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Cartas-performances para um Corpo-sem-Órgãos:
uma pesquisa cartográfica com corpos que escrevem
Leomar Peruzzo
Para citar este artigo:
PERUZZO, Leomar. Cartas-performances para um Corpo-
sem-Órgãos: uma pesquisa cartográfica com corpos que
escrevem.
Urdimento
Revista de Estudos em Artes
Cênicas, Florianópolis, v. 1, n. 54, abr. 2025.
DOI: 10.5965/1414573101542025e120
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Cartas-performances para um Corpo-sem-Órgãos: uma pesquisa cartográfica com corpos que
escrevem1
Leomar Peruzzo2
Resumo
A trama de textos
que está posta apresenta reflexões em torno de práticas para um Corpo-
sem-Órgãos, envolvendo a escrita de cartas-performances. Em uma abordagem cartográfica,
o percurso de pesquisa criou modos de escrita e imagens de camadas dos corpos
participantes do estudo. O principal objetivo foi a produção de cartas-performances e
conexões entre corpos. Os participantes escreveram cartas e produziram intensidades
expostas no momento de discussão. A filosofia da Diferença de Deleuze e Guattari ofereceu
base conceitual para a análise das caras-performances com linhas e movimentos de
expansão. Ao final, as intensidades dos mapas das conexões e afetos entre corpos formaram
outros mapas.
Palavras-chave
: Cartografia. Cartas-performances. Arte-educação. Corpos que escrevem.
Letters-performances for a Body-without-Organs: a cartographic research with writing bodies
Abstract
In a web of texts, we present reflections on practices for a Body-without-organs involving
the writing of letter-performances. In a cartographic approach, the research path created
modes of writing and layered images of the bodies that took part in it. The main objective of
the research was to produce letter performances and connections between bodies. The
participants wrote letters and produced intensities that were shown during the discussion.
Deleuze and Guattari's Philosophy of Difference provided the conceptual basis for analyzing
letter performances with expanding lines and movements. In the end, the intensities of the
maps of connections and affections between bodies formed other maps.
Keywords:
Cartography. Letters-performances. Art-education. Writing bodies.
Letras-Performances para un cuerpo-sin-órganos: una investigación cartográfica con cuerpos
que escriben
Resumen
La trama de los textos presentados presenta reflexiones sobre prácticas para un Cuerpo-
sin-órganos que implican la redacción de cartas de actuación. En un enfoque cartográfico, el
camino de la investigación creó modos de escritura e imágenes en capas de los cuerpos que
participaron. El objetivo principal era la producción de cartas de actuación y conexiones entre
cuerpos. Los participantes escribieron cartas y produjeron intensidades expuestas durante
la discusión. La filosofía de la diferencia de Deleuze y Guattari ofreció una base conceptual
para el análisis de las representaciones faciales con líneas y movimientos de expansión. Al
final, las intensidades de los mapas de conexiones y afectos entre cuerpos formaron otros
mapas.
Palabras clave
: Cartografía. Letras-performances. Educación artística. Cuerpos que escriben.
1 Revisão ortográfica e gramatical do artigo realizada por Luana Ewald, graduada em Letras Português, Inglês
e Respectivas Literaturas (FURB), Mestre em Educação (FURB) e Doutora em Linguística (UFSC).
2 Doutorado em Educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Mestrado em Educação pela Fundação
Universidade Regional de Blumenau (FURB). Especialização em Gênero e Diversidades na Escola pela UFPR.
Especialização em Artes na Educação Infantil e Anos Iniciais pelo Instituto de Pós-Graduação e Extensão
(IPGEX). Graduação em Artes Visuais pela FURB. Graduação em Teatro pela FURB. Professor de Artes na
Prefeitura Municipal de Blumenau. leomar.peruzzo@uniasselvi.com.br
http://lattes.cnpq.br/5848209975482591 https://orcid.org/0000-0001-5322-142X
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Os planos introdutórios
Figura 1Colagem de corpos. Criação digital do pesquisador.
Acervo do pesquisador, 2023.
A imagem
Colagem de corpos
faz alusão aos corpos que marcaram
presenças, que provocaram conexões, que, em uma colagem de imagens,
afetaram outros corpos que escreveram e estabeleceram conexões instáveis em
planos cartográficos. A colagem digital de corpos foi a principal técnica de criação
de imagens utilizada para conceber icônicas presenças que compõem a pesquisa
de doutorado, criada com base em provocações aos corpos, da qual este artigo
está vinculado. Registros fotográficos do percurso de pesquisa invocam as peles,
os fluidos, as sensações, os nervos, a carne e os ossos. Sob a pele, as sensações
e fluxos de interconectividades, escrita, linhas de fuga e de fluxos vívidos. Esses
registros foram exercícios ensaísticos de escrita e criação de si, que partiram de
micropulsações do corpo, postos como excertos ao longo do texto.
O presente plano da pesquisa investiga corpos que escreveram aos corpos.
É, portanto, uma escrita do corpo que pesquisa. Escrever anunciou a tentativa de
margear a movência do corpo em movimentos aberrantes, para criar outros
modos de se mover no campo da Educação e Arte (Lapoujade, 2015).
Os corpos interagiram conforme os planos e instâncias de vida instauraram
contato entre peles, olhares e o reconhecimento de suas estruturas sensíveis em
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uma dinâmica de criação: de si, do outro e de novas proposições de vida. Essas
instâncias estão interconectadas na medida em que necessitamos da presença do
outro para fortalecer nosso próprio fluxo de vida. A escrita de si, de cartas-
performances e da criação de imagens foram ações que conectaram corpos em
uma dinâmica de composição de conceitos, da docência em Arte e da Educação.
Estamos diante de um rizoma em curso, um conceito gerador de outro conceito,
forças performáticas que operam na cartografia dos percursos de pesquisa. Para
Passos, Kastrup e Escóssia (2009, p. 10), as abordagens tradicionais de pesquisa
são ancoradas em palavras de ordem impostas e “por regras previamente
estabelecidas”.
O recorte do estudo, que aqui está posto, traz fragmentos de um percurso
de pesquisa em arte-educação para doutoramento, desenvolvido entre os anos de
2019 e 20233. A inquietação de desenvolver experimentações de escrita de cartas,
com diferentes grupos de pessoas interessadas em produzir saberes sobre e com
os corpos, foi a principal motivação para este estudo. A intenção de produzir
conhecimento em arte-educação teve por suporte filosófico o pensamento
deleuziano-guattariano (Peruzzo, 2025).
