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Uma possível genealogia de corpas decoloniais: a
obra sino-latinoamericana de Zairong Xiang
Paula Telles de Menezes Faro
Christine Greiner
Para citar este artigo:
FARO, Paula Telles de Menezes; GREINER, Christine. Uma
possível genealogia de corpas decoloniais: a obra sino-
latinoamericana de Zairong Xiang.
Urdimento
Revista de
Estudos em Artes Cênicas, Florianópolis, v. 3, n. 52, set. 2024.
DOI: 10.5965/1414573103522024e0101
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Uma possível genealogia de corpas decoloniais: a obra sino-latinoamericana de Zairong Xiang
Paula Telles de Menezes Faro | Christine Greiner
Florianópolis, v.3, n.52, p.1-16, set. 2024
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Uma possível genealogia de corpas decoloniais1: a obra sino-latinoamericana de
Zairong Xiang2
Paula Telles de Menezes Faro3
Christine Greiner4
Resumo
A recente tradução do livro
Antigos Caminhos Queer, uma exploração decolonial
de Zairong Xiang ativou
para nós novas práticas de ensino e curadoria a partir do que este autor chamou de cosmopolitismo.
Reunindo uma complexa diversidade cultural de fontes diversas, a sua obra tem questionado as
“origens” da cultura queer na Inglaterra e nos Estados Unidos, o que nos possibilitou detectar a tradução
como dispositivo colonial de mundos e corpas, um sintoma persistente do extrativismo de
subjetividades promovido pelos diversos modos de impor relações de poder.
Palavras-chave
: Caminhos queer. Tradução. Práticas decoloniais. Cosmopolitismo. Transdualismo.
A possible genealogy of decolonial bodies: the sino-latin american work of Zairong Xiang
Abstract
The recent translation of the book
Queer Ancient Ways, a decolonial exploration
by Zairong Xiang has
activated for us new teaching and curatorial practices based on what he himself calls cosmopolitism.
By collecting a complex cultural diversity from a variety of sources; his work calls into question the
"origins" of queer culture in England and in the United States, which enabled us to detect translation
as a colonial device of worlds and bodies, a persistent symptom of the extractivism of subjectivities
promoted by the various ways of colonizing and embodying power relations.
Keywords:
Queer paths. Translation. Decolonial practices. Cosmopolitanism. Transdualism.
Una posible genealogía de cuerpos decoloniales: la obra chino-latinoamericana de Zairong Xiang
Resumen
La reciente traducción del libro
Queer Ancient Ways, a decolonial exploration
de Zairong Xiang nos
activó prácticas docentes y curatoriales basadas en lo que él mismo denomina cosmopolitismo.
Reuniendo una compleja diversidad cultural desde fuentes diversas; lo que nos posibilidetectar la
traducción como dispositivo colonial de mundos y cuerpos, un síntoma persistente del extractivismo
de subjetividades promovido por las diversas formas de colonizar y encarnar las relaciones de poder.
Palabras clave
: Caminos queer. Traducción. Prácticas decoloniales. Cosmopolitismo. Transdualismo.
1 Revisão ortográfica, gramatical e contextual do artigo realizada por Monica Telles de Meneses. Graduação em
letras pela Universidade de São Paulo (USP).
2 Este artigo resulta em 22% de partes de tese de doutorado de Paula Faro. Por uma epistemologia do sensível:
leituras da prática chinesa tàijí quán em contraposição aos discursos orientalistas do Tai Chi Chuan. 2022.
Tese (Doutorado Comunicação e Semiótica) Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2022.
3 Doutorado em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP).
Mestrado em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP. Graduação em Cinema pela Fundação Armando
Alvares Penteado (FAAP). paula.faro@gmail.com
http://lattes.cnpq.br/6026628834011407 https://orcid.org/0000-0002-1595-9359
4 Livre-docente pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Pós-doutorado na New York
University EUA. Pós-doutorado na Internacional Research Center for Japanese Studies Japão. Pós-
doutorado na Universidade de Tóquio Japão. Doutorado e Mestrado em Comunicação e Semiótica pela
PUC-SP. Graduação em Jornalismo. Professora livre-docente da PUC-SP, onde coordena o Centro de
Estudos Orientais. Ensina no Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica e nas
graduações em Artes do Corpo e Multimeios. christinegreiner3@gmail.com
http://lattes.cnpq.br/8562280498341903 https://orcid.org/0000-0002-6778-516X
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Introdução
Em abril de 2024, o Centro de Pesquisa e Formação do Sesc São Paulo (CPF
SESC) convidou o professor Zairong Xiang para abrir o evento Metamorfoses Queer,
ancestralidades anárquicas que nos ensinam sobre a arte de corpar.5 Pouco
conhecido no Brasil, o seu primeiro ensaio publicado em português foi
Transdualismo em direção a uma corporificação material-discursiva6 (2023). O viés
original da sua pesquisa está em abrir novos caminhos para o debate queer, a
partir de discussões sobre o corpo. Xiang parte de fontes distintas das
habitualmente trabalhadas no Ocidente, como o pensamento cartesiano e as
fenomenologias francesa e alemã. Escavando estudos da China antiga, da
Mesopotâmia e Mesoamérica, emergem perspectivas pouco conhecidas pelos
europeus e as chamadas epistemologias do norte. Consideramos importante
apontar algumas dessas questões que, ao desestabilizarem as dicotomias do
corpo, refletem novas possibilidades de afirmação de pensamentos que partem
do que pode ser considerado uma lógica trans, absolutamente indisciplinada e não
dicotômica.
