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Escrita performativa e corpo em jogo
Conrado Augusto Gandara Federici
Ana Cristina Colla
Para citar este artigo:
FEDERICI, Conrado Augusto Gandara; COLLA, Ana
Cristina. Escrita performativa e corpo em jogo.
Urdimento
Revista de Estudos em Artes Cênicas,
Florianópolis, v. 1, n. 54, abr. 2025.
DOI: 10.5965/1414573101542025e203
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Escrita performativa e corpo em jogo
Conrado Augusto Gandara Federici | Ana Cristina Colla
Florianópolis, v.1, n.54, p.1-27, abr. 2025
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Escrita performativa e corpo em jogo1
Conrado Augusto Gandara Federici2
Ana Cristina Colla3
Resumo
Trata-se de experiências ocorridas na disciplina Escrita Cartográfica e Performativa em Jogo
ministrada na Pós-graduação em Artes da Cena do Instituto de Artes da Unicamp no primeiro
semestre de 2024. Foi estimulado um movimento espiralado em direção às materialidades
das pesquisas, exercitando escritas experimentais. Os gestos pedagógicos de acolher,
compartilhar, espreitar, tensionar foram acionados permitindo que as singularidades
escreventes decorressem dos objetos de pesquisa. Destacaram-se como aspectos teóricos,
hibridizadas à oralidade, as “marcas” (Rolnik, 1993) e “cenas fulgor” (Llansol, 2011). A escrita
performativa manifestou-se no fragmentário como formato legítimo de escrita.
Palavras-chave:
Jogo. Performatividade. Escrita. Metodologia. Corpo.
Performative writing and the body at play
Abstract
These are experiences that took place in the course Cartographic and Performative Writing
in Play, taught in the Postgraduate Programme in Performing Arts at the Unicamp Institute of
Arts in the first semester of 2024. A spiral movement towards the materialities of the
research was encouraged, exercising experimental writing. The pedagogical gestures of
welcoming, sharing, peeking and tensing were activated, allowing the writing singularities to
arise from the research objects. ‘Marks’ (Rolnik, 1993) and “glowing scenes” (Llansol, 2011)
stood out as theoretical aspects, hybridised with orality. Performative writing manifested
itself in the fragmentary as a legitimate writing format.
Keywords:
Play. Performativity. Writing. Methodology. Body.
Escritura performativa y cuerpo en juego
Resumen
Son experiencias que tuvieron lugar en el curso Escritura Cartográfica y Performativa en
Juego, impartido en el Programa de Postgrado en Artes Escénicas del Instituto Unicamp de
Artes en el primer semestre de 2024. Se propició un movimiento en espiral hacia las
materialidades de la investigación, ejercitando la escritura experimental. Se activaron los
gestos pedagógicos de acoger, compartir, espiar y tensar, permitiendo que las singularidades
de la escritura surgieran de los objetos de investigación. «Marcas» (Rolnik, 1993) y “escenas
resplandecientes” (Llansol, 2011) se destacaron como aspectos teóricos, hibridados con la
oralidad. La escritura performativa se manifestó en lo fragmentario como formato legítimo
de escritura.
Palabras clave
: Juego. Performatividad. Escritura. Metodología. Cuerpo.
1 Revisão ortográfica, gramatical e contextual do artigo realizada por Carla Cristina Dias Indalécio. Graduação em Letras pela
Universidade Paulista.
2 Pós-doutorado em Artes da Cena pela Universidade Estadual de Campinas. Doutorado em Educação pela UNICAMP.
Mestrado em Educação pela UNICAMP. Graduação em Educação Física pela UNICAMP. Professor Associado II na
Universidade Federal de São Paulo Campus Baixada Santista (UNIFESP). conrado.federici@unifesp.br
http://lattes.cnpq.br/3681092599687250 https://orcid.org/0000-0002-1655-7159
3 Doutorado e Mestrado em Artes da Cena pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Graduação em Artes Cênicas
pela UNICAMP. Atriz-pesquisadora do LUME Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais. accolla@unicamp.br
http://lattes.cnpq.br/2342289588606508 https://orcid.org/0000-0002-5298-3040
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Uma disciplina de pós-graduação
O calor da minha infância me guiou pela rua afora, passando por um
curioso emaranhado vegetal suspenso no céu, até me surpreender com
a coragem de um galo, de um galinho garnisé, indiferente a vários
cachorrinhos sapecas que lá brincavam também. Quisera eu cantar forte
assim! (caderno de notas)
Escrever com é dizer: estou com aquilo que estou a escrever. Escrever
com implica em observar sinais; o meu pensamento é um pensamento
emotivo, imagético, vibrante, transformador. É talvez daí que nasce a
estranheza desse texto imerso em vários extractos de percepção do real
(Llansol, 2011, p.12).
Escrever, pelo menos no sentido que eu tenho usado até aqui, é um
artesanato manual, a arte dos escribas. As linhas inscritas na página, quer
na forma de letras, neumas, sinais de pontuação ou figuras, eram os
traços visíveis de movimentos habilidosos da mão (Ingold, 2022, p.51).
Reunimo-nos todas as terças-feiras, após o almoço, dispostos a investigar o
que seria essa tal de escrita performativa. Ou talvez esse fosse o rótulo, a
nomeação conhecida, que nos permitiria girar em torno, revirar as angústias e
inseguranças que nos acometem quando temos que colocar em palavras
experiências-desejos-intuições vividas e ainda não nomeadas. Algo nos escapa.
Algo nos move. Algo nos inquieta.
Somos 15. Às vezes, 11. Outras 13. Ou até menos. Nunca mais.
Nossos encontros têm hora para começar e hora para acabar, mas sempre
começamos e acabamos um pouquinho depois.
Meu coração tem o desejo imenso
De ver o dia nascer pelo avesso4
Assim cantamos, em roda, afinando desafinando, nos reconhecendo. Tornou-
se o nosso rito de chegada. Cantar junto.
Respirar. Ação que complementou o rito. Inspirar, expirar.
Chegar de corpo inteiro. Abrir as antenas.
4 https://www.youtube.com/watch?v=-LKcYxjDphU
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Suspeitamos fortemente que essa escrita digitada, que impõe um certo ritmo
e que permite malabarismos gráficos, tem grande interferência no teor dos textos
acadêmicos, uma vez que ela sintoniza perfeitamente com um “andamento
maior”, este dos tempos atuais, tempos de dispersão absoluta. Seria errôneo
creditar somente a um déficit cognitivo ou qualquer outra patologia moderna,
como o TDAH5 por exemplo, a incapacidade de se escrever sobre uma experiência
vivida e relacioná-la ao pensamento de um autor. As experiências se acumulam e
se sobrepõem atropeladamente, as inúmeras leituras rápidas e rasteiras se
multiplicam, as referências se pulverizam na velocidade da luz.