Conceitos filosóficos, e do campo da arte, entrelaçados por provocações
estéticas, por corpos e por uma proposta de escrita, podem lançar outras linhas
para outros corpos. A trama foi criada entre teorias de autores como Deleuze e
Guattari (1992; 1996), Cunha (2011; 2020a; 2020b), Rolnik (2018), Passos, Kastrup e
Escócia (2009), Ribeiro (2022), Schechner (2006), Ciotti (1999; 2014), Saber de Mello
et al. (2020) e Féral (2008). De maneira rizomática, a pesquisa foi construída à
medida que os mapas cartográficos formaram seus planos, linhas e co-nexões. O
estudo aconteceu em um mergulho no universo do que não se pode ver, mas se
pode captar, sentir e escrever.
Fluidos, ideias, pensamentos, sentimentos ou movimentos do ato de
pesquisa em arte e educação marcam o percurso de escrita de cartas ao corpo.
Os conceitos apresentados podem guiar as discussões e a produção de novos
3 A tese de doutoramento intitulada: “Cartas-performances para um corpo-sem-órgãos: três experimentos
em Arte Educação” foi defendida em 2023, vinculada ao programa de Pós-Graduação em Educação da
Universidade Federal do Paraná UFPR envolvendo a formação de professores de arte, corpos que escrevem
e a cartografia como proposição metodológica.
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sentidos e saberes, afinal, “[...] os novos conceitos devem estar em relação com
problemas que são os nossos, com nossa história e sobretudo com nossos
devires” (Deleuze; Guattari, 1992. p. 40).
Em um plano composto por linhas intensivas, surgiram as práticas
cartográficas. Assim, a escrita foi provocada pelos corpos e aos corpos. O ato de
escrita ao corpo, de escrever cartas sustentou uma espécie de plano expressivo
(Peruzzo, 2025). Apresentamos aqui, em fragmentos, partes de um processo que
convida à apreciação do texto integral, que contém inúmeras cartas-
performances, imagens provocativas e devires do corpo em processo de pesquisa.
A carta ou bilhete compostos por destinatário e um remetente pressupõem
uma correspondência, uma troca de imagens-pensamento, com reciprocidade,
seja para responder a uma provocação ou não. Há, nesse ínterim, cartas de amor,
cartas de manutenção dos afetos, cartas de vida e de morte. Também cartas
de comunicação dos acontecimentos que partilham sensações. De modo
abrangente, cartas trazem a ideia de uma escrita informal, desprovida de
hierarquias e com uma proposta de inflexão da própria linguagem da escrita
(Battistelli, 2017).
Trata-se de um plano movente impulsionador de abordagens metodológicas,
direções e criações de práticas para corpos intensivos. A escrita de corpos, com
corpos, com afetos, com papéis, canetas e linhas, em contraponto com os
excessos das telas e e-mails, opera na artesania das conexões sensíveis. não
se escrevem cartas, se escrevem e-mails, se enviam áudios, se lançam
emojis;
mas cartas, estas são raras, sendo itens que compõem arquivos históricos.
Resgatar a linha da escrita, com canetas e riscadores, impulsiona o registro de
efeitos de experiências vividas por corpos (Battistelli, 2017).
Com certa artesania, a escrita de cartas ao corpo construiu um plano
performativo que será detalhado posteriormente. Em experimentação, em um
plano prático, em uma proposta performática, criamos um dispositivo que
movimentou o corpo-pensamento e seus desdobramentos. A carta ao corpo,
chamada carta-performance, operou como um instrumento para sensibilizar um
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CsO4 e para mover afetos cartográficos. Para Cunha (2022),
[...] a cartografia e a pesquisa rizoma nos inspiram com seus modos ético,
estético e político de ver o mundo e, com suas práticas e procedimentos
de pesquisa, favorecem a sensibilização de outras formas de
entendimento que fogem à representação ou à simples recognição do
real, em outras palavras, a busca pelo saber o que se sabe (Cunha,
2022, p. 25).
Uma sobreposição de demandas foi suportada precariamente em uma rotina
que se fez entre movências e conexões, algumas alegres outras exaustivas. A tríade
Educação, Arte e Docência impulsionou outra tríade: estudos, escritas e práticas
do corpo. Performance Arte, Filosofia da Diferença e Arte-Educação. Dessa zona
de inventividade, criamos as camadas das instâncias sensíveis: ao corpo, o que é
do corpo; ao corpo, a linguagem do corpo; ao corpo, uma zona de experimentação
de afetos (Deleuze; Guattari, 1992).
Em movimentos orgânicos, e dados como procedimento metodológico, a
seguinte questão geradora pôde ser levantada: como a escrita de cartas-
performances ao corpo podem mobilizar a produção de um corpo intenso e
intensivo e criar práticas para a construção de um Corpo-sem-Órgãos5? Por meio
da escrita e da expressão performática de cartas ao corpo, criamos uma zona de
turbulência e intenso entrecruzamento de conhecimento de corpos e sobre
corpos que escrevem. O conceito de Corpo-sem-Órgãos propõe, juntamente com
Deleuze, Guattari (1992; 1996) e Artaud (1993) a possibilidade de desenvolver
práticas do corpo que produzam novos modos de existência. A formulação de uma
problemática requer um deslocamento do pensamento em direção aos diagramas
de possibilidades. Para Deleuze e Guattari,
[...] todo conceito remete a um problema, a problemas sem os quais não
teria sentido, e que só podem ser isolados ou compreendidos na medida
de sua solução: estamos aqui diante de um problema concernente à
4 Conceito proposto pelo artista da cena Antonin Artaud (1896 1948) para provocar o corpo e suas
potencialidades. Deleuze e Guattari retomam esse conceito e o atualizam para pensarmos em práticas do
corpo que potencializem o corpo e sua capacidade de afetar e ser afetado.
5 O Conceito de Corpo-Sem-Órgãos proposto por Antonin Artaud em seus experimentos conceituais, poéticos
e práticos foi adotado por Deleuze e Guattari para discutir e propor práticas para a construção de um corpo
sensível, potente e capaz de propor encontros alegres entre os corpos. Nesse sentido, o professor e a
professora de Arte podem criar estratégias de ensino e aprendizagem que aumentam a potência de agir no
mundo. Essa ação estaria conectada com a produção de corpos alegres, humanos e que construam novos
cenários para uma sociedade justa, coerente, humana e solidária.
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pluralidade dos sujeitos, sua relação, sua apresentação recíproca
(Deleuze; Guattari, 1992, p. 28).
