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Sobre corpos, escritas e alfabetização em dança:
experiências com
Motifs
na escola
Adriano José Pinheiro
Marcus Vinicius Machado de Almeida
Para citar este artigo:
PINHEIRO, Adriano José; ALMEIDA, Marcus Vinicius
Machado de. Sobre corpos, escritas e alfabetização em
dança: experiências com
Motifs
na escola. Urdimento
Revista de Estudos em Artes Cênicas, Florianópolis, v. 4,
n. 53, dez. 2024.
DOI: 10.5965/1414573104532024e205
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Sobre corpos, escritas e alfabetização em dança: experiências com
Motifs
na escola
Adriano José Pinheiro | Marcus Vinicius Machado de Almeida
Florianópolis, v.4, n.53, p.1-28, dez. 2024
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Sobre corpos, escritas e alfabetização em dança: experiências com Motifs na escola1
Adriano José Pinheiro2
Marcus Vinicius Machado de Almeida3
Resumo
O presente texto relata um estudo de caso realizado com estudantes de uma escola municipal de
São Paulo em que se experienciou uma proposta de alfabetização em dança com a
Motif Notation
,
sistema de notação criado pelas pesquisadoras Ann Hutchinson Guest (1918-2022) e Valerie Preston-
Dunlop (1930-), ex-alunas do pesquisador Rudolf Laban (1879-1958). Teve como referência a
metodologia pesquisa-ação (Thiollent, 2011), os dados foram coletados em oficinas realizadas por
videoconferência e apontou-se como conclusões a possibilidade em se favorecer propostas de
alfabetização em dança, a aquisição de características dessa linguagem pelas crianças e a criação de
uma composição coreográfica.
Palavras-chave: Alfabetização em dança. Corpo. Escrita.
Motif Notation
. Rudolf Laban.
About bodies, writing and dance literacy: experiences with Motifs at school
Abstract
This text reports on a case study carried out with students from a public school in São Paulo in which
a proposal for dance literacy was tried out using Motif Notation, a notation system created by
researchers Ann Hutchinson Guest (1918-2022) and Valerie Preston-Dunlop (1930-), former pupils of
researcher Rudolf Laban (1879-1958). It was based on action research methodology (Thiollent, 2011),
the data was collected in workshops held by videoconference and the conclusions were that it was
possible to encourage proposals for dance literacy, the acquisition of characteristics of this language
by the children and the creation of a choreographic composition.
Keywords: Dance Literacy. Body. Writing.
Motif Notation
. Rudolf Laban
Sobre cuerpos, escritura y alfabetización en danza: experiencias con Motifs en la escuela
Resumen
Este texto da cuenta de un estudio de caso realizado con alumnos de una escuela de la
municipalidad de São Paulo en el que experimentaron una propuesta de alfabetización en danza
utilizando la Motif Notation, un sistema de notación creado por las investigadoras Ann Hutchinson
Guest (1918-2022) y Valerie Preston-Dunlop (1930-), antiguas alumnas del investigador Rudolf Laban
(1879-1958). Se basó en la metodología de investigación-acción (Thiollent, 2011), los datos se
recogieron en talleres realizados a través de videoconferencia y las conclusiones fueron la posibilidad
en favorecer propuestas de alfabetización en danza, la adquisición de características de este
lenguaje por parte de los niños y la creación de una composición coreográfica.
Palabras clave: Alfabetización en danza. Cuerpo. Escritura. Motif Notation. Rudolf Laban.
1 Revisão ortográfica, gramatical e contextual do artigo realizada por Mônica de Moraes Oliveira. Doutorado e Mestrado em
Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP). Licenciada em Pedagogia (FEUSP) e Letras (Faculdade
Santana).
2 Doutorando e Mestrado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Especialização em Arte-
Educação pelo Centro Universitário UNIFAAT. Especialista em Sistema Laban/Bartenieff pela Faculdade Angel
Vianna(FAV) . Graduação em Pedagogia pelo Centro Universitário de Araras DR. Edmundo Ulson (UNAR).Graduação em
Artes Visuais pela Faculdade Mozarteum de São Paulo(FAMOSP).
adrijpinheiro@gmail.com http://lattes.cnpq.br/4465087608738420 https://orcid.org/0000-0003-1059-815X
3 Pós-doutorado em Psicologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Doutorado em Educação Física pela
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Mestrado em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ). Graduação em Filosofia pela UFRJ. Certification Program in Laban Movement Studies (Certified Movement
Analyst - CMA) pelo Laban/Bartenieff Institute of Movement Studies (LIMS). Certificação em Labanotation pelo Dance
Notation Bureau (NYC). Graduação em Filosofia pela UFRJ. Professor Titular da UFRJ.
marcusmachado667@gmail.com
http://lattes.cnpq.br/6393289558414593 https://orcid.org/0000-0001-8939-5093
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Introdução
O processo de alfabetização em língua portuguesa sempre nos intrigou:
Como seria o percurso da criança desde as garatujas, como são chamados os
primeiros rabiscos elaborados na infância, até a escrita convencional? Soma-se a
essa reflexão o fato de que fomos alfabetizados, como a maioria das pessoas
das nossas idades, com o uso da cartilha, em que éramos apresentados
gradativamente às lições das sílabas na ordem do alfabeto, logo, passávamos
para a lição do C (CASA) após dominarmos a lição do B (BEBÊ), e assim por
diante. As cartilhas seguiam uma sequência fixa: o treino motor, a aprendizagem
das letras, das sílabas, palavras e frases. Assim, decodificar as sílabas, as
palavras e as frases era o objetivo principal do processo de alfabetização.
Atualmente, a alfabetização das crianças é pautada em pesquisas de
educadores como a argentina Emília Ferreiro (1936-2023), o brasileiro Paulo
Freire (1921-1997) e os princípios do psicólogo Lev Vygostsky (1896-1934), dentre
outros. Esses autores apontam a importância de uma experiência diversa e
global — incluindo o corpo e movimento — da criação no processo educacional.
Aliados aos estudos de alfabetização, a pesquisa em dança perpassa nossos
caminhos e, fundamentalmente, os estudos e proposições do pesquisador do
movimento Rudolf Laban (1879-1958), constatando que, como afirmam Almeida;
Vaz; Gomes:
A obra de Laban apresenta três grandes áreas de investigação. A
primeira se refere ao seu sistema de Análise do Movimento, envolvendo
o estudo do Espaço e dos Esforços. A segunda área refere-se à sua
Escrita do Movimento, chamada ‘Kinetography’ para os europeus e
‘Labanotation’ para os estadunidenses. A terceira área é denominada
Coreosofia, correspondente a uma série de conceitos referentes ao
corpo, ao movimento e à dança, em suas potências existenciais, de vida
(Almeida; Vaz; Gomes, 2019, p. 16).