E se experimentássemos escrever à mão, como ato de refreamento e
resistência contra a normatização e o imperativo dos dispositivos eletrônicos? E
se o corpo e a presença fossem chamados desde o princípio a participar da escrita
de um modo contra-hegemônico?
Pois bem, a disciplina com pós-graduandos e afins do Programa de Pós-
graduação em Artes da Cena do Instituto de Artes da Unicamp iniciou nas tardes
bem quentes de março de 2024 e seguiu, semana após semana, até finais de junho
do mesmo ano, na sede do Lume Teatro.6
Desde o primeiro encontro, espontaneamente, as quinze pessoas7usavam
caderninhos, blocos e demais recursos manuais. Um alento e uma esperança: o
fluxo das experiências pode alcançar o registro da escrita seguindo uma linha mais
contínua e sustentada pelo corpo.
Além disso, a escrita à mão permite que o rastro, o vestígio, o erro
permaneçam. Em outras palavras, a escrita à mão produz a história, marca como
se deu o processo, deixa registrados os passos, idas, vindas, afirmações,
abandonos, saltos, enfim, todo o mapa do pensamento em estado aberto e
experimental. O compartilhar do trajeto aponta para a camada cartográfica da
experiência.
5 Transtorno de déficit de atenção com hiperatividade.
6 Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais da Unicamp.
7 A turma foi composta por Andrea Desiderio Silva, Cachú Guilherme Martins, Camila Farias Ramalho, Carolina
Gasquez, Cristiane Fátima Santos, Dayane Ribeiro Santos, Júlia Caroline Favoretto Prudencio, Júlia Ferreira,
Maciej Rozalski, Mayara Milany do Nascimento Bezerra, Michele Carolina Silva, Paula Marchini Senatore,
Poena Viana Pereira.
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No princípio da jornada, vimos aprimorando modos de se produzir escritas
mais leves, desfocadas, lúdicas, distantes ainda de quaisquer outras modalidades
que estivessem preocupadas com estilo, autoria, endereçamento ou os contextos
de pesquisas particulares.
Como atividade inaugural e de acolhimento, levando em conta que cada
pessoa veio de um canto diferente, gente chegando agora na academia, gente
querendo entrar, gente que já escreveu tese, outra que tem pavor, outra que quer
e não sabe como, a que tem medo pelo complicado da coisa, pelo ouvir dizer de
que tem que ser assim e assado e a regra tal e outra tal, que vai travando o passo
e fechando a garganta, decidimos começar pelo começo. Chegar fabulando o si e
o outro si.
Jogo 1 Apresentar a outra pessoa como se fosse a si mesma.
Fabular a partir do que vê, percebe, pressente. Não para adivinhar, acerto ou erro.
Nem como quem tenta desvendar ou revelar algo que se pretende esconder. Só deixar
escorrer aquilo que do outro te atravessa. Do modo de vestir, das cores, do olhar, da
tatuagem, do tom da voz, do sorrir. Fabular. Compor. Em palavras. Da mão para o papel.
O caminho das palavras passando pelas mãos.
Em seguida, ler para o grupo aquilo que escreveu. A apresentação de si outra.
Cris - Carolina
Meu nascimento foi às pressas. Nasci três semanas antes da data esperada. Tive
pressa e nasci no táxi, a caminho do hospital. Me deram o nome de Carolina, desejo da
minha irmã mais velha. Podem me chamar de Carol, gosto mais.
Adoro o céu azul e flores desenhadas.
Minha comida preferida são aqueles confetes de chocolate coloridos. Coloco cores
e
bolinhas no cabelo para não me esquecer disso e me acalmar.
Sempre dizem que meus olhos parecem duas jabuticabas maduras. Gosto de ouvir
isso e os imagino estalando na boca de alguém. Dá um barulhinho bom!
Minha mãe era fã da Marilyn Monroe e de tanto sonhar com a beleza dela nasci
com essa
pinta na beirada dos olhos.
Gosto do meu corpo e me sinto à vontade nele. Andar pelada me dá um prazer
imenso.
Reservo os domingos para isso.
O quanto nos revelamos na nossa escrita, mesmo falando sobre uma outra
pessoa? As palavras que elegemos, nosso repertório imaginário, nos contam por
através?
Incitávamos que havia um tempo curto, de dez a quinze minutos, como uma
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das regras daquela etapa do jogo. Essa ligeira pressão, ao invés de se aparentar
com as lógicas produtivistas mais óbvias, servia mais como um distensionamento
da tarefa, como um toque da ligeireza infantil, um tônus, catalisador de
brincadeiras e provocações entre o grupo, ao mesmo tempo em que escrevíamos
e nos conhecíamos no mosaico de espelhos ali formado. A rapidez era condição
de desvio instantâneo de mecanismos de defesa imediatos. “A narrativa é um
cavalo: um meio de transporte cujo tipo de andadura, trote ou galope, depende do
percurso a ser executado, embora a velocidade de que se fala aqui seja uma
velocidade mental” (Calvino, 1990, p.52).
Escrever nessas condições é mais gostoso. Relacionar o gesto de escrever ao
prazer pelo próprio ato parece ser primordial para que os resultados sejam
consequentemente mais significativos e se distanciem, aos poucos, de tarefas
automatizadas. Uma certa recuperação do prazer de escrever era um pressuposto
e um movimento a ser investido.
Assim, fizemos pequenos textos de apresentação de uma outra pessoa,
misturando ficção e realidade, lemos em primeira pessoa, entrevistamo-nos,
checamos as informações, inventamos e redigimos mais um pouco, ouvimos
nossas escritas serem lidas por bocas alheias, enfim, produzimos uma
promiscuidade de identidades e de autorias. Um primeiro e sutil deslocamento.
Em um encontro posterior, fizemos uma caminhada, também com tempo
determinado, na busca de afetações e marcas que o percurso pudesse nos dar.
Fizemos um mapa com os vestígios e memórias recolhidas para, em seguida,
sintetizar a experiência em um parágrafo escrito.