Um corpo presente é sensível e pulsante para se lançar aos processos de
ensino e aprendizagem da arte, nas diversificadas áreas. O objetivo deste artigo
circunda a discussão das práticas e experimentações para a criação de um corpo-
sem-órgãos, ou seja, um corpo intenso e potente para provocar outros corpos a
escreverem sobre si as potências do próprio corpo. O instrumento gerador de
escrita sobre e com corpos surgiu da apropriação da definição de carta e da
performance Arte. O campo da arte procura pensar a ação do corpo em contexto,
arranjos de elementos dramatizados e visualidades, para criar uma ação
performática, que possa provocar outros corpos.
Na Performance Arte, ocorre a modificação de alguns procedimentos
criativos, considerando a ação do corpo em contexto. Essa alteração decorre de
uma atitude de pesquisa que transforma o participante e o pesquisador como
performers
que interagem com elementos imagéticos, com um jogo de
representação, com a recepção da percepção do corpo em contexto. Trata-se de
um ator-espectador-pesquisador que conduz um jogo de escrita sobre, ao e com
o corpo, e os fluxos de saberes que surgem da escrita (Féral, 2008; Schechner,
2006).
A partir da montagem do diagrama da pesquisa e da busca de identificar a
natureza da problemática, levantei a suposição de um movimento em direção aos
elementos que poderiam responder os questionamentos. Os problemas são
formulados para que uma zona fixa, aparentemente estável, possa ser
desmontada, e, nesse movimento, encontrar novos arranjos (Deleuze; Guattari,
1992).
Utilizamos imagens, fragmentos, poéticas e cartas ao corpo, elementos e
grafias movimentados em linhas rizomáticas, mapa com entradas e saídas,
fragmentações, corpos e práticas, ações em arte-educação e performatividades
que se agruparam em um uno/múltiplo (Peruzzo, 2025). Invocamos uma escrita
de pesquisa performativa (Saber de Mello et. al., 2020), na qual pudéssemos operar
misturas e deslocamentos capazes de determinar:
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estados de coisas quantitativos e qualitativos, dimensões de um
conjunto. Uma escrita que convoca elementos diversos: imagens,
tamanhos de letras, recursos poéticos e interconectividades para fins de
expressar percepções e sentidos, verbos que atuam junto ao
observador/escritor: "crescer", "diminuir”, “avermelhar", "verdejar",
"cortar", "ser cortado" etc. (Deleuze, 1974, p. 8, aspas no original).
Com a intensidade do avermelhar, na próxima seção, apresento as linhas e
abordagens metodológicas deste estudo.
Cartografar e compor o rizoma
Figura 2 Imagem Passagem. Criação do CorpoDança Um.
Acervo do pesquisador, 2021.
Na imagem, observamos camadas de corpos, mapa dos afetos, linhas que
criam formas. As camadas podem ser vazias ou tomadas pelas sensações ou
fluxos vermelhos. As conexões, aparentemente insanas, se estabelecem em um
mapa que pode ser acessado por qualquer ponto ou pode ser desconectado para
criar outras combinações potentes. Um rizoma expande seus caules e suas
extensões para criar outras plantas. Essa analogia implica a expansão conceitual
de modos de pensamento, de conexões conceituais e de linhas que podem
produzir mapas de intensidade. Concordando com Silva (2020, p. 09):
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Os caminhos e (des)caminhos, o roteiro prévio, bem como os desvios da
pesquisa, provocaram a reflexividade na/da/com uma prática
ressignificada e constituinte do docente-gente que ao narrar-pesquisar,
pesquisar-narrar, busca criar um movimento dialógico de reflexão,
(per)formação e constituição identitária que revelam e afirmam ou não,
um modo de ser-estar na docência.
As cartas, como gêneros discursivos, preveem uma intencionalidade de
comunicação e interação entre as pessoas, existente a milhares de séculos, sendo
utilizadas para enviar mensagens e comunicados. O ato da escrita de cartas
construiu história ao longo dos séculos, e a carta, enquanto gênero, possui três
dimensões: “Aspectos tipológicos. Domínios sociais de comunicação. Capacidades
de linguagem dominantes” (Soligo, 2007, p. 17). Neste estudo, a carta operou como
um recurso de registro, de comunicação e que está, atualmente, entre os recursos
comunicativos em desuso, diante da intensa e instantânea presença dos
aplicativos de envio de mensagens. Segundo a pesquisadora, podemos destacar
algumas características quanto ao gênero carta:
1.
Relatar
responde à necessidade de memorização e registro das ações
humanas e pressupõe representar, pelo discurso, experiências vividas,
situadas no tempo. 2.
Argumentar
responde à necessidade de discussão
de questões complexas, problemáticas controversas, temas polêmicos e
requer a tomada de posição pela defesa, refutação e negociação de
pontos de vista. 3.
Narrar
diz respeito à produção de literatura ficcional e
implica criar tramas, enredos, intrigas, no domínio do verossímil. 4.
Expor
responde à necessidade de comunicação de saberes e conhecimentos e
implica apresentar temas, conceitos, explicações, conclusões. 5.
Descrever
ações relaciona-se geralmente à necessidade de elaborar
instruções e prescrições e mobiliza a capacidade de regulação da ação
do outro (Soligo, 2007, p. 17, grifos da autora).
Nesse sentido, o ato de narrar marcas decalcadas nos corpos de
participantes, expor as memórias, descrever as superfícies sensíveis do corpo, foi
interconectado com o ato de argumentar em torno dos conceitos abordados na
pesquisa. O estudo, por conseguinte, apresentou suas linhas originais nos modos
de escrita, de registrar cartas em três momentos distintos, e no mapeamento de
encontros de corpos. O Corpo-sem-Órgãos, um corpo potente, atravessou as
cartas-performances e exigiu o olhar que os afetos, que identificou as linhas
sinuosas dos corpos, e reuniu as vozes que dizem sobre movências do
pensamento. A tessitura do texto foi composta por provocações que se originam
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de cadernos de registro do pesquisador e as possíveis transposições dos cadernos
ao corpo: “[...] couro vivo inscrito, cicatrizado de mundo. A construção poética do
texto visa possibilitar brechas para que cada leitor(a) tenha uma experiência
particular aliada a seu próprio corpo e a construção do mesmo” (Brites, 2017, p.
27).
A pesquisa é um complexo de palavras, conceitos e afetos para pensarmos
as práticas para corpos que são compostos de memórias, camadas de pele, fluxos
de fluidos, órgãos e sentidos. Nela, entra em debate acerca do corpo como um
agente do movimento de aprendizagem, de produção de sentidos, de experiências
de pensamento e da produção de outros corpos. Tendo isso em vista, recorro a
palavras, inexatas, para indicar exatidão ou indicar zonas de imanência. Três
momentos de escrita, três percursos de teorias dançantes, três momentos de
análise cartográfica e muitos corpos em meu corpo de professor-performer.
