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Poéticas do Cuidado:
sete eixos para cuidar com arte
Tania Alice
Para citar este artigo:
ALICE, Tania. Poéticas do Cuidado: sete eixos para cuidar
com arte.
Urdimento
Revista de Estudos em Artes Cênicas,
Florianópolis, v. 4, n. 53, dez. 2024.
DOI: 10.5965/1414573104532024e0202
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Poéticas do Cuidado: sete eixos para cuidar com arte
Tania Alice
Florianópolis, v.4, n.53, p.1-28, dez. 2024
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Poéticas do Cuidado1: sete eixos para cuidar com arte2
TAnia Alice3
Resumo
Como podemos criar práticas performativas produtoras de saúde física e mental? Essa foi a
pergunta norteadora do projeto de pesquisa
Poéticas do cuidado: arte em tempos de crise
,
do Grupo de Pesquisa “Práticas Performativas Contemporâneas”, desenvolvido em parceria
com os
Performers sem Fronteiras,
na UNIRIO. Por meio de ações de formação, encontros,
estudos e a realização de performances, foram investigadas, de forma experimental e
cartográfica, as interseções entre práticas performativas e práticas de saúde. Durante a
pesquisa, foram explorados sete eixos que, em suas diversas combinações com ações
artísticas, configuram um tipo de produção artística, que denominamos “Poéticas do
Cuidado”, de acordo com o referencial teórico mobilizado.
Palavras-chave
: Performance. Poéticas do Cuidado. Arte socialmente engajada.
Poetics of Care: seven axes for caring with art
Abstract
How can we create performative practices that produce physical and mental health? This
was the guiding question of the project
“Poetics of care: art in times of crisis”
, carried out by
the Research Group
Contemporary Performative Practices
in partnership with the
Performers without Borders
, at UNIRIO. Through actions, meetings, studies and
performances, we investigated experimentally and cartographically the intersections
between performative practices and health practices. During the research, seven axes were
explored, which are presented in this article. In their various combinations in performance
art pieces, these axes configure a type of performative practices which, according to the
theoretical framework mobilized, we call “Poetics of Care”.
Keywords:
Performance art. Arts of Care. Socially engaged art.
Poética del cuidado: siete ejes para cuidar con arte
Resumen
¿Cómo podemos crear prácticas performativas que produzcan salud física y mental? Esta
fue la pregunta que guio el proyecto de investigación “Poéticas del Cuidado: Arte en Tiempos
de Crisis”, organizado por el Grupo de Investigación “Prácticas Performativas
Contemporáneas” y
Performers sin Fronteras
en UNIRIO. A través de actividades formativas,
encuentros, estudios y performances, se investigaron de forma experimental y cartográfica
las intersecciones entre las prácticas performativas y las prácticas productoras de salud.
Durante la investigación, se exploraron siete ejes, que se presentan en este artículo y que, en
sus diversas combinaciones en acciones artísticas, configuran un tipo de producción artística
que, de acuerdo con el marco teórico movilizado, denominamos “Poéticas del Cuidado”.
Palabras clave
: Performance. Poéticas del Cuidado. Arte socialmente comprometido.
1 Revisão ortográfica, gramatical e contextual do artigo realizada por Raquel Gouvêa. Doutorado em Educação,
mestrado em Artes e bacharelado em Filosofia, toda a formação acadêmica na Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP). gouvearaquel@gmail.com.
2 Este trabalho recebeu apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq, em
conjunto com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação - MCTI e do Governo Federal do Brasil.
3 Pós-doutorado na Université de Provence Aix Marseille I França. Pós-doutorado na Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ). Doutorado em Letras e Artes pela Université de Provence Aix Marseille I França.
Mestrado Universide Provence Aix Marseille I França. Graduação em Letras e Artes pela Université Robert
Schuman, França. Professora titular da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).
taniaalice@hotmail.com tania.alice@unirio.br
http://lattes.cnpq.br/0808132483644199 https://orcid.org/0000-0002-0213-0760
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Introdução
O artigo apresenta uma investigação realizada, de 2021 a 2024, pelo Grupo de
Pesquisa “Práticas Performativas Contemporâneas” (UNIRIO/UFRJ/CNPq) e pelo
coletivo
Performers sem Fronteiras
, composto de alunos de Graduação e de Pós-
graduação e artistas-pesquisadores convidados4, dando continuidade ao projeto
anterior, denominado “Arte em tempos de crise” (2016 2021). Este foi realizado
em zonas de terremotos e conflitos ou em instituições de cuidados paliativos, e
seus resultados foram divulgados em eventos e publicações nacionais e
internacionais durante esse período. Depois do encerramento do primeiro projeto,
em 2021, iniciamos o projeto de pesquisa institucional atual, intitulado
Poéticas do
cuidado: arte em tempos de crise
(2021-2024), que, desde março de 2023, se
desdobrou parcialmente em projeto homônimo aprovado e contemplado pela
Bolsa de Produtividade PQ2 do CNPq, cujos resultados parciais apresento aqui.
Iniciado de forma remota, o projeto prosseguiu após a pandemia da Covid-19
de forma presencial, com experimentos cênicos, estudos, encontros com artistas-
pesquisadores e a criação de ações artísticas. Investigamos maneiras de lidar
artisticamente com as consequências das mudanças que afetaram diretamente a
nossa saúde mental, o que nos conduziu à criação do espetáculo “Psicotropicais
protocolos de reflorestamento afetivo”, que realizou temporada no Instituto
Municipal Nise da Silveira (2023) antes de se desmembrar em pequenas células,
apresentadas em Centros e Hospitais Psiquiátricos e em Centros de Atenção
Psicosocial - CAPS (2024), configurando o que denomino “Poéticas do Cuidado”:
um conjunto de ações artísticas inscritas no campo da linguagem da performance
e da arte socialmente engajada, que visam à produção de saúde física e mental
para os seres envolvidos, sejam artistas-propositores, participantes voluntários ou
transeuntes - humanos, animais ou plantas. Apresento o percurso cartográfico e
investigativo do nosso coletivo de artistas-pesquisadores, que busca descobrir
maneiras de criar práticas cênicas produtoras de saúde física e mental, por meio
4 O Grupo de pesquisa possui direção do Prof. Dr. Gilson Motta (UFRJ) e minha. É de minha responsabilidade
a coordenação da pesquisa realizada com o grupo composto de 35 artistas-pesquisadores vinculados à
UNIRIO.
