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Oracular a educação: corpos e escritas em favor de
uma pedagogia das dispersões
André Bocchetti
Priscilla Menezes de Faria
Adrianne Ogêda Guedes
Para citar este artigo:
BOCCHETTI, André; FARIA, Priscilla Menezes de; GUEDES,
Adrianne Ogêda. Oracular a educação: corpos e escritas em
favor de uma pedagogia das dispersões.
Urdimento
Revista
de Estudos em Artes Cênicas, Florianópolis, v. 4, n. 53, dez.
2024.
DOI: 10.5965/1414573104532024e102
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Oracular a educação: corpos e escritas em favor de uma pedagogia das dispersões
André Bocchetti | Priscilla Menezes de Faria | Adrianne Ogêda Guedes
Florianópolis, v.4, n.53, p.1-15, dez. 2024
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Oracular a educação1: corpos e escritas em favor de uma pedagogia das dispersões2
André Bocchetti3
Priscilla Menezes de Faria4
Adrianne Ogêda Guedes5
Resumo
O texto discute as possibilidades de um modo oracular de pensar os processos formativos a partir das
relações entre corpos, movimento e escrita, experimentadas em um curso de extensão desenvolvido
desde o ano de 2020. A noção de oráculo, em suas forças poéticas e de instauração, é debatida e
pensada enquanto modo de produzir e habitar processos criativos fundamentais ao educar, entendido
como gesto em favor da dispersão de sentidos e da multiplicação de oportunidades de fabulação.
Palavras-chave
: Dispositivo oracular. Corpo e escrita. Corpo e educação. Poética. Fabulação.
Oracle the education: bodies and writings in favor of a pedagogy of dispersions
Abstract
The text discusses the possibilities of an oracular way of thinking about formative processes, based on
the relationships between bodies, movement, and writing, as experienced in an extension course
developed since 2020. The notion of the oracle, in its poetic and creative forces, is debated and
conceived as a way of producing and inhabiting creative processes that are fundamental to education,
understood as a gesture in favor of the dispersion of meanings and the multiplication of opportunities
for fabulation.
Keywords:
Oracular apparatus. Body and writing. Body and education. Poetic. Fabulation.
Oracular la educación: cuerpos y escritas en favor de una pedagogía de las dispersiones
Resumen
El texto discute las posibilidades de un modo oracular de pensar a los procesos formativos a partir de
las relaciones entre cuerpos, movimiento y escritura, experimentadas en un curso de extensión
desarrollado desde el año 2020. La noción de oráculo, en sus fuerzas poéticas y de instauración, se
debate y se concibe como un modo de producir y habitar procesos creativos fundamentales para la
educación, aquí entendida como un gesto a favor de la dispersión de sentidos y de la multiplicación de
oportunidades de fabulación.
Palabras clave
: Dispositivo oracular. Cuerpo y escrita. Cuerpo y educación. Poética. Fabulación.
1 Revisão ortográfica, gramatical e contextual do artigo realizada por Luiz Assumpção, jornalista.
2 Este texto foi desenvolvido no âmbito de dois projetos de pesquisa apoiados pela FAPERJ: "“(Des)montagens de um corpo:
cartografando modos de existência em comunidades de educação somática”, contemplado pelo Programa Jovem
Cientista do Nosso Estado, da FAPERJ (Proc.: E-26/200.294/2023) e "O ethos do cuidado na formação docente:
potencializando o corpo, o movimento e a arte como dispositivos do sensível", contemplado com auxílio à pesquisa APQ1
(processo: E-26/210.337/2024).