Definir as questões geradoras da pesquisa desloca os fluxos de docência em
Arte para o campo da produção de outros modos de considerar o corpo e seus
afetamentos
. Para que a pesquisa assuma um plano cartográfico, rizomático e
performático, recorro, então, à Filosofia da Diferença e a Performance Arte
(Deleuze e Guattari, 1992; 1996; Cunha, 2011; 2020a; 2020b; 2022; Rolnik, 2018;
Passos; Kastrup; Escócia, 2009; Ribeiro, 2022; Schechner, 2006).
Em uma pesquisa rizoma, ou em uma pesquisa cartográfica, com
participantes, professores em atividade, estudantes de licenciatura e estudantes
de produção cênica, os corpos em escrita se conectam a outros corpos. Esta é
uma provocação ética e estética para pensarmos em práticas ou afetos alegres
entre corpos que possam fazer surgir novos modos de existência. Uma política
dos afetos para aumentar a potência6 de agir na produção de alegria. Nesse
sentido, recorro ao conceito de Corpo-sem-Órgãos, cunhado por Artaud (1993) em
seu Teatro da Crueldade. Ele buscava questionar a ordem do corpo, subverter a
6 O conceito de potência é proposto por Baruch de Spinoza e retomado por Deleuze e Guattari para discutir
o corpo em sua existência é capaz de afetar e ser afetado. Um corpo que existe em conexão com outros
corpos e que deixa vestígios por meio dos afetos. Corpos que aprendem, ao longo da existência, a conhecer
a dinâmica dos afetos para que possamos criar encontros alegres, afetuosos e amorosos. Para Spinoza o
corpo exposto aos afetos é resultado das dinâmicas de sensações e pensamentos. Pare ele essas duas
dimensões são indissociáveis de modo que não há ‘penso logo existo’. Há um corpo e seus afetos: afeta e é
afetado ao longo de sua ação no mundo. A questão O que pode um corpo? Está conectada com esse
conceito para mobilizar experiências do corpo sensível em provocar encontros com outros corpos.
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organização imposta pela linguagem e os mecanismos de captura das instituições
ou os mecanismos tecnológicos, para devolver a potência que é inerente ao corpo.
Trata-se do poder de afetar e ser afetado, o poder de promover encontros alegres,
aqueles que aumentam a potência de agir no mundo (Deleuze, 2000; Deleuze;
Guattari, 1996; Artaud, 1993). Esse conceito apropriado por Deleuze e Guattari
(1996), no terceiro volume de
Mil platôs,
busca criar zonas de experimentação
estética para nutrir um Corpo-sem-Órgãos intenso, prudente e capaz de gerar
encontros alegres.
A luta por criar práticas para um Corpo-sem-Órgãos (Artaud, 1993) é um
percurso que requer abalar a organização do corpo e suas próprias noções para
fazer nascer um modo de viver o próprio corpo intensamente, com uma potência,
ao ponto de criar um devir sensível. Um corpo consiste em uma unidade de
constante movimento, de capacidade relacional, de afetar e ser afetado: um
sistema complexo de movimento e repouso. Uma pesquisa em arte-educação
exige considerar a capacidade de afetar e ser afetado por outros corpos,
constituindo movimentos constantes de produção do conhecimento.
Para Passos, Kastrup e Escóssia (2009, p. 10), as abordagens tradicionais de
pesquisa são ancoradas em palavras de ordem impostas e “por regras
previamente estabelecidas”. "Uma proposta tradicional de pesquisa geralmente
apresenta previamente suas metas para serem alcançadas. uma abordagem de
pesquisa acêntrica, estabelecida em percurso, que lança olhares para corpos e
acontecimentos, exige certa inversão metodológica" (Peruzzo, 2025, p. 119). “Essa
reversão consiste numa aposta na experimentação do pensamento - um método
não para ser aplicado, mas para ser experimentado” (Passos; Kastrup; Escóssia,
2009, p. 10). A cartografia como proposta de produção de novos conhecimentos
está debatida por Gilles Deleuze e Félix Guattari (1995), no primeiro volume de
Mil
Platôs: Capitalismo e esquizofrenia
. Essa obra traz princípios que orientam a
proposição de um rizoma.
Conceito que estes autores emprestam da botânica como resistência
ético-estético-política para compreender as produções sociais. Trata-se
de linhas e não de formas, o rizoma não se fecha sobre si, é aberto a
experimentações, é sempre ultrapassado por outras linhas de
intensidade que o atravessam. Assim, a cartografia vai mapear tais linhas
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constitutivas das coisas e dos acontecimentos ao explorar territórios
existenciais e assim, acompanhar processos de produção de
subjetividade de forma a criar um mapa móvel [...] (Passos; Kastrup;
Escóssia, 2009, p. 10).
Inspirado por essas concepções, proponho a sobreposição entre o conceitual
e a prática da escrita de cartas ao corpo e à Performance Arte. Logo, os modos de
encaminhar as experimentações com as cartas-performances tiveram como
objetivo acessar um espaço “entre” dizer, ver, expressar, sentir, perceber, pautado
pelos conceitos de Corpo-sem-Órgãos, Rizoma (seus princípios de conexões,
multiplicidades e ruptura a-significante), entre outros vindos de Deleuze e Guattari
(1992; 1995; 1996).
Este estudo ousa tramar um rizoma dialogando com três formas de pensar
discutidas por Deleuze e Guattari (1992), em
O que é Filosofia?
. Para eles, a Arte, a
Ciência e a Filosofia são três modos de “enfrentar o caos, traçar um plano, esboçar
um plano sobre o caos” (p. 82). São três modos de pensar e três atravessamentos
que podem entrar em composição numa análise que envolva a diferença.
Mais que um conceito, o rizoma é uma prática que possui elementos e
princípios que se organizam para fins de possibilitar uma produção de
conhecimento que opere com os limites que se impõem no interior do
próprio conhecimento. O rizoma como procedimento metodológico,
quando rastreia os efeitos de um limite definido como diferença, indica
um modo de proceder que se utiliza de elementos e princípios
ressignificados do estruturalismo [...] (Cunha, 2020b, p. 60-61).