As reflexões relacionadas à escrita do movimento nos estudos de Laban
nos levaram a indagar: Como seria propor um trabalho prático com escrita do
movimento para crianças e adolescentes no ensino fundamental? Como
reagiriam crianças e adolescentes aos conhecimentos relacionados à escrita do
movimento? Quais relações seriam realizadas com o processo de alfabetização
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na escola, visto que são alfabetizadas em língua portuguesa? Seria possível
construir conhecimentos a partir de uma proposta de alfabetização em dança
em oficinas práticas na escola?
Essas indagações nos orientaram a desenvolver esta pesquisa que teve
como objetivo propor um trabalho prático de alfabetização em dança4 partindo
da escrita do movimento com os símbolos das ações básicas presentes no
Alfabeto do Movimento (
The Movement Alphabet
®)5 e do trabalho com
Motifs,
com crianças e adolescentes; investigar as possíveis reverberações desse
processo, bem como aprendizagens envolvidas, relações com a alfabetização em
língua portuguesa e outros conhecimentos construídos no decorrer do percurso.
Registrar: necessidades e compartilhamentos
A necessidade humana de se estabelecer comunicação remonta à Pré-
História, onde o homem grafava animais, figuras humanas e outras
representações nas paredes das cavernas. Assim, deixar grafadas suas
impressões e reflexões sobre o mundo foi uma ação sempre perseguida pela
humanidade, que sentia o anseio de transformar suas ideias em registros que
resistissem ao tempo e estabelecessem comunicação com o outro,
comunicando ideias, sensações, ações etc.
Posteriormente, a invenção da escrita facilitou o processo e colaborou para
que as informações fossem compartilhadas no tempo e no espaço, favorecendo
múltiplas formas de expressão em diversos campos, como assinalam Teberosky;
Tolchinsky (1995, p. 9): “A escrita tem, no entanto, uma longa história social de
mais de 5 mil anos de uso. Tem sido utilizada em múltiplas circunstâncias nas
transações comerciais, nos registros de fatos ou ideias, na expressão poética.”
Portanto, deixar escritas suas marcas na parede da caverna, nas pedras, no
couro animal ou no papel para que fossem conservadas ao longo do tempo e do
espaço tem sido uma ambição humana que permanece até a
4 Este trabalho teve como referência a proposta de alfabetização em dança do
Language of Dance Center
(EUA) que sugere os processos: sensibilização, observação, reflexão, identificação, interpretação, notação e
criação como fundamentais para a alfabetização em dança, processos que foram contemplados durante
oficinas que serão relatadas adiante.
5 O Alfabeto do Movimento a que nos referimos, está disponível no site:
https://www.lodcusa.org/pages/resources. Acesso em: 11 set. de 2024.
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contemporaneidade.
Jean (1998, contracapa) discorre sobre a conservação favorecida pela
escrita ao longo da história: “Sempre que os homens sentiram a necessidade de
conservar os instantes que a história comporta, a escrita se fez lei. Em todos os
tempos, o homem que soube escrever foi rei.”
Desde seu surgimento, a escrita teve como uma de suas funções controlar
o comércio, o vocabulário de certos grupos ou até como privilégio de alguns
setores da sociedade, como assinala Monteiro (2008, p. 12): “Ligada a
necessidades comerciais e políticas a escrita desde sua origem serviu à
organização e ao controle, estando também restrita a pequenos grupos, sendo
elemento de segregação e elitização.” Compreendemos assim a concepção de
que a aprendizagem de uma linguagem não apenas amplia as possibilidades
comunicativas de seus interlocutores, sua aprendizagem pode também favorecer
o controle social.
Refletir sobre a escrita, sobre as diversas linguagens e os códigos
específicos de cada linguagem foi uma inquietação que nos levou a questionar
sobre o processo de alfabetização em dança: Como se daria um processo de
alfabetização nessa linguagem?
Fazeres da alfabetização em diferentes linguagens: artes
visuais, música e dança
Como citado anteriormente, as propostas com a alfabetização em língua
portuguesa são muito frequentes no fazer pedagógico das escolas, todavia, com
relação às outras linguagens, ainda temos um longo caminho a percorrer.
Martins, Picosque e Guerra (2010) ressaltam a importância em se favorecer uma
relação com os códigos da alfabetização nas linguagens da arte:
Para nos apropriarmos de uma linguagem, entendermos, interpretarmos
e darmos sentido a ela, é preciso que aprendamos a operar com seus
códigos. Do mesmo modo que existe na escola um espaço destinado à
alfabetização na linguagem das palavras e dos textos orais e escritos, é
preciso haver cuidado com a alfabetização nas linguagens da arte
(Martins; Picosque; Guerra, 2010, p. 13).
Em sua obra as autoras orientam com relação ao trabalho com os códigos
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específicos das quatro linguagens6 artísticas presentes na educação básica: artes
visuais, teatro, dança e música.
Cabe salientar que, com relação à música, seu sistema de notação7 europeu
sobreviveu ao tempo e permitiu que o conhecimento acumulado na linguagem
musical ocidental fosse compartilhado até a contemporaneidade.
Rezende (2008) discorre sobre a necessidade de se codificar essa linguagem
e sobre o surgimento da notação musical:
A necessidade de codificar a experiência musical é algo comum a
muitos povos em distintas épocas. Seja como um reforço para a
memória ou como uma forma de comunicação, a notação musical
sempre foi um importante meio de transmissão dos conhecimentos
musicais. O surgimento da notação musical escrita pressupõe a
existência de uma classe social letrada, que se utiliza de letras do
alfabeto, sílabas, palavras, números, signos gráficos, entre outros
recursos, para construir um sistema de representação da experiência
musical (Rezende, 2008, p. 1).
E foi tendo como uma de suas referências em escrita a notação musical
europeia que o pesquisador do movimento Rudolf Laban ousou criar um sistema
de escrita para a linguagem da dança, a Kinetografia ou
Labanotation
(Labanotação). Em sua obra
Principles of Dance and Movement Notation
(
Princípios da Dança e Notação do Movimento
) o autor esclarece a importância,
assim como a música, de a dança ter o seu próprio sistema de escrita. Em suas
palavras:
A invenção da notação musical convencional em que as obras de
composição foram gravadas nos últimos séculos tornou possível para
nós, modernos, executar as obras dos grandes músicos das épocas
passadas, que de outra forma seriam esquecidas muito tempo. Na
falta de qualquer sistema de notação musical, Bach e Beethoven não
seriam mais que nomes esquecidos para nós. No entanto, ninguém
sabe sobre as formas exatas de movimento dos balés, mesmo os de
origem recente, embora a fama proclame os nomes dos coreógrafos e a
apreciação com que seus balés foram recebidos em seu tempo8 (Laban,
6 Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Arte (1994) foram os pioneiros a contemplarem as quatro
linguagens artísticas no fazer pedagógico no ensino da Arte: artes visuais, teatro, dança e música. O
documento traz objetivos, conteúdos e propostas de avaliação para as quatro linguagens, além de
referencial teórico e exemplos de proposições envolvendo as mesmas.