Embora este artigo não analise casos específicos de corpas decoloniais, pode
colaborar com a tarefa de conceituar e afirmar a importância de se testar outras
epistemologias que visem analisar a constituição de corpos fora dos padrões
assumidos como “normais” (e.g brancos, heteronormativos e geopoliticamente
situados nos centros de poder e saber).
Além disso, assumimos que pensar sobre é também um modo de
experimentar e propor ações, uma vez que, a partir das epistemologias estudadas,
a mente não se separa no corpo, nem a teoria da prática. Ao considerar que pensar
é também agir, o abandono das dicotomias clássicas é um modo de ativismo que
demonstra, por si mesmo, um desinteresse pelas lógicas coloniais que intoxicam
5 A curadoria foi de Christine Greiner e Ricardo Muniz Fernandes e, além de Zairong Xiang, convidou os
professores Dodi Leal, Luiz Rufino, Fabiane Borges, Tatiana Nascimento, Pablo Assumpção, Pedro Tukano,
Thiago Cavalli, Julia Feldens, Roberta Estrela D’Alva e Yná Kabe Rodriguez. Ver mais detalhes aqui:
https://centrodepesquisaeformacao.sescsp.org.br/atividade/metamorfoses-queer
6 O artigo Transdualismo, em direção a uma corporificação material-discursiva e o livro Antigos Caminhos
Queer, uma exploração decolonial foram traduzidos por Paula Faro.
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nossos modos de vida.
Como a Medicina Chinesa Embaralha Natureza e Cultura
A proposta de um transdualismo de gênero, ao invés das convencionais
dicotomias, parte da análise do Clássico Interno do Imperador Amarelo (um
tratado de medicina chinesa de origem ou autoria incerta, compilado há milênios,
cuja sigla é AEC) a respeito do corpo e da sua relação com as quatro estações,
com os cinco órgãos internos e com as experiências naturais e culturais tais
como: cores, notas musicais e sabores. Neste estudo, o médico
Qíbó
, personagem
do livro, respondendo às perguntas do Imperador Amarelo, apresenta
detalhadamente os nove orifícios corporais, um corpo de orifícios ou um corpo
poroso, que comumente é relacionado ao hexagrama Tai do
jīng
, o
Livro das
Mutações
, outro milenar compilado de textos, e a teoria do
yīnyáng
, referências
fundamentais para a compreensão da concepção de corpo para a filosofia e a
medicina chinesas.
No artigo Transdualismo, em direção a uma corporificação material-
discursiva, o autor explica que
yīnyáng
pode ser definido como uma cosmologia
contextual, dependendo da posição do sol em relação a uma localização
geográfica. Etimologicamente,
yīnyáng
se refere ao movimento do sol com relação
a uma montanha, o lado
yīn
, a sombra, está onde não bate sol, e o lado
yáng
,
iluminado, é onde o sol está batendo, dependendo, assim, do movimento do sol
para a mudança de
yīn
para
yáng
ou de
yáng
para
yīn
. As duas propensões estão,
ao mesmo tempo, em um processo de constante mudança. Como explica o autor,
"a filosofia chinesa entende as coisas não como substanciais, isto quer dizer,
fundamentalmente estáveis, mas submutacionais, isto quer dizer,
fundamentalmente como mudança" (Xiang, 2023, p. 24). Essa relação nos aproxima
de ideias que representam
yīnyáng
e seu aspecto relacional evidenciado,
diferentemente daquela que é mais popular, na qual fica explícita a separação, a
dualidade e aquilo que está estático. Um exemplo disso é a constante tradução e
explicação do conceito a partir da lógica e/ou, que separa
yīn
e/ou
yáng
,
apresentando-o como um conceito dual e ontologicamente estático, onde
yīn
é o
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feminino, a lua, a noite, enquanto
yáng
é o masculino, o sol e o dia. Para Xiang, que
propõe uma leitura decolonial e não heteronormativa desse conceito, é preciso
atentar-se ao seu aspecto relacional, que mostra o desaparecimento das
diferenças e, ao mesmo tempo, mantém o seu aspecto de diferenciação.