Entendo-me como um
professor-performer
7, um pesquisador atravessado
pelas práticas escolarizadas, pelos afetos de um grupo de pesquisa. Nessa múltipla
existencialidade, também entendo que, na busca de uma escrita performativa, não
compus sozinho, mas compusemos afetos e movimentos ressonantes. Criamos
um rizoma, uma escrita de tese original para dizer da “multiplicidade” que me
envolve e, também,
como apreensão da realidade, [o que pode] envolve[r] um conjunto de
7 Quanto ao professor-performer e à docência inventiva, híbrida, em movência, em afetos e afetações,
algumas definições. O professor-performer (Ciotti, 1999; 2014) opera a pesquisa, a docência, a escrita e a
inventividade nesse plano de produção de sentidos. Esse conceito mobiliza a tese de uma docência
inventiva, híbrida e atravessada pelos afetos. A docência em Arte é atravessada pela escrita de cartas ao
corpo como uma prática para a construção de um Corpo-sem-Órgãos, um corpo potente e inventivo em
suas dinâmicas da sensação. Um corpo é capaz de afetar e ser afetado nos encontros com outros corpos.
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elementos objetivos e subjetivos que atravessam a tela do real, por isso
é preciso um mapa ou uma análise em movimento, intempestiva,
rizomática, que aborde a um tempo o movimento da existência e o
ponto de incidência sobre o sujeito (Cunha, 2022, p. 32).
Os rituais cotidianos, os modos de agir nas mais variadas atividades, são foco
de estudo deste campo indisciplinado. Para Richard Schechner (2006), as
performances constituem modos de comportamento, de construção das
identidades, de atitudes no tempo e espaço para desempenhar atividades. No
campo da Arte, essas ações corporais, restauradas e remontadas, podem interferir
nas velocidades cotidianas, remodelam corpos, adornam e dizem das marcas
impressas nos corpos.
Das performances de Arte, surge a possibilidade de voltar olhares ao corpo
que percorre trajetos escolares em estudo e desenvolvimento de saberes. Desse
campo indisciplinado, mestiço e híbrido, despontam as experimentações do corpo
e a escrita como um processo de atualizar os corpos. As “performances de arte,
rituais, ou da vida cotidiana são ‘comportamentos restaurados’,
‘comportamentos duas vezes experienciados’, ações realizadas para as quais as
pessoas treinam e ensaiam” (Schechner, 2006, p. 2).
Faço a opção por um arranjo de conceitos, por meio da cartografia ou da
pesquisa rizoma, para criar uma zona de movência, pós-estruturalista, contínua e
que pudesse tecer “[...] uma saída possível para escapar dos fios, vetores, linhas
molares, moleculares, dos tentáculos do capitalismo [...]” (Cunha, 2022, p. 33). A
intencionalidade provocou movimentações conceituais para identificar as linhas
estruturais e poder traçar um percurso em fuga, um entre, uma fenda na estrutura
e encontros com afetos alegres. Esse modo de propor práticas requer “a
percepção investigativa [que] atenção ao ‘entre’ ou às relações com as quais as
coisas se mostram; também significa, na concepção deleuziana-guattariana,
entender que o que existe da ordem do material ou do imaterial remete ao
múltiplo” (Cunha, 2022, p. 34).
Com esse panorama rizomático, apresento, na próxima seção, alguns
fragmentos dos experimentos com cartas-performances de momentos distintos.
Cartas-performances para um Corpo-sem-Órgãos: uma pesquisa cartográfica com corpos que escrevem
Leomar Peruzzo
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Achados das escritas de cartas-performances ao corpo
Figura 3 Carta ao meu corpo. Criação do CorpoTela Cinco. Acervo do pesquisador, 2023
Neste momento do percurso de estudos, as linhas que tecem os mapas dos
afetos que as cartas-performances apresentaram são ativadas. A linha-guia da
tese-corpo-rizoma foi discutir práticas para a construção de um corpo intensivo e
intenso ou um Corpo-sem-Órgãos por meio de cartas-performances. O Corpo-
sem-Órgãos é o corpo das superfícies sensíveis, da dinâmica de afetos, da
sensação, da materialidade vermelha, das forças orgásticas, da linguagem, do
mover, do gesto, da presença no espaço, tempo e lugar. O corpo é a prática da
existência que permite experimentar os planos vívidos. (Deleuze, Guattari, 1992;
1996; Cunha, 2011; 2020a; 2020b; 2022).
Para apresentar as cartas-performances escritas em três momentos
distintos da pesquisa, elegemos princípios do rizoma-conceito. Selecionamos a
cartografia para tecer os mapas de afetos, as conexões e multiplicidades
presentes nas cartas-performances. Essas linhas-guia criam um plano para
apresentar os elementos que desvelam dinâmicas de afetos entre corpos, o que
também é uma dinâmica de aprendizagem e de pensamento. Nesses termos,
três princípios-guia eleitos para navegar no mapa de afetos das cartas-
performances: conexões, multiplicidades e ruptura a-significante.
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Um rizoma é anárquico quando propõe planos de conexões com elementos
aparentemente desconexos. Esse princípio opera na tecitura sensível dos corpos
em um ato de produção de sabres, mesmo sendo provisórios. Geram-se conexões
com atravessamentos que surgem da escrita de cartas-performances. Nesse
mapa, a multiplicidade surge como um princípio-guia selecionado por ser zona de
co-existência de forças, simultaneidades e afetos que as cartas podem apresentar.
O último princípio selecionado para esta etapa do mapeamento de intensidades é
a ruptura a-significante. Esse princípio anuncia o mapeamento das rupturas de
linhas fixas, da estrutura posta dos corpos que escreveram cartas-performances
(Deleuze; Guattari, 1992; 1996).
O primeiro momento de encontros e de geração de dados, gestos do corpo,
foi a escrita e a leitura de cartas por meio da plataforma digital
Google Meet
, em
27 de agosto de 2021
.
Com os encontros presenciais adiados, em virtude dos
tempos de isolamento social causado pela covid-19, os corpos e a pesquisa foram
lançados aos labirintos dos espaços virtuais, das telas, das plataformas de
reuniões virtuais. A ação ocorreu como parte do projeto de extensão chamado de
“Experimenta Rizoma”, coordenado pela professora Dra. Cláudia Madruga Cunha.
O projeto é vinculado à linha de pesquisa LICORES – Linguagem, Corpo e Estética
na Educação, do Programa de Pós-graduação em Educação Mestrado e
Doutorado, da Universidade federal do Paraná – UFPR.
O desafio lançado foi realizar uma leitura performatizada das cartas-
performances: partilha do conteúdo escrito em uma ação de escuta. Solicitamos
para que cada participante sugerisse um modo de recepção da leitura da carta. As
sugestões para a leitura da carta-performance que surgiram foram: deitados,
andando, em sobre a cadeira, balançando os braços, modificando posições
corporais constantemente, para potencializar a recepção da leitura das cartas.
Os momentos de leitura foram marcados por relatos emocionantes de
percepções pessoais do próprio corpo e de afetos revolvidos nesse processo. No
total, onze cartas foram percorridas nas suas apresentações. O primeiro plano a
ser apresentado trata das conexões, que podem ser de ordens distintas,
heterogêneas ou reunir elementos que, aparentemente, são desconexos.
