny Paes, no desenvolvimento da oficina
conosco. Foram produzidos 300 exemplares, visando expandir a distribuição para
diversas localidades e públicos do país. Nessa distribuição
enfatizamos a parceria com universidades e projetos que estão ligados
com a temática do cárcere, possibilitando uma ampliação de alcance em
todos os níveis, visto que ao propor a coletivos que, por exemplo, atuam
em outras unidades penais, que não as que atuamos, estamos
fomentando o trabalho com essas pessoas com as quais não
trabalhamos diretamente (Vetori, 2023, p.135).
Tais produções corroboram para a compreensão de duas instâncias de
reverberação: “[...] a) de faísca = convocação a outros públicos que não tem a vida
atravessada pelo cárcere; b) de infiltração e, decorrente, fissura = dentro das
instituições” (Vetori, 2023, p.137). Estas podem ser visualizadas no esquema que
segue, desenvolvido especificamente para a análise do livro, mas que estendemos
à peça e, também, ao próprio caderno, desenvolvido posteriormente.
Figura 4 - Esquema desenvolvido e presente na tese de Caroline Vetori de Souza, 2023.
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Das saídas que são também portas de entrada
O caderno foi a saída possível dentro do contexto de pandemia, que incidiu
na suspensão dos encontros que desenvolvemos no Presídio Feminino de
Florianópolis. Na busca por estratégias em seguir encontrando as mulheres que
estavam em privação de liberdade, e tomando como base de inspiração o caderno
Mulheres possíveis7
, as palavras, encarnadas em folhas, chegariam ao lado de fora,
passando a construir pontes.
Tal ação condensa nossos desejos de escrita, encontro e convívio ou escrita-
encontro-convívio, que não cessam, mas reverberam, indo ao encontro das
palavras do pesquisador Jean Carlos Gonçalves (2023a, p.5), em artigo que aborda
nossa ação:
Ao compreender que é tão somente pela perspectiva do desejo de
encontro que alguns projetos educacionais continuam, se mantém e
permanecem mesmo diante dos infortúnios, que podemos reconhecer
no caderno, em sua própria concepção e apresentação, traços de um
provocativo convite ao diálogo entre corpos que escrevem.
Não entraremos nas nuances da concepção e desenvolvimento do caderno;
na tese de Caroline, intitulada
Caros destinatários, parem de apagar nossas
histórias
:
cartilhas-faíscas como possibilidades de saídas do cárcere
, está
detalhado o processo, bem como algumas de suas bases podem ser encontradas
no ensaio
As saídas moram nas palavras? As saídas podem morar nas palavras?
,
escrito durante os encontros com mulheres privadas de liberdade, de 2022,
publicado na Revista da Fundarte.
Ao criar o conteúdo bruto do caderno, tivemos a felicidade de trabalhar em
parceria com a profa. Dra. Anelise Zimmermann, que coordena na Udesc o
programa de extensão
Entre livros, tipos e desenhos: interlocuções da cultura
gráfica
. Juntamente com a profa. Dra. Sara Copetti e as bolsistas Clara Sohn e
Fernanda Gonçalves, iniciaram um estudo de diagramação. Aqui, destacamos e
saudamos a articulação com a extensão universitária que possibilitou a
7 O projeto
Mulheres possíveis
foi proposto por Beatriz Cruz, Leticia Olivares, Sandra Ximenez e Vânia Medeiros
em 2020, visto o contexto pandêmico. Para dar seguimento ao trabalho foi desenvolvido um Livro de
Atividades, contando com a colaboração artística de Bárbara Esmenia, Fábia Karklin, Maré de Matos, Olga
Torres, Olivia Niculitcheff e colaboração pedagógica de João Innecco.
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materialização do material, compartilhamento entre programas de extensão e o
custeio da impressão. Foram impressos 350 exemplares para distribuição gratuita
dentro de espaços de privação de liberdade.
O caderno está disponível para
download
8 gratuito no site da editora Hucitec,
parceira do trabalho, objetivando que outros projetos9 possam utilizá-lo, seja
diretamente, bem como enquanto inspiração, espelhando o processo que tivemos
na relação com o material Mulheres possíveis, “[...] fortalecendo nossa rede de
atuação pautada na desobediência criativa pelo fim das prisões” (Vetori, 2023,
p.120).