Pois bem, no visível uma relação entre um eu e um ou vários outros
(como disse, não humanos), unidades separáveis e independentes;
mas no invisível, o que é uma textura (ontológica) que vai se fazendo
dos fluxos que constituem nossa composição atual, conectando-se com
outros fluxos, somando-se e esboçando outras composições. Tais
composições, a partir de um certo limiar, geram em nós estados inéditos,
inteiramente estranhos em relação àquilo de que é feita a consistência
subjetiva de nossa atual figura. Rompe-se assim o equilíbrio desta nossa
atual figura, tremem seus contornos (Rolnik, 1993, p.242).
No processo entre a experiência da caminhada individual, a organização da
concretude do mapa, o ato de narrar e a pequena escrita, foi possível perceber a
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vontade da poética brotar na diversidade das cenas narradas, na escolha de
palavras. As composições, as invisibilidades, a coletividade em fluxos.
Figura 1 Exercício de escrita após caminhada livre. Foto: Ana Cristina Colla
Em uma das escritas produzidas, trocadas e lidas em voz alta entre o grupo,
a Andrea comentou algo do tipo: “nossa, o texto muda bastante de acordo com
quem está lendo…”. Este pareceu ser um dado importante, que chamou nossa
atenção: a obviedade da observação feita pela Andrea, no coletivo de artistas da
cena e que, portanto, está acostumado a lidar com a expressividade como matéria
principal de trabalho, não havia ainda sido objeto de nossa reflexão. Um segundo
deslocamento, agora com uma cor. Seria uma “cena fulgor”, nas palavras de
Llansol (2011)?
Isso pareceu-nos ser determinante para os primeiros contornos acerca de
uma definição mais clara do que poderia ser para nós uma escrita performativa.
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Foi trazida, como exemplo, a referência a um texto escrito pelo Conrado e que,
contextualmente, havia tido a necessidade de que constasse a seguinte nota de
advertência no rodapé: “Sinto que esta é uma escrita para ser ouvida, pois tem um
teor de oralidade”.
Parece então que a escrita performativa está também preocupada com a
escuta do texto por outras vias que não somente aquela cuja leitura mental e
solitária de um texto escrito é capaz de promover no movimento e na condução
dos pensamentos. Uma convocação de corpo inteiro.
Foi interessante perceber a maneira imprevista pela qual a abordagem
conceitual nasceu das próprias experiências que vivíamos. Era isso: a escrita
performativa transborda do vivido e dele precisará dar conta e com ele deverá se
haver.
A escrita performativa convida o jogo da oralidade a se achegar ao papel, à
tela. Alça fios e se mistura com as regras da oralidade e corporeidade em suas
especificidades, convocando os modos de registro a inventar, preservando um
manancial de criação e deslocando-o para o contexto em que ousará adentrar:
algo de oral nesses textos, ao mesmo tempo. A voz não esfora do
texto. A voz não está dentro nem fora do texto… Ao mesmo tempo é uma
voz extremamente corpórea, é muito objetal essa voz. E, quando ela fala,
ela provém de um corpo real que sabe perfeitamente qual é a sua
experiência, o que viveu… Digamos que ela traz as marcas de sua própria
existência… (Llansol, 2011, p.49-50).
Dayane ainda impulsionou a reflexão sobre a força da oralidade em uma
escrita performativa ao questionar como esse aspecto poderia ser mencionado,
incorporado, em sua própria produção escrita, pois percebeu um recurso a ser
aproveitado. Diante da realidade histórica e majoritariamente opressiva de um
meio acadêmico racista, ensinou-nos como agir mais eticamente referenciando as
participações na produção coletiva do conhecimento, enaltecendo a(s) voz(es) a
quem de direito e evitando a continuidade do apagamento seletivo de tantas
outras vozes. Esse foi um importante deslocamento a ser destacado e que
emergiu nesta etapa inicial do trabalho.
Até aqui, talvez fosse possível inferir que a escrita performativa vem
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habitando o meio acadêmico como forma reativa (Saber de Mello, 2020) a um
progressivo constrangimento, a um crescente processo de formalização,
protocolização e de regras de padronização excessiva. Mas se impunha uma
questão: sem reduzi-la a esta própria crítica, como explorá-la e desbravá-la dentro
da universidade, fazendo uso dos mesmos recursos de pesquisa, ensino-
aprendizagem, leitura, produção e publicação de artigos em periódicos,
participação em congressos, organização e comunicação em simpósios, dentre
outras modalidades do meio acadêmico?8
A escrita performativa ousa querer animar e dar um pouco mais de vida às
palavras tão acostumadas a serem chamadas de mortas. Ela dialoga com a
música e faz soar múltiplas vozes simultaneamente. Polifonia.
COMO EU ESCREVO?
COMO VOCÊ ESCREVE?
QUANDO
PARA QUÊ
POR QUÊ
PARA QUEM
ONDE
Quantos “EUS” somos?
escrevo, miudinho, com o medo sempre rondando,
à espreita,
acocorado em minhas costas.
medo de não ser suficiente.
medo de parecer superficial.
medo de não estar vendo.
quando esqueço do medo
ou quando o tranco na gaveta,
escrevo prazerosamente,
confiante,
segura de que cada palavra tem seu poder e o seu motivo para estar ali.
mas isso é raro de acontecer.
então, quase sempre, escrevo com o medo e apesar dele.
gosto quando sou possuída pela escrita.
gosto da sensação febril no corpo,
da suspensão do tempo, da excitação.
escrevo melhor em jejum prolongado.
8 É de uma tenacidade o que fazemos aqui: utilizando as ferramentas eurocêntricas para destituir a
eurocentralidade (Panamby, 2017, p.12 apud Colla, 2019, p.16).
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o que é difícil, já que tenho o impulso de comer porcarias quando o pensamento encontra um nó ou não vê saída.
só sei escrever sobre o vivido.
escrevo muito em cadernos, sempre pequenos fragmentos, sonhos, desejos, inspirações, reinventando o passado
ou ambicionando futuros.
travo quando tenho que escrever projetos. Não saber com quem falo e ter que escolher as palavras certas entre
as palavras que alguém determinou serem as certas.
Oi! Hoje saí emocionado... as pessoas do grupo,
bem homogêneo, após um aquecimento oral de
conversa em trio sobre a leitura e em dupla sobre o
escrever, realizaram uma escrita de reconhecimento da
própria escrita. Uma generosidade sem tamanho.
Estamos no caminho.9
Movimento espiralado suave em direção às nossas escritas
O computador na cama, no lugar mais íntimo que eu imaginava que
pudesse existir, a ser protegido e resguardado de quaisquer reuniões de
trabalho. Nervosismo, curiosidade, animação, medo, criança, coelho, mil
mortes por dia, encontro síncrono, microfone.
