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O artivismo feminista das mulheres artistas do
Yuyachkani: uma conversa com Ana Correa
Entrevista com Ana Correa
Concedida a Stela Fischer e Lúcia Helena Martins
Para citar esta entrevista:
CORREA, Ana. O artivismo feminista das mulheres
artistas do Yuyachkani: uma conversa com Ana Correa.
[Entrevista concedida a] Stela Fischer e Lúcia Helena
Martins.
Urdimento
Revista de Estudos em Artes
Cênicas, Florianópolis, v. 3, n. 52, set. 2024.
DOI: 10.5965/1414573103522024e0501
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O artivismo feminista das mulheres artistas do Yuyachkani: uma conversa com Ana Correa
Entrevista com Ana Correa - Concedida a Stela Fischer e Lúcia Helena Martins
Florianópolis, v.3, n.52, p.1-18, set. 2024
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O artivismo feminista das mulheres artistas do Yuyachkani: uma conversa com Ana Correa
Entrevista com Ana Correa1
Concedida a Stela Fischer2 e Lúcia Helena Martins3
Resumo
Mulheres artistas do Grupo Cultural Yuyachkani do Peru têm se interessado pelas práticas cênicas
desenvolvidas no artivismo feminista. Entrevistamos a atriz Ana Correa que nos contou sobre as ações
de intervenção social em diferentes comunidades e coletivos de mulheres no Peru, de práticas
artístico-pedagógicas de resgate de memória, de luta pelos direitos das mulheres e meninas que
reivindicam por justiça contra às violências hegemônicas e patriarcais.
Palavras-chave
: Ana Correa. Ativismo feminista. Yuyachkani.
The feminist artivism of women artists at Yuyachkani: a conversation with Ana Correa
Abstract
Women artists from the Yuyachkani Cultural Group of Peru have been interested in the scenic practices
developed in feminist artivism. We interviewed actress Ana Correa who told us about social intervention
actions in different communities and collectives of women in Peru, about artistic-pedagogical practices
to rescue memory, about the fight for the rights of women and girls who demand justice against
hegemonic violence and patriarchal.
Keywords:
Ana Correa. Feminist artivism. Yuyachkani.
El artivismo feminista de las mujeres artistas en Yuyachkani: una conversación con Ana Correa
Resumen
Mujeres artistas del Grupo Cultural Yuyachkani de Pese han interesado por las prácticas escénicas
desarrolladas en el artivismo feminista. Entrevistamos a la actriz Ana Correa quien nos habló de
acciones de intervención social en diferentes comunidades y colectivos de mujeres del Perú, de
prácticas artístico-pedagógicas para rescatar la memoria, de la lucha por los derechos de las mujeres
y niñas que exigen justicia contra la violencia hegemónica y patriarcal.
Palabras clave
: Ana Correa. Ativismo feminista. Yuyachkani.
1 Mestre em Antropologia Visual/Pontifícia Universidade Católica do Peru. Recebeu a medalha “Palavra de
Mulher 2013”, e o prêmio “Personalidade Meritória da Cultura Peruana”, pelo Ministério da Cultura do Peru,
em 2012. Entre seus trabalhos solo, destaca-se
Rosa Cuchillo
(2001), com direção de Miguel Rubio,
apresentado em várias cidades e festivais pelo mundo. Também dirigiu jovens atores do Centro de
Experimentação Cénica CEXES -Yuyachkani. Desde 2000 organiza oficinas de cura
Hampiq Warmi
(mulheres
curandeiras), dirigidas às mulheres vítimas de violência familiar e sexual e organiza intervenções artísticas
feministas em espaços públicos. É integrante do Projeto Magdalena e organiza
os Encuentros de Mujeres
Creadoras y Performeras
com as atrizes do Yuyachkani. Organizadora do
Warmikuna Raymi
, encontro
Teatro-Mulher-Cura, em Cusco, assunto que abordaremos nesta entrevista. Atriz, diretora e integrante do
Grupo Cultural Yuyachkani desde 1978.
2 Pós-doutorado em Artes da Cena pela Universidade Estadual de Campinas. Doutora em Artes Cênicas na
Universidade de São Paulo. Mestrado em Artes da Cena na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
Graduação em Artes Cênicas Interpretação na Faculdade de Artes do Paraná (FAP). Profa. no Curso de
Bacharelado em Artes Cênicas da Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR). Colaboradora no Programa
de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal de Ouro Preto. Editora-chefe da revista
O
Mosaico
(UNESPAR FAP). fischer.stela@outlook.com
http://lattes.cnpq.br/2582613400358249 https://orcid.org/0000-0002-6140-7563
3 Doutorado em Teatro pela Universidade Estadual de Santa Catarina (UDESC). Mestrado em Teoria
Literária/Dramaturgia pela UNIANDRADE. Especialização em Literatura Dramática e Teatro pela Universidade
Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Especialização em Literatura Brasileira e História Nacional pela
UFTPR. Licenciatura em Educação Artística Habilitação em Artes Cênicas pela Faculdade de Artes do
paraná (FAP). Profa. do curso de Licenciatura em Teatro da Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR).
Performer, artivista professora-artista, pesquisadora e diretora teatral. lucia.martins@unespar.edu.br
http://lattes.cnpq.br/9863662519118764 https://orcid.org/0000-0003-2985-3018
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Florianópolis, v.3, n.52, p.1-18, set. 2024
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Desmontar e carnavalizar
O artivismo entrelaça arte e política e possui várias táticas de ação, desde
denúncias em manifestações e atos, marchas, intervenções urbanas,
performances artísticas, lambes, ações tecnopolíticas em espaços virtuais,
hashtags
etc., até a criação de modos de fazeres artísticos democráticos e
horizontalizados, com a intenção de provocar reflexões e subversões no
status
quo.