3 Pós-doutorado pela Concordia University Canadá. Doutorado e Mestrado em Educação pela Universidade de São Paulo
(USP). Especialização em Educação à Distância Pela Universidade Católica de Brasília (UCB/DF). Graduação em Ciências
Biológicas pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Professor Adjunto da Faculdade de Educação e do Programa de
Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). andreb.ufrj@gmail.com
http://lattes.cnpq.br/5057082184074025 https://orcid.org/0000-0002-9773-4734
4 Doutorado e Mestrado em Artes Visuais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ). Graduação em Artes
Plásticas pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Professora Adjunta da Universidade Federal do Estado
do Rio de Janeiro (Unirio). priscilla.menezes@unirio.br
http://lattes.cnpq.br/2833211343881971 https://orcid.org/0000-0003-4004-2128
5 Pós-doutorado pela Universidad Nacional de Mar del Plata (UNMDP) Argentina. Doutorado e Mestrado em Educação pela
Universidade Federal Fluminense (UFF). Especialização em Formação em Docentes Universitários pela Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Graduação em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ). Professora Associada da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). adrianne.guedes@unirio.br
http://lattes.cnpq.br/4803819887549154 https://orcid.org/0000-0001-5632-4539
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Um adivinho Kuba, naquilo que hoje se define como a República do Congo,
recebe seu cliente. À sua frente jaz um objeto de madeira, representando a figura
espelhada de um crocodilo: um animal de quatro patas e com duas cabeças
idênticas, viradas em sentido oposto, unidas por um dorso plano que sustenta um
pequeno acessório também de madeira. Movido pelos problemas de saúde do
visitante, o adivinho unta o tal objeto com óleo, iniciando um conjunto de
afirmações sobre o tratamento do paciente, ao mesmo tempo em que o acessório
desliza de um lado a outro pelas costas do crocodilo de madeira. Em alguns
momentos, o objeto para de escorregar, indicando que a afirmação do curandeiro
deve ser validada. As prescrições para o cuidado com o enfermo vão se delineando
a partir daí.
A conversa que se estabelece entre oráculo e adivinho se sustenta por um
jogo de proposições de tratamento “Não comer mandioca”, “não fumar tabaco”
(LaGamma, 2000, p. 42) e de operações oraculares que atuam sobre elas,
dobrando-as, constrangendo-as e somando-lhes elementos que inventam uma
mensagem lida como caminho de cuidado. Oracular é uma operação poética que
funciona na dispersão de sentidos, produzindo caminhos a partir de uma
multiplicidade de possibilidades semânticas. Em um contexto bem diferente
daquele dos Kuba, nós, professor e professoras de duas universidades no Rio de
Janeiro, nos deparamos com as possibilidades de outro dispositivo oracular, que
nos propôs importantes perguntas sobre o fazer educativo na interface entre
corpo, arte e escrita.
Em 2019, nos reunimos para gestar a criação de um curso em que
pudéssemos experimentar a escrita desde o corpo e movimento6. Num café em
Laranjeiras, bairro eminentemente residencial do Rio de Janeiro, nos reunimos os
três, Priscilla, André e Adrianne. Os dois primeiros nem sequer se conheciam.
Professores de universidades federais do Rio de Janeiro, atuávamos nos enlaces
entre arte, estudos sobre corporeidades e educação a partir de formações
distintas; nossas experiências flertavam, dialogavam e prometiam bons encontros.
6 De largada, queremos com Erin Manning (2023) igualar ambos os conceitos: o corpo só o é em movimento.
Tudo aquilo que lhe estabiliza fora do movente é desejo estatal, capitalístico de fixação e de atribuição de
posicionamento, ao qual recusamos em favor da intempestividade dos processos vivos.
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Nos propusemos, então, a nos debruçar sobre uma proposta em conjunto que
talvez fosse capaz de catalisar as forças daquilo que ali nascia: um curso de
extensão, nomeado “Escritas que Dançam, Corpos que Escrevem”, e que seria
carinhosamente apelidado, posteriormente, de “Escritas”.
A proposta teve, desde o início, interesse em mobilizar a prática escriturária,
a experiência do movimento e a exploração dos diversos sentidos dados à ação
educacional, de modo a constantemente borrar e ultrapassar os limites
disciplinares aos quais esses três elementos estão frequentemente associados.
Planejamos e traçamos apostas, flechas lançadas sem certezas e garantias.
