
Há liberdade na escrita atrás das grades? Práticas teatrais e a construção de saídas
Caroline Vetori de Souza | Vicente Concilio
Florianópolis, v.2, n.55, p.1-18, ago. 2025
mulheres que o fizeram, são saídas” (Vetori, 2023, p.190), logo são os corpos destas
mulheres que escrevem e inscrevem novas rotas. Corpos que escrevem.
Precisamos aprender a ler novas rotas, palavras, movimentos. Apreciamos a
conexão entre nossas ações e as seguintes palavras de Audre Lorde (2019, p. 55):
E nos lugares em que as palavras das mulheres clamam para ser ouvidas,
cada uma de nós devemos reconhecer a nossa responsabilidade de
buscar essas palavras, de lê-las, de compartilhá-las e de analisar a
pertinência delas na nossa vida.
Nesse sentido, retomamos, como aponta o educador Luiz Rufino (2023, p.13),
[...] o lugar do corpo na educação remonta a um amplo investimento da
agenda dominante em propagar sua política contrária à vida por meio de
um sofisticado repertório de violências que terão como primeiro lugar de
ataque o território corporal.
Na esteira dessa compreensão, em movimento de recusa-e-criação
(Holloway, 2013), vamos ao encontro de uma mudança de eixo na qual educação
é compreendida como prática de jogo. Assim, “A educação como prática de
liberdade demanda que o corpo assuma o protagonismo no processo educativo”
(Rufino, 2023, p. 15). A educação, que tem como fundamento o corpo, está explícita
em nossa prática cênica. Com a escrita, que nasce do corpo, seja em sentido
primeiro ou expandida, não é diferente. Em um dos encontros, levamos fotografias,
autorretratos feitos pelas mulheres em outro dia, bem como tesouras e colas em
bastão. As estudantes-atrizes-escritoras em privação de liberdade escolheram
algumas para colocar em seus cadernos. Em sua maioria, elas pegaram e
minuciosamente cortaram a foto, rente à silhueta e, assim, sem o enquadramento
prisional, o que estava destacado eram elas (Vetori, 2023).
Tesoura? Sem ponta.
Tudo pode ser uma arma.
Aqui, nosso campo de batalha.
Esse breve relato materializa a síntese: contorno-ausência = prisão; foto,
no protagonismo elas, colada em outro cenário = criação. A presença,
metaforizada na
imagem retirada do contexto, como afirmação na/da criação.
(Vetori, 2023, p. 91-92).
Nos encontros teatrais desenvolvidos em 2022, nossa equipe era composta
por Vicente, coordenador do projeto, Caroline, que desenvolvia à época seu