Yīn
se
transforma em
yáng
e vice-versa, mas
yīnyáng
não é estático, estável, ou uma
entidade ontológica e fechada, mas sim duas propensões que se transformam e
transitam uma na outra (Xiang, 2023). O autor explica que, diferentemente da
abordagem orientalista de uma noção de yīnyáng imutável, o conceito tem uma
longa história de mudanças. Assim, a partir de uma análise do corpo de orifícios e
de uma leitura decolonial do conceito de
yīnyáng
, o autor propõe o transdualismo,
que não permite uma crítica ao dualismo como também o faz sem se apoiar
em um modelo de crítica dualista, uma operação que critica o dualismo sexual e
a heterocisnormatividade.
A exploração etimológica sobre teorias e conceitos a partir de concepções
filosóficas originárias permite ao autor revelar o que está abaixo da leitura colonial,
orientalista e heteronormativa. Para isso, Xiang vai até alguns tradicionais tratados,
como o
Clássico Interno
, o
jīng
e o
Dàodé jīng
, antigas mitologias e narrativas
que nos propõem outras formas de ver e pensar o mundo, assim como
desestabilizam a ordem colonial e normativa. E tudo isso sem nunca terem partido
de oposições, como se em muitas traduções. O principal argumento é que o
colonialismo tem afetado as traduções de culturas não ocidentais ancestrais, na
tentativa de fortalecer os seus próprios paradigmas,7 como o autor irá nos mostrar
em seu livro a partir da problematização da história da recepção moderna do mito
de criação babilônico,
Enuma Elis
, e como esse foi traduzido a partir de uma
perspectiva misógina, na qual o personagem de
Tiamat
feminizada foi
monstrificada, e como a tradução de
Taltecuhtili,
um nome
nahua
para deusa,
recusa o sentido do termo
techuhtli
, que em
nahua
quer dizer senhor, passando
pelo sistema de escrita/pintura
nahuatl
e uma discussão sobre a escrita não
7 Para compreender o seu interesse por essas complexidades, é importante notar que Xiang atua em muitas
áreas. Ensina literatura e arte na Universidade Duke Kunshan e foi co-curador da Guangzhou Image Triennial,
Ceremony (Burial of an Undead World)
na Haus der Kulturen der Welt (Berlin), e a 14a Shanghai Biennial,
Cosmos Cinema
(2023-2024), entre muitos outros projetos que podem ser consultados em seu site
www.xiangzairong.com. Essas atividades, bastante diversas entre si, apostam sempre na relação indisciplinar
de saberes, marcando um modo singular de pesquisar.
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alfabética, especialmente no que se refere à recepção ocidental da escrita chinesa,
e, finalmente, como a invenção da América, um conceito proferido desde uma
perspectiva eurocêntrica e cristã a partir do mito da "grande descoberta," mantém
o norte global como o único lugar de enunciação.
Quando se estudam alguns pressupostos das medicinas não ocidentais, nota-
se que, de fato, são outros pontos de partida que ativam diferentes compreensões
do corpo, da vida (e da morte), da cognição, da alteridade e das sexualidades. Neste
contexto, o Japão também tem um papel importante ao criar uma rede de antigas
culturas asiáticas de maneira a borrar as fontes originais.8 Como explicamos em
publicação preliminar acerca do tema (Greiner, 2013), os dois sistemas que
pavimentaram a concepção de corpo no Japão foram o budismo Mahayana e a
Medicina Chinesa.
Paul Unschuld (1985) explica que durante um período de 3.500 anos, que tem
início no século 15 AEC., a medicina chinesa constituiu-se a partir de diferentes
práticas, como: a terapia oracular, a medicina dos demônios, o shamanismo
religioso, as terapias a partir do uso de drogas, a medicina budista e a medicina de
correspondência sistemática. Foi apenas mais recentemente que ela absorveu
alguns procedimentos da medicina moderna ocidental. Mas não há uma sucessão
linear no sentido de que os praticantes tenham trocado sistemas antigos por
novos. Ao invés disso, a diversidade de conceitos foi mantida, sem substituição
das práticas.
