Performatividades das Negruras: em busca de um conceito de Teatro Negro Performativo
Altemar Di Monteiro
Florianópolis, v.4, n.53, p.1-25, dez. 2024
performatividades negras, ou de teatros negros performativos, sem considerarmos
que nossas práticas, modos de realizar, de fazer, de pensar, de comunicar, muitas
vezes se veem também engodadas pelo olhar branco e pelo sintoma racista que,
como nos fala Muniz Sodré, manifesta-se ao conceber a pessoa negra como um
“sem lugar na cultura”, o que faz emergir uma semiótica da monstruosidade. Para
esse tipo de olhar, somos um corpo “que a consciência eurocêntrica não consegue
sentir como plenamente humano; é, como o monstro, não um desconhecido, mas
um conhecido que finalmente não se consegue perceber como idêntico à ideia
universal de humano” (Sodré, 2002, p. 177). Levando essa camada em
consideração, o que faz nossos corpos? Qual o performativo de nossas vidas
negras num mundo gerenciado pela brancura?
Com Leda Maria Martins, reafirmo, portanto, que Negrura não é sinônimo de
Negritude. Leda elabora, desde
A cena em Sombras
, o conceito de Negrura como
afirmação radical da vida negra enquanto conhecimento vivo. Em sua conferência
de encerramento do 1º Encontro Negruras10, quando propus que a autora nos
falasse sobre como tem articulado o conceito atualmente, Martins nos instigou a
pensar a Negrura como um movimento de ruptura com o arranjo colonial que
insiste em narrar nossos corpos negros como meros jogos de emoção ou
sentimentalismo. Em suas palavras, o termo Negruras
[...] alude aos repertórios e acervos de conhecimento que se instalam na
ancestralidade negra. Ou seja, a todas as atividades do intelecto que
apontam, portanto, a esta ampla gama de conhecimentos, de várias
naturezas e abrangências, no âmbito das ciências, das tecnologias, das
técnicas, das estéticas, das filosofias, e que também alude a todas as
estruturas e sistemas de cognição que informam os saberes
negroafricanos, transladados a contragosto pelas Américas, e os aqui
criados, recriados, inventados (Martins, 2024, informação verbal).
Relembrando o sequestro e o furto dos saberes e tecnologias negroafricanos,
que sustentaram o desenvolvimento da Europa e das Américas, Leda conclui
afirmando que "negruras, no modo como eu conoto o termo, é acervo civilizatório,
é símbolo de conhecimento, de pensamento, é poder de criação" (Martins, 2024,
10 O 1º Encontro Negruras, promovido pelo Grupo de Pesquisa Negruras, vinculado à Graduação em Teatro da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e liderado pelo Prof. Dr. Altemar Di Monteiro, teve como
objetivo compartilhar processos de pesquisa voltados às performatividades negras e periféricas na cena
contemporânea. O evento ocorreu no dia 30 de novembro de 2024, no Espaço do Conhecimento da UFMG,
e foi encerrado com uma conferência ministrada pela Profa. Dra. Leda Maria Martins.