Também segue
QrCode
para acesso:
Sobre as bases do material, uma voz externa ao processo criativo, a do
professor e pesquisador Jean Carlos Gonçalves, consegue demonstrar com
precisão muitas de nossas intenções:
Ao propor um diálogo artístico e poético com mulheres que estão
privadas de liberdade, o caderno mobiliza, ao mesmo tempo, o
conceito de leitura, considerando o próprio ato de ler como diálogo
com os organizadores e sua relação com o literário, e também a
escrita, esta como possibilidade de resposta performativa aos convites
que ali estão impressos. Nesse movimento de discursos que vão e
vêm, já se estabelece um importante acordo entre autoria e recepção,
muito próximo daquele desejado pelo teatro: a comunicação imediata
com um público que se expressa (Gonçalves, 2023b, p.3).
O trabalho com o caderno se deu de duas formas: 1) no diálogo com mulheres
privadas de liberdade, que tiveram acesso ao material, sem nossa presença na
mediação; 2) na articulação com a oficina de teatro desenvolvida em 2022. No
8 Disponível em: https://lojahucitec.com.br/wp-content/uploads/2022/04/CLIQUE-AQUI-PARA- Download.pdf.
Acesso em: 20 dez. 2024.
9 Não podemos deixar de mencionar importantes ações como o programa de extensão Cultura na prisão, da
UNIRIO, o projeto de extensão Arbítrio: teatro na prisão no Amazonas, da UEA e a CiA dXs TeRrOrIsTaS.
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presente recorte, iremos trafegar por ambos os modos, pinçando alguns exemplos,
buscando mostrar os espaços de possibilidades instaurados por um material que,
por certas vezes, parecia limitado demais.
Figura 5 - Acervo da pesquisa. Foto de Samantha Joane, 2022.
O caderno foi considerado uma atividade educacional complementar pela
instituição, ou seja, foi um meio de acesso a um direito, a remição de pena por
estudo e/ou leitura prevista legalmente. Segundo o exposto no
Plano estadual de
educação em prisões 2016-2026
: educação, prisão e liberdade, diálogos possíveis,
organizado por Heloisa Helena Reis Cardenuto (2017, p.80): “O cômputo de horas
para as atividades educacionais desenvolvidas nos estabelecimentos penais, segue
a legislação, sendo o preceito legal de 12 horas para cada dia de pena remido,
distribuídas em, no mínimo, três dias”. Desta forma, os certificados contabilizaram
180 horas de atividades, que, convertidos pelo cômputo citado, perfazem 15 dias
de remição.
15 dias a menos dentro da prisão.
15 dias a menos de _____________.
15 dias a mais de vida, fora.
15 dias a mais de ____________.
(Vetori, 2023, p.189)
“Concretamente, as palavras materializadas nos cadernos, pelas próprias
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mulheres que o fizeram, são saídas” (Vetori, 2023, p.190), logo são os corpos destas
mulheres que escrevem e inscrevem novas rotas. Corpos que escrevem.
Precisamos aprender a ler novas rotas, palavras, movimentos. Apreciamos a
conexão entre nossas ações e as seguintes palavras de Audre Lorde (2019, p. 55):
E nos lugares em que as palavras das mulheres clamam para ser ouvidas,
cada uma de nós devemos reconhecer a nossa responsabilidade de
buscar essas palavras, de -las, de compartilhá-las e de analisar a
pertinência delas na nossa vida.
Nesse sentido, retomamos, como aponta o educador Luiz Rufino (2023, p.13),
[...] o lugar do corpo na educação remonta a um amplo investimento da
agenda dominante em propagar sua política contrária à vida por meio de
um sofisticado repertório de violências que terão como primeiro lugar de
ataque o território corporal.