O que Unschuld (1985) identifica como os dois tipos de princípios, conhecidos
também em outras culturas e que, de certa forma, permearam os modos de
atuação da medicina chinesa, são: o da causa e efeito entre fenômenos
correspondentes e o da causa e efeito entre fenômenos não correspondentes. O
primeiro princípio indicava que fenômenos visíveis, mesmo quando abstratos,
podem ser a expressão de muitos outros pressupostos. Isso abre a possibilidade
de muitas correspondências mágicas (ou sistemáticas). Como mencionamos em
artigo anterior (Greiner, 2013), um exemplo desta correspondência mágica pode
8 Acerca deste tema, mais informações em pesquisas que desenvolvemos anteriormente como o livro
Leituras do corpo no Japão e suas diásporas cognitivas
de Christine Greiner (escrito previamente como tese
de livre-docência em 2015) e na tese de doutorado de Paula Faro (Por uma epistemologia do sensível: leituras
da prática chinesa tàijí quán em contraposição aos discursos orientalistas do
taichi chuan
, 2022, PUC-SP).
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ocorrer entre uma pessoa e uma boneca. Quando a boneca é manipulada,
supostamente a pessoa poderia sentir este mesmo movimento. uma longa
tradição no Japão, sobretudo relacionada ao teatro de bonecos, que indistingue o
corpo humano (dos manipuladores) e o corpo da marionete.
Além disso, homens e espíritos costumam partilhar um mesmo ambiente.
Isto se observa, por exemplo, quando nas práticas medicinais ocorrem
negociações realizadas pelos shamãs com ancestrais, espíritos e demônios. No
caso das relações com fenômenos naturais, além das comidas e bebidas, notam-
se conexões com ar e vento, neve e misturas, calor e frio, parasitas, vírus, bactérias
e outros.
Unschuld (1985) conclui que não é possível separar instâncias reconhecidas
de fisicalidade (neve, por exemplo) daquelas de natureza espiritual (ancestrais, por
exemplo) ou social (crise política, por exemplo). É o que nos mostra também o
autor Shigehisa Kuriyama (1994) ao analisar a imaginação dos ventos na China. O
autor, em seu artigo
The Imagination of the Winds and the Development of the
Chinese Conception of the body
, procura traçar a evolução da imaginação dos
ventos desde o período Shāng (sec. XII a XVIII AEC.) até os clássicos médicos da
dinastia Han, acompanhando as mudanças na concepção chinesa de corpo. No
período
Shāng
, explica Kuryiama (1994), o clima governava a vida na China. Tratava-
se de algo que não era entendido como meros movimentos de ar, mas, sim, que
era identificado com as divindades; e a direção para a qual soprava era crucial. Os
ventos eram a expressão primária de um espaço dinâmico, divino e ordenado
(Kuriyama, 1994). Como explica Faro (2022):
Os ventos mostravam, causavam e exemplificavam as mudanças e
contemplá-los era contemplar os seus mistérios. Sua relação com a
medicina se dá um pouco depois e vem do fato de que estudar doenças
é estudar transformações, estados alternados. A evolução da qual trata
o autor, na passagem das dinastias
Shāng
para
Han
, é uma mudança da
magia, do clima diretamente vinculado a espíritos sobrenaturais e guiado
por uma espécie de “imperador celestial” para uma certa racionalidade,
que contém explicações e análises desmistificadas das forças
sobrenaturais. A época da dinastia Shāng também corresponde a
registros de danças xamânicas, que eram realizadas para compreender
os ventos e compreender o mundo visível e invisível. Tratam-se das
primeiras pistas de movimentos corporais na China, usados como forma
de se comunicar com o mundo dos ventos (Faro, 2022, p. 51).
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Da mesma forma que se usavam oráculos, existiam as danças rituais. Esses
cultos aos ancestrais da cultura arcaica de
Shāng
e
Zhōu
, liderados pelos xamãs,
eram “oferecidos a diversas forças da natureza” (Cheng, 2008, p. 52). Toda a
organização e a estrutura política dependiam estreitamente desse sistema de
culto, direcionado aos ancestrais e familiares.
Esta aliança entre natureza e cultura é o ponto de partida fundamental para
o entendimento da relação entre corpo e ambiente na China. No Japão, como
estamos pontuando, não é diferente. A congruência entre as doutrinas
terapêuticas particulares e as ideologias sociopolíticas determinam o apelo das
doutrinas terapêuticas para indivíduos ou grupos. Assim, a validade dos conceitos
terapêuticos teria sido sempre primariamente social (Unschuld, 1985, p. 12). Esta
não dicotomia entre corpo e ambiente, natureza e cultura é um ponto de partida
fundamental para lidar com o que Xiang (2023) chamará, justamente, de
transdualismo.