“Qualquer ponto de um rizoma pode ser conectado a qualquer outro e deve sê-lo.
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É muito diferente da árvore ou da raiz que fixam um ponto, uma ordem” (Deleuze;
Guattari, p. 14).
As conexões são princípios fundadores do rizoma e onde os mapas, mesmo
em sua provisoriedade, são configurados. As cartas-performances apresentaram
inúmeras conexões entre corpos, com dimensões de si, com atravessamentos de
outros corpos. Na escrita do CorpoTela Um8, identificamos algumas questões
presentes na carta: “Corpo que sente? Que pensa? Corpo que move? Corpo
engessado, vendido, nominado, endeusado, abatido? Ao pensar em você, corpo,
logo, me vem à mente que corpos em um corpo” (CorpoTela Um, 2021). Em
outro trecho, o participante afirma que o corpo “[...] aquece abriga, esconde, sufoca
e mascara teus recados, tuas falas, às vezes desesperadas, outras pacíficas,
gritantes ou silenciosas. [...]” (CorpoTela Um, 2021).
Os trechos trazem as conexões do CorpoTela Um com seu corpo em sua
dimensão sensível, assim como o CorpoTela Quatro e o Cinco: “Querido corpo, me
ensinaram a te chamar assim, não vejo outra palavra, mas eu queria mesmo era
que você se chamasse vento, mais eu lembro que és meu papiro existencial [...]”
(CorpoTela Quatro, 2021). E “[...] meu amor chega e desperto a falar com ele da
tristeza das mortes evitáveis, do genocídio pandêmico e do genocídio negro e
indígena, que nunca cessaram” (CorpoTela Cinco, 2021).
Esse experimento buscou fortalecer as potências do corpo e, quem sabe,
criar modos outros de existência, capazes de recriar corpos expressivos e afetivos,
no diálogo entre teatralidades, performatividades, práticas dançantes e
ressonantes que evocam rupturas com moldes da cultura. Esse ato criativo de
contracultura, de reinvenção de si (Rolnik, 2018; Ribeiro, 2022), trata de uma atitude
inventiva que surge do rompimento, mesmo que por alguns momentos, dos
hábitos cotidianos, dos automatismos, das cópias compulsivas, da repetição
reprodutiva.
O segundo experimento com as cartas-performances foi desenvolvido na
retomada de encontros presenciais. A proposta foi estruturada para oferecer aos
estudantes de licenciatura em Dança e em Teatro da Universidade Regional de
8 Nomenclatura criada para identificar cada momento de escrita e preservar a identidade dos participantes.
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Blumenau - FURB, a escrita, leitura e prática de cartas-performances. As duas
turmas (Teatro e Dança) participaram do encontro que aconteceu no dia 02 de
dezembro de 2021, no período noturno, das 18 horas e 30 minutos até às 22 horas.
Durante o encontro, propusemos a escrita e a leitura de cartas-performances, a
criação de performances partindo das cartas escritas e, posteriormente, ocorreu
a criação de imagens (uma espécie de colagem digital). Os dados selecionados
para compor esta seção da pesquisa foram as cartas-performances e as imagens
elaboradas. Naquele momento, contamos com sete participantes, sete cartas, e
seis imagens. Nesse segundo experimento, juntamente com os estudantes de
Dança e Teatro, encontramos, em suas cartas-performances, a busca por um
corpo potente para a criação de arte, docência e para a vida.
Esse momento reuniu os efeitos dos encontros, das provocações de ordem
sensível, das moléculas dançantes, das potências alegres, e instaurou velocidades
outras para os movimentos corporais. O corpo, uma zona de matéria vibrátil, de
extensões nervosas, de potência para deslocamentos afetuosos, sem sujeições,
submissões, controle de desejos ou de manutenção da estrutura fixada na
extensão dos corpos, foi convocado (Rolnik, 2018). Buscar
[...] um corpo refeito com a invenção da Arte, do teatro, da dança, capaz
de suspender todas as fronteiras e os limites anatômicos, médicos,
geográficos que se impõe ao corpo. Corpo com uma plasticidade
infinitamente deformável, ao avesso de toda anatomia e normalização
clínica e regular (Ribeiro, 2022, p. 283).
O corpo, matéria sensível, em conexões e encontros, emite uma espécie de
noção que o envia para a Arte, em educação e em vida vivível. Fazer do corpo uma
extensão sensível com toda sua capacidade de matéria pensante, de devir-corpo,
de instaurar a movência do pensamento e o desencadeamento de movimentos
poéticos em práticas para um CsO. Nesse momento de escrita de cartas-
performances, os corpos romperam o isolamento social para, no encontro,
provocar afetos alegres. Os trechos pinçados das cartas-performances
apresentam outras conexões, multiplicidades e rupturas a-significantes que estão
postas no plano da discussão da pesquisa.
O encontro foi iniciado com uma provocação de aquecimento aos corpos
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com movimentações livres pela sala e com ritmos, velocidades, saltos e diferentes
maneiras de se mover pelo espaço. Essa atitude intensificou as estruturas
corporais para o momento seguinte. Uma ação que se diferenciou do primeiro
momento foi a presença dos corpos no espaço da Universidade. As conexões se
deram na ordem de presenças, extensão e materialidades. O percurso proposto
intencionava, além de conectar os corpos em sua potência de afetar e ser afetado,
buscar “um corpo vazado, um corpo poroso, sem superfície, sem fronteira, sem
órgãos, alienado e desfigurado. Um corpo com a resposta para a pergunta: o que
é “Eu mesmo?” (Ribeiro, 2022, p. 280).
Os CorposDança se conectaram pelas atividades propostas. Logo,
selecionamos trechos da escrita para as conexões possíveis. “Atravessados pelo
infinito de fora, no qual o dentro e o fora perdem seus limites” [...], os CorposDança
traduziram “sua experiência de vertigem e dissolução numa escrita-fluxo de
esvaziamento, transbordamento e desfiguração” (Ribeiro, 2022, p. 280).
Os CorposDança Um e Sete teceram conexões em torno das questões de
cuidado e de reconciliação com o próprio corpo. O desfazimento das violências
cometidas ao próprio corpo é tema que aparece com frequência nos trechos
selecionados a seguir:
Reconheço que não tenho sido muito atencioso com você nos últimos
meses. Estou tentando nos curar dessas feridas. E prometo que nunca
mais irei te machucar novamente, pelo menos não de propósito as vezes
esqueço que é graças a você que consigo correr atrás dos meus sonhos,
quer dizer, dos nossos (CorpoDança Um, 2021).