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da linguagem da performance.
Origens do nosso caminhar
Logo no início da nossa pesquisa fomos surpreendidos com a pandemia.
Como forma de resistência instintiva e coletiva ao medo, à solidão e à ansiedade,
criamos, por meio de ensaios
on-line
, um espetáculo para cuidarmos dos outros
e, consequentemente, de nós-mesmos. A fim de arrecadar dinheiro para a compra
de cestas básicas para artistas do Rio de Janeiro em situação de vulnerabilidade
social,
Crescer para passarinho uma experiência de cuidados poéticos on-line
foi apresentado mais de noventa vezes5, com a meta de cuidar de quem estava
na linha de frente contra a Covid-19, ou seja, médicos, enfermeiros e psicólogos,
antes de se abrir para o público em geral. Por meio de conversas,
compartilhamento de vivências, performances participativas, receitas de plantas
medicinais personalizadas e práticas somáticas, o público passava por diversas
vivências de cuidado. O espetáculo culminava em um grande carnaval imaginário,
projetado para o ano de 2024, que oferecia um momento de alegria utópica
imaginária, unindo público e
performers
em suas casas por meio da música, do
canto e do uso de adereços de carnaval, projetando um futuro feliz6.
Crescer pra
passarinho
explorou as plataformas virtuais como cena expandida, permitindo que
os performers compartilhassem com o público suas estratégias de sobrevivência
no meio do caos, que estávamos atravessando. Os espectadores podiam reclamar
o que quisessem com uma
performer
/atendente; também realizávamos, a partir
de uma conversa, uma medição do nível de alegria dos participantes, para, em
seguida, tentar elevar este nível por meio de práticas de yoga do riso, e
colocávamos os corpos em movimento para provocar uma abertura dos
chacras
apesar do medo do desconhecido. Após cada apresentação, recebíamos dezenas
de mensagens pelo
WhatsApp
, como a de Iara, participante de Limeira, que nos
5 O espetáculo - realizado pelos atores-performers Caetano, Gilson Motta, Gizelly de Paula, Gabriela
Estolano, Marcelo Miguel, Gabriel Hipolito, Ana Paula Penna e Ivan Faria - ganhou o “Prêmio Mundo Solidário
de Limeira” (2021).
6 Um artigo sobre o processo de criação e temporada, intitulado “Tentativas de performar o encanto durante
a pandemia”, foi publicado na Revista Científica da FAP, v. 24, p. 75, 2021. Nele, é explicitado detalhadamente
como o cuidado operou nas apresentações on-line da peça.
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escreveu o seguinte texto:
Para todos que fizeram parte desse momento tão especial, que me fez por
minutos esquecer de tudo que estamos vivendo nesse momento de muita
preocupação e medo. Vocês são donos da minha gratidão! Foi tão bom poder
interagir, dançar, sorrir e sentir essa energia boa me dizendo “- Olha, estamos aqui
com você, vai dar tudo certo!”.
Ao mencionarmos o cuidado poético, nessa experiência
on-line
, falávamos
das experiências de libertação de afetos, como o medo e a raiva, que
vivenciávamos, para nos abrirmos coletivamente a uma possibilidade de
transformação que se na esfera da micropolítica, lembrando que, apesar da
solidão aparente, estávamos conectados uns com os outros.
Ainda na pandemia, com o confinamento se prorrogando e confrontados com
a questão da perda de pessoas próximas, elaboramos a performance duracional
on-line
Cada número é o amor de alguém
, em que, por doze horas seguidas, um
conjunto de doze
performers
lia histórias de pessoas mortas pela Covid-19,
coletadas pelo projeto “Memorial Inumeráveis”7. Realizada na abertura do
Congresso da Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-Graduação em Artes
Cênicas ABRACE, no dia 14 de junho de 2021, a performance explorava nossos
limites pessoais ao nos confrontarmos com as histórias de perdas de pessoas na
pandemia: até onde aguentaríamos, individual e coletivamente, ler histórias sobre
perdas? Em seu livro
Philosophy of Care
, o filósofo Boris Groys (2022) analisa a
diferença entre o cuidado de si e uma forma de cuidado determinada pelos
poderes públicos, especificamente em tempos de crise. Realizando um panorama
histórico e filosófico sobre a questão do cuidado, o autor mostra como é difícil,
para o sujeito contemporâneo, ter uma participação ativa no cuidado de si em um
contexto em que as esferas médicas, administrativas e políticas tomam decisões
a partir de um saber oficial, que nem sempre está de acordo com a sabedoria
individual. Com a performance, conseguimos realizar um momento coletivo de
vigília e luto: tempos necessários que nos foram tirados pela pandemia, com os
7 As histórias estão disponíveis em: https://inumeraveis.com.br/. Acesso em: 18 set. 2024. A performance está
disponível em: https://www.youtube.com/playlist?list=PLDv6BXV3BLz301GBToOkuT_6Gu1m8B7bj. Acesso
em: 31 out. 2024.
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enterros às pressas, retransmitidos de forma
on-line
. Cuidando de nossas perdas
demos voz, por meio dessa performance de resistência física e emocional, às
centenas de milhares de pessoas que haviam perdido alguém na pandemia,
recebendo apenas um “E daí?” do governo eleito. Nesse sentido, a performance se
apresentou como a possibilidade de estabelecer um ritual que cuidasse, de forma
individual e coletiva, de um dos principais momentos de nossas vidas: a morte.
Após a pandemia, percebemos que diversos problemas estavam gerando
transtornos de ansiedade e outros adoecimentos mentais para nós, mas também
para nossos alunos ou colegas. Dentre eles, o isolamento prorrogado e as perdas
da pandemia; as questões sociais, como a aceleração do processo de digitalização,
que nos levou a investir tempo considerável em divulgação em redes sociais; os
problemas econômicos ligados ao contexto pós-pandêmico de paralização de
diversos setores da economia, como o cultural; a nossa gritante desconexão das
outras espécies que habitam a Terra, que tinha se tornado visível; e, por fim, que
o tempo crescente de conexão na internet, que estava conduzindo a um
esvaziamento das relações humanas. Esgotados pela pandemia e pelo ensino
remoto, ao voltarmos às aulas presenciais, resolvemos redirecionar a pesquisa e
adotar uma estratégia na qual também pudéssemos cuidar de nós mesmos.