Vamos brincar? Vocês estão aí? Quem está aí? Tem alguém aí? Abre a
câmera, presença, jogo, presença, confiança, presença, medo, jogo, jogo…
(Cena fulgor redigida em sala de trabalho)
Em um primeiro movimento, conforme narrado, confiamos que os jogos
acolhessem e dialogassem com os atritos e ranços que a expressão “escrita
acadêmica” provocam, produzindo e rememorando, em grupo, vias de acesso mais
maleáveis, pretensamente desarmadas, positivas mesmo, para a redação.
Levamos tão a sério os jogos como procedimento que nos permitimos a
criação de programas de escrita (com indicadores de tempo, espaço, temas,
materiais necessários), possíveis de serem executados, mas sem a ambição de
serem formais ou replicáveis ou eficientes. Nesses programas, fabulamos
situações para a “escrita ideal”, em busca de reconhecer idealizações das
condições de escrita que projetamos e que nos frustram ou distanciam da ação
9 Mensagem do Conrado para a Cris, via WhatsApp, no dia 26 de março, após a aula (Cris estava na Bélgica
nesse dia).
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primeira para que a escrita aconteça: escrever.
Os programas foram criados em duplas ou trios e oferecidos ao restante da
turma, sendo que cada pessoa elegeu qual programa gostaria de executar. Foi mais
uma estratégia para seguirmos na direção do desejo de que a escrita fosse
praticada, exercitada em todas as aulas, para que as palavras se tornassem nossas
companheiras de sala, para que as palavras que escorrem do corpo, das ações,
fossem o nosso meio de aproximação do que parece indizível. Mesmo cientes de
que “a linguagem é sempre uma aproximação, jamais exprime completamente o
que quer que deseje dizer” (Manguel, 2021, p. 106), seguimos tentando. O jogo e a
ludicidade que dele faz parte, nos encorajavam a seguir arriscando.
Tire os sapatos.
Pegue caderno e lápis.
Caminhe de pés descalços na área externa (dentro do Lume).
Escreva uma frase.
Escolha outro lugar para ir. Ao chegar nesse novo lugar faça
circulações com quadril e cabeça simultaneamente por 3 vezes.
Respire fundo.
Escreva uma frase.
Coloque-se de frente ao oeste e escolha uma posição que teste
seu equilíbrio e permaneça nela por 1 minuto.
Escreva uma frase.
Escolha uma árvore, sente-se embaixo dela e escreva
livremente relacionando as frases pescadas com qualquer
aspecto da sua pesquisa.10
**
Por que andar descalça doi e é tão prazeroso?
...
O espirro me bagunça mais que o rebolado!
...
O que vem de baixo me atinge. Cada pisada é um choque entre
pedra-pele mato-calo terra-unha rachadura-dura e rachadura-
mole.
10 Programa proposto pela dupla Andrea e Poena.
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Entre cada rachadura há um espaço e entre cada espaço há
outro espaço. Em um telefone-sem-fio há uma teia, que muda
o assunto de pato pra ganso antes mesmo que possamos
sentir pena daquilo que não foi. E o que o cu tem a ver com as
calças eu também não sei, mas no caminho entre o dito e o
não dito eu tropecei nos meios-ditos e ralei o meu dedão. Nem
pé, nem cabeça. E se você me manda olhar para o oeste e o sol
muda de lugar, em quem eu coloco a culpa por eu ter olhado
para baixo? E quem vai pagar o ganso?11
Ao falar sobre a questão das idealizações, permitimo-nos expor nossos mitos
e reconhecer que não existe a situação ideal para que a escrita flua e nem existe
a escrita ideal. A tentativa de controlar os fatores que causam distração e podem
nos atrapalhar ou mesmo a crença de que isso seja possível, fez com que nos
atentássemos para o risco de uma higienização da escrita, em detrimento do seu
caráter vibrante e instável. Nos fez bem arejar esse aspecto e nos rendeu boas
risadas.
noite bem dormida. canetas coloridas. meias quentes. perfume de
alecrim. música suave. estourar saco bolha. xícara de café. frases
motivacionais. dia inteiro livre. café com canela. lavanda. chá. escalda
pés. celular desligado. livros e objetos acolhedores. sem filhos, nem
mães por perto. casinha com jardim e sem vizinhos. dia ensolarado.
silêncio. reler em voz alta. estar descalça. banho tomado. costas para o
norte. não se importar com o tempo. deixar o texto descansar. estojo
de canetas, água, lanchinho e bola de tênis para massagem.
O nosso movimento espiralado, suave, em direção às nossas escritas nos
permitiu a criação de um ambiente de grupalidade, um solo fértil e confiável,
propiciando o reconhecimento de nossos hábitos e resistências. Um
reconhecimento de si. Rodeando, rodeando, rodeando modos de escrever.
As materialidades da paixão de pesquisa
Um segundo e decisivo movimento se deu na instigação das “paixões de
pesquisa”. Inicialmente, evitávamos falar em “projetos”, reservando um pouco o
11 Texto elaborado por Cachú a partir do programa proposto pela Andrea e Poena.
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vocabulário cansado do meio. Durante alguns encontros, procuramos uma
aproximação mais direta às paixões individuais de pesquisa e, para isso, pedimos
que trouxessem as materialidades que faziam constituir e afirmar essas paixões.
Poderiam ser materialidades os objetos, roupas, textos, situações, livros,
fragmentos, músicas, fotos e imagens, enfim arquivos/documentos/pegadas do
percurso da pesquisa até ali, registros materiais do processo criador, que nos
ajudariam a desvelar/aproximar/reconhecer os movimentos da pesquisa, sempre
móveis e inacabados. Uma espécie de constelação que nos auxiliasse a
transver
os rastros da pesquisa.
O próprio movimento de escolha de quais elementos trazer (entre tantos)
para a composição, já revelava uma primeira camada de aproximação, do que era
importante, do que tinha que estar, do que perdurou no tempo. Essa síntese,
intrínseca à escolha (por que esse e não aquele?), já provocava, logo de saída, um
exercício de decantação. Aqui pairava a dúvida: quem escolhe quem? O objeto me
escolhe ou sou por ele escolhido? Quem convoca quem?