Deixe se permitir, mergulhar, se aprofundar. Desculpa cada dia, cada
parte, cada movimento. Você corpo não é apenas um objeto, como
qualquer outro, você corpo não é um brinquedo, para ser usado e depois
jogado fora. Cuida-se de você corpo, sinta-se o que há de melhor em
você, proteja-se dos outros. Liberte-se (CorpoDança Sete, 2021).
Os trechos teceram conexões com uma sensibilidade do corpo, com um devir
sensível aos modos de um CsO. “Ao avesso desse corpo-manequim-cadáver se
impõe a anatomia furtiva de um corpo vapor, corpo-pássaro, devir homem-animal,
corpo monstruoso que dança às avessas” (Ribeiro, 2022, p. 283). O principal afeto
que os CorposDança apresentaram em suas conexões foram as percepções do
cuidado não oferecido ao corpo e a necessidade de mudar atitudes, considerando
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o corpo como uma zona vívida, que requer cuidado, como materialidade que
permite experimentar o mundo. O CorpoDança Três mergulhou nas presenças do
próprio corpo, afirmando a necessidade de fazer a manutenção de atitudes vivas,
e que preservem suas potências. O trecho a seguir sinaliza para essas conexões:
“É bom sentir teu toque, acho lindo como você toca em si e também lindo o toque
do outro em você. Eu sei que a coragem vem de dentro, sou eu que impulsiono
você, mas as vezes você não me responde e eu fico preocupado” (CorpoDança
Três, 2021).
Os dados do terceiro momento foram gerados numa disciplina vinculada ao
sexto semestre do currículo do Curso Tecnólogo em Produção Cênica, situado no
Setor de Educação tecnológica SEPT. O nomadismo desse último percurso de
geração de cartas-performances se deu de quando em quando, durante o estágio
de formação docente, supervisionado pela professora Dra. Cláudia Madruga Cunha,
vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal
do Paraná – UFPR. O estágio de docência foi estruturado para propor um percurso
de estudo, criação e discussão de experimentações cênicas, em que a escrita de
cartas-performances foi um disparador para desdobramentos das criações
cênicas.
Os estudantes demonstraram entusiasmo na participação das atividades e a
ideia de escrita de cartas-performances para o corpo e seus desdobramentos
formaram as práticas criativas e criadoras para a cena teatral. A carta-
performance para o corpo configurou um dispositivo que permitiu disparar
processo criativo de escrita de si e revolveu as percepções de corpo, as ideias de
corpo. Em alternância, a carta-performance para o corpo também constrói novas
percepções do corpo, do corpo em arte ou do corpo como zona dos sentidos e
das experimentações da vida. A escrita de si é como uma provocação aos modos
de vivenciar o próprio corpo, em diferentes situações da vida, e de percepção de
como reagimos a situações conflitantes ou de crise. O corpo, como algo produzido
por instâncias biológicas, culturais, sociais, filosóficas, artísticas, estéticas,
tecnológicas, antropológicas e científicas, está sempre à deriva. As práticas e
estudos propostos foram direcionados para a instauração de um coletivo
experimental, de caráter processual e de partilha.
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E quando falamos em corpo, dizemos que um corpo existe com isto
é, no encontro com outros corpos, no acontecimento: é no
compartilhamento desse roçar do íntimo com a realidade que se
experimentam ficções do real que possam enfrentar os processos de
subjetivação e suas realidades intimidantes (Ribeiro, 2022, p. 66).
Os achados coletados a seguir tratam do terceiro experimento, que
denominamos por CorposCena, por remeterem às conexões, às forças e outras
dinâmicas que os atravessaram. Recortei alguns trechos expostos nas cartas ao
corpo: “Olá, querido corpo, como vai você? Levando em conta essas dores nas
costas e o joelho ruim, eu diria que não muito bem, sem falar dos inúmeros
hematomas que na maioria das vezes eu não faço ideia de como os consegui”
(CorpoCena Um, 2022).
Carregamos alguns traumas, dores, decepções, insanidades, tristezas... E
tudo isso guardado rente aos ossos, à flor da pele; tudo isso a um suspiro
de exalar, engatilhado a qualquer memória que te angústia (CorpoCena
Sete, 2022).
Escrevo esta carta como um gesto singelo dos meus sinceros
agradecimentos, principalmente por me proporcionar as mais diversas
possibilidades, desde movimentos a sensações. Tão grata por sua
lealdade (CorpoCena Três, 2022).
As conexões postas nos trechos anunciam as intensidades dos CorposCena
elaborando espaços para o surgimento do que carregam os corpos e suas marcas.
A constatação de que as substâncias conscientes de sua matéria sensível se
aproximam pelos espaços, pelo entre, pelo que nos afeta. Esse modo conectivo
[...] pode traçar outros modos de ação e escapar às estruturas de poder
e ao fechamento da representação, pois toda aproximação de corpos
produz uma certa composição que nos acomete, fundando novas
conexões que agitam e abalam nossa subjetividade (Ribeiro, 2022, p. 196).
O terceiro momento de escrita de cartas aconteceu com diferenças e
variações, com corpos e provocações, com a “[..] invenção de novas realidades,
numa ressignificação política (nanopolítica) e afetiva dos corpos” (Ribeiro, 2022, p.
187). Para além de questões geográficas, de outros corpos, de extensões
específicas de atitudes do
professor-performer
em estágio de docência, os corpos
escreveram como processo de busca por um corpo disponível para a arte e
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educação. No processo de escrita de cartas-performances, os corpos convocaram
“[...] na duração e intensidade das coisas ínfimas do mundo, nas afectibilidades
dos corpos, uma vida artista, na invenção de uma nova língua que não seja mais a
imitação de uma fala hegemônica colonizadora, para uma nanopolítica de corpos
biopotentes” (Ribeiro, 2022, p. 188).
Esse plano de [des]educação dos corpos trouxe particularidades na escrita
de si, que foram diferenciais nas cartas-performances apresentadas nos dois
momentos anteriores. Os participantes desafiaram seus corpos e suas estruturas
ao realizarem escritas de si, como nos diz Ribeiro (2022): “[...] nossos corpos,
apartados da vida, dóceis, simulam estratégias para preservar e continuam, como
zumbis, a caminhar sobre a terra”’ (Ribeiro 2022, p. 188). As cartas-performances
operaram como dispositivos de desestabilização desse sistema biopolítico
mencionado pela pesquisadora. “O complexo sistema biopolítico fabrica ilusões de
resposta ao mal-estar que sentimos enquanto sujeitos fraturados, anestesiando a
dor de uma ferida permanentemente aberta e que se aprofunda nos corpos”
(Ribeiro, 2022, p. 188).