Assim, no primeiro ano, a cada semana, um integrante do grupo propunha uma
prática para cuidar de todos os demais: por vezes, eram práticas somáticas, em
outros momentos, experimentações visuais (colagens, mandalas, pinturas...), por
vezes, experimentos cênicos ou performativos, sempre seguidas de rodas de troca
sobre algum assunto específico, que tinha motivado o grupo. No segundo ano,
convidamos diversos artistas-cuidadores para trabalharem conosco, com a
proposta de cuidarem de nós8. Recebemos assim, entre outros, artistas-
pesquisadores como Dani Visco, Nadam Guerra, Deborah Oliveira e Jaya Pravaz,
que experimentaram conosco o que entendiam como cuidado. Após essa série de
encontros, buscamos identificar, nos diferentes processos vivenciados, aquilo que
tinha nos proporcionado um sentimento de cuidado. Em trocas do grupo e em
8 O convite feito aos artistas lembrava a performance “Cuide de você”, da artista francesa Sophie Calle, na
qual ela pedia para mulheres das mais diversas profissões, para interpretarem a frase final de uma carta de
ruptura, que ela tinha recebido de um namorado, a qual dizia “Cuide de você”. Cada mulher interpretava a
carta de acordo com a sua profissão (psicanalista, bailarina, corretora ortográfica etc.). A ação gerou uma
exposição e um livro com o mesmo nome.
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diálogo com referências bibliográficas, chegamos à conclusão de que em cada
uma das práticas, bem como nos dois espetáculos que criamos, havia eixos de
ação com o potencial de transformar uma prática comum em uma prática de
cuidado. Curiosamente, percebi que cada um deles havia sido foco de minhas
investigações artísticas anteriores, porém sem a percepção e a consciência de que
poderiam constituir um eixo daquilo que denominei “Poéticas do Cuidado”.
Identificamos nas práticas propostas, sete eixos que nos propiciavam um
sentimento de bem-estar, relaxamento, conexão e, consequentemente, de saúde.
1. A prática do silêncio como reconexão com a percepção sensível do mundo; 2. A
escuta empática como possibilidade de acolhimento do outro; 3. O movimento
livre como prática reguladora; 4. O contato físico como propositor de experiências
sensíveis e de segurança; 5. A produção de alegria como projeto político; 6. A
abertura às relações interespécies; e, por fim, 7. A realização dos sonhos de nossas
vidas. Uma vez identificados os eixos, no terceiro ano da pesquisa, nos valemos de
cada um deles para criar um espetáculo destinado a cuidar do público, explorando
os eixos de forma consciente. Assim nasceu o espetáculo participativo
Psicotropicais protocolos de reflorestamento afetivo
, apresentado nos meses de
novembro e dezembro de 2023, pelos
Performers sem Fronteiras
, no Instituto
Municipal “Nise da Silveira”, no Rio de Janeiro, como aprofundamento da pesquisa9.
Em 2024, este espetáculo, em um formato mais simples, foi apresentado em
instituições como o Centro Psiquiátrico do Rio de Janeiro CPRJ, o Hospital Dia
do Instituto de Psiquiatria - IPUB/UFRJ, na Casa da Ciência da UFRJ no projeto
Circulando, que acolhe pessoas autistas, entre outros, dialogando com os usuários
desses serviços. A seguir, uma reflexão breve sobre cada um dos eixos.
9 Concepção e Direção geral: Tania Alice. Pesquisa: Grupo de Pesquisa Práticas Performativas
Contemporâneas/Performers sem Fronteiras. Direção Geral: Gilson Motta, Rosyane Trotta e Tania Alice.
Assistente de Direção: Glauco Deris. Performers: Aline Vargas, Aline Gomes, Amanda Gomes, Ana Paula
Lopes, Caio Picarelli, Claudia Mele, Filipe Gimenez, Gilson Motta, Glauco Deris, Hugo Monteiro, Ivan Faria,
Julia Campbell, Julia Emilene, Lorenzo, Raisa Mousinho, Rosyane Trotta, Stefano Motta, Tania Alice e
Caetano. Direção de Movimento: Caio Picarelli, Claudia Mele, Raisa Mousinho. Dramaturgia: Glauco Deris,
Rosyane Trotta, Tania Alice,Caetano. Caracterização: Lu Varello, Mona Magalhães. Cenografia e Figurino:
Artur Paschoa, Gilson Motta, Hugo Garcez, Júlia Ohana, Lorena Couto, Raphaela Miguel. Acessibilidade: Aline
Gomes, Julia Emilene. Social Media: Lorenzo. Direção de Produção: Julia Campbell. Produção Executiva:
Filipe Gimenez, Gilson Motta, Glauco Deris, Lorenzo, Tania Alice, Thaís Coutinho, Vitória Carvalho.
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A prática do silêncio como reconexão com a percepção sensível
do mundo
Ao longo de toda a história do teatro no século XX, o crescente diálogo com
a cultura oriental possibilitou que alguns encenadores, como Stanislavski e Jerzy
Grotowski, adotassem técnicas corporais como a Yoga para a preparação e
treinamento dos atores10. A popularização da filosofia do Zen-budismo e de outras
práticas contemplativas, como as diversas formas de meditação, estreitou os laços
entre os artistas ocidentais e as diversas práticas contemplativas oriundas do
Oriente. Inevitavelmente, esse processo alcança o meio acadêmico, à medida que
artistas-pesquisadores/as alinhados com essas práticas começam a ingressar na
universidade como docentes. Nesse sentido, desde 2016 pesquisadores como Nara
Keiserman, Cassiano Quilici, Gilson Motta, Tatiana Motta Lima, Daniel Plá, entre
outros, ministram cursos e compartilham suas pesquisas por meio de artigos para
que a meditação e as práticas contemplativas adentrem o universo acadêmico, a
fim de se tornarem parte integrante do processo criativo e de preparação do
ator/performer11.
Ao longo dos anos, esse movimento que emerge da prática individual e
coletiva dos pesquisadores, com a realização de retiros, de estudos e do exercício
de diferentes formas de meditação, como, por exemplo, uma meditação não
produtivista (“medito para ser um melhor ator/performer”) – e a integração desse
tipo de prática nas aulas de corpo e de atuação cênica ganharam espaço na
academia, com eventos, publicações12 e um Grupo de Trabalho formalizado na
10 Cf. Rosa, 2020.
11 O primeiro seminário sobre práticas contemplativas foi realizado em 2016 na Unirio. Em 2021, houve um
novo evento, realizado de modo remoto. Disponível em:. https://www.grupotradere.com/semin%C3%A1rio.