Na esteira dessa compreensão, em movimento de recusa-e-criação
(Holloway, 2013), vamos ao encontro de uma mudança de eixo na qual educação
é compreendida como prática de jogo. Assim, “A educação como prática de
liberdade demanda que o corpo assuma o protagonismo no processo educativo”
(Rufino, 2023, p. 15). A educação, que tem como fundamento o corpo, está explícita
em nossa prática cênica. Com a escrita, que nasce do corpo, seja em sentido
primeiro ou expandida, não é diferente. Em um dos encontros, levamos fotografias,
autorretratos feitos pelas mulheres em outro dia, bem como tesouras e colas em
bastão. As estudantes-atrizes-escritoras em privação de liberdade escolheram
algumas para colocar em seus cadernos. Em sua maioria, elas pegaram e
minuciosamente cortaram a foto, rente à silhueta e, assim, sem o enquadramento
prisional, o que estava destacado eram elas (Vetori, 2023).
Tesoura? Sem ponta.
Tudo pode ser uma arma.
Aqui, nosso campo de batalha.
Esse breve relato materializa a síntese: contorno-ausência = prisão; foto,
no protagonismo elas, colada em outro cenário = criação. A presença,
metaforizada na
imagem retirada do contexto, como afirmação na/da criação.
(Vetori, 2023, p. 91-92).
Nos encontros teatrais desenvolvidos em 2022, nossa equipe era composta
por Vicente, coordenador do projeto, Caroline, que desenvolvia à época seu
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doutorado, e a cineasta Samantha Joane, que já trabalhava conosco desde 2019 e
tinha como objetivo para o ano em questão a construção de um minidocumentário
com as estudantes-atrizes. Mas quem são elas? Durante as diferentes produções
escritas, uma pergunta era recorrente:
[...] como descrever minhas parceiras de trabalho, não incorrendo na
caracterização homogênea do grupo, nem expondo-as indevidamente?
No percurso dessa pesquisa, apoiada no caderno, trago as palavras de
cada uma sobre si. São excertos das estudantes que participaram em
quase a totalidade da oficina de 2022. Um dos exercícios do caderno
chama-se Somos muitas e o indicativo dele termina com uma pergunta:
que mulheres você é? (Vetori, 2023, p.123).
Aqui, a escrita possibilita encontros, de corpos que estão privados de
liberdade. Além das implicações nas próprias pesquisas, o exercício de convidá-
las à autodefinição foi um dos pontos altos do trabalho, sobretudo no que tange
ao confronto com as imagens de controle (Collins, 2009 apud Bueno 2020).
O conceito, proposto por Patricia Hill Collins, denomina a construção
imagética perpetrada as mulheres afro-americanas, sendo a “[...] dimensão
ideológica do racismo e do sexismo compreendidos de forma simultânea e
interconectada” (Bueno, 2020, p.73). Assim, uma transposição conceitual ao
contexto brasileiro, justificada dado que a população encarcerada em nosso país
é predominantemente preta, bem como a construção da figura da pessoa
criminosa, assentada no racismo, como debate Juliana Borges (2020, p.28). Ou
seja, se atenta para a constituição das prisões como fenômeno do racismo
estrutural.
As imagens de controle fazem parte de uma ideologia generalizada de
dominação, que opera com base em uma lógica autoritária de poder, a
qual nomeia, caracteriza e manipula significados sobre as vidas de
mulheres negras que o dissonantes daquilo que elas enunciam sobre
si mesmas (Bueno, 2020, p.78-79).
A pergunta base do exercício em questão traz a pluralidade como marca,
a definição como expansão e não amarra: “Que mulheres vocês é?”. Essa atividade
teve inspiração no
Livro de atividades mulheres possíveis
. Seguem algumas
produções:
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Figura 6 Montagem de excertos produzidos nos cadernos, 2022. Acervo da pesquisa.
nas palavras das mulheres que não tivemos a possibilidade de encontro
entre corpos (ou o caderno seria essa ponte?), dentre os adjetivos destacam-se:
[...] guerreira/batalhadora, mencionada 27 vezes; mãe, mencionada 18
vezes; amiga, mencionada 12 vezes; e trabalhadora (ou a palavra trabalho
mencionada), mencionada 7 vezes. A palavra mãe, segunda mais
mencionada, vai ao encontro do perfil da população prisional feminina no
país (Vetori, 2023, p. 193).
Conforme os dados do Infopen Mulheres (2018), 74% são mães, mas a
amostra é referente a 7% da população prisional feminina, o que, ainda, revela o
lapso de dados, bem como pode refletir a negligência quanto ao debate sobre o
cárcere feminino, que tem impacto nas famílias e comunidades.
