
Escrita performativa e corpo em jogo
Conrado Augusto Gandara Federici | Ana Cristina Colla
Florianópolis, v.1, n.54, p.1-27, abr. 2025
participantes: a proximidade da voz e do ouvido, as palavras escolhidas e
proferidas individualmente, a distância curta, à queima roupa e, a improvisação
com as materialidades e o corpo e a disposição daquelas pessoas que se
mostravam diante das demais, que recebiam e assistiam. Uma música catalisava
e acompanhava os estados de afeto.
Parece ter havido medo, risco, revelação, jogo, sutileza, cumplicidade, enfim,
beleza. O grupo testemunhava os diversos processos inacabados de pesquisa13.
Como isso refletiria, ou melhor, transbordaria para as escritas? Como levar e fazer
fluir da experiência corporal para a experiência escritural? O exercício da oralidade
como partilha primeira, ao permitir certa aproximação e fluidez, apontaria
direções, expandindo possibilidades, suavizando a escrita?
O exercitar de uma escrita performativa
Pois dissemos que o entender é uma pura paixão, isto é, uma percepção,
na mente, da essência e da existência das coisas, de modo que nunca
somos nós que afirmamos ou negamos algo da coisa, mas que ela
mesma, em nós, afirma ou nega algo de si mesma (Espinosa, 2014, p.123,
grifos do autor).
Finalmente, a consigna para o início do exercício de escrita performativa foi:
levando em conta (tudo o que fizemos antes, mas) principalmente o trabalho
artesanal e dialogado de mostrar as materialidades e receber de volta perspectivas
diversas, iniciar uma escrita que escorra, transborde, derive do seu próprio
tema/paixão apresentada. A busca é por uma escrita que se erga junto dos
próprios desafios mostrados, não para apresentar respostas, definições ou
justificativas, mas que acompanhe movimentos e abra camadas de percepção e
que seja capaz de absorver contrastes.
Compartilho o meu processo, não como um modelo, mas como uma
pista que também começo a farejar da produção/composição:
- Apresentei algumas marcas/rastros do meu percurso (dissertação,
livros marcantes, tese, redação da escola, discurso de paraninfo, títulos
13 Trazemos um interessante paralelo para a performance de solos de dança em museus: “O raciocínio desta
operação poderia ser algo assim: “Se eu te mostrar como aprendi a dançar, ou o que este movimento
produziu em mim (a pergunta que Le Roy fazia com persistência aos performers), estou desvelando para
você o processo de me tornar eu mesmo, não importa o quão anônimo, trivial e necessariamente aberto
isto possa ser.”” (Cvejic, 2015, p.37)