No caso da medicina chinesa, é muito claro como as mudanças nos conceitos
dominantes para a causa das doenças ocorrem quando muda, também, a base
sociopolítica e daí a conexão com a cultura queer se explicita. O que nos interessa
salientar é que a reorganização social sempre foi refletida no pensamento médico,
focando nas relações entre as esferas internas e externas. No Ocidente, quando
se pretende explicar a complexidade entre natureza e cultura, dentro e fora do
corpo, costuma-se recorrer à noção de “corpo holístico” distinta do dualismo
cartesiano. Considera-se que, na Ásia, o corpo nunca foi separado da mente e,
portanto, a saúde seria sempre uma condição espiritual e orgânica (Greiner, 2013).
No entanto, Mary Picone (apud Greiner, 2015) discorda da noção holística para
qualificar a concepção de corpo no Japão. A seu ver o corpo não é entendido como
um elemento dentro de uma complexidade. Ao invés disso, a pesquisadora explica
que o que ocorre são múltiplas contextualizações do corpo e o traço principal seria
o foco na relacionalidade e não tanto as relações causais entre dentro e fora. Neste
viés, o corpo seria melhor definido como um sistema de atributos, fluxos e ações,
não limitados aos processos fisiológicos, uma vez que diferentes níveis de
realidade atam-se uns aos outros.
O autor Yasuo Yuasa, estudioso da psicologia, da filosofia, da medicina e da
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história cultural e intelectual asiáticas, desenvolveu toda uma explanação sobre a
relação singular entre mente-corpo, subjacente à tradição asiática. Segundo Faro
(2022):
No livro
The Body, Self-cultivation and Ki-energy
(1993), ele estuda
justamente o significado dessa teoria mente-corpo, que se relaciona
diretamente aos métodos de autocultivo em japonês shugyō e, na
China, yǎngshēng. Tais práticas visam aperfeiçoar o espírito humano ou a
personalidade e partem do pressuposto que treinar o corpo é treinar a
mente por meio do corpo. Portanto, treinar o corpo é simultaneamente
treinar a mente. Para compreender essa perspectiva, que difere do olhar
hegemônico no Ocidente, o autor relembra como a dicotomia mente
versus corpo se solidificou a partir do século XIX, com a medicina
moderna. As doenças eram encaradas como uma disfunção dos órgãos,
não da mente. Nesse ponto, estabeleceu-se uma linha divisória, a partir
da qual o corpo seria estudado em sua perspectiva orgânica e de funções,
descartando aquilo que diria respeito à mente visão conhecida como
“medicina biológica” ou “biologização da vida” (Faro, 2022, p.57).
Yuxin Jia (2008) explica que o sistema de caracteres chineses emerge da
experiência corporal, fazendo relação com analogias conceituais. “Como um
sistema conceitual único que usamos ao pensar e agir, as estruturas e as formas
dos caracteres chineses são uma fonte importante da evidência do que é o
sistema conceitual humano”9 (Jia, 2008, p. 31). Como nos explica Faro (2022), o
pensamento alegórico está baseado na experiência corporal, devido à relação dos
sentidos metafóricos com os mapas conceituais e a experiência corporal. Yuxin Jia
nos mostra que a filosofia chinesa compreende o mundo por metáforas, analogias
e imagens, e os próprios caracteres chineses são alegóricos e corporificados na
natureza. Faro (2022) nos traz, ainda, pela ótica de Jia, o exemplo do caractere
wén
(), cujo pictograma é a imagem do corpo humano e nas inscrições dos ossos
oraculares e de bronze aparece como a visão frontal de um homem com uma
tatuagem no peito. Assim, originalmente, o significado era “homem com tatuagem”.
Dessa primeira imagem, derivou o sentido de um padrão decorativo e passou a ser
usado com a mesma pronúncia. Essa imagem corporal passou a ser termo geral
para se referir aos caracteres pictográficos da cultura chinesa. Como nos lembra
a autora,
Wén
da cultura, elucidado por Anne Cheng (2008), é o sentido de alguma
coisa que está como uma tatuagem no corpo, como um bordado, uma costura.
9 As a unique conceptual system that we use in thinking and acting, the structures and forms of the Chinese
characters are an important source of evidence for what a human conceptual system is. (Tradução nossa)
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10
"
Wén
é composto por dois elementos: a parte de cima com traço horizontal, que
tem relação com o caractere
xuán
da cor azul do céu, símbolo de tudo que é
celestial (céu, lua, estrelas etc.); e a parte de baixo, que abriga a base que medeia
os pontos entre os oito trigramas nos oráculos" (Faro, 2022, p. 73).