Apenas alguns desejos: a invenção de um espaço em que a escrita fosse
experimentada, como experiência provocada, aguçada, instigada pelo movimento,
pelas sensações, por aquilo que não tem nome nem forma previamente
organizada, sendo atual e singular; a receptividade a acontecimentos escorrendo
em palavras, de onde possam brotar composições que impulsionam um dizer que
emerge com o corpo. Em março de 2020, começamos o curso. Mais de 40
inscritos. Na sala cedida pela Escola de Teatro da Universidade Federal do Estado
do Rio de Janeiro, ampla e com chão de madeira, tivemos nosso primeiro
encontro.
Um dos objetos de cena utilizados pela Escola estava na sala. Um caixão de
madeira. Nos encontros de planejamento ele também estava lá, e havíamos
solicitado à Escola que fosse retirado. Mas ali continuou, teimoso, quiçá um tanto
indicial dos tempos que estavam por vir. O caixão era, naquele espaço e momento,
uma abertura; a instauração de uma hesitação que operava um sentido ainda
obscuro, mas, por isso mesmo, produtivo, que incidia diretamente sobre os modos
de experimentar aquele trabalho. Talvez um primeiro oráculo, entre tantos que
emergiriam da proposta, que alguns anos depois nos trariam a este texto, com
uma vontade partilhada de pensar sobre o que certa potência oracular tem a fazer
pela educação.
Inícios
No mesmo dia em que nos encontramos para a aula inicial do "Escritas",
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seriam deflagradas, em território nacional, as frágeis medidas tomadas pelo país
em relação à pandemia de COVID-19. Suspendemos as atividades e ficamos em
estado de perplexidade, sem saber como continuar diante do cenário de
insegurança e instabilidade que se desenhava. Meses depois, um dos inscritos no
curso nos enviou uma simpática mensagem, sondando a possibilidade de
realizarmos o curso na modalidade online – solicitação à qual resolvemos atender
mesmo sem ter a clareza de como faríamos isso. Se ainda não sabíamos
exatamente o que fazer, sabíamos, no entanto, o que não nos interessava realizar:
uma proposta que excluísse as tensões e as questões da realidade que
atravessavam a todos(as) naquele momento. Assim, desde o princípio,
renunciamos a qualquer noção de conteúdo programático, nos voltando para os
temas emergentes que captaríamos das próprias experiências vivenciadas em
grupo.
A construção dos planos corpoescriturários desejados no curso se deu, em
suas versões
online
, por um dispositivo que integrava dois momentos: o envio de
um convite a uma proposição integrando escrita e movimento aos participantes;
e a conversa a partir da experiência, que se realizava quando nos reuníamos pelos
aplicativos de videoconferência. Esse desenho logo nos levou a contemplar as
forças desses textos-convite tomados enquanto "disparadores", debatidas por nós
em outra oportunidade (Bocchetti; Guedes; Faria, 2022).
Os disparadores eram vistos por nós como incitadores à abertura de planos
nos quais se borravam os limites entre corpo e gesto escritural. Enviados sempre
com uma semana de antecedência, sua condição instauradora foi experimentada
desde o primeiro encontro remoto, prenhe de questões e processos criadores. Ali,
em uma simples roda de conversa, cada um(a) dos(as) participantes ia
descrevendo seus processos criativos, experimentando relações entre eles e
questões, conceituações e modos de fazer os mais diversos. Via de regra, tais
comentários eram acolhidos por outros participantes que, como frequentemente
diziam,
pegavam o gancho
da fala anterior e dela derivavam suas próprias
explanações e criações.
Desde o princípio, a equipe organizadora se dispôs a experimentar os próprios
disparadores que propunha nas reuniões de planejamento, compreendendo que
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apenas assim teria recursos para também ela se "enganchar" na conversa. E foram
vários os disparadores que criamos, afinando nossas escutas, sensibilidades e
percepções às questões que incitavam ao grupo e que serviam de mote para o
planejamento dos novos convites, em reuniões quinzenais dedicadas a isso.
Compúnhamos os textos, então, em uma prática coletiva e artesanal, que tomava
forma a partir das questões deflagradas pelos grandes movimentos coletivos,
pelas singularidades partilhadas durante os encontros e pelos nossos desejos em
comum.