7 Segundo Teberosky (1995, p. 9): “Chamamos notação às formas gráficas usadas para registrar e transmitir
informação: por exemplo, notação musical, notação química, etc.”
8 The invention of the conventional musical sings in which the works of composes have been recorded in
the last few centuries, has made it possible for us moderns to perform the works of the great musicians
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1956, p. 13).
O sistema de escrita criado por Laban em parceria com seus discípulos
também favoreceu o desenvolvimento de um sistema de símbolos
representativos do movimento, que deram origem e estruturam a
Motif Notation.
A criação dessa notação é atribuída às pesquisadoras e bailarinas Ann
Hutchinson Guest e Valerie Preston-Dunlop, duas ex-alunas de Laban que
sentiram a necessidade de partir de seu legado (Kinetografia ou
Labanotation
)
para postularem suas contribuições com relação à escrita do movimento.
A
Motif Notation
tem a intenção de capturar o aspecto sintético de cada
movimento, ou seja, a essência de cada movimento. Ao contrário da
Labanotation,
que pretende destacar cada detalhe do movimento, a
Motif
Notation
prioriza o aspecto principal que está sendo gestualizado, a essência do
gesto.
Podemos aqui favorecer algumas comparações entre o processo de
alfabetização em língua portuguesa com o processo de alfabetização em dança
com os
Motifs,
como postulou esta pesquisa, visto que, quando registramos um
grafema na nossa língua, tentamos captar ali o todo do som falado no registro
escrito, ou seja, o grafema GA, por exemplo, tenta representar a totalidade do
som /GÁ/. no trabalho com os
Motifs
, o símbolo registrado representa a
essência daquele movimento, não se intenta nesse registro representar a
totalidade daquele movimento, mas sim o sintético do que perpassa o mesmo,
como dito anteriormente.
Assim, este trabalho pretendeu partir de proposições práticas com esses
símbolos e um grupo de crianças e adolescentes para se pensar uma possível
proposta de alfabetização em dança com oficinas na escola, que serão
abordadas na continuidade destes escritos.
of past ages, which otherwise would long ago have been forgotten. Lacking any system of musical
notation, Bach and Beethoven would be no more than silent names to us. Yet nobody knows about the
exact movement forms of ballets even of recent origin, though fame proclaims the names of the
choreographers, and the appreciation with which their ballets were received in their time. (Tradução
nossa).
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Alfabetização em dança: conceitos possíveis
O trabalho se propôs a abordar um processo de alfabetização em dança
partindo dos símbolos do Alfabeto do Movimento (LOD®C) em oficinas práticas
desenvolvidas na escola, mas, antes de abordá-las, acreditamos ser interessante
discorrer sobre os conceitos envolvidos nessa concepção de alfabetização em
dança, bem como o referencial teórico que embasou o trabalho prático.
As experiências com a Labanotation e com os
Motifs
nos direcionaram a
postular relações entre as potencialidades desses materiais e suas aplicações no
contexto escolar.
Rudolf Laban em suas pesquisas procurou elaborar um sistema de notação
em dança, visto que ele observava que outras linguagens haviam solidificado
processos de notações escritas, as partituras musicais europeias, por exemplo,
foram grandes inspirações para a criação da
Kinetografia
ou
Labanotation
. O
pesquisador do movimento ainda explicitou sua intenção em criar um sistema de
notação que favorecesse a preservação de obras e dos estudos do movimento:
Balés de extraordinária beleza e potência foram inventados, mas, após
relativamente poucas apresentações, passaram ao esquecimento.
Quando os inventores e intérpretes originais desapareceram, as danças
não puderam ser reproduzidas como as obras dramáticas e musicais
puderam a partir do libreto ou da partitura musical9 (Laban, 1956, p. 12-
13).
Além da preocupação com a preservação por meio de uma terminologia
específica da dança, Rudolf Laban (1956) constatou que os estudos do
movimento começavam a ser reconhecidos em outros campos (educação,
indústria e no campo terapêutico). Perpassa também a fala do autor uma
preocupação com a aplicabilidade do sistema a ser criado, segundo ele, estava
orgulhoso, pois ele era
sound and practical
(Laban, 1956, p. 11), ou seja, soava
sonoro e prático [tradução nossa].
Ainda na mesma obra, Laban discorre sobre parceiros e discípulos que
9 Ballets of extraordinary beauty and vital power have been invented, but, after relatively few performances,
have passed into oblivion. When the original inventors and performer had disappeared, the dances could
not be reproduced as dramatic and musical works could be from the libretto or the musical score
(Tradução nossa).
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davam continuidade aos estudos sobre notação, dentre eles, citou a dançarina e
pesquisadora americana Ann Hutchinson Guest, que naquele momento aplicava
e pesquisava aquele sistema de notação no
Dance Notation Bureau
, em Nova
Iorque. Comentou também que o termo
Labanotation
era como aquele grupo
denominava esse sistema.
Os estudos da
Labanotation
favoreceram posteriormente a criação de um
sistema que visava a aplicação pedagógica e que favoreceria o uso de uma
notação em dança para diversos públicos, inclusive aqueles que não fossem
dançarinos profissionais ou iniciados no universo da dança, surgia assim a
Motif
Notation
.
A criação da
Motif Notation
- como é conhecido o conjunto desses símbolos
baseados em ações básicas do corpo como saltar, deslocar, cair, pausar - é
atribuída a duas pioneiras pesquisadoras e parceiras de Laban, são elas: Valerie
Preston-Dunlop e Ann Hutchinson Guest. Segundo Preston-Dunlop (2016, n.p.), o
sistema: “serve ao propósito de um sistema criativo irmão da
Labanotation
e de
natureza estrutural aberta à interpretação”.
A dançarina e parceira de Laban nos estudos do movimento Ann
Hutchinson Guest também conceitua a
Motif Notation
. Segundo ela:
Motif Notation, originalmente chamado Motif Writing, é um sistema para
registrar graficamente conceitos de movimento usando símbolos
derivados da Labanotation. A necessidade de permitir liberdade na
execução de um conceito de movimento, por exemplo, a escolha de
qualquer direção, qualquer parte do corpo, qualquer tipo de
transferência de peso, etc., levou ao estabelecimento de símbolos
adicionais não encontrados na Labanotation10 (Lu; Wile, 2016, p. 1).