Com as materialidades eleitas, uma outra ação se fez necessária: dispor
espacialmente cada um desses materiais, com a atenção refinada às
sensibilidades que emanam de cada elemento e aos sentidos que se desdobram
a partir da rede de relações que estabelecem entre si. Com isso, um processo de
composição individual começou a ser cultivado por meio de elementos palpáveis,
cuidadosa e reflexivamente escolhidos, dispostos, mexidos e remexidos no/pelo
espaço, formando algo fisicamente perceptível para todas as pessoas.
Estas composições foram apreciadas pelo grupo e foi possível compartilhar
livremente o que estava sendo reparado. Era uma prática de constatação, bem
mais do que interpretação de sentidos. Os sentidos acabaram se compondo por
através, por entre, pelas frestas do que era desvelado pelas palavras que, por sua
vez, vazavam do que o olhar podia captar.
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Figura 2 Materialidades compostas a partir das paixões de pesquisa de
(da esq. para dir., no sentido horário): Cristiane, Cachú, Paula e Carolina) Foto: Ana Cristina Colla
O tempo específico, único, para que cada participante primeiramente
escutasse o que o grupo tinha a manifestar sobre a sua composição, o que se via,
o que se percebia, o que chamava a atenção, o que causava curiosidade, o que
não se compreendia daquilo que estava sendo mostrado. Chamamos isso de “o
que vejo”, assim, de modo simples, para que a materialidade do que está aparente
fosse a condutora. E nesse jogo entre o ouvir o que o outro (e que nem sempre
é o que eu vejo ou o que eu gostaria que vissem) e falar o que vejo (tendendo a
me esvaziar de interpretações e avaliações), uma negociação de forças precisou
acontecer.
Somente depois deste momento a pessoa iria nos contar sobre a sua paixão
de pesquisa, da forma como melhor aprouvesse, fosse narrando, fosse
identificando e justificando a presença dos elementos da composição, a forma de
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disposição e organização dos mesmos no espaço, enfim, recobrando as relações
com a concretude das marcas da sua pesquisa.
Esta etapa se mostrou delicada, pois era de fato a primeira exibição mais
individualizada das pesquisas. Mereceu um tempo mais alargado do que o
inicialmente previsto, a ser preenchido com a observação minuciosa de muitos
olhares. Esta exposição pareceu carregar riscos semelhantes à etapa da
“qualificação” acadêmica, em que a pessoa que investiga evidencia seus interesses
e jeitos de lidar. No processo de compartilhamento coletivo, as interferências dos
participantes vão gerando afetações múltiplas em quem está apresentando, desde
confirmações e
insights
interessantes a serem revisitados posteriormente, até
fricções e a provocação de dúvidas acerca do próprio percurso de pesquisa.
Nesse processo de acolhimento e receptividade (entremeado por momentos
de tensão refinada), pudemos nos aproximar de nossas paixões de pesquisa e
novamente nos espantar, nos surpreender, justamente por termos nos permitido
olhar e olhar de novo e olhar de perto e olhar de longe e olhar como quem pela
primeira vez, para “pensar de forma diferente (porque se olhou de forma
diferente)” (Tavares, 2021, p.377). E assim criar relações, oposições, contrastes,
desvios, rupturas, certa calmaria e um desconforto movente.
A intenção maior deste passo do processo era a de impulsionar um chão
afetivo-material da pesquisa de cada integrante do grupo para, em seguida,
experimentar fazê-lo permanecer no ato da escrita. Como fazer isso? Somente a
própria experiência singular daria conta de engendrar uma escrita condizente com
a composição material apresentada. Aqui, e cremos que no processo de condução
como um todo, nossa aposta era cultivar a percepção de que a escrita corre
paralela ou mesmo escorre da experiência vivida; ela não precisa ser inventada do
nada, de alguma inspiração que cairá dos céus. Ela está ali, nas frestas, nos rastros,
nas pegadas dos nossos percursos de pesquisa, nas marcas do caminho. Quais
palavras essa experiência pede, convoca?
Por isso cantamos coletivamente para iniciar nossos encontros; respiramos
e assentamos ansiedades, abrindo espaço para uma sensibilidade mais apurada;
nos apresentamos pela mirada de outrem, nos permitindo desdobrar identidades;
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caminhamos pelas ruas do entorno guiados pelo vento, sem rumo certo, pra
reaprender a ver/sentir/perceber/escutar o que nos atravessa; criamos programas
malucos para desacomodar, pelo gosto de nos colocar em movimento; fuçamos
nossa “caixa de guardados” para dali eleger elementos que nos aproximassem de
nossas paixões de pesquisa e nos ajudassem a renovar o olhar.
Nesta sequência de encontros, um procedimento merece destaque, dada a
percepção de uma reverberação ocorrida muito sutil. Com a presença e condução
do encontro pela colega professora Flávia Liberman12, fizemos a seguinte
sequência de ações: 1- rememorar uma “cena fulgor” relacionada à paixão da
pesquisa; escrevê-la, narrando e/ou descrevendo a cena detalhadamente (lugar,
cores, sensações, cheiros, afetos) em dez minutos; 2- dinâmica em duas rodas
concêntricas, com pares de pessoas, ambas voltadas para fora; a pessoa da roda
interna, com a dupla de costas à sua frente, sussurrava em seu ouvido o que
escreveu, jogando com seu próprio texto (repetindo, cortando, editando etc.); ao
ritmo externo de um tambor, a roda de dentro girava, provocando a mudança das
duplas, com as quais uma nova rodada de sussurros se iniciava e assim por diante;
3- escolher no máximo três elementos dentre as materialidades; ao som de uma
música, improvisar, compondo-os ao próprio corpo; compartilhar (três ou quatro
pessoas ao mesmo tempo) durante o tempo de uma mesma música para todas
as pessoas. Conversar sobre o que foi visto.
Foi possível atentar para o ambiente de privacidade gerado. O gesto de
pronunciar ao do ouvido, repetidamente e durante algum tempo, as palavras
escritas de uma cena das paixões da pesquisa, pareceu ter provocado um tipo de
admissão a um território de intimidade que ainda não havia sido visitado.
Quero chacoalhar essa cena, há tantos anos congelada, para arrancar de
dentro de mim seu caráter sagrado de ícone (demonstrado, por exemplo,
na minha crença de que é ela que me leva a escrever, de que é ela que
está no fundo dos meus livros) (Ernaux, 2022, p.19).
A experimentação se mostrou intensiva para muitas das pessoas
12 Flávia Liberman é Professora Associada IV da Universidade Federal de São Paulo, Baixada Santista, Docente
do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências da Saúde e integrante do Laboratório Corpo e
Arte da UNIFESP-BS.