Acesso em: 20 set. 2024.
12 Cito alguns artigos como “Proposições para um diálogo entre artes performativas e budismo (e um exemplo
de ciência)”, de Cassiono Quilici (2010); “A meditação como possiblidade criativa para o ator/performer”, de
minha autoria e publicado no livro O corpo cênico: entre a dança e o teatro, organizado por Nara Keiserman
e Joana Ribeiro (2013), “Performance Art as Spiritual Practice”, coescrito com Gilson Motta (2019), no Jornal
of Performance and Mindfulness, entre outros.
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ABRACE, com o título “Artes Performativas, Modos de Percepção e Práticas de si”13.
Aos poucos, na continuidade dos ensinamentos das práticas contemplativas
ancestrais, expandimos a ideia de que existe um espaço seguro, imenso e
silencioso dentro de nós, para o qual sempre podemos voltar e que é o nosso
ponto-raiz, onde podemos amarrar o fio da pipa que somos. Segundo o
pesquisador Hans Ulrich Gumbrecht (2010, p. 22), toda obra de arte produz uma
“oscilação entre efeitos de presença e efeitos de sentido”. A meditação permite
intensificar os efeitos de presença, pois o “parar” permite que a mente repouse
livre de outras conexões mentais ou trabalhando um foco específico. Assim como
a performance, a meditação possui uma potencialidade muito forte de
autotransformação, no sentindo de reprogramar nossa maneira de sentir e de
perceber o mundo, levando o foco para a base da nossa existência: a respiração.
Artistas internacionais como Marina Abramovic, Laurie Anderson, John Cage,
Meredith Monk ou Lee Worley têm trabalhado na interseção entre práticas
artísticas e práticas contemplativas, explorando, em instalações artísticas e
performance, como a prática compartilhada do silêncio pode, inclusive, cuidar dos
traumas dos participantes. Segundo David Treleaven (2018), em
Trauma Sensitive
Mindfulness
, a meditação pode produzir um senso de pertencimento, segurança,
compaixão, resiliência e bem-estar. No Brasil, diversas performances trazem a
meditação como prática, tanto para o performer como para os participantes, por
exemplo,
Pausa Para Respirar
, do Coletivo O Povo em Pé, em que os integrantes
desse coletivo paulista, no meio do tumulto da cidade, convidam os transeuntes
para pararem de andar ao colocarem seus pés em um quadrado de grama. A
meditação tem um lado performativo por operar transformações durante a sua
prática, as quais, muitas vezes, abrem outras dimensões de percepção para o
performer
e para os participantes. Por permear as proposições dos artistas-
pesquisadores convidados, a prática do silêncio foi um dos eixos investigativos na
montagem do espetáculo
Psicotropicais protocolos de reflorestamento afetivo
.
O recurso ao silêncio foi utilizado em diversos momentos. O público, ao chegar no
antigo espaço de internação do hospital psiquiátrico, após passar por uma triagem,
realizava diversos exames, como, por exemplo, a medição dos níveis de utopia
13 Disponível em: https://portalabrace.org/novo2022/gt-artes-performativas-modos-de-percepcao-e-
praticas-de-si/. Acesso em: 18 set. 2024.
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interna através de exames realizados por meio de projeções de sombras, que é
essencialmente uma prática contemplativa. Após a sequência de exames e
dependendo dos resultados, os espectadores eram encaminhados à sessão de
tratamentos poéticos, em que o silêncio era mobilizado novamente para a
reabilitação da sensibilidade. Nessa sequência de reabilitação, inspirada no
trabalho de Lygia Clark (1920-1988), um dos
performers
propunha um trabalho de
escuta, toque e atenção, que conduzia os participantes a se conectarem com seu
espaço de silêncio e imensidão interior, para, em seguida, se conectarem com os
outros e o passado, escutando as narrativas de pessoas internadas a partir de
outro lugar de percepção interna. No espetáculo, como em nossa preparação, a
prática do silêncio se tornou fundamental para o autocuidado em meio a um
mundo acelerado e ruidoso.
A escuta empática como possibilidade de acolhimento do outro
Figura 1 - “Ensine-me a fazer arte- Performance de Tania Alice.
Cidade do Porto, Portugal, 2017. Foto: Espaço Mira.
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Teorizada desde os anos 1990 por críticos como Nicolas Bourriaud (2009) e
Claire Bishop (2012), a arte relacional, que cria em seus dispositivos performativos
novas formas de sociabilidades distintas de uma produção de objetos, vem
crescendo e se expandindo no Brasil ao longo dos últimos anos. Em sua
Estética
Relacional
, Nicolas Bourriaud (1998) entende a arte relacional como um conjunto
de práticas artísticas cujo ponto de partida é mais a esfera das relações
intersubjetivas do que a afirmação de um espaço material independente ou a
criação de objetos. Dessa forma, para a arte relacional, a intersubjetividade não
constitui apenas um quadro de recepção da obra, mas seu meio, seu campo e seu
fim. Em uma crítica ao amplo espectro de relações possíveis propostas pelas
práticas mencionadas pelo crítico francês, no capítulo “The Social Turn:
collaboration and its discontents” do livro
Artificial Hells,
Claire Bishop (2012)
retoma sua crítica à estética relacional formulada em seu artigo “Antagonism and
Relational Aesthetics” (2004), afirmando que a relação dentro de uma performance
relacional só pode ser produtora de mudanças sociais paradigmáticas, a partir do
momento em que o artista opera um questionamento sobre o tipo de participação
e de relação estabelecidas nas obras. Para a crítica, as relações são significativas
em termos de construção de espaços de solidariedade ou de utopia. Grande parte
das performances relacionais têm a questão da escuta como eixo principal,
sobretudo quando se trata daquilo que Grant Kester (2004) denomina
Conversation pieces
ou performances baseadas na troca verbal, realizadas na rua,
favorecendo trocas aleatórias entre transeuntes, como também em espaços de
arte. Dessa forma, na pesquisa, investigamos o tipo de vínculo – especificamente
em uma conversa que poderia produzir algum tipo de saúde nos participantes
envolvidos. O tema foi abordado no livro
Arte Relacional o que se faz, o que se
come
, organizado junto à artista-pesquisadora Fabiana Monsalu, em 2021, onde
performances de escuta de diversas regiões do Brasil foram amplamente
documentadas e analisadas por um conjunto de artistas-pesquisadores, por meio
de artigos produzidos por artistas-pesquisadores como Cassiano Quilicci, Denise
Pereira Rachel, Anna Costa e Silva, entre outros.