Ainda Guest propõe um trabalho que originou a instituição educacional
Language of Dance® Center
(LOD®C), que é dedicada ao avanço e promoção da
alfabetização de movimento e que tem como missão: “[...] expandir e promover o
Language of Dance
®
Center
(LOD®C) nacional e internacionalmente como um
elemento essencial para capacitar educadores, profissionais e o público em geral
10 Motif Notation, originally called Motif Writing, is a system for graphically recording movement concepts
using symbols derived from Labanotation. The need to allow freedom in the performance of a movement
concept, for instance the choice of any direction, any part of the body, any kind of transference of weight,
etc. led to establishing additional symbols not found in Labanotation. (Tradução nossa).
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em seus estudos, práticas, apreciações e pesquisas em dança”11 Portanto, para
alcançar a missão, o LOD®C disponibiliza em seu
site
ofertas de cursos,
materiais diversificados, notícias sobre o assunto, eventos, fotos e biografias de
seus membros, dentre eles: a Profª Drª Tina Curran, a Diretora Executiva Susan
Gingrasso, a Profª Drª Rachel Wurman e a Profª Drª Ann Hutchinson Guest.
O
site
LOD®C serviu de grande fonte para embasar o trabalho prático e
conceitual desta pesquisa no que diz respeito às proposições com a
alfabetização em dança. Cabe salientar que no artigo
Forging mutual paths:
defining dance literacy in the 21st century
” as autoras conceituam o termo:
Alfabetização em dança é a capacidade de identificar, entender,
interpretar, criar, comunicar e [analisar], usando materiais escritos em
[linguagem falada] e [sistemas simbólicos] associados a contextos
variados. Alfabetização em dança envolve um aprendizado contínuo,
permitindo que os indivíduos alcancem seus objetivos, desenvolvam seu
conhecimento, potenciais e participem plenamente de sua comunidade
e da sociedade em geral12 (Heiland et al., 2011, p. 4).
Assim, as proposições realizadas na escola com o grupo de 15 crianças e
adolescentes, durante as 7 oficinas práticas contaram fundamentalmente com
os materiais propostos no
site
LOD®C e os também oriundos de investigações
nos estudos e nas pesquisas labanianas.
Fazeres na escola: a estrutura das oficinas
As 7 oficinas realizadas na escola tiveram como participantes um total de 15
crianças e adolescentes com idades entre 9 e 14 anos. Os encontros tiveram
duração de 1h30min ocorrendo às segundas-feiras no horário das 10h30 às 12h
via aplicativo
Google Meet
e com participantes do Projeto Academia Estudantil de
Letras, que contavam com encontros semanais de jogos teatrais previstos no
projeto.
11 Its mission is to advance and promote Language of Dance® (LOD) nationally and internationally as an
essential element to empower educators, professionals, and the general public in their study, practice,
appreciation, and research in dance. (Tradução nossa). Informação disponível em:
http://www.lodcusa.org/pages/about. Acesso em: 28 mar. 2020.
12 [Dance l]iteracy is the ability to identify, understand, interpret, create, communicate and [analyze], using
[spoken language]written materials, [and symbolic systems] associated with varying contexts. [Dance
l]iteracy involves a continuum of learning in enabling individuals to achieve their goals, to develop their
knowledge and potencial, and to participate fully in their community and wider society. (Tradução nossa).
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Oportuno lembrar que, inicialmente, o objetivo era desenvolver a pesquisa
presencialmente com dois grupos, contudo, o ano de 2020 trouxe a suspensão
repentina das atividades escolares diante da pandemia13 da Covid-19 e as aulas
presenciais foram suspensas, fazendo com que as propostas fossem adaptadas
ao contexto remoto, conforme combinado previamente com as professoras e
estudantes do projeto.
As 7 oficinas práticas14 contaram com estruturas semelhantes, iniciávamos
com uma breve roda de conversa, em que trocávamos ideias sobre como
estavam naquele momento, as expectativas para aquele dia ou uma breve
revisitação das atividades realizadas na semana anterior. Essa ação no início da
oficina era fundamental para perceber como estavam os estudantes, suas
impressões, preocupações, expectativas, angústias e sugestões para o que se
sucederia no trabalho prático. Como orienta Freire (1996, p. 43): “Somente quem
escuta paciente e criticamente o outro, fala com ele”. Se o objetivo era dialogar
com o grupo por meio da linguagem da dança, do movimento, da alfabetização
em dança, logo, seria imprescindível propor ações para que juntos criássemos
espaços de escutas.
Na continuidade das oficinas, os educandos e as educandas eram
convidados(as) a se acomodarem confortavelmente no espaço de suas casas,
que estávamos em distanciamento social e mediados pelas telas. Assim,
buscávamos acalmar as inquietações e nos conectarmos com os próprios
corpos por meio da respiração, buscando assim uma ponte com a Forma Fluida
que, como explica Fernandes (2006, p. 161):
[...] implica no relacionamento do corpo consigo mesmo, entre suas
partes; movendo-se a partir da respiração, voz, órgãos e líquidos
corporais. O corpo está totalmente submergido em si mesmo, em seu
volume criado pela inter-relação de seus componentes.
A autora também pondera que a respiração é um suporte fundamental para
o trabalho com a expressividade corporal e vocal, logo, esse momento primeiro
13 A Organização Mundial de Saúde declarou pandemia da Covid-19 no dia 11/03/2020. Assim, o atendimento
educativo presencial foi interrompido, fazendo com que profissionais da área da educação tivessem que
adaptar suas proposições para o contexto remoto repentinamente.
14 Os encontros foram realizados de maneira ncrona pela plataforma
GoogleMeet
, sempre às segundas-
feiras, no horário das10h30 às 12h, contando com uma média de 10 participantes.
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da oficina favorecia esse suporte para o que posteriormente seria proposto.
Após alguns minutos experienciando a Forma Fluida, buscando se encontrar
consigo mesmo, conectando com o mundo interno e tranquilizando-o, crianças e
adolescentes eram convidados(as) a experimentar diferentes suportes corporais
a fim de elevar o corpo para a posição sentada.
A partir desse momento, iniciávamos um acordar do corpo com toques
sutis e automassagens, que percorriam desde os dedos dos pés até os fios dos
cabelos, passando por pernas, coxas, barriga, bacia, tórax, passando nesse
momento para um contato maior com o mundo externo com as sugestões de
toques de colegas, professores, trocas, falas, referências visuais. Importante
lembrar que interno/externo é um dos temas propostos por Laban. As autoras
Studd e Cox explicam:
Nosso mundo interior inclui nossas sensações, pensamentos e emoções
particulares. É tanto nossa biologia quanto nossa psicologia. A ideia de
‘interior’ é em grande parte, a maneira pela qual nos definimos. O
mundo exterior é tudo o que é ‘outro’ ou não eu15 (Studd; Cox, 2013, p.
