Curadoria e colonialidade: contradições no processo de descolonização da MITsp
Daniel Vianna Godinho Peria
Florianópolis, v.3, n.52, p.1-26, set. 2024
Brasil
, com curadoria de Christine Greiner, Felipe de Assis e Wellington Andrade,
que explicitam os objetivos da plataforma no texto curatorial:
Não se trata de atender à demanda da globalização, transformando a
criação cênica em uma mercadoria altamente vendável nos circuitos
muitas vezes céleres e eufóricos dos festivais internacionais, mas, antes,
de reconhecer possíveis relações entre as especificidades do contexto
brasileiro com questões e experiências propostas em âmbito
internacional. Assim, a preocupação da MITbr - plataforma Brasil é
diferenciar, historicizar e contextualizar os espetáculos convidados para
essa interlocução, levando-os a diálogos que sejam, de fato, fricativos,
mobilizadores, heterotópicos (Greiner, Assis e Andrade, 2018, p. 22-23).
Assumindo uma posição crítica em relação àquelas/es que enxergam na
internacionalização apenas uma possibilidade de mercado, a curadoria pretendia
que a plataforma fosse, ao mesmo tempo, um panorama da produção nacional,
permitindo criar discussões sobre a situação do país e uma forma de estabelecer
pontes entre os contextos de diferentes regiões do globo. Pensando dessa forma,
a plataforma se estruturou através de três categorias de ação: os espetáculos, os
ensaios abertos e o seminário
Artes Cênicas: desafios para internacionalização.
Composto por três mesas, o seminário girou em torno de duas questões
principais:
Internacionalização e Descolonização
e
Políticas Públicas para
Internacionalização das Artes Cênicas
. Se por um lado as temáticas apontam para
um distanciamento da lógica mercantil, tanto por voltar-se para as estratégias
públicas quanto por tensionar o afã internacionalizante com a perspectiva crítica
decolonial, por outro, vemos uma aproximação com o mercado, tanto pelo próprio
espaço em que a ação aconteceu quanto pela repercussão das críticas
jornalísticas. Com a manchete “Pouco exportado, teatro brasileiro mira
internacionalização”, a jornalista Maria Luísa Barsanelli traduz a perspectiva
mercantilista do processo:
A dificuldade em exportar peças, dizem gestores culturais, deve-se em
especial à falta de políticas públicas para divulgar o trabalho brasileiro no
exterior. [...] Pensando nisso, artistas têm se mobilizado para encurtar o
caminho até palcos estrangeiros. E têm visto os festivais de artes cênicas
brasileiros como ferramenta para a venda de produções nacionais
(Barsanelli, 2018).
A utilização dos termos “exportar” e
“
venda
”
vai na contramão da proposta
curatorial, evidenciando que a noção de uma plataforma de reflexão sobre a