De acordo com o
jīng
, essa associação mostra que se lia a sorte vendo as
mudanças do sol, da lua e das estrelas, ou seja, os fenômenos naturais. O
pictograma tem dois sentidos: o de sistema de caracteres chineses embasado no
corpo humano ou na experiência sensoriomotora, entendendo que é a
caracterização direta de olhar as coisas e procurar imagens através da analogia,
ou olhar as imagens e compreender o sentido (ou seja, o próprio processo de
estabelecimento das imagens). E, em um segundo sentido, o de caracterizar o
mundo pelos caracteres, explicitando a natureza corporificada dos caracteres
chineses. O sistema de caracteres chineses é, então, chamado de
wén
para
demonstrar que está enraizado no corpo humano e na experiência corporal.
Voltando à questão do vento, podemos pensar também na formação do próprio
caractere vento (fēng ), um caractere pictofonético que em sua forma escrita
antiga era , a parte interna designa chong , inseto, sugere o significado,
enquanto que o radical fan , comum, todos, sugere o som. O vento, algo comum
a todos, comunica assim como leva e traz outras coisas com ele.
Para Xiang (2024), a grande questão envolvida na repercussão destas teorias
no Ocidente é a operação colonial que se por meio da tradução, no nível
epistêmico e linguístico. Traduzir os caracteres chineses, ou seja, uma escrita não
alfabética para um novo alfabeto implica outra lógica, assim como traduzir
Tlaltecuhtli
, uma palavra nahua ou a representação visual de
yīnyáng
. Como explica
o autor, para os filósofos logocêntricos, as línguas alfabéticas escritas pertencem
a uma hierarquia superior, seu privilégio é justificado pelo fato de que esta é a
melhor forma de registrar a fala, assim os outros sistemas como a escrita chinesa,
o
tlacuilolli nahua,
entre outros, são considerados primitivos relegados aos
primórdios do desenvolvimento da escrita alfabética, que seria um sistema
evoluído a partir da pictografia e dos ideogramas.
Quando os colonizadores começaram a se interessar pelos ensinamentos
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chineses e japoneses, consideraram boa parte desses conhecimentos como
lendas de uma “terra imaginada” - o que, evidentemente, foi apenas mais um
sintoma de uma prática discursiva autoritária e preconceituosa, identificando uma
sabedoria “não racional”. Aqueles mapas se parecem com esboços ou até mesmo
com desenhos infantis. Podem passar a ideia de uma representação primitiva,
arcaica, que remete à antiga civilização chinesa perdida no tempo, que não se
atualiza no mundo contemporâneo. São imagens que não remetem aos mapas de
anatomia, não são fotografias e não procuram apreender a dimensão real do seu
objeto. Não seriam esses mapas formas de ver e imaginar? — pergunta Kuriyama
(1999). É possível fazer uma analogia entre o corpo humano e a geografia, a
paisagem, a não separação entre o interior e o exterior. Como nosso sentido
mudaria se pudéssemos ver a terra no corpo e o corpo na terra? Como veríamos
se não tivéssemos as referências das pinturas renascentistas e da dissecação dos
corpos? (Kuriyama, 1999).
Com o reconhecimento de que a imaginação é uma habilidade que nos
constitui e não um defeito a ser neutralizado pela voz arrogante daqueles que
acham que sabem (os fundadores da cultura humanista), as linhas abissais entre
Oriente e Ocidente apenas começam a se desestabilizar. Visões diferentes do
corpo correspondem a formas diferentes de ver a própria vida ou a vitalidade.
Evitar o corpo-identidade ou o corpo-neoliberal, requer pensar uma corporeidade
que não é definida de fora para dentro e nem sequer é um lugar, um recipiente ou
mesmo um substantivo bem definido.
Quando emerge a discussão queer
É neste complexo de discussões que se insere o livro
Antigos Caminhos
Queer
, uma exploração decolonial. Originalmente, esta pesquisa foi concebida
como uma tese de doutorado, desenvolvida com a bolsa Erasmus Mundus (EMJD)
em
Cultural Studies in Literary Interzones
.10 O objetivo foi, desde o início dos
estudos, buscar um profundo “desaprendizado” para embaralhar,
10 Esta bolsa tem um perfil bastante particular, uma vez que financia uma espécie de pesquisa nômade e, no
caso de Zairong, permitiu estágios em Bergamo, Perpignan, Cidade do México e Tübingen.