23).
Após o momento denominado acordar o corpo (aquecimento/alongamento),
convidávamos os(as) educandos(as) à mudança do nível16 baixo para o médio e,
posteriormente, para o nível alto, dessa vez com o propósito de alcançar a
verticalidade. Instigávamos para que desfrutassem desse percurso e experiências
sem diferentes suportes do corpo, tentando prover um momento mais
prazeroso, desafiador e lúdico, logo não faltavam risadas, comentários, sugestões
e trocas de ideias.
na verticalidade, caminhávamos um pouco pelo espaço e
apresentávamos para o grupo alguma proposta de jogo, geralmente proposições
referenciadas nos jogos teatrais propostos pela autora e diretora de teatro Viola
Spolin ou baseados nos Temas do Movimento17 propostos por Laban.
15 Our inner world includes sensations, our private thoughts and emotions. It is both our biology and our
psychology. The idea of ‘inner’ is in large part, the way in which we define ourselves. The outer world is
everything that is ‘other’, or not self. (Tradução nossa).
16 Rudolf Laban conceitua a divisão do espaço relacionada à altura, portanto, temos três níveis nessa divisão:
baixo, médio e alto.
17 Rudolf Laban (1990) aborda os Temas do Movimento na obra
Dança Educativa Moderna
. Alguns desses
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As propostas elencadas até esse momento tinham o objetivo de conectar
os corpos com eles mesmos, com o tempo e com o espaço das oficinas.
Embora o trabalho realizado até esse momento fosse uma sustentação para o
trabalho que se sucederia com os
Motifs
, a próxima proposição trazia uma
relação mais direta com os materiais referenciados na alfabetização em dança.
Assim, a proposição seguinte favoreceu uma atividade baseada nos
materiais oriundos do
site
LOD®C, que consistem em histórias infantis
apresentadas em livretos a partir das ações básicas do corpo, cada ação básica é
representada pela inclusão dos símbolos do alfabeto do movimento que fornece
uma base para a construção dos
Motifs
. Segundo Guest (2000, p. 3): “Os Motifs
são apresentados às crianças como uma linguagem secreta que serve não
apenas como auxílio à memória e clareza na compreensão do movimento, mas
também fornece uma ferramenta para a exploração e a criatividade do
mesmo”18.
Portanto, durante as 7 oficinas, as histórias infantis (
As aventuras de Klig e
Gop na Terra dos Caminhos
,
As aventuras de Klig e Gop na Terra do Equilíbrio
e
As aventuras de Klig e Gop na Terra da Flexão/Extensão
)19, os jogos baseados no
The Movement Alphabet
® e a criação de símbolos não convencionais pautaram
as proposições.
A finalização das oficinas envolvia uma roda de conversa em que
trocávamos breves impressões sobre aquele dia, as crianças e os(as)
adolescentes geralmente traziam suas avaliações, elogios e críticas sobre as
propostas. Também realizávamos um abraço coletivo, mesmo que virtual, uma
dança circular ou um grito coletivo no final. Era um pequeno ponto final, ou
talvez um ponto e vírgula, até o próximo encontro.
temas são relacionados com: a consciência do corpo; a consciência do peso e do tempo; as formas de
movimento; a consciência do fluxo do peso corporal no tempo e no espaço.
18 The Motif signs are introduced to the children as a secret language that serves not only as a memory aid
and a clarification in understanding movement, but also provides a tool for movement exploration and
creativity. (Tradução nossa).
19 The Adventures of Klig and Gop in Travel-Land, The Adventures of Klig and Gop in Balance-Land e The
Adventures of Klig and Gop in Flextend- Land. (Tradução nossa).
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Fazeres reverberados: experiências de aprendizagens com a
Motif Notation
na escola
As experiências com as
Motifs
na escola favoreceram diversas
reverberações, contudo, como sugere o material utilizado, as investigações são
abertas às possibilidades de devolutivas múltiplas, afinal são proposições que se
articulam como ferramentas para “exploração do movimento e da criatividade”20
(Guest, 2000, p. 3).
No primeiro momento, pretendemos revisitar o material coletado no
percurso da pesquisa e refletir sobre as possíveis aprendizagens relacionadas a
essa “linguagem especial” (Guest, 2000). Também necessário considerar que “Na
pesquisa-ação, uma capacidade de aprendizagem é associada ao processo de
investigação” (Thiollent, 2011, p. 75), logo, é o momento de revisitar o processo e
investigar as possíveis capacidades de aprendizagens incorporadas ao mesmo.
Ao longo do processo de alfabetização, a criança vai se dando conta de
algumas questões convencionais da escrita, tais como: o registro da esquerda
para a direita no papel; o conhecimento das letras e o abandono de símbolos e
números na escrita das palavras; a quantidade de caracteres para cada sílaba; a
escolha de caracteres específicos para cada fonema etc. E, com relação à
Motif
Notation
, reconhecem os símbolos: quais convencionalidades dessa linguagem
as crianças e os(as) adolescentes se apropriaram durante as oficinas realizadas?
Uma das convencionalidades com relação à escrita e à leitura na
Motif
Notation
são as direções da escrita e da leitura no papel. Essa escrita se inicia
nos dois traços na parte de baixo para cima da página, finalizando também com
os dois traços, após o símbolo. Na Oficina foram apresentados os símbolos
das ações realizadas pelas personagens, contudo, não comentamos a respeito
de como se dava a escrita da sequência no papel, deixamos que partissem do
grupo algumas hipóteses para o registro das sequências. Assim, curioso observar
as hipóteses formuladas pelas crianças e adolescentes evidenciadas nas
imagens abaixo e também observar como se apropriaram dessa convenção a
partir da 2ª Oficina.
20 Movement exploration and creativity. (Tradução nossa).
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Na Figura 1, a hipótese é: símbolos na vertical e numerados na sequência
dos movimentos apresentados. Na Figura 2, a hipótese é: símbolos na horizontal
e ordenados linearmente na sequência dos movimentos apresentados. A Figura 3
apresenta a escrita convencional da
Motif Notation
utilizando-se da verticalidade
e com os dois traços que indicam o início e o fim da partitura (nesse caso, ainda
nomeando a ação ao lado de cada símbolo).
Figura 1 - Hipótese: símbolos na vertical. Fonte: Acervo pessoal.
Figura 2 - Hipótese: símbolos na horizontal. Fonte: Acervo pessoal.
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Figura 3 - Escrita convencional da Motif Notation. Fonte: Acervo pessoal.