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participantes: a proximidade da voz e do ouvido, as palavras escolhidas e
proferidas individualmente, a distância curta, à queima roupa e, a improvisação
com as materialidades e o corpo e a disposição daquelas pessoas que se
mostravam diante das demais, que recebiam e assistiam. Uma música catalisava
e acompanhava os estados de afeto.
Parece ter havido medo, risco, revelação, jogo, sutileza, cumplicidade, enfim,
beleza. O grupo testemunhava os diversos processos inacabados de pesquisa13.
Como isso refletiria, ou melhor, transbordaria para as escritas? Como levar e fazer
fluir da experiência corporal para a experiência escritural? O exercício da oralidade
como partilha primeira, ao permitir certa aproximação e fluidez, apontaria
direções, expandindo possibilidades, suavizando a escrita?
O exercitar de uma escrita performativa
Pois dissemos que o entender é uma pura paixão, isto é, uma percepção,
na mente, da essência e da existência das coisas, de modo que nunca
somos nós que afirmamos ou negamos algo da coisa, mas que ela
mesma, em nós, afirma ou nega algo de si mesma (Espinosa, 2014, p.123,
grifos do autor).
Finalmente, a consigna para o início do exercício de escrita performativa foi:
levando em conta (tudo o que fizemos antes, mas) principalmente o trabalho
artesanal e dialogado de mostrar as materialidades e receber de volta perspectivas
diversas, iniciar uma escrita que escorra, transborde, derive do seu próprio
tema/paixão apresentada. A busca é por uma escrita que se erga junto dos
próprios desafios mostrados, não para apresentar respostas, definições ou
justificativas, mas que acompanhe movimentos e abra camadas de percepção e
que seja capaz de absorver contrastes.
Compartilho o meu processo, não como um modelo, mas como uma
pista que também começo a farejar da produção/composição:
- Apresentei algumas marcas/rastros do meu percurso (dissertação,
livros marcantes, tese, redação da escola, discurso de paraninfo, títulos
13 Trazemos um interessante paralelo para a performance de solos de dança em museus: “O raciocínio desta
operação poderia ser algo assim: “Se eu te mostrar como aprendi a dançar, ou o que este movimento
produziu em mim (a pergunta que Le Roy fazia com persistência aos performers), estou desvelando para
você o processo de me tornar eu mesmo, não importa o quão anônimo, trivial e necessariamente aberto
isto possa ser.”” (Cvejic, 2015, p.37)
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de artigos) ligadas por fios soltos, enroscados, que atravessavam minha
paixão atual disposta no centro (explorar modos de germinar, nutrir,
encorajar escritas acadêmicas encarnadas).
- Recebi de volta: "havia espaços vazios; dá para andar no meio; uma
simplicidade e honestidade; é como se você fosse um maestro; tem
muito fazer junto com; a escrita da redação era madura na
adolescência etc.".
- Penso em: [lembrar do sumo] com quem desejo conversar (contexto)?
como sustentar uma escrita arejada, simples, honesta? Como escrever
"conduzindo" as ideias? Como incluir e, também, narrar o peso e a dor de
uma escrita madura desde a adolescência? Como trazer suas sombras e
fantasmas?
Pois bem, não se trata de zerar, ou “resetar” a própria escrita em busca de
uma nova. Tampouco se trata de buscar a sua escrita “essencial”, mas de praticar
com humildade o rigoroso exercício de fazer derramar das materialidades-rastros-
vestígios da paixão de pesquisa uma intenção relacional composta pelo modo
performativo de escrever. Diríamos que se trata de permitir, tomar corpo, o caldo
formado pelo mostrar, escutar, falar e escutar novamente. Apurar. O verbo apurar
parece caber bem aqui e no seu particípio passado, apurado, reside uma boa pista
resultante do processo e, ainda mais, que é parente de “apuro”, que retém um
gosto de risco na coisa toda (do mesmo tipo de quem quer cozinhar um prato
apimentado: pode ser que passe do ponto).
Performar um programa performativo de escrita performativa
1- Escrever em jorro, fragmentos curtos e simples;
2- Utilizar necessariamente as devolutivas recebidas;
3- Fazer variar os interlocutores separadamente entre o si mesmo
(diário de experiência), a turma (recurso pedagógico), um relatório
(recurso formal), um artigo (experiência concreta).
A ideia de pesquisar a feitura de escritas performativas tem nos ocupado,
mais que isso, tem nos confundido de uma maneira boa. A noção de
performatividade traz em seu bojo alguma nuance de brincadeira embutida, que
nos faz ter sempre a impressão de estar querendo provocar, instigar, cutucar, de
corpo inteiro, quem lê. Ao exercitar isso como proposição consciente, sentimos
que a coragem vai ampliando e ganhando espaço à medida que praticamos.
No entanto, um incômodo, por vezes atravessa, com as tantas e tantas
dobras e desdobras que o faz de conta com as palavras possibilita. Conhecemos
bem essa sedução: a de descolamento e afastamento da experiência vivida. As
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adjetivações - performativa, cartográfica - parecem ser penduricalhos daquilo que
é mais importante: escrever com inteireza, presença.
Alguns gestos ou interferências pedagógicas
Durante o processo de escrita, alguns gestos pedagógicos foram surgindo no
sentido de interferir em práticas viciadas de escrita instituídas, por sua vez, por
lógicas repetitivas - mais próprias, talvez, à digitação do que ao manuscrever:
acolher, escutar, compartilhar, comentar, espreitar, decantar, possibilitar,
bisbilhotar, desmontar, tensionar, afinar.
Tomar tempo. Permanecer.
Nessa etapa do processo de escrita, o esperado era que cada um/a de nós
se debruçasse sobre sua escrita final ou, ao menos, apontasse caminhos nessa
direção. Esse passo tende a ser solitário, exige certo recolhimento e escolhas
precisam ser feitas. Astutamente, esse corpo coletivo fomentado durante as aulas
foi adiando esse desgrudar das mãos e os fragmentos de textos foram surgindo
em paralelo à continuidade das trocas, das leituras em pequenos grupos, das
provocações. Já se reconheciam em seus territórios e se tornaram cada vez mais
precisos em suas observações.
Uma energia vibrante tomava conta da sala nesses momentos de escrita.
Espalhados pelos espaços do Lume, na sala, na varanda, corpos estirados no chão
ou encostados nas paredes brancas. Para nossa surpresa, os cadernos e as
canetas ainda se mantinham como suportes da escrita. Havia chegado o momento
do recolhimento.
