
Corporalidades mnemônicas: histórias performadas em sonoridades enquanto dança
Daniel Santos Costa | Tiago Asmuel Bassani
Florianópolis, v.1, n.54, p.1-25, abr. 2025
Os caminhos trilhados evidenciam aprendizados sensíveis e técnico-
pedagógicos da palavra, do som, do movimento sonoro e das musicalidades nos
diversos espaços – trajetória e contexto de vida, lugar de formação e na elaboração
performativa, espiralando essas ideias tal como um
DJ
, Ogã dos terreiros, mestres
de Folia de Reis, puxadores de ponto, em roda de jongo, as mães e pais de santo,
o balbuciar das benzedeiras e as vocalidades imperiosas de um cotidiano rural que
ecoa, preenchendo espaços de silêncios.
O
Corpo Mnemônico
se movimenta e é movimentado, assim como um rio
que segue caminhos desconhecidos, sempre ao encontro de novas provocações
e que deságua em alguma paragem. Nesses momentos, ouvem-se as histórias que
o fluxo das águas conta, tal qual as palavras-pensamento de Davi Kopenawa (2015)
e Daniel Munduruku (2015), ao nos lembrar de suas histórias, de seus povos e das
relações com as águas, com os sonhos, com os mitos. Há, portanto, a necessidade
de um olhar específico para determinados dispositivos, no emaranhado da
oralidade popular brasileira, no contexto da transmissão de conhecimentos.
Destaca-se, portanto:
olhar, ver, perceber, entrar em sintonia, abrir-se ao outro, permitir-se a
imagem, acionar sensivelmente o imaginário, dançar, cantar, rodopiar,
percutir-se, batucar, girar, perambular, espiralando as memórias, contar
histórias, fazer comida à beira do fogão, sorrir largamente, enrustir-se, no
momento preciso, para segurar as energias que transpassam o corpo,
enfim, acreditar em outros mundos. Colocar-se em movimento, ecoando
suas sonoridades viáveis (Costa, 2019, p.52).
O movimento sonoro que embala o corpo também constitui silêncios, tal
como contemplamos a narrativa do rio. Nesse sentido, Kopenawa e Albert (2015)
nos trazem elucidações sobre a maneira de pensar dos Yanomamis, corroborando
a premissa de corporalidade que buscamos enraizar em prática-pensamento
performado:
O pensamento dos brancos é outro. Sua memória é engenhosa, mas está
enredada em palavras esfumaçadas e obscuras. O caminho de sua mente
costuma ser tortuoso e espinhoso. Eles não conhecem de fato as coisas
da floresta. Só contemplam, sem descanso, as peles de papel em que
desenham suas próprias palavras. [...] Seus dizeres são diferentes dos
nossos. Nossos antepassados não possuíam peles de imagens e nelas
não inscreveram leis. Suas únicas palavras eram as que pronunciavam
suas bocas e eles não as desenhavam, de modo que elas jamais se