Outro aspecto relacionado à aprendizagem da
Motif Notation
emergiu
durante a Oficina. Naquela ocasião, o grupo foi dividido em duas salas
diferentes para construir coletivamente uma partitura com os símbolos
estudados até o momento e, posteriormente, apresentaríamos a criação para o
restante do grupo. Em um dos grupos, partiram dos(as) presentes algumas
inquietações com relação ao tempo de duração de cada movimento dançado,
visto que, ao performar, as diferenças estavam evidentes. Portanto, o grupo, por
si só, resolveu fazer uma contagem (1/2/3/4) para cada movimento dançado,
estabelecendo assim um tempo semelhante para cada ação básica.
Estávamos acompanhando a discussão do grupo e a forma como
encontraram para estabelecer tempos semelhantes para a execução dos
movimentos e esperamos atentamente que trouxessem para a reflexão coletiva
comentários sobre a descoberta. Esse fato realmente ocorreu, pois a professora
que acompanhou, durante a apresentação, fez a contagem de tempo para a
turma (1/2/3/4). Foi a oportunidade para trazermos para a discussão a questão
do tempo na escrita e execução da partitura.
Curiosamente, essa foi uma questão também abordada enquanto
estávamos realizando um curso de especialização. Naquela ocasião pequenos
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grupos em salas virtuais performavam pequenas partituras com quatro
mudanças das formas básicas do corpo (agulha, bola, parafuso, parede e
pirâmide) e uma pausa. Assim, recebemos orientação de uma professora com
relação à questão da relatividade do tempo, visto que, se não indicações
específicas dos tempos na partitura, deve-se considerar um tempo próximo para
cada ação realizada, evitando assim tempos tão discrepantes em símbolos
grafados com tamanhos idênticos.
Com relação à aprendizagem e o reconhecimento dos símbolos para
utilização na escrita de partituras na
Motif Notation
, um dos principais objetivos
do processo de aprendizagem de uma língua, alguns exemplos foram
identificados no percurso da pesquisa, evidenciando possíveis aprendizagens
relacionadas à alfabetização em dança, objetivo fundamental deste trabalho.
Até o momento da Oficina havíamos estudado dez símbolos e
propusemos um jogo em que desligávamos a câmera do celular ou computador,
escolhíamos um deles, fazíamos um movimento da ação básica que os mesmos
representavam e performávamos para o grupo, que registrava no papel e exibia
para o restante do grupo, buscando assim a correspondência entre a ação básica
executada e o símbolo registrado pelos espectadores.
O jogo realizado permitiu avaliar o processo até então, a clareza na
realização dos movimentos e, principalmente, se o grupo havia se apropriado
desse tipo de escrita e poderia, fazendo aqui uma analogia com o processo de
alfabetização em língua portuguesa, fazer a correspondência entre letra e som,
nesse caso ação básica e símbolo. As Figura 4 e 5 podem contribuir com a
verificação dessas aprendizagens e evidenciam que o grupo até aquele momento
havia se apropriado de alguns dos conteúdos trabalhados nas oficinas. Em jogo
realizado, vemos que, na Figura 4 a identificação da ação básica pausa com o
símbolo convencional e, na Figura 5, da ação básica equilíbrio com o símbolo
convencional.
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Figura 4 - Ação básica pausa com o símbolo convencional. Fonte: Acervo pessoal.
Figura 5 - Ação básica equilíbrio com o símbolo convencional. Fonte: Acervo pessoal.
Outro momento que favoreceu uma avaliação das aprendizagens adquiridas
ao longo do percurso da pesquisa ocorreu durante a Oficina, quando os(as)
participantes assistiram ao vídeo da Profª Drª Ann Hutchinson Guest. No vídeo,
após dançar uma sequência de ações, é apresentada a partitura (
Motif
) referente
à mesma. Então, após assistirem ao vídeo, indagamos: O que aparece ao final do
vídeo? E obtivemos como resposta: “Os sinais dos movimentos que ela fez.” Ou
ainda a leitura de uma aluna, que avaliou: “Pelo que identifiquei a ordem foi essa:
equilíbrio, encolher, alongar, qualquer deslocamento, pausa, os outros três eu
não identifiquei.” Realmente a aluna estava correta e os três símbolos
desconhecidos eram os que não havíamos estudado nas oficinas. Aproveitamos
o momento para fazermos uma breve explanação de cada um deles. A Figura 6
mostra a partitura dançada no vídeo citado:
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Figura 6 - Parte do vídeo. Fonte:
Language of Dance Centre
21
.
Outro momento que evidenciou a aprendizagem dos símbolos foi quando
optamos por construir uma partitura coletiva que seria dançada e gravada em
vídeo para a finalização do trabalho. Naquele momento pudemos perceber, pela
participação das crianças e adolescentes, quais eram as ações que mais se
identificavam e, também, a compreensão dos símbolos correspondentes a elas.
Ao analisarmos o diário de bordo da pesquisa nos deparamos com uma
pergunta feita sobre como deveríamos começar a escrita da partitura, seu
registro e uma aluna respondeu: “Começa com dois tracinhos!”, externalizando ali
a convenção da partitura de movimento que havia descoberto no percurso das
oficinas.
Revisitamos agora o conceito de alfabetização em dança, visto que as
devolutivas citadas até então me evidenciaram a aprendizagem de algumas das
habilidades propostas nas crianças e adolescentes participantes das oficinas,
especificamente habilidades relacionadas à leitura, análise, escrita, comunicação
e reconhecimento da
Motif Notation
. Todavia, também era preciso avaliar
habilidades relacionadas à interpretação e à criação partindo desse tipo de
notação.
21 Disponível em: https://fb.watch/4jog0qusb5/. Acesso em: 18 mar. 2021.
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20
Fazeres da criação com
Motifs
: os jeitos de cada estudante
nas oficinas
McCutchen (2006
apud
Curran, 2011, p. 28) orienta que “[...] alfabetização em
dança envolve o conhecimento sobre dança e a capacidade de criar, performar e
responder à dança como forma de arte...”22. Portanto, se o objetivo era um
processo de alfabetização em dança partindo do uso da
Motif Notation
, não
poderíamos prescindir da interpretação e da criação durante as oficinas, ações
que, fundamentalmente, deveriam ser contempladas.
Importante ressaltar que proposições que envolviam a criação com a
Motif
Notation
foram planejadas e incentivadas desde a Oficina, quando os(as)
participantes foram convidados(as) a criar com símbolos relacionados aos
deslocamentos (caminhos) diretos, sinuosos, circulares, quaisquer
deslocamentos e pausa.