Como gesto de escuta, algumas palavras/frases que pairaram no final do
processo:
ganho na construção coletiva, potencializando a individualidade
torcida no ar
cutucar e ver que conseguiu
escrita menos solitária
diálogo que reduz a ansiedade
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me senti autorizada a arriscar
falar antes de escrever foi precioso, ajudou a mapear o caminho e desenhar
o material
gestei um novo corpo, aprendi a escutar
potente ter passado pelas materialidades, ver o percurso e as paixões de cada
pessoa
ajudou a detectar o que cada pesquisa tem de única
não banalizar a palavra
linguagem viva
selvagem
Acolher, na diversidade de escritas, o
fragmentário
como formato legítimo e
libertador espelha um movimento maior no qual estamos todos imersos, qual seja,
um certo regime caótico de excesso e hiperestimulação do sensível. As
insistências em formatos de organização mais lineares, desejosos de uma
representação neutra da realidade, que acompanham exclusivamente a
construção de pensamentos que seguem do simples ao complexo, da cronologia
imperativa do passado, passando pelo presente e apontando para o futuro, estes
sim constituiriam enquadres acríticos, mais conformados aos cânones
produtivistas vigentes e tão difusos nos modos de se escrever e produzir
conhecimento.
É de percepção e composição de fragmentos intensivos que estamos falando.
É de ritmo, articulação e relação com a pessoa leitora que o acontecimento se
completa.
Síntese (áudio para ser escutado)
Ao final da disciplina, em um encontro extra, foi realizada uma conversa
investigativa denominada “grupo focal”, que consiste em:
[...] uma técnica de pesquisa que permite a obtenção de dados de
natureza qualitativa a partir de sessões grupais em que 6 a 15 pessoas
que compartilham um traço comum (por exemplo, sexo, idade, ocupação,
papel que representam na comunidade) e discutem vários aspectos de
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um tema específico (Westphal et al, 1996, p.472).
Durante este encontro, foi produzida uma escrita performativa, ora
desdobrada na forma de um jogo de leitura14. Aqui se encontra ou pelo seguinte
QRCode (áudio com 12’21”):
Considerações
Durante todo o tempo em que escrevi, também corrigi provas, preparei
modelos de dissertações escolares, porque me pagam para fazer isso.
Este jogo de ideias sempre produziu em mim a mesma sensação que o
luxo, um sentimento de irrealidade, uma vontade de chorar (Ernaux, 2021,
p.68).
Certamente preferiríamos que todo tipo de escrita acadêmica se
assemelhasse mais a um desnudar-se publicamente, um processo de coragem,
um convite ao engajamento desarmado, ao gesto de compartilhar pensamentos.
Mas constatar que muitos tipos se reduzem a um desfile de uniformes provoca-
nos a pensar, a duvidar que outras possibilidades mais interessantes pudessem
ser levadas em conta. Como eriçar essa sensação de inconformismo naqueles
com quem dividimos o trabalho, nos jovens ingressantes e naqueles que ainda
alimentam alguma esperança em uma academia outra? Como instigar
alegremente ao descontentamento? Descalçando-nos, despindo-nos até onde
nos for possível.
14 Essa escrita escorreu da escuta. Foi gerada a partir do desejo de que as palavras faladas durante nossa
conversa final fossem transpostas para o papel no exato momento em que eram emitidas. A impossibilidade
desse ato, pelo fluxo veloz em que a conversa se desenrolava, deu origem a uma escrita fragmentada e nem
sempre conexa, no entanto capaz de desdobrar sentidos submersos. O jogo de leitura posterior (aqui
disponível para escuta) ao fazer o movimento inverso, devolver a sonoridade às palavras escritas mantendo
sua fragmentação, foi realizado em 4 vozes (Cachú Guilherme Martins, Carolina Gasquez, Conrado Federici
e Ana Cristina Colla), à distância, em 4 casas distintas, em 2 cidades diferentes. Foi um jogo aberto, em
tempo real, sem combinados prévios ou ordenação das falas. Nosso desejo era manter certo frescor e
impulsos pulsantes.
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Antes de tudo, brincamos e brincamos o mais que pudemos ao redor dos
“objetos” de pesquisa, exercitando e fortalecendo modos de se lidar com as
escritas para que estivessem disponíveis aos temas, aos problemas de pesquisa.
Parece que quando alguém elege um problema de pesquisa ele instantaneamente
se impermeabiliza e se reveste de sisudez e importância inflacionada. As vestes
da escrita, capaz de fazer jus a algo assim, vêm sendo restritivamente chamadas
de escrita acadêmica, encouraçada por submissões epistemológicas e normas
técnicas.
As experimentações realizadas ao longo da disciplina intencionavam que, ao
se tocar nos temas eleitos, as mãos e escritas estivessem lambuzadas de tal
maneira que, idealmente, não haveria medo ou resistência capaz de torná-los
neutros ou desencarnados: as escritas sairiam com o sotaque de cada tema e
conduzidas pela pessoa pesquisadora.
Um lance ousado este, esperar que a liberdade acenasse justamente durante
um semestre letivo ou outro. Ora, e não é que sim? “Ao contrário, a verdadeira
liberdade é apenas, e não outra senão a causa primeira, a qual não é de nenhuma
maneira coagida ou necessitada por outro, e apenas por sua perfeição é causa de
toda perfeição” (Espinosa, 2014, p.73, grifos do autor).
Mas não foi fácil; por vezes veio a sensação de que gastávamos tempo com
algo supérfluo, cuja proficiência era dominada. Havia, sem dúvida, resistências
ao trabalho de escrever. E então surge a pergunta: que proposta pedagógica
institucionalizada, que aula na face da Terra, mesmo aquelas cuja escolha pareceu
ser plenamente livre, não é sempre atravessada por ao menos algo deste
procrastinador “estado de negação”, pela contrariedade de não se estar fazendo
qualquer outra coisa que não encarando de frente o dispendioso trabalho ao qual
se propôs de saída? Escrever é a única alternativa.