O que os disparadores nos ensinaram, de largada, foi que havia algo de
fundamental naqueles gestos educativos que inaugurávamos com o "Escritas": o
investimento nos inícios.
[...] o início tem uma força suplementar: é muitas vezes no início de um
processo que se encontra a maior quantidade de uma substância, que o
desenvolvimento desse mesmo processo vai diluir ou espalhar por
uma extensa área (Tavares, 2013, p. 41).
Talvez seja por isso que Gert Biesta (2013) tanto se interesse em pensar o
professor como um bom iniciador. Nessa atenção aos inícios reside uma escolha
importante, vinculada diretamente ao modo como concebemos uma proposição
e a própria ação daquele que propõe. Classicamente, uma proposição tem a ver,
filosoficamente, com certo valor de verdade que a define como verdadeira ou
falsa. Tal ideia de credulidade e precisão alimenta muito daquilo que aprendemos
a definir como os modos de comunicação acadêmica (Manning, 2021) e, por
conseguinte, as maneiras como vemos se desenrolar o trabalho em espaços e
tempos educacionais como a sala de aula. Muitas vezes, a aula se constitui como
um lugar de sustentação da relação de verdade que circunda a uma ou várias
proposições, colocando aquele que ensina em uma posição de quem a anuncia e
defende.
Mas há outros modos de se aproximar de uma proposição e de sua potência.
Em uma leitura whiteheadiana, Erin Manning se aproxima das forças de uma
proposição compreendendo-a muito mais como uma instauradora de algo como
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uma “penumbra de alternativas"7 termo utilizado pelo próprio Whitehead
(Manning, 2021, p. 414) que expande conjuntos de possíveis, lançando os(as)
participantes na intempestividade emergente das próprias proposições. O termo
“disparadores” firmava tal intenção: eles eram impulsionadores de diálogos
imprevistos, na contramão de um sentido didatizante da experiência, tão afeito às
experiências formativas nas quais o ponto de chegada está previamente colocado,
mesmo que de modo por vezes tácito. No "Escritas", sempre nos interessou o que
emerge, impulsionado pelos estímulos que geram movimento e que, em modo
cascata, convoca a novos movimentos, criações e partilhas.
Em 2022, depois de realizarmos duas edições online, nos vimos diante da
possibilidade de oferecer a primeira experiência presencial do curso. Sabíamos
que ela seria bem distinta daquela que, nascida nos inícios de 2020, tomara outra
forma a partir dos inesperados pandêmicos. Assim, ao longo de aproximadamente
4 meses, constituímos um grupo que se encontrava quinzenalmente para, durante
duas horas, experimentar-se a partir de exercícios de criação corpoescritural e
rodas de conversa. Mantínhamos ali uma dinâmica alternada de encontros,
aprendida justamente nos tempos de pandemia: em uma semana nos
encontrávamos para o planejamento do encontro que viria a seguir; na semana
seguinte, tínhamos o encontro com o grupo, garantindo um modo de planejar
embebido nos acontecimentos que pululavam dos encontros, e que geravam
temas que embebiam as sessões futuras sem circunscrevê-las em sua totalidade,
mas garantindo proposições que tramavam teias de analogias, semelhanças e
contraposições entre o vivido, o pensado e o experimentado.
Ainda que muito tenha se transformado entre as edições, sempre
procedemos um planejamento desinteressado pela construção apriorística de um
conteúdo ao qual todas as dinâmicas deveriam se reportar. No lugar disso,
exercitamos, nos encontros, uma sensibilidade ao que se produzia ali, entre os
corpos, então promovendo convites à pluralização dos sentidos nascentes.
Disparando, enlaçando, enganchando, conectando, convidamos ao movimento de
criação que se nas múltiplas passagens de um plano que une movimentos e
escritas feitas em meio a um grupo que se encontra. E foi em meio a esse modo
7 penumbra of alternatives (Tradução nossa).
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de planejar e viver os encontros que nos encontramos com certa qualidade
oracular que, para além de gestos de predição e desvendamento, se relaciona com
a faculdade de ampliar sentidos a partir dos próprios movimentos emergentes nas
tessituras de relações que se inventam durante os encontros.