Destacamos alguns comentários, como o da aluna Nathália: “Nossa, em
pouco tempo conseguimos organizar uma coreografia!” A Professora Alessandra
destacou a questão da pausa, da importância em valorizá-la durante a
apresentação e, ainda nessa oficina, a estudante Emilly falou que o que a
chamou atenção foi a constatação de que: “Cada um tinha sua própria ideia ao
fazer.” E a estudante Nathália complementou: “Achei legal, os jeitos de cada um
fazer...”
As falas das estudantes Emilly e Nathália chamaram a atenção a ponto de
terem sido registradas no diário de bordo e também foram falas potentes que
emergiram no percurso da pesquisa. Falas perspicazes das adolescentes que
perceberam e valorizaram algo tão significativo no trabalho com a
Motif Notation
.
As estudantes conseguiram captar o potencial mobilizador desses símbolos em
favorecer experiências criadoras, ou seja, a dança original de cada um(a). Como
esclarece Ofer (2018) sobre a abordagem utilizada nas aulas envolvendo os
símbolos:
[...] são usados como uma ferramenta para a composição de segmentos
de movimento originais. Aqui, os alunos / educadores / artistas da dança
22 [...] dance literacy combines knowing about dance and the ability to create, perform, Andres pond to the
dance as anart form... (Tradução nossa).
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são convidados a descobrir o poder de conectar a representação
simbólica das ideias de movimento à prática real da dança, levando à
criação de frases ou peças de movimento originais e à leitura de
partituras, estabelecendo assim bases para a alfabetização nesta
linguagem23 (Ofer, 2018, p. 4).
Tais impressões nos orientaram a, inclusive, evidenciá-las nos títulos destes
escritos, partindo também da compreensão de que os símbolos da
Motif
Notation
partem de ações, de fazeres. Afinal, os fazeres originais de cada um(a)
nesse tipo de proposta são bases para a ação criativa, constatação tão potente
das estudantes que ainda estavam nas suas primeiras investigações com esse
tipo de linguagem e que merecia ser valorizada.
Além de comentários sobre as criações realizadas, uma estudante do grupo
sugeriu a gravação de um vídeo com as partituras criadas. Prometemos que
voltaríamos a essa proposta no decorrer das oficinas, o que de fato ocorreu,
visto que, como produto-final, elaboramos um vídeo a partir de um
Motif
criado
coletivamente na 7ª Oficina.
Um fato que chamou a atenção foi a disponibilidade do grupo para esse tipo
de proposta, disposição que, geralmente, percebemos no público infantil e
adolescente, mas que, devido ao momento pandêmico, nos surpreendeu. Outro
fato que possivelmente tem relação é que os(as) acadêmicos(as) da Academia
Estudantil de Letras (AEL) experienciavam oficinas de jogos teatrais
semanalmente com as Coordenadoras do Projeto, o que favoreceu grandes
contribuições no trabalho cênico do grupo. Durante as oficinas tivemos como
estratégia a utilização de vídeos com o objetivo de favorecer a fruição em dança
e ampliar o repertório do grupo, claro que também estabelecer relações entre o
experienciado nas oficinas e o apresentado nas telas. Provavelmente os vídeos
além de inspiração incentivaram esse tipo de encerramento e a sugestão de um
produto-final em vídeo.
Ainda sobre os vídeos de dança, dada a efemeridade da dança
(Strazzacappa, 2007) o ideal é apreciar ao vivo, contudo, convém lembrar que a
23 [...] are used as a tool for the composition of original movement segments. Here the dance
students/educators/artists are invited to discover the power of connecting the symbolic representation of
movement ideas to the actual practice of dance as leading ocreate original movement phrases or pieces
and reading Motif notation scores, thuses tablishing literate foundations in the field. (Tradução nossa).
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22
pesquisa foi desenvolvida em um período pandêmico24, o que inviabilizou a
frequentação a algum espetáculo presencial, logo, o audiovisual contribuiu com
as discussões e os percursos das aprendizagens do grupo. Apresentamos a
seguir alguns assuntos despertados nas rodas de conversa sobre as fruições.
Com relação ao vídeo da companhia mineira
Grupo Corpo25
, os(as)
estudantes destacaram aspectos relacionados: à expressividade; ao ritmo; ao
companheirismo e à coletividade que transparecem na apresentação; às partes
do corpo que se sobressaíam em alguns momentos, como cabeças, braços,
pernas; à conexão entre a música e a
performance
dos(as) bailarinos(as) e à
iluminação. Foi interessante ouvir o comentário de uma aluna que destacou que,
se não tivesse realizado a oficina, acharia estranha a apresentação, mas como
tinha participado “achou bacana”, evidenciando assim a mudança de olhar
proporcionada pelas atividades até aquele momento.
Outra aluna concluiu: “Como os movimentos eram nítidos”, trazendo aqui
um aspecto bastante abordado no decorrer dos trabalhos, visto que
enfatizávamos muitas vezes a necessidade de o espectador visualizar a essência
do gesto dançado, a intenção de transmitir a ação básica do movimento
escolhida com clareza para aquele(a) que a vê.
E em se tratando de quem frui um espetáculo de dança estar também se
colocando em dança (Bardet, 2014), foi isso que a aluna Sara ponderou: “Eu fiquei
imaginando se a gente fizesse alguns daqueles movimentos em alguma
apresentação da escola.”
O vídeo da Profª Drª Ann Hutchinson Guest suscitou diversas reflexões,
dentre elas: a calma e a serenidade presentes na
performance
da bailarina; as
relações com as ações básicas do corpo experienciadas nas oficinas; a
expressividade dos gestos dançados e, segundo as crianças e os(as)
adolescentes, a energia boa transmitida na interpretação, também o destaque à
partitura que ela executou e que aparecia no final do vídeo.
Além dos aspectos citados, o vídeo foi bastante elogiado pela harmonia
24 As oficinas foram realizadas entre os meses de setembro e novembro/2020.
25 Neste caso o vídeo
Paralelo
(Grupo Corpo, 1997). Disponível em:
https://vimeo.com/ondemand/grupocorpoparabelo/149229922. Acesso em: 18 mar. 2021.
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23
entre sons, movimentos e espaços. A ambientação escolhida favoreceu uma bela
composição entre o cantar dos pássaros, as árvores, as plantas, a luz solar e a
bailarina executando sua dança. Importante ressaltar que quando contamos sua
idade26 os(as) presentes se espantaram, dada a vitalidade de sua
performance
. O
vídeo de Guest finalizou com um convite: Qual é sua partitura?27
Importante observar que comentários sobre corpo-espaço, temática tão
abordada nos estudos do
Sistema Laban/Bartenieff
, despertaram grande
interesse no grupo. Julgamos necessário ponderar sobre alguns assuntos
relacionados à Harmonia Espacial despertados pelo audiovisual:
[...] o ponto de partida fundamental parece ser a percepção do ser
humano como um corpo arquitetônico movendo-se no espaço, assim
definindo movimento como uma arquitetura viva, vendo as leis das
proporções no espaço, no corpo e na sua interação assim como
relevando a importância da comunicação no e com o espaço
(Fernandes, 2006, p. 180).
