
Vivências de FlowJack: propostas de um artista negro na criação de possibilidades de existência
Luciano Correa Tavares | Suzane Weber da Silva
Florianópolis, v.1, n.54, p.1-22, abr. 2025
construção do nosso país e, aos poucos, hoje, esses fatos estão sendo
evidenciados em suas narrativas (Tavares, 2024, p. 126).
Foram essas pessoas que protagonizaram aquela história, que, por
conseguinte, veio a se tornar escritura corporificada, de forma que a palavra
fosse grafada. A escrevivência, de autoria notadamente pela mulher negra, busca
um espaço que visa a “necessidade de apreensão do mundo, mas o mundo que
[a] escapole” (Evaristo, 2020b, p. 36). Por sua vez, propõe outras epistemes do
conhecimento, no sentido de reconhecimento, de afirmação, como um
importante instrumento de pesquisa em meio ao saber hegemônico branco.
Pensar que as experiências de vida de uma pessoa negra, nesse contexto,
tornam-se uma maneira de escreviver, é criar outro lugar frente ao campo das
epistemologias dominantes, é também criar um lugar de referência que surge a
partir do corpo preto e depois ganha contornos letrados. É um artifício de
descolonizar o saber. Os modos como o corpo grafa a escrita partem de uma
história comum, ao mesmo tempo que é individual, é coletivo. Assim, FlowJack
nos conta sobre suas referências:
Na questão da dança mesmo, da questão histórica, eu tive bons
exemplos, boas pessoas que me instruíram. Tanto é que a maioria das
pessoas da minha família, principalmente as mulheres mesmo, tem
uma representatividade muito grande. [...] Então, eu tenho referência na
família mesmo, de família, de berço, que foi uma transição muito
natural e muito rica. Na questão cultural mesmo, e principalmente na
questão de identidade, de ser negro (Conceição - FlowJack, 2021,
entrevista a Luciano Tavares).
Os modos de vida são formulados, historicamente, em espaços de
resistência, em aspectos do viver coletivamente, como em comunidades
periféricas, formadas por processos de exclusão, em comunidades terreiros, em
comunidades rodas de capoeira, em comunidades congadeiras, em comunidades
de samba, entre outras. Todas essas pessoas têm histórias comuns, modos de
enfrentamentos comuns, estados de presença no mundo compartilhados. Isto é,
as Marias, os Joãos, as … a história é a mesma, só muda de endereço.
É. O pessoal me conhece como FlowJack, né. Que foi o nome que eu
adotei, que eu ganhei esse apelido do Patrick Chen, que é um
americano que coreografou o Matrix dois e três, né. As cenas de
batalhas, ele que coreografou. Eu conheci ele no Festival Internacional