Poéticas
Disparadores, ganchos e modos de planejar nos convidavam a atentar para
uma espécie de pedagogia da dispersão, que desde o início habita o "Escritas". Não
anseios de sistematização durante os trabalhos, e as conversas que desde a
retomada dos encontros presenciais povoam alguns de seus momentos
funcionam muito mais como celeiros e espaços de partilha de criações
escriturárias que se misturam e se inclinam umas sobre as outras; escritas que se
atravessam, reverberando umas sobre as outras e então tomando forma nas falas
e materiais compartilhados pelos(as) participantes.
O que nos ocupa é fazer do "Escritas" um lugar no qual a proposição funcione
como um "atrativo para sensações"8 (Whitehead, 1978, p. 25), uma isca pela qual
as existências mergulhem nas forças criativas do acontecimento, gerando a partir
daí novos existires. Ao longo das edições, temos nos debruçado sobre modos de
convidar que se comportem como aquilo que Erin Manning e Brian Massumi
chamam de "restrições ativadoras"9 (Manning; Massumi, 2014, p. 92),
constrangimentos que ao circunscrever uma proposta produzam um efeito
positivo como catalisadores de emergências criativas. O mapa dos convites
planejados para um encontro mostra o modo como tais constrangimentos se
imbricam:
1 -
Encontrar-se:
Observar a sala. Caminhar por ela. Escolher um lugar
para estar. Relacionar-se com seu caderno. Relê-lo, revê-lo. Encontrar-
se com suas forças. A partir do que se tem no diário, encontrar-se com
as superfícies (papéis, planejamentos). Dançar com as superfícies, tocá-
las. Fabular suas histórias, ver suas potências. Escolher uma superfície.
2 -
Inscrever superfície:
Mediar o encontro entre diário e superfície.
Produzir uma textualidade vestível. “Como inscrever, na superfície, uma
textualidade que nasça no diário e se prolongue no corpo”?
8 lure of feelings (Tradução nossa).
9 enabling constraints (Tradução nossa).
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3 - Incorporar superfície:
Vestir a superfície, fazê-la caber no corpo,
incorporá-la. Circular pela sala, expondo-se à relação com o outro.
Circular pela sala, expondo-se à alteração do outro.
4 - Inscrever-se no caderno:
Voltar ao caderno, a partir de um verbo do
oráculo, produzindo uma nova escritura. Partilha em roda final com
trechos do diário.
Ao longo das proposições, abusamos da força poética dos convites. O que
queremos dizer com isso? Severino Antônio (2009, p. 67) diz que “a poesia é um
pensar por imagens. Um conhecer por imagens. Um criar por imagens”. E que
“pensar por imagens amplia as margens da razão” porque “a imagem alarga os
campos do conceito” (Antônio, 2009, p. 66). Se o conceito opera pela diferenciação
que define, a imagem poética produz semelhança entre dessemelhantes através
das conexões que sugere. Quando o poeta Manoel de Barros escreve, por exemplo,
que “Há um cio vegetal na voz do artista” (Antônio, 2009, p.17), ele não explica nada
a respeito da voz ou do cio, mas oferece uma fagulha de entendimento que amplia
a compreensão porque aproxima as diferenças produzindo uma verdade que
ultrapassa a razão – a verdade da poesia.
Fagulha sempre borrada, vale dizer. O poético tem a ver, como diria Maria
Zambrano (2000, p. 128), com um "ouvir no silêncio, e um ver na escuridão" - um
modo de agir e produzir mundo, lançando mão de sentidos que captam aquilo que
não está dado. Por não focarem, os olhos de poeta acessam outras texturas
visuais; ele é aquele que “entrevê alguma coisa na névoa, e a isto que entrevê é
fiel até a morte” (Zambrano, 2000, p. 85).
Essa lealdade à dispersão, propõe ainda Zambrano (2000), seria uma espécie
de condição para o ato criador: movimento entre o rumo e a vagueza. A criação
tem menos a ver com o se deixar levar pelo que é nítido e definido do que o se
guiar pelo que é vago e disperso. Tem a ver, portanto, com a elaboração de uma
atenção outra: que ouve o inacabado, que pressente o sem-forma, que se orienta
pelo sem-sentido. “Uma nebulosa que age como bússola” é como Salles (2004, p.