Assim, dedicamo-nos a uma pedagogia da suavidade:
Se você me pedisse para escrever sobre o meu tema de pesquisa no
primeiro dia, eu daria a casca, o decalque. No segundo dia, talvez, sairia
uma fatia um pouco maior, mas ainda em um formato que, para ser
palatável, entendido e aceito, viria encouraçado de projeções sobre uma
linguagem “certa”. No terceiro, conversaríamos sobre algo comum a nós
dois e então, talvez, eu começasse a poder escutar algumas
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reverberações do que eu seria capaz de redigir. No quarto dia, como único
e melhor conhecedor do meu próprio tema, minha mão seria tomada por
um fio de confiança que poderia ignorar a sua presença e de tantas outras
figuras imprescindíveis. No quinto dia, eu saberia que somos iguais, que
dividimos angústias parecidas e que sustentamos, nós dois, desejos
inalcançáveis, regras e procedimentos mágicos capazes de desvanecer
medos profundos, utopias indispensáveis. Depois, mais adiante,
perceberíamos que tentávamos organizar e dizer algo em uma língua que
estávamos tão somente criando e aprendendo ao mesmo tempo em que
escrevíamos. Um idioma inédito, singular, germinado junto daquilo que
usualmente se chamava de pesquisa.
Eis que trabalhamos e acabamos por, afinal, gostar um pouco mais do que
escrevemos e nos sentimos encorajados de a isso dar também o nome de escrita
acadêmica. Inacabada e vulnerável como uma muda que, se tomar muito sol ou
muito vento, pode secar e morrer de um dia para o outro. Que consigamos seguir
regando um pouquinho todo dia, à sombra fresca e honesta.
A suavidade é, primeiramente, uma inteligência que carrega a vida, que a
salva e a desenvolve. Porque ela demonstra uma relação com o mundo
que sublima a surpresa, a violência possível, a captação, o medo em pura
aquiescência, ela pode modificar todas as coisas e todos os seres. Ela é
uma apreensão da relação com o outro da qual a ternura é a
quintessência (Dufourmantelle, 2022, p.21).
Os verbos dessa língua pareceriam resistir à primeira pessoa do singular, pois
nasceram plurais. Presumimos que essas experimentações não funcionariam
isoladamente. Frutificariam em grupos de pessoas com interesses semelhantes:
as inquietas, as curiosas, as que teriam mais incertezas do que respostas, mas que
não se contentaram; escolheram fazer parte.
Contra nosso fluxo de pensamento mais usual, em espreita, arriscamos
finalmente uma afirmação mais categórica: uma escrita da natureza que foi
pesquisada se produz sob as condições sempre provisórias da liberdade e
autonomia, quando é possível se performar (pois nunca haveria o pano de fundo
referencial) um contexto com o mínimo possível de opressões em operação, qual
seja: as de uma vida cidadã comum (consciência sobre o autocuidado possível e
autossustento em rede em uma comunidade sustentável e reparadora), com o
entendimento das relações implicadas com o nutrir do pensamento, mais do que
com as hierarquias e jogos de forças e poderes de uma certa academia.
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Esse modo de proceder encarregou-se mais de buscar fazer circular as
habilidades existentes do que trazer inovações, originalidades, metodologias
ativas ou qualquer outra forma alheia às pessoas e suas paixões de pesquisa. Para
tanto, pretendemos sustentar o conceito de produção de diferença à partir do
dado, das presenças concretas, dos corpos afetivos, fortalecendo as percepções
de si, reconhecendo as marcas e os processos, nomeando-os, exercitando escritas
possíveis e, sobretudo, partilhando o mais que pudemos as produções em estado
aberto e exposto de criação, todas elas, com o coletivo. “Para o múltiplo, é
necessário um método que o faça efetivamente; nenhuma astúcia tipográfica,
nenhuma habilidade lexical, mistura ou criação de palavras, nenhuma audácia
sintática podem substituí-lo” (Deleuze; Guattari, 2021, p.44).
Figura 3 O ciclo infinito do esmero, pela arte da Laerte15
Fazer expor e poder testemunhar processos inacabados de pesquisa parece
ter encorajado a produção de escritas menos preocupadas com o formalismo ou
ao menos ter sensibilizado para a sua existência e risco. A força de um dos
domínios da academia, o poder simbólico das convenções de escrita na norma
culta, deslocou-se, fez mover (Guedes, 2022) ao menos um pouquinho e
provisoriamente, para os sujeitos, avivando a pesquisa em artes.
O verso terá de ser ainda um medicamento para a linguagem, algo que
traz de volta a saúde perdida nas frases de circunstância, nos lugares-
15 Fonte: https://www.facebook.com/photo/?fbid=7359389534107984&set=a.154775374569472
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obscenamente-comuns, lugares prostituídos da linguagem. Um
medicamento natural, o verso, um elemento benéfico, sem efeitos
secundários; a língua doente deverá recebê-lo de braços abertos
(Tavares, 2010, p.75).
Esta pesquisa nasceu de uma situação problemática, a escrita acadêmica
empobrecida, e perpassa agora (pois nunca finaliza) uma outra situação não
menos problemática, mas em um sentido bastante diferente: a necessidade de
trabalho inventivo contínuo. É interessante constatar que enquanto o campo
problemático se move, metamorfoseia-se de empobrecido e protocolar para vivo
e inventivo, não há espaço para glamour de qualquer natureza, pois a exigência da
prática experimental infinita com a escrita se revigora e se mantém.
Foi de miúdos reconhecimentos e constatações sobre as próprias
capacidades de escrita que as coragens foram se juntando e os riscos sendo
corridos menos solitariamente e a produção de condições mais favoráveis a uma
fluidez da escrita se formando.
O processo segue seu rumo, sempre em gerúndio. Uma experimentação
de definição também vai se fazendo: se alguma acepção de “performance” seria a
instauração intencional de uma variação de sentidos formais que colocam em
xeque o contexto de determinada(s) linguagem(s) (por exemplo: vestir-se com
trajes de banho e adentrar (tentar, ao menos) um recinto formal - linguagens:
códigos de comportamento, moda, normas sociais e comportamentais), a escrita
performativa seria a instauração intencional de uma variação de sentidos que
colocam em xeque o contexto da própria forma escrita, causando algo entre esta
e o conteúdo a ser comunicado, movimentando as modalidades (mexendo,
chocando, deslocando, friccionando, subvertendo). A escrita performativa, sempre
relacional, precisa cuidar da comunicação, concentrando tanto quanto rigor
também sobre
o que
exatamente se quer dizer, uma vez que as escolhas de forma
(o
como
), idealmente, derivam deste
o que
.
Referências
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Seis propostas para o próximo milênio
: lições americanas. São
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Universidade do Estado de Santa Catarina
UDESC
Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas
PPGAC
Centro de Artes, Design e Moda CEART
Urdimento
Revista de Estudos em Artes Cênicas
Urdimento.ceart@udesc.br