Na sequência do caderno, desenvolvemos um exercício que brinca com
definições por meio de caixinhas para completar, como Eu sou ________________;
Eu não sou _________________. O chamado ao jogo possibilitou escritas breves e
fortes, que confrontam as imagens de controle perpetradas às mulheres
encarceradas. Como foram inúmeros os conteúdos presentificados, trago apenas
para um, pinçado aleatoriamente, como um convite à fruição:
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Figura 7 Produção de Roxy. Acervo da pesquisa.
Quem escreve sou eu, Na tela branca brinco os dedos no teclado
A palavra que falo é pouca, Circula meu corpo em voltas toscas
Quero aprender as línguas que gritam as bocas
Me lanço a páginas de 66 cadernos, de 66 mulheres que desconheço
Conheço suas palavras, que, de algum modo, me foram convidadas
Me disseram sim
(Vetori, 2023, p. 192).
O convite para a escrita de uma carta para o futuro é o segundo exercício. Ao
analisar os cadernos, algumas optaram por deixar em branco, contabilizando três
de sessenta e seis cadernos autorizados para utilização em nossas pesquisas.
Algumas perguntas ficam: haveria a crença de que demandaria mais escrita? Não
houve interesse? Pensar no futuro mais machuca do que fomenta esperança,
forças? Se destacam como conteúdos focais: o regresso para a família; trabalho
e/ou estudo; liberdade; revisão do passado à luz do presente. A palavra liberdade,
que poderia ser esperada, no entanto, apareceu diretamente poucas vezes.
Das palavras que fecham o caderno, abrem-se mundos
O melhor modo de refletir sobre o caderno é ao encontro das palavras delas,
por meio da pergunta “Como foi a experiência?” - que fecha o caderno. De sessenta
e seis cadernos, seis estavam em branco. É importante observar que duas
devolutivas atentam para a geração de sofrimento e/ou exposição, questão
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Caroline Vetori de Souza | Vicente Concilio
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importantíssima, que deve ser considerada para futuras proposições. Além disso,
ressaltamos um retorno apontando que era indiferente, dado o ambiente em que
a pessoa se encontra, reforçando pelo que precisamos urgentemente lutar, o fim
das prisões.
“Poderia ter caça-palavras, jogos, e não querer saber tanto da vida
pessoal, porque só o fato de estar aqui já é um sofrimento”.
Sem data assinalada Alice
“Foi legal, mas nem tudo nessa vida pode ser aberto para todos, poderia
ter jogos e não tantas perguntas pessoais”.
Sem data assinalada Sirlei
“Para mim é indiferente tanto faz tô atrás de uma lata feito bicho jogado
isso aqui é uma luz no fundo do túnel foi bom aparecer esse livro uma
caneta e este livro valem muito”.
17/01/2023 Rosangela
Ainda, alguns retornos explicitam o fomento à criatividade, a ocupação
temporal e espaço de expressão de questões pessoais que não são
compartilhadas com outras pessoas:
“Foi uma experiência interessante, onde descobri um pouco mais sobre
mim, onde percebi que não sou muito criativa como inventar histórias e
desenvolver temas e textos pensando em personagens e criar coisas. Mas
foi bom contar algumas coisas pessoais onde não conto muito sobre
outras pessoas”.
17/01/23 Nati196
“Foi uma experiência e uma oportunidade de escrever algo sobre mim,
algo sobre minha história, foi interessante e esses exercícios fizeram
passar o tempo , pois aqui dentro de uma cela o relógio passa em câmera
lenta, não tive nenhuma dificuldade pude exercitar minha mente um
pouco, gostei muito de fazer o exercício da página 33 esses pés se
falassem foi bem interessante”.
17/01/2023 Juliana
“Gostei muito da experiência de fazer este caderno, pois me fez refletir
sobre mim mesma, perceber melhor meus sentidos, ter um tempo pra
mim, mas também interagir com minhas colegas, trocar experiências, e
partilhar boas histórias”.
15/02/2023 A Vicente
“Eu brinquei com esse livro, uma menina foi embora e eu
preenchi...Achei gratificante, bacana, enriquecedor, didático, divertido...
penso que cumpriu sua finalidade... espero que pra você seja tanto
quanto! Roxana”.