Para que as performances pudessem cumprir, de fato, a finalidade de troca
intersubjetiva produtora de saúde, percebeu-se que não deveriam recorrer a uma
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escuta superficial, mas à chamada “escuta qualificada” ou “empática”, que
também caracteriza o
setting
terapêutico e possui características, como: não
interromper, demonstrar que a sua atenção está inteiramente voltada para a
pessoa que fala, não se distrair da conversa, não julgar ou possuir uma curiosidade
gentil em relação ao que a outra pessoa diz. Em outras palavras, escutar significa
oferecer tempo e espaço para acolher o outro, seja a partir de questão específica
colocada pela performance, seja em um assunto geral. No Brasil, algumas artistas
do campo da performance baseiam suas ações nesses princípios, por exemplo, a
performance de Eleonora Fabião (2015), na qual a artista permanece sentada com
dois banquinhos e um cartaz escrito “Converso sobre qualquer assunto”, descrita
em suas diversas variantes no livro
Ações
. Mesmo que a
performer
reivindique
mais uma conversa do que uma escuta “Quem escuta muito é padre ou
psicólogo: não sou nem uma coisa nem outra, sou artista. Eu converso. É gratuito:
não custa nada e é desinteressado, não envolve lucro, cura ou salvação” (Fabião,
2015, p. 75) –, os episódios narrados testemunham a importância da presença
atenta e a curiosidade gentil em relação ao outro. Da mesma forma, na
performance
Ensine-me a fazer arte
, que realizo há quatro anos, convido pessoas
das mais diversas profissões, nacionalidades, idades e de diferentes continentes e
países, para falarem sobre o que acham que um artista pode ou deve fazer. Nesse
caso, além das opiniões e ideias sobre o assunto, fico atenta aos detalhes e às
ações concretas, uma vez que, no decorrer dos anos, a performance transformou-
se em um espetáculo teatral, em que, junto com Gilson Motta, executo em cena
uma seleção de respostas dessas pessoas, desenhando um grande panorama
sobre o que o artista pode ou deve fazer14. Em ambos os casos, a escuta é o eixo
estruturante da performance, a partir do qual a relação é estabelecida e
trabalhada, de forma a potencializar os afetos promovidos pelo encontro.
Conforme Mariléia de Almeida (2023), no artigo “Teoria é cura: voz e
autorrecuperação em bell hooks”, do livro dedicado a Ana Mendieta, poder oferecer
espaço para o outro se expressar é uma importante ferramenta para uma poética
14 Em 2022, o espetáculo realizou uma temporada no SESC Copacabana, integrou a programação do 30.
Festival de Curitiba e foi espetáculo de abertura do 16. Festival Palco Giratório de Porto Alegre (RS). Em 2024,
foi apresentado na Casa Hoffmann de Curitiba e foi contemplado pelo Edital Funarte Rede das Artes, para
ser apresentado em Fortaleza e Natal em dezembro de 2024.
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13
do cuidado:
Erguer a voz envolve e coragem e responsabilidade, porque implica um risco
com o dizer. Essa fala verdadeira não é apenas uma expressão da criatividade
individual, mas também é um ato de resistência, um gesto político que desafia
políticas de dominação que nos conservam anônimos e mudos. Eis o desafio
proposto por bell hooks: “Fazer a transição do silêncio para a fala é, para o
oprimido, o colonizado, o explorado e para aqueles que se levantam e lutam lado
a lado, um gesto de desafio que cura, que possibilita uma vida nova e um novo
crescimento. Esse ato de fala, de erguer a voz não é um mero gesto de palavras
vazias: é uma experiência da nossa transição de objeto para sujeito a voz liberta”
(bell hooks
apud
Almeida, 2023, p.126).
Figura 2 - Ações cariocas #1: “Converso sobre qualquer assunto”
Performance de Eleonora Fabião. Rio de Janeiro. Foto: Felipe Ribeiro.
Em outras palavras, propor uma escuta qualificada nas ruas é permitir que o
outro elabore o seu processo pessoal, tornando-se sujeito da experiência de viver
e de construir a própria vida.
O movimento livre como prática reguladora
Em
Sobre aquilo que um dia chamamos de corpo
(2019), o artista-
pesquisador Danilo Patzdorf reflete sobre como a mutação das tecnologias
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Tania Alice
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comunicativas acarretaram uma mudança na nossa experiencia sensorial do
mundo, conduzindo a uma virtualização do corpo e a uma modificação do conceito
daquilo que chamamos “presença”. Embora a conectividade contemporânea seja
caracterizada pela mobilidade e fluidez e não contribua, necessariamente, para
uma experiência mais sedentária do que aquela que é promovida de forma
compulsória pela burocratização crescente da vida, observa-se uma padronização
de nossos movimentos, posturas e foco atencional quando estamos conectados.
Por esse motivo, o terceiro eixo interessante a ser explorado é o do movimento
livre, que promove a regulação e o relaxamento das tensões dos participantes pela
prática do movimento espontâneo. A possibilidade de o artista oferecer espaços
em que pode acontecer o movimento livre, que não é ditado por alguma regra ou
padrão e deixa o corpo se expressar, é uma tentativa de restaurar a sensibilidade
e a percepção de nossos corpos condicionados, a fim de restaurar nossa
sensibilidade, atribuindo ao artista a função do que Danilo Patzdorf (2021) define
como “artista educa-dor”. Em seu artigo “Artista educa-dor: a somatopolítica
neoliberal e a crise da sensibilidade contemporânea”, Patzdorf (2021) define este
artista como alguém que oferece experiências corporais transformadoras,
trazendo saúde aos corpos adoecidos por uma lógica produtora de sofrimento, em
um sistema que busca uma constante e crescente produtividade. Ao criar espaços
seguros para a expressão da sabedoria do corpo, o artista, com suas proposições,
pode promover bem-estar e segurança, liberando tensões mentais e corporais. A
ausência de estímulo dos comportamentos corporais padronizados,
frequentemente reproduzidos em vídeos de
Instagram
ou
TikTok
, ajuda o corpo a
encontrar o próprio equilíbrio e a se desfazer das tensões acumuladas.