O artivismo realiza denúncia política, mas, também, instaura resgate das
histórias invisibilizadas, espaços de curas simbólicas e autocuidado, combinando
linguagem artística, consciência política, trocas de afetos, reflexão e emancipação
(Martins, 2022). Neste contexto, alguns trabalhos que o peruano Grupo Cultural
Yuyachkani4 vem desenvolvendo nos últimos anos dialogam com as estratégias
poéticas e políticas dos artivismos, pois realizam atividades artísticas, pedagógicas,
de expressão e intervenção social que fortalecem e acolhem as pautas dos
movimentos sociais, que:
[...] ultrapassa a palavra e a literalidade como únicas possibilidades de
enunciado, propondo novos desenhos para as retinas da memória. A
teatralidade emoldura o relato e garante o tratamento não cotidiano, ao
se oferecer como via potente nas ações comunitárias cujos participantes
podem arranjar a vida em gestos simbólicos e submeter seus relatos a
operações poéticas. Nestes espaços pedagógicos, o grupo convida os
próprios afetados pelos massacres coloniais a lançarem sua voz, a
colocarem o corpo em jogo, a elaborar simbolicamente processos de luto
e de emudecimento (Marko, 2023, p. 206).
Admiramos e acompanhamos o trabalho do Yuyachkani há tempos. Tivemos
alguns encontros com o grupo - Lúcia no 11
Laboratorio Abierto - Encontro
Pedagogico com Yuyachkani
(Peru, 2019) e membro participante dos grupos de Tai
Chi Chuan, ministrado por Ana Correa durante a pandemia (2020 2021) e Círculo
de Energia de arte e autocuidado (2022); e Stela nos “encuentros” promovidos pelo
Hemispheric Institute of Performance and Politics5 (São Paulo, 2013; Montreal, 2014;
4 O coletivo teatral criado em 1971, tem importante atuação em toda América Latina. O grupo tem se dedicado
à prática da criação coletiva, da corporificação da memória política, particularmente em relação às questões
sobre etnicidade, violência social no Peru. É formado por Augusto Casafranca, Amiel Cayo, Ana Correa,
Débora Correa, Rebecca Ralli, Teresa Ralli e Julián Vargas, Miguel Rubio e o colaborador Fidel Melquíades. O
Yuyachkani ganhou o Prêmio Nacional de Direitos Humanos do Peru, em 2000, entre outros. Mais
informações, disponível em: https://yuyachkani.org/. Acesso em: jul. 2024.
5 “A cada dois anos, o Instituto Hemisférico organiza um Encuentro parte conferência acadêmica, parte
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Chile, 2016) e com as mulheres artistas do Yuyachkani nos encontros do Magdalena
Project6 em diferentes países da Abya Yala (Brasil, 2012; México, 2013; Chile, 2016;
Buenos Aires, 2018).
Considerando as diversas ações artivistas realizadas por Yuyachkani nos seus
mais de 50 anos de atuação, temos um especial interesse, pelo trabalho
desenvolvido por Ana Correa com diferentes coletivos de mulheres no Peru, de
práticas artístico-pedagógicas de resgate de memória, de luta pelos direitos das
mulheres e reivindicação por justiça contra às violências hegemônicas e
patriarcais. Até mesmo porque este é um dos pilares de nossas pesquisas e
práticas artístico-ativistas que utilizam a “teatralidad y la performatividad para
abordar escenarios sociales y para hacer visibles los dispositivos
representacionales comprometidos por el poder, pero también apropriados por la
sociedad civil para desmontarlo y carnavalizarlo” (Diéguez, 2023, p. 136).
Assim surgiu a ideia dessa entrevista. Realizamos de forma
online
, no dia 05
de junho de 2024, com a duração de mais de 2h de conversa com Ana Correa.
Atriz, diretora, artivista feminista e de direitos humanos, membro do Grupo
Cultural Yuyachkani desde 1978. Mestre em Antropologia Visual (PUC/Peru),
professora de atuação, formação vocal e corporal, teatro e sociedade. Foi
nomeada Personalidade Meritória da Cultura, título concedido pelo Ministério da
Cultura do Peru, em 2012. É integrante do Magdalena Project, a partir do qual
promove no Peru o
Encuentro de Mujeres Creadoras y Performeras
. Nesta
entrevista, Ana Correa, na sua generosidade sem tamanho, nos contou sobre suas
principais ações artivistas históricas que resultaram no que hoje se tornaram as
intervenções de cunho feministas com intervenções em diferentes atos, marchas
e ações políticas, em especial no contexto sociopolítico do seu país, tanto na
capital como em cidades, vilas e comunidades andinas.
festival de performance em um local diferente nas Américas. Promovendo a experimentação, o diálogo e
a colaboração, cada Encuentro reúne aproximadamente quinhentos acadêmicos, artistas, ativistas e
estudantes que participam de um programa de dez dias de palestras, grupos de trabalho, performances,
instalações, discussões em estilo mesa redonda, exposições de artes visuais, mostras de vídeo e oficinas
práticas de performance.” Disponível em: http://archive.hemisphericinstitute.org/hemi/pt/encontro. Acesso:
jul. 2024.
6 Criado em 1986, pelas atrizes Jill Greenhalgh (Cardiff Theatre Laboratory) e Julia Varley (Odin Teatret), o
Magdalena Project tornou-se uma rede internacional de mulheres de teatro que vem sendo disseminada
por suas participantes em diferentes países.