14/01/23
Trazemos um dos retornos de uma das mulheres que também participou da
oficina de teatro. Seu retorno nos faz questionar se sua compreensão da atividade
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foi construída pelo trabalho conjunto na oficina de teatro ou se o caderno
corrobora para a construção.
“Eu sou suspeita de falar pois sou aluna de vocês no teatro, e eu gosto
muito dos momentos que passamos juntos aos sábados de manhã. Eu
amei participar das atividades deste livro. Gostei pelo fato de que
podemos ser nós mesmos, neste livro sem se preocupar com o que é
certo ou errado”.
30/10/22 Glau
O caderno, acreditamos, colabora para a construção da possibilidade de
rupturas do silêncio e silenciamento e, assim, simbolicamente, para saídas.
Constrói-se como plataforma para a inscrição de outras possibilidades,
fomentando a criação de ficções visionárias (Imarisha, 2016), que abrange
[...] os modos de criação entre gêneros literários fantásticos que nos
ajudam a elaborar esses novos mundos [...] oferece aos movimentos por
justiça social um processo por meio do qual explorar a criação de novos
mundos (embora não seja em si uma solução e é que entra o trabalho
prolongado de organização comunitária) (Imarisha, 2016, p.4).
A experiência artística, nessa esteira, pode configurar pontes para mundos
distintos, para quem está dentro, como para quem está fora, fomentando que, em
ambos os espaços, haja ação ativista em prol da queda dos muros.
Referências
ANNAH C.; CINDY; PISETTA, Glau; DUTRA, Kau; NIVIA; RO36; ALICE; SIRLEI;
ROSANGELA; NATI; JULIANA; A., Vicente; ROXANA. Produções citadas dos cadernos
Das saídas que moram nas palavras
. Florianópolis, 2023.
BORGES, Juliana.
Prisões: espelho de nós
. São Paulo: Todavia, 2020.
BUENO, Winnie.
Imagens de controle
: um conceito do pensamento de Patricia Hill
Collins. Porto Alegre: Zouk, 2020.
CARDENUTO, Heloisa Helena Reis (Org.).
Plano estadual de educação em prisões
2016-2026
: educação, prisão e liberdade, diálogos possíveis. Florianópolis: DIOESC,
2017.
CONCILIO, Vicente; VETORI, Caroline.
Das saídas que moram nas palavras
: caderno
de atividades. São Paulo: Hucitec, 2022.
IMARISHA, Walidah.
Reescrevendo o futuro
: usando ficção científica para rever a
justiça. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 2016.
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41 Reunião Nacional da
ANPEd
- Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação
(Manaus/AM), 2023. Anais da 41 Reunião Nacional da ANPEd, 2023a.
GONÇALVES, Jean Carlos. Quando as saídas moram nas palavras educação e
comunidade: reflexões [bakhtinianas] sobre teatro, prisão e pandemia.
Revista
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, [S. l.], n. 22, 2023b.
HOLLOWAY, John.
Fissurar o capitalismo
. São Paulo: Publisher Brasil, 2013.
KILOMBA, Grada.
Memórias da Plantação
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Teatro em prisões e a crise global do encarcerament
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LORDE, Audre.
Irmã Outsider
: ensaios e conferências. São Paulo: Autêntica Editora,
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RUFINO, Luiz.
Ponta-cabeça
: educação, jogo de corpo e outras mandingas. Rio de
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VETORI, Caroline.
Estendemos nossas memórias ao sol
: caminhos para uma
dramaturgia da escuta com mulheres privadas de liberdade. São Paulo: Hucitec,
2022.
VETORI, Caroline.
Caros destinatários, parem de apagar nossas histórias
: cartilhas-
faíscas como possibilidades de saídas do cárcere. 216p. Tese (Doutorado em Artes
Cênicas) - Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, 2023.
Recebido em: 29/10/2024
Aprovado em: 20/06/2025
Universidade do Estado de Santa Catarina
UDESC
Programa de Pós-Graduação em Teatro
PPGT
Centro de Arte CEART
Urdimento
Revista de Estudos em Artes Cênicas
Urdimento.ceart@udesc.br