Dessa forma, em 2018, realizei um projeto de arte socialmente engajada com
o intuito de permitir espaços de movimentação livre para participantes voluntários.
The Dance Project
, realizada em 2018 em uma periferia violenta da cidade de
Marseille, explorava esses espaços de liberdade corporais a partir de um desafio
coletivo materializado por uma instalação de fotografias na entrada do prédio onde
a performance ocorria. O desafio era fazer com que todos os moradores
dançassem suas músicas favoritas durante um encontro comigo. Durante dois
meses, oferecia-se aos habitantes de um edifício a possibilidade de dançarem, em
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seus apartamentos e comigo, suas músicas preferidas. No final da performance,
no
hall
do prédio, realizávamos uma festa em que todos os moradores podiam
dançar juntos as músicas preferidas de seus vizinhos. O conjunto dos encontros
vividos ao longo desse processo foi analisado no artigo-diário “Dramaturgias da
solidariedade” (2020), no qual evidencio a terapêutica do movimento livre, que
segue a linha de práticas como os
5Rhythms
ou o
Soul Motion
, permitindo ao
corpo uma autorregularão pelo movimento, nessa situação performativa
específica. A experiência mostra a importância de espaços em que o corpo pode
se regular por meio de uma prática compartilhada, gerando senso de comunidade
e conexão, além de outras fontes de saúde física e mental.
Figura 3 - Família em seu apartamento, logo após a dança
Performance de Tania Alice, Marseille, França, 2018
.
Foto: Tania Alice.
No espetáculo
Psicotropicais protocolos de reflorestamento afetivo
, um dos
tratamentos propostos ao público internado, após triagem e exames, era a
restauração da alegria, que propunha dançar e cantar livremente sambas de Dona
Ivone Lara com a performer Aline Vargas, com o objetivo de reconstruir uma
conexão com o corpo. Em ambos, o movimento compartilhado pretendia ser um
antidoto à captura da vitalidade e ao desencantamento vivido - no primeiro caso,
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por refugiados em situação de extrema precariedade e, no segundo, por um
público esgotado pela correria de nossa sociedade cansada -, promovendo
liberdade, autoexpressão e senso de comunidade. Assim, uma semana após a
apresentação no Instituto de Psiquiatria da UFRJ - IPUB, quando realizamos um
bate-papo com os frequentadores do Hospital Dia, recebemos o seguinte retorno
de uma usuária:
Cheguei muito angustiada com um sonho que tive em que jogavam meu
corpo em uma vala com outros corpos, a gente subia de elevador para um lugar
desconhecido onde meu tio foi morto. Era tudo muito violento. Mas na hora da
dança, de cantar, esqueci do sonho e fiquei lá, dançando sem me preocupar
15.
O movimento atuou como regulador de um estado de desequilibro.
O contato físico como propositor de experiências sensíveis e
de segurança
Outro aspecto importante da prática do cuidado é o contato físico. Este pode
ser pontual, estimulando ou relaxando uma localização específica, ou estendido,
reforçando os contornos do corpo todo e proporcionando segurança. Ambos os
toques podem ser diretos ou mediados, conforme observamos no trabalho de
Lygia Clark, que, desde os anos 1970, por meio de objetos relacionais, conseguiu
borrar os limites entre arte e terapia e, de forma mais ampla, entre arte e vida. Em
Estruturação do Self
, Lygia percorre os contornos do corpo por meio de
experiências corporais, individuais e coletivas, que exploram a sensorialidade, por
vezes mediada por objetos relacionais criados pela artista. Possibilitando uma
percepção sensível do corpo, as experiências de Lygia Clark propiciam aos
participantes uma sensação de conforto e segurança, em um contexto de entrega
e confiança.
Mobilizar esse sentimento de segurança foi um dos impulsos que me levou a
desenvolver a performance
The Hug Project,
em 2015. Esta foi imaginada depois
dos terremotos ocorridos no Nepal em 2015 e consistia em coletar 150 abraços,
de transeuntes e voluntários, em espaços públicos no Brasil, durante cinco, dez
15 Bate-papo realizado no IPUB, na presença da diretora Raquel Fernandes, em presença do público do
espetáculo, no dia 15 jul. 2024.
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ou quinze minutos, e em seguida entregá-los pessoalmente às vítimas dos
terremotos no Nepal. A performance foi pautada pelos princípios da terapia do
trauma ou
Somatic Experiencing
, que reelabora traumas corporalmente, ao
eliminar resíduos de tensão corporal, que geram o estresse pós-traumático, por
meio da percepção e, consequentemente, da eliminação dessas tensões, através
de um trabalho conjunto realizado pelo terapeuta e o paciente. Nesse sentido,
oferecer um abraço demorado a uma pessoa, que passou por um estado de
imobilidade com medo, proporciona um espaço de segurança a partir de um
estado de imobilidade sem medo, no qual o corpo pode, literalmente,
“descongelar”. Por esse motivo, durante a entrega dos abraços, as pessoas
tremiam e choravam, ao mesmo tempo em que experimentavam um sentimento
profundo de reconexão consigo, com o outro e também com o próprio chão
porque além do contorno, o abraço explora o
grounding
(aterramento). Ao
perceber o próprio aterramento, o performer pode levar essa consciência ao
abraçado, que então pode se reconectar ao chão, com o qual, somaticamente,
havia perdido confiança durante o terremoto.
No espetáculo
Crescer pra passarinho
(2021), acima apresentado
,
oferecíamos
on-line
um momento de auto abraço em tempos de pandemia, que
invariavelmente desencadeava crises de choro nos participantes, numa época de
isolamento forçado. Em
Psicotropicais
(2023), o público, que durante o espetáculo
vivia a experiência de uma internação, passava por diversas etapas, sendo a última
marcada por um tratamento inspirado no trabalho de Lygia Clark. Durante o
espetáculo e depois de uma anamnese aprofundada, a equipe de performers-
médicos realizava uma triagem a fim de medir a temperatura afetiva e o batimento
poético do coração; a equipe médica também buscava localizar flores em diversas
partes do corpo dos participantes, compartilhando com o público colagens
artísticas que mostravam chapas de raio X em que apareciam pequenas flores em
diversos órgãos do corpo. Em seguida, eram realizados exames que mediam o
nível de visão utópica ou ainda o grau de memórias afetivas despertadas ao ouvir
música. Depois, o público passava por diversos tratamentos poéticos como a
restauração da esfera sensível, a reabilitação da alegria e a reconexão com o grau
de ludicidade interna. Todos os exames e tratamentos eram inspirados em
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pessoas internadas ou em cuidadores de instituições como o Instituto Municipal
Nise da Silveira, o hospital Colônia de Barbacena ou a Colônia Juliano Moreira (o
atual Museu do Bispo do Rosário) ou em outros espaços de cuidados, como Dona
Ivone Lara, Nise da Silveira, Lygia Clark, Artur Amora, Ernesto Nazareth, entre
outros.