Assim, as fruições dos vídeos também favoreceram revisitar uma sugestão
realizada ainda na Oficina, pois naquela ocasião uma aluna sugeriu que
realizássemos uma gravação em vídeo e em um dos encontros criamos uma
partitura coletivamente e ficou o convite para que encaminhassem um trecho
em vídeo dançando-a. Apresentamos a seguir, na Figura 7, a partitura criada
coletivamente naquele encontro e registrada no diário de bordo do pesquisador.
Figura 7 - Partitura criada coletivamente. Fonte: Acervo pessoal.
26 Em 2020 a artista completou 102 anos.
27 #WHATSYOURSCORE.
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24
Consideramos curioso observar que, em sintonia com o que sugere
Thiollent (2011), o audiovisual pode ser considerado um meio de divulgação
externa das sínteses das aprendizagens da pesquisa-ação. O autor ainda ressalta
a importância em se compartilhar as descobertas entre os(as) participantes e
também para um público externo ao processo de pesquisa. Portanto, o vídeo28
editado a partir das gravações individuais de cada participante das oficinas foi
um produto-final que sintetizou as aprendizagens dos(as) estudantes no
percurso.
O transcorrer da pesquisa apresentou algumas evidências relacionadas ao
processo de criação, dentre elas: os desafios em se realizar o processo criativo a
distância e em um contexto inédito, visto que nunca havíamos realizado
propostas remotas semelhantes antes da pandemia com as crianças e os(as)
adolescentes; as possibilidades de interação, mesmo que cada um na sua tela e
da sua casa, aspecto destacado inclusive nas falas das crianças, como a Ana
Luiza que comentou: “Acho diferente, nas aulas fazíamos algumas coisas,
mesmo na pandemia estamos fazendo alguma coisa interativa.”; as investigações
que perpassaram criações individuais e coletivas, mesmo que devido às
diferentes conexões e velocidades de
internet
apresentavam tempos e
performances
não tão síncronas como o desejado; a potência do trabalho com a
Motif Notation
, que muitas vezes nos surpreendeu, pois na Oficina o grupo
dominava sua leitura e interpretação, fazendo emergir diferentes criações e cada
um(a) contribuindo com suas singularidades e ainda a ludicidade que esse
símbolos e essas histórias puderam favorecer com as crianças e adolescentes,
alguns deles como equilíbrio, queda, deslocamento sinuoso, por exemplo, foram
garantias de experiências criadoras e brincantes. Como poetiza Manoel de Barros
(2013, p. 437): “Nossa linguagem não tinha função explicativa, mas só brincativa.”
Considerações finais
Rudolf Laban tem uma vasta pesquisa sobre o movimento humano,
contudo, apenas os quatro fatores do movimento (tempo, espaço, peso e fluxo)
28 Após o envio das gravações, o vídeo foi editado e organizado para divulgação, o mesmo encontra-se
disponível em: https://youtu.be/-46OLh-SCFI. Acesso em: 12 fev. 2023.
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são uma das temáticas mais disseminadas por todo mundo. E ousamos dizer
que os tempos pandêmicos trouxeram para os quatro fatores desafios nunca
dantes imaginados, fomos desafiados a reelaborar e questionar todo o escopo
construído até o momento no trabalho presencial com a linguagem da dança.
Passados dias, semanas e meses de distanciamento social em 2020, as
pessoas envolvidas com as artes do corpo (teatro e dança) se viram desafiadas a
utilizar a virtualidade para a continuidade do trabalho cênico ou permanecer na
interrupção que angustiava a população em geral, visto que o período
pandêmico se prolongava.
Nesse contexto optamos por realizar a parte empírica desta pesquisa,
sabendo que o que havíamos planejado poderia tomar outros rumos, agora com
as oficinas realizadas por videoconferências com um número menor de crianças
e adolescentes, pois vários não teriam equipamento ou conexão à internet.
Este estudo de caso com um grupo de crianças e adolescentes da Escola
Municipal de Ensino Fundamental Júlio de Oliveira se deparou com situações
adversas e que refletiram diretamente nos resultados encontrados na pesquisa.
Dentre as situações adversas destacamos: o número de crianças e adolescentes
que puderam participar das oficinas, visto que o auxílio com pacotes de dados e
equipamentos tardou a chegar às escolas públicas durante o período de
distanciamento; as possibilidades de planejamento remoto com as professoras
responsáveis pelo Projeto AEL e que compartilharam conosco os caminhos da
pesquisa; as interrupções ocorridas com as questões tecnológicas e as
dificuldades em participar integralmente das oficinas que crianças e
adolescentes enfrentaram; o contexto de ensino remoto que impõe dificuldades
no trabalho com a dança, além de questões enfrentadas com cada família no
período pandêmico, o que muitas vezes obrigou a optar por participar ou não do
processo.
E foi perante essas situações adversas no trabalho com a dança que a
pesquisa também apontou a possibilidade de se desenvolver uma proposta de
alfabetização em dança partindo dos símbolos das ações básicas e a
Motif
Notation
, bem como relacionar aspectos dessa linguagem e a alfabetização em
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língua portuguesa, além de possibilitar a aquisição de características da
Motif
Notation
na escrita das partituras com crianças e adolescentes.
O percurso da pesquisa evidenciou também a potência do trabalho com a
Motif Notation
para a criação em dança, questão evidenciada na elaboração do
vídeo da composição coreográfica a partir da partitura construída coletivamente
nas oficinas em que cada criança ou adolescente fez sua gravação e encaminhou
para edição que originou o vídeo “Entre jeitos e fazeres: experiências com
Motifs
na escola”29, produto-final do trabalho.
E, para finalizar, o trabalho empírico realizado evidenciou a possibilidade de
se construir conhecimentos a partir de uma proposta de alfabetização em dança
nas oficinas práticas, saberes que puderam ser vislumbrados nas escritas das
partituras, na utilização das convenções da
Motif Notation
, nas danças criadas e
nas devolutivas das crianças e adolescentes durante a experiência relatada.
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Recebido em: 19/09/2024
Aprovado em: 23/11/2024
Universidade do Estado de Santa Catarina
UDESC
Programa de Pós-Graduação em Teatro
PPGT
Centro de Arte CEART
Urdimento
Revista de Estudos em Artes Cênicas
Urdimento.ceart@udesc.br