29) nomeia essa apreensão do mundo, esse outro modo de se deixar guiar pelos
sinais: orientar-se por aquilo que se pode apenas entrever.
E foi atentos(as) aos nossos próprios procedimentos, e seguindo essa
potência dispersiva do poético, que nos deparamos com as forças oraculares do
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"Escritas". Elas de algum modo, vale lembrar, pareciam presentes diante daquele
caixão da primeira de nossas aulas, e na profusão de sentidos que sua imagem
emprestaria à continuidade do curso. Como um oráculo, aquele objeto operou em
nós, por um tempo, lançando forças especulativas que, por associações, analogias
ou metáforas, abriam espaço para a emergência de verdades proliferativas que
iniciavam e agenciavam estórias10. Isto fazem os oráculos: abrindo relações entre
entidades e forças até então tomadas como pertencentes a sistemas
heterogêneos, eles acontecimentalizam imagens, multiplicando os sentidos por
elas habitáveis.
Em uma comunidade da Tanzânia, o antropólogo Koen Stroeken (2024) tal
dispositivo oracular em funcionamento. Examinando as vísceras de um pássaro, o
adivinho seu estômago gordo e cheio, demonstração tranquilizante da
abundância alimentar que ronda a casa de seu cliente. Observando, porém, dois
sangramentos próximos ao peito do animal, ele desvela uma emboscada mágica
que poderia atacar o homem que o procurava a caminho do hospital. O pássaro-
oráculo abre espaço, então, pela leitura do mágico, a uma conversão de sentidos
a partir da parceria entre imagens e acontecimento no qual elas estão imersas. É
desde que seu potencial especulativo e de integração de mundos até então
incomponíveis se desvela.
No "Escritas", experimentamos então a presença de outro oráculo, desta vez
dedicado a produzir "consonâncias solidárias" (Devisch, 2003, p. 33) entre palavras
inesperadas e convites a movimentos. No final de 2022, movidos pelas forças
poéticas da proposta, decidimos materializar um baralho próprio, constituído de
200 cartas, cada uma contendo uma palavra relacionada aos universos da escrita
e do corpo que notávamos comparecer com mais força no projeto.
Explosão - expansão - contração - fluidez - balanço - toque - suporte -
dor - escuta - pulso - exposição - encolher - enrolar - agachar -
espreguiçar - barrar - rolar - roçar - articulação - rasura - narrativa - traço
- paradoxo - redundância - interrogação - combinação - transcrever -
esclarecer - bagunçar - articular - rascunhar - insinuar [...]
10 Optamos, aqui, pelo uso do termo "estória" que, em sua acepção original, um tanto abandonada na língua
portuguesa, diz respeito a certo caráter fabulativo que, em sua abertura à operação criativa, o afastaria das
factualidades das histórias. Queremos afirmar a possibilidade de seguir contando estórias, com toda a força
especulativa, ficcional e, por isso, mesmo, criadora de outros mundos que elas implicam.
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No ano seguinte, realizamos a segunda edição presencial do curso, e
tomamos tal conjunto de cartas como base das principais proposições que
realizávamos. Foi ali, em meio às propostas, que o material passou a ser chamado
de "oráculo" por nós. Os(as) participantes, muito costumeiramente, falavam das
conexões que as cartas propiciavam, e com certa ritualidade se aproximavam para
"pegar sua carta" quando lhes demandávamos isso. O uso do oráculo foi precedido
de várias experimentações com o material, o que deu origem a vários modos de
"jogá-lo" e à construção de um repertório de práticas que passou a dialogar com
as proposições planejadas ao longo do curso. Por vezes, pedíamos a cada pessoa
que iniciasse um texto e então, a partir da retirada de uma carta, deixasse que a
palavra recebida movesse sua escrita. Em outros momentos, fazíamos surgir uma
carta em meio a uma movência coletiva pelo espaço, propondo a exploração de
composições. E, ainda em outros, as cartas se associavam às produções de
escritas e desenhos que se faziam e se modificavam a partir delas. A partir desses
exercícios vimos se desenvolver, pela dispersão de sentidos provocada no
dispositivo oracular, um valioso potencial fabulativo, de criação de novos mundos
e novos seres, que passou a alimentar as poéticas do curso.