A sala Lygia Clark, destinada à reabilitação sensorial, era conduzida pelo
performer Caio Picarelli. A performance/tratamento levava os espectadores a
adentrarem um espaço onde a sensibilidade era reabilitada por meio de cuidados
mútuos, que envolviam toque, com uso de objetos sensoriais, em um ambiente
com difusores de aromas e luzes reduzidas, segundo os princípios da
cromoterapia. Dissolvendo as fronteiras entre descompensação e regulação, entre
trauma e fluxo, a experiência era proposta para que, depois dos tratamentos, o
público se sentisse fortalecido e restaurado e, assim, com capacidade de sustentar
uma presença compassiva diante de relatos reais de internação, que aconteciam
na última cena do espetáculo.
Figura 4 - Cartaz da performance “The Hug Project”
Fonte: Festival Atos de Fala, Limeira, 2014.
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Figura 5 e 6 - Um receptor do abraço no Nepal e um emissário brasileiro
Fonte: Performance de Tania Alice, Nepal/Rio de Janeiro, 2015. Foto: Tania Alice.
A produção de alegria como projeto político
Figura 7 - “Coleta de Gargalhadas” - Performance realizada em parceria com
Les Têtes de l’Art
,
Marseille, 2018. Foto: Aziz Boumediene
A alegria é um projeto político e um ato de resistência em uma sociedade
dominada pelos afetos tristes promovidos pelas estruturas de poder. Produzir
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alegria é produzir resistência e saúde em um sistema dominado pela ideia de
adoecimento mental e da farmacopeia como solução. A alegria pode ser gerada
de forma somática e estética sem que a origem de sua existência tenha um motivo
específico. A técnica da Yoga do Riso, criada pelo Dr. Madan Kataria, tem por
princípio provocar o riso incondicional a partir de exercícios de
pranayama
16 e
asanas
17. Criada nos anos 1990, na Índia, a técnica se espalhou rapidamente pelos
Estados-Unidos, Europa e América Latina, por meio de multiplicadores que
ensinam exercícios para rir sem depender de sentimentos internos ou motivos
externos, como piadas, por exemplo. Em outras palavras: com a Yoga do Riso,
podemos rir sem estarmos felizes e produzir alegria sem estarmos alegres e,
mesmo assim, nos beneficiarmos da geração de alegria em termos de saúde.
Em 2019 realizei a performance
Coleta de Gargalhas
em um edifício
residencial de migrantes, na mesma periferia de Marseille, na França, em que havia
realizado o projeto de danças em domicílio. Muitos moradores com quem
conversei, quando fui de casa em casa arquivando gargalhadas, me disseram não
terem motivo para rir, porque estavam passando por situações difíceis. Eu sugeria
que, se não houvesse um motivo para rir, uma possibilidade seria rir sem motivos,
que eu desejava muito arquivar as gargalhadas de todos os vizinhos. Graças a
um jogo de Yoga do Riso, que criei para a performance, passamos a fabricar,
sentados nas mesas das diferentes cozinhas, gargalhadas de todos os tipos, que
de tão forçadas se tornavam naturais. As gargalhadas foram gravadas e remixadas,
para que, no final do projeto, todos os moradores pudessem baixar o arquivo
sonoro com as gargalhadas da vizinhança. Nesse projeto, percebemos que a alegria
pode ser gerada fisiologicamente e que rir, mais do que um ato decorrente de
circunstâncias favoráveis, é um treino. Os músculos do riso, que são os mesmos
do choro, precisam ser exercitados e, assim, produzimos corporalmente uma
alegria que originalmente não existia.
Além da produção somática de alegria, ela também pode ser produzida
esteticamente. No espetáculo
Psicotropicais,
a produção de alegria se deu de
16 Exercícios de respiração controlada e consciente.
17 Designa uma série de posturas, que possuem a finalidade de oferecer equilíbrio, sico, mental e espiritual
para os praticantes.
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forma estética, por meio da mobilização de elementos da “estética da alegria”, de
Ingrid Fetell Lee (2021), utilizada como linha norteadora da cenografia concebida
por Gilson Motta. A alegria era gerada por meio de uma inesperada batalha de
bolinhas coloridas despejadas por um performer-zelador mal humorado, ao som
de
Don’t stop me now
, da banda inglesa Queen,
que acontecia entre os
performers-médicos e o público, na sala de espera. Desse modo, imediatamente
os ânimos de todos mudavam, gerando um sentimento de alegria compartilhada,
reforçado pela estética do cenário, que destacava os princípios de energia,
abundância, liberdade, harmonia, diversão, surpresa, transcendência, magia,
celebração e renovação, característicos da estética da alegria. Lembrando que
essa alegria pode ser produzida e que essa produção, seja somática ou estética,
na sociedade em que vivemos, é revolucionária.
Figura 8 - Cartas do Jogo de Yoga do Riso, versão em português
Criação de Tania Alice para a performance “Coleta de Gargalhadas” realizada em parceria com
Les Têtes de l’Art, Marseille, 2019. Foto: Tania Alice.
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A abertura às relações interespécies
A pandemia foi fundamental ao provocar o entendimento da importância do
vínculo indefectível do humano com outras espécies - talvez por nunca terem
ficado tão evidentes as consequências diretas de nosso descuido ecológico e de
seu impacto no planeta e, consequentemente, na saúde coletiva. Em parceria com
a médica veterinária e artista Manuella Mellão, nesse período, elaboramos a oficina
virtual “Petformances poéticas do cuidado para, com e por animais”, a qual foi
realizada na MIT-SP, de 2020, em aulas da Graduação da UNIRIO e no programa
“SESC em casa”.