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deliberadamente, as categorias filosóficas modernas uma vez que essas
funcionaram, desde o século XVI até o presente, como pilares das visões coloniais
europeias, negligenciando completamente o conhecimento produzido pelas
antigas culturas não ocidentais.
Para tentar, minimamente, apresentar e começar a estudar tais lacunas, Xiang
(2024 fez uma pesquisa sobre “deusas” e outras figuras divinas nos mitos de
criação babilônico e nahua, expondo os modos como essas entidades foram
sempre generificadas como femininas. A feminização de figuras babilônicas como
Tiamat, Nahua, Tlaltecuhtli, Coatlicue
e
Ometeotl
representou uma forma de
assegurar um sistema dualístico de gênero e sexualidade que, de fato, não fazia
sentido nas fontes primárias da cultura onde foram geradas. Acontece que sempre
houve um problema de tradução e uma questão política assentada em categorias
dadas a priori pelas epistemologias coloniais. Xiang conheceu de perto este
processo autoritário e dicotômico, uma vez que a sua educação começou na China
e depois continuou na Europa, sendo sempre marcada por um viés sinocêntrico e
eurocêntrico. Por isso, reconhecer essas marcas e tentar desestabilizá-las tornou-
se o seu principal exercício em todas as atividades que o autor vem
experimentando em seu nomadismo filosófico e artístico.
Na apresentação que fez do livro na ocasião de seu lançamento em São
Paulo, em abril de 2024, Xiang explicou que partiu de sua inquietação a respeito
de como podemos pensar o mundo diferente e onde podemos encontrar formas
de fazê-lo. Esta seria uma estratégia para questionar as certezas categóricas, fato
que o levou às referências mais antigas como, por exemplo, os mitos de criação
babilônico ou nahua, o jīng ou até mesmo a Bíblia. Ao procurar uma possível
tradução para o título do livro quando escrito em chinês, seu método foi o de uma
exploração decolonial, percorrendo antigos caminhos. O termo Dào (), muitas
vezes traduzido para o português como caminho, mostrava apenas um viés do
conceito. A questão não seria apenas voltada a viajar por regiões desconhecidas e
descobri-las, mas também implicaria revelá-las, como uma fotografia. Durante a
sua conferência no CPF SESC SP, ele mencionou os ideogramas
shèy
ǐ
ng
(摄影), que
compõem justamente o sentido de fotografia. O primeiro caractere significa
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Florianópolis, v.3, n.52, p.1-16, set. 2024
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absorver, assimilar, o segundo quer dizer imagem, figura, reflexo, sombra. De
acordo com Xiang, aqui também podemos perceber uma outra forma de nos
relacionarmos com o desconhecido ou com aquilo que queremos conhecer. Não
se trata de ir em direção ao objeto e agarrá-lo ou roubá-lo, possuí-lo, mas, sim, de
permitir que todos os sentidos estejam abertos, possibilitando que o
conhecimento inicie a sua jornada — assim como quando abrimos o diafragma da
máquina fotográfica e a luz que entra pela lente captura a imagem.
Esta operação investigativa sobre as antigas fontes, tal qual uma escavação
arqueológica, permite, como enfatiza o autor, que a estrutura queer, que já estava
lá, apareça e seja reconhecida. Aqui, Xiang (2024) estabelece outra analogia por
meio de mais dois ideogramas,
g
ǔ
guài
(古怪), que designa o termo queer em chinês.
G
ǔ quer dizer antigo e
guài
significa estranho, incomum ou peculiar.
G
ǔ
guài
, seria,
então, o antigo estranho. Neste viés, podemos pensar o termo queer não apenas
relacionado às questões de gênero, mas também relacionando-se a tudo aquilo
que está fora do centro e, ainda, com quem pensa desviando-se das normas, em
direção às fronteiras e que pode habitar o entre mundos e outros lugares.
Na segunda parte do livro, a parte 0, ou
Nulla
, o autor abre o capítulo com
uma epígrafe que cita a música
Somos más Americanos
da banda mexicana
Los
Tigres del Norte
,
Yo no cruzé la frontera, la frontera me cruzó
. Nesta parte, vemos
como Xiang desmistifica o conceito teopolítico de criação
ex nihilo
, e, ao fazê-lo,
ele evidencia como este mesmo conceito sobrevive e impera dentro da lógica
colonial, mesmo quando a temática é queer. Um dos exemplos que explora é a
influência do conceito criação
ex nihilo
sobre o colonialismo e a colonialidade.