***
Fitas paralelas atravessando a sala e formando um retângulo estreito no qual
as participantes são convidadas a, de olhos fechados, transitar. São cerca de vinte
minutos de deslocamento que, embalados por músicas de cadência lenta - ora a
presença de tambores, ora a melodia do tango, ou a sonoridade das flautas -,
desafiam seus modos de perceber a presença do outro, o espaço e os próprios
limites. Lidamos, ali, com a relação entre visibilidades e invisibilidades na escrita e
no movimento.
"Onde você esteve nessa caminhada?". A pergunta abre um momento de
produção de imagens. Alguém faz uma espiral repleta de estrelas. Outra se sente
entre uma multidão de mãos. Uma terceira um mundo que é ora flor, ora útero,
enquanto outra que navega em um barco. Pedimos, então, que as participantes
construam um ser fabuloso que seja capaz de habitar aquele espaço. Mas, para
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isso, que se tirar cartas. Quatro, mais precisamente, uma de cada agrupamento
que divide e organiza o conjunto do baralho: uma carta com um verbo ligado à
escrita, uma com um verbo ligado ao corpo, uma com um substantivo ligado à
escrita, uma com um substantivo ligado ao corpo.
"Tocar", "ilustrar", "sono", "grafia". Junto a um mundo no qual se veem seres
conectados entre si por ondas que transitam entre suas cabeças, as palavras
abrem uma dissonância a partir da qual outras fabulações se fazem possíveis. Do
encontro com elas a participante faz emergir a descrição de um ser:
O ser se chama Lustrasono. Ele apareceu sem olhos e com longas pernas
em forma de "L". Por não conseguir ver com olhos o que se está ao seu
redor, ele desenvolveu longos braços para se guiar pelo mundo pela via
do toque. Sua única forma de conhecer é tocar, e por isso ele toca tudo
por onde passa. Grafa com seu toque uma grande nuvem feita de sonhos
[...]. Ele tem sono em seu nome porque recebeu a tarefa de poder ser um
ser sonífero, o que lhe confere uma qualidade lenta e pacífica.
Lustrasono nos levou a conversas sobre o tocar, a leveza e o modo como tais
elementos se conectam ao próprio gesto escriturário. Se tal criatura pode nascer,
foi em muito pelo ponto de articulação posto em funcionamento pelas cartas do
oráculo, que reuniam, pela dispersão e abertura de sentidos que provocavam, dois
tipos de movimentos: aqueles evocados pelas imagens ligadas às palavras nelas
impressas e aqueles emergidos do próprio movimento dos corpos. No "Escritas",
a força oracular é comumente aproveitada justamente pela explosão de sentidos
que cria no plano corpoescritural. Ao atuar na parceria com os movimentos ditos
corporais, o que as cartas fazem é agir na possibilidade de escapar à determinação
apriorística dos sentidos das palavras e das movimentações. Se concordarmos
com a premissa de Denise Ferreira da Silva e Valentina Desideri, de que "podemos
também olhar para a determinação como um tipo de morte em si mesma, já que
ela reduz, delimita e fixa o que existe em categorias" (Silva
et al
, 2022, p. 142),
podemos ver o dispositivo oracular como produtor de uma espécie de vitalidade,
vitalidade poética, que no "Escritas" atua na abertura a composições mais atentas
às possibilidades fabulativas capazes de reunir o escrever e o mover-se.