Na próxima e última seção deste artigo, apresento alguns apontamentos
finais sobre o percurso rizomático de pesquisa.
Linhas inconclusas
Figura 4 Ao meu corpo. Criação do CorpoDança Cinco. Acervo do pesquisador, 2023.
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Nessa experimentação (1) em fase de isolamento, percebemos os efeitos, ou
afetos, que evocavam os reencontros entre corpos e com a escrita aos corpos em
estado de solidão. Os exercícios ensaísticos de escrita e criação de si
desenvolveram uma espécie de micropulsações do corpo e estão postos no
decorrer do artigo como excertos. Denominamos de escrita performativa este
recurso que utilizo, escrita que se abre a posicionar elementos e a visibilizá-los
por meio da prática de inserir fragmentos vindos da Arte. Propusemos, neste
estudo, um modo de registrar corpos, de escrever sobre si, de caminhar um
caminho, de reunir artefatos que podem compor uma pesquisa em Arte-
Educação. Uma bricolagem de afetos, uma artesania de si, escrita em rasgos do
espaço da página. Conexões,
intertransmovências
de um escrever no espaço da
produção de sentidos. o risco do erro, de perder o corpo em movimentos da
própria escrita, de extrapolar as superfícies sensíveis com erupções de afetos. A
escrita de cartas ao corpo convocou uma zona performativa com gestos de escrita
de si, para seu corpo e aos corpos que habitavam os corpos que escrevem.
Trata-se de um gesto de escrita que invocou os afetos dos corpos, de um
gesto performático que lançou as cartas-performances ao campo da pesquisa em
Arte-Educação: uma zona criativa e criadora. É criativa na ação de ser capaz de
criar um gesto novo e original, e criadora, que pode produzir conexões outras com
o próprio corpo, com saberes do corpo e com outros corpos.
A escrita inventiva de cartas-performances foi como um motor mobilizador,
inventor, compositor de corpos intensos: um Corpo-sem-Órgãos que desafiou a
cafetinagem do desejo pela cultura ocidental colonial-capitalística, ou instigou a
potência criativa dos corpos. Ao retomar a questão problema do estudo (Como a
escrita de cartas-performances ao corpo mobiliza a produção de um corpo
intenso e intensivo ou um CsO?) (Peruzzo, 2025), destaco alguns aspectos: a
prática de escrita pode ser definida como uma caminhada composta no caminho
e um modo de rasgar a superfície dos corpos e registrar efeitos. Como resposta
para a problemática, surgiram as conexões que as cartas trouxeram, os efeitos e
fluxos mobilizados nas ações moventes em direção ao corpo intenso. Um
refazimento dos fluxos vitais, das relações entre corpos e da variação contínua
moldada pelas forças cotidianas (Rolnik, 2018).
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As cartas-performances operaram rasgos no plano das superfícies sensíveis
corporais, dos modos de pensarmos os encontros entre corpos. Corpos que
aprendem e que ensinam, que se conectam com saberes que podem produzir
novos saberes (Peruzzo, 2025). As cartas-performances reuniram os afetos dos
corpos gerados pela provocação: escreva uma carta para o corpo! Logo após essa
invocação, as perguntas: “mas que corpo?”, ou “para qual corpo?”, eram
frequentemente expostas. A resposta do
professor-performer
foi: escrevam para
o corpo! A resposta gerou a manutenção de uma zona de interconectividade entre
os corpos, com corpos que habitam os corpos ou com a ideia de corpo. O cuidado
com o corpo e os afetos foi o que frequentemente esteve presente nas cartas.
Para Ribeiro (2022, p. 219), “corpos são blocos de afetos, uma densidade indivisível
que irradia uma presença que não se pode explicar. A presença é alguma coisa de
indeterminado que sempre nos escapa”.
As práticas de escritas de cartas, reunidas neste plano compositivo
cartográfico de pesquisa, constituíram uma proposta de mobilizar um CsO potente
e propulsor de outras práticas para a manutenção de corpos capazes de propor
encontros alegres, de compor com outros corpos, de explorar vidas possíveis. A
escrita pode ser uma prática de um
professor-performer
, aquele que faz de seu
gesto de ensino e aprendizagem de si um rasgo na estrutura posta, nos corpos
enrijecidos pelos sistemas de representação ou pelos mecanismos de controle.
Práticas entre corpos, para corpos e com corpos que, aos modos de uma artesania,
produziram composições de afetos. As práticas de escrita desencadeiam corpos
atentos aos encontros e acontecimentos: “estar atentos ao acontecimento é
provar da experiência de uma comunidade sensível” (Ribeiro, 2022, p. 223).
O atravessamento desse período de contato pelas telas, em flexibilização do
isolamento e em retomada de encontros entre os corpos, reuniu efeitos da
necessidade do contato afetivo com o que acontece dentro e fora dos corpos. A
escrita de cartas-performances, aquelas que mobilizam um gesto de movência
provisória dos corpos, expressou a condição de viventes. Efeitos de superfície que
são disparados pelos encontros. Segundo Rolnik (2018, p. 53), somos dependentes
[...] de um mundo que nos permite captar os sinais das forças que agitam
seu corpo e provocam efeitos em nosso próprio corpo aqui, ambos em
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sua condição de viventes. Tais efeitos decorrem dos encontros que
fazemos com gente, coisas, paisagens, ideias, obras de arte, situações
políticas ou outras etc. , seja presencialmente, seja pelas tecnologias de
informação e comunicação à distância ou por quaisquer outros meios.
Resultam desses encontros mudanças no diagrama de vetores de forças
e das relações entre eles, produzindo novos e distintos efeitos.
Introduzem-se outras maneiras de ver e de sentir, que podemos associar
à experiência [...] de criar caminhando.
Em consonância com a pesquisadora, a escrita de cartas-performances
indicou a modificação dos corpos, transmutação dos afetos em palavras postas
na escrita. Com as cartas-performances, operamos os rasgos no plano das
superfícies sensíveis corporais, dos modos de pensarmos os encontros entre
corpos. Corpos que aprendem e que ensinam, que se conectam com saberes que
podem produzir novos saberes. Acontecimentos entre corpos é como algo que
nos ocorre na superfície da pele, para dentro das conexões cognitivas, em
dinâmicas infinitas.
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Recebido em: 20/09/2024
Aprovado em: 23/11/2024
Universidade do Estado de Santa Catarina
UDESC
Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas
PPGAC
Centro de Artes, Design e ModaCEART
Urdimento
Revista de Estudos em Artes Cênicas
Urdimento.ceart@udesc.br