Argumenta-se que a "descoberta" da América se sustenta sobre a ideia de que o
mundo, como se pensava no período de Colombo, havia sido criado do nada, a
partir de Deus. O problema, explica Xiang (2024), é que esse “nada” está repleto de
informações que o colonialismo tem tentado anular. Alguns dos exemplos trazidos
pelo autor, de como esse discurso opera, são a "invenção" ou "(re)invenção" da
imprensa por Gutenberg, a "descoberta" ou a "(re)nomeação" da América, e a
"persistência da colonialidade na produção de conhecimento" (Xiang, 2024, p. 106)
acerca dos estudos de gênero/queer, entre outros.
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Nomear e renomear são atos de apropriação, nesse caso de uma terra como
Cemanahuac
ou
Tawantisuyana
, feito pelos cristãos europeus que "descobriram"
e "nomearam" esse espaço habitado pelos
nahuas
e incas, respectivamente. A
própria nomeação genérica de “América” dada a um lugar habitado por inúmeras
civilizações não parece fazer nenhum sentido. Assim como atribuir gênero a
uma divindade nahua,
Taltecuhtli
, e a um mito asteca,
Coatlecue
. A tradução direta
de
Taltecuhtli
seria "Senhor da Terra", mas acabou ficando conhecido/a, por meio
de sua recepção colonial moderna, como "deusa". Este "erro" tendencioso de
tradução, como demonstra o autor, implica um "corte dicotômico
heteronormativo" (Xiang, 2024, p. 166). Para a língua
nahuatl
,
taltl
quer dizer terra
e
tecuhtli
significa senhor, algo que poderia ser visto como um dualismo
complementar nahua, com sua ambiguidade inerente que deságua em um outro
problema: a negação da forma de escrita tlacuilolli. Para nos mostrar exatamente
como isso acontece, Xiang (2024) empreende um processo de aprendizagem
decolonial através da cosmofilosofia nahua para analisar a estátua
Coatlicue
Mayor
, usando o sistema de escrita
talcuilolli
e não apenas percebendo a estátua
como uma obra de arte que representa uma divindade feminina.
Como propõe o autor, estes "aprendizados" necessitam, em primeiro lugar,
de “um processo de desaprendizagem, um processo de suspensão da certeza das
categorias modernas e coloniais por meios das quais operamos em nossa maioria.”
(Xiang, 2024, p. 210).
Há, em sua obra, muitos outros exemplos que vêm discutindo ações
decoloniais, sobretudo através dos estudos das culturas não ocidentais, nas quais
estamos também incluídos como brasileiros, tendo em vista nossos povos
originários e as diásporas africanas, entre tantas outras culturas que nos
constituem.
Para quem se interessa por temas como linguagem, tradução, existências
invisíveis e incategorizáveis, a pesquisa de Xiang trará
insights
que podem acionar
novos rumos para as discussões. Como sabemos, mitologias e divindades, assim
como outros espectros desconhecidos das culturas orientais, foram, durante
séculos, relegados ao âmbito de um animismo esotérico insustentável
academicamente. Nesse contexto, pouco ou nada foi estudado acerca da potência
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queer
dessas manifestações. É neste sentido que o livro
Antigos Caminhos Queer
,
uma exploração decolonial promete operar como uma bússola reinventada para
sinalizar trilhas de pesquisa e tornar visíveis alguns problemas de interpretação
que impediram a emergência de modos transdualistas de percepção e
conhecimento.
Que a sua pesquisa colabore com as estratégias de reexistências e visibilidade
das corpas decoloniais!
Referências
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. Tradução de Gentil Avelino Titton.
Petrópolis: Vozes, 2008.
FARO, Paula.
Por uma epistemologia do sensível: leituras da prática chinesa tàijí
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Tradução de Paula Faro. São Paulo: n-1 edições, 2023.
Uma possível genealogia de corpas decoloniais: a obra sino-latinoamericana de Zairong Xiang
Paula Telles de Menezes Faro | Christine Greiner
Florianópolis, v.3, n.52, p.1-16, set. 2024
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XIANG, Zairong.
Antigos Caminhos Queer, uma exploração decolonial.
Tradução de
Paula Faro e Gil Vicente Lourenção. São Paulo: n-1 edições, 2024.
YUASA, Yasuo.
The Body, self-cultivation and Ki-energy.
New York: State University
of New York Press, 1993.
Recebido em: 26/06/2024
Aprovado em: 29/07/2024
Universidade do Estado de Santa Catarina
UDESC
Programa de Pós-Graduação em Teatro
PPGT
Centro de Arte CEART
Urdimento
Revista de Estudos em Artes Cênicas
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