Oracular a educação: corpos e escritas em favor de uma pedagogia das dispersões
André Bocchetti | Priscilla Menezes de Faria | Adrianne Ogêda Guedes
Florianópolis, v.4, n.53, p.1-15, dez. 2024
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Notas finais em favor do ofuscamento
O tal caixão, presente em nosso primeiro e pré-pandêmico encontro, nos
levou a de algum modo fabular narrativas de morte que ressoariam apropriadas
aos momentos que se seguiram na vida de todos ali. Mas ele também pode ser
experimentado como um inaugurador das forças poéticas que a partir de nossos
primeiros dias povoariam intensamente as criações ao longo do curso. A
intensidade metafórica daquele objeto residiria, então, na morte que ele anunciava,
ou no próprio valor do processo metafórico que com ele se inauguraria? Talvez
em ambos. O oráculo não nos exige fidelidades semânticas. Como nas proposições
whiteheadianas, seu valor está na penumbra que produz. E é por isso mesmo que
a qualidade poética o acompanha, uma vez que ela não pode existir quando tudo
está demasiado evidente.
O oracular nos fala sobre a importância de se encontrar mais modos de
ofuscar os sentidos nos processos formativos, sobretudo em favor de movimentos
de criação que encontrem na relação entre o corpo e a escrita seu ponto central.
E vem desde nossos anseios por uma pedagogia das dispersões que, em rota
oposta aos desejos sistematizadores, se dedique a não deixar nada tão claro, a
escapar dos uníssonos; a proliferar dissonâncias para multiplicar sentidos,
deixando às forças comuns da aula o papel de aglutinar, muitas vezes de modos
intempestivos, os conhecimentos que atravessam o seu tempo.
Entendemos que o oracular, enquanto ato criativo - e isso nos parece
fundamental ao pensar os tempos de formação nas artes e para além delas -,
demanda uma adesão a diferentes disposições para inventar mundos. Em geral,
os mundos ainda a se inventar não coincidem com pontos-de-vista que
pressupõem um real previamente definido, mas se aliam a um conhecimento
capaz de reconhecer que tudo que nos ancora na linguagem é signo, arcano,
correspondência.
As demandas de invenção de dispositivos oraculares nos falam do rigor de
uma certa frouxidão; de como se liberar dos contornos nítidos do que pretende
esgotar o mundo e enxergar o que se manifesta para além das evidências mas
sempre, de algum modo, a elas atentando, como linhas que cortam um
Oracular a educação: corpos e escritas em favor de uma pedagogia das dispersões
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movimento dispersivo que por vezes a elas se volta, tensionando-as, multiplicando
suas próprias possibilidades, como no verso que surrupia um sentido à palavra,
para logo dar-lhe outros tantos.
Atentar para as forças oraculares é, então, praticar certa visão, mas como
uma abertura ativa, que encarna em tudo aquilo que - os olhos, a pele - o
paradoxo de uma intenção repleta de disponibilidade. Um pouco, mais uma vez,
como Merleau-Ponty descreveu em relação à disposição poética:
[...] ação e paixão tão pouco discerníveis que não se sabe mais quem
e quem é visto, quem pinta e quem é pintado. Diz-se que um homem
nasceu no instante em que aquilo que no âmago materno era apenas um
visível virtual se faz simultaneamente visível para nós e para si. A visão
do pintor é um nascimento continuado (Merleau-Ponty, 2004, p. 22).
O criar demanda olhos nascentes que nascem para o mundo a cada nova
visão. E é por isso que os dispositivos oraculares são tão valiosos. Dispersivos, eles
parecem ensinar esses olhares, solicitando-nos uma deriva sensível entre
paisagens semânticas extremamente heterogêneas. É desde que se abre um
imenso potencial fabulativo, de criação de novos mundos e novos modos de ser.
Potencial com o qual temos nos encontrado ano após ano no "Escritas". Sim, os
corpos continuam a dançar; mas são cada vez mais convidados a se encontrar
com passos inesperados, caminhos cruzados, estórias ainda não contadas. Corpos
um tanto mais cambaleantes, mais inseguros diante das confusões poéticas nas
quais se emaranham. E, por isso mesmo, corpos menos previsíveis, mais instáveis;
estranha e saborosamente vivos.
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Disparando enlaces de corpos e escritas: a produção do comum em uma
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Recebido em: 19/09/2024
Aprovado em: 22/10/2024
Universidade do Estado de Santa Catarina
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