Figura 9 - Cartaz do projeto “Petformances” - Tania Alice e Manu Mellão, 2021
A oficina propunha práticas artísticas diversas (performances, colagens,
escrita criativa, fotografia, pintura com patas), que aconteciam de forma remota
com os animais e seus tutores, com o intuito de favorecer um melhor
entendimento e aprofundamento de suas relações e de que elas perdurassem
qualitativamente após a oficina. Por meio de diferentes atividades lúdicas,
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propúnhamos a criação de obras artísticas compartilhadas. A utopia, que
contextualizava as práticas de encontro sensível, pretendia criar condições para
que os participantes vissem a importância de cuidar de si, do outro e do meio
ambiente, sobretudo em momentos difíceis como aquele que atravessávamos, a
fim de imaginarmos coletivamente um devir sustentável. A proposta era deixar o
animal ser um animal, sem humanizá-lo, relacionando-se com ele em sua
alteridade, para que o encontro interespécies e seus desdobramentos artísticos
amenizassem o incêndio do mundo. As oficinas geraram retornos muito
comoventes tanto dos participantes humanos como dos peludos. Ficou evidente
que, além de desenvolverem a prática da linguagem performativa, os participantes
aprofundaram qualitativamente a relação com “seus” animais, abrindo-se à
alteridade numa criação compartilhada. Em
Autobiografia de um polvo
, Vinciane
Despret (2021) nomeia esse processo de
therolinguística
, isto é, “uma parte da
linguística que se dedica a estudar e traduzir produções escritas por animais (e
futuramente plantas), sejam elas romances, poesia, epopeia, panfletos ou
arquivos” (Despret, 2021, p. 11)18. Em outras palavras: perceber o amor interespécies
como uma fonte inesgotável de criatividade. A reconexão interespécies é uma
urgência e projetos artísticos podem favorecê-la.
Conforme disse anteriormente, no espetáculo
Psicotropicais
, o público vivia
a experiência de uma internação numa clínica durante o tempo do espetáculo.
Porém, o dono dessa clínica era o meu cachorro, um Golden Retriever chamado
Buda, que acompanhou atentamente todos os ensaios. As fotos de Buda estavam
espalhadas pelo espaço de internação, como se ele fosse o fundador da clínica
que promovia uma nova linha de tratamentos lúdicos com arte. Na ocasião em
que o espetáculo foi apresentado, as altas temperaturas registradas no período,
aliadas ao fato de o espaço da antiga clínica de internação não possuir
equipamentos de refrigeração ou ventiladores, tornaram impossível a presença
física de Buda durante as apresentações do espetáculo, mas sua imagem estava
omnipresente nas diversas salas em que o espetáculo ocorria e até durante os
18 La thérolinguistique désigne la branche de la linguistique qui s’est attaché à étudier et à traduire les
Productions écrites par des animaux (et ultérieurement par des plantes), que ce soit sou sla forma littéraire
du roman, celle de la poésie, de l’épopée, du pamphlet, ou encore de d’archive. (Despret, 2021, p. 11)
(Tradução nossa).
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exames. Em relação às plantas, o tratamento de restauração da alegria realizado
com o público previa que cada participante plantasse uma semente em uma
caixinha de remédios psiquiátricos e que a levasse para a casa. Durante o bate-
papo, recebemos um retorno muito comovente de um dos participantes, que disse
estar cuidando da plantinha e que não se sentia mais sozinho por tê-la ao seu
lado. Em ambos os casos, as relações criativas interespécies nos fortalecem e
trazem saúde aos envolvidos.
Figura 10 - Caixa “peephole” - Caixa “peephole” espelhada criada por Gilson Motta para o
espetáculo “Psicotropicais”, 2023. Foto: Igor Keller.
A realização dos sonhos de nossas vidas
Figura 11 - “Fábrica dos Sonhos”
Página do
E-book
“Fábrica dos Sonhos” (em construção)
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O último eixo identificado como promotor de cuidados e de saúde física e
mental é o cuidado com os sonhos que cultivamos. A sociedade em que vivemos,
infelizmente, é promotora de afetos tristes gerados pela lógica neoliberal, que visa
o lucro ao invés das aspirações profundas dos seres humanos. Por esse motivo,
tendo em vista a grande quantidade de alunas/os que, no período pós-pandemia,
apresentavam quadros de depressão e ansiedade e estavam medicados com
remédios ‘tarja preta’, idealizei o projeto de arte socialmente engajada
A Fábrica
de Sonhos
, realizado junto a uma equipe de sonhadores/as, composta de bolsistas
de Graduação, Mestrado e Doutorado, participantes voluntários e Buda, meu cão.
O projeto foi desenvolvido durante o curso “Treinamento para o performer”, na
Graduação de Artes Cênicas da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
UNIRIO, por meio de encontros semanais mobilizados pela seguinte pergunta:
“Qual é o maior sonho da sua vida, que você
! nunca realizou?” A partir da produção
de uma lista de sonhos, o conjunto de participantes concebeu e realizou
semanalmente uma ou duas performances desses imaginários, manifestando o
‘sonho da vida’ de cada pessoa do curso, numa prática artística inscrita como
“poética do cuidado”, produtora de saúde, vida e alegria. Até o presente momento,
realizamos 61 sonhos, com registros em fotos e coleta de depoimentos para a
construção de um
e-book
. No momento de finalização da escrita deste artigo, meu
sonho é que a
Fábrica
possa se expandir para outras instituições e investir em
outros territórios. Se, como afirma a protagonista de
O Fabuloso Destino de Amélie
Poulain
, “São tempos difíceis para sonhadores”, então, mais do que nunca, vale
sonhar. No espetáculo
Psicotropicais
o nível de utopia das pessoas foi medido por
meio de performances relacionais, levando a uma atenção maior de cada pessoa
com o sonho de vida a ser realizado.
Poéticas do Cuidado: sete eixos para cuidar com arte
Tania Alice
Florianópolis, v.4, n.53, p.1-28, dez. 2024
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Figura 12 - “Fábrica dos Sonhos” - Página do
E-book
“Fábrica de Sonhos” (no prelo).
Considerações finais
Durante o projeto, que segue em andamento, o grupo realizou uma pesquisa
sensível, empírica e cartográfica, que desenha seus objetivos durante o seu
caminhar, conforme os princípios da cartografia explicitados por Eduardo Passos,
Virginia Kastrup e Liliana da Escóssia, no livro
Pistas do método da cartografia
(2009). Os sete eixos acima mencionados e exemplificados são uma pequena
amostra de pontos de partida, que podem ser utilizados quando a proposta for
‘cuidar com arte’. Nota-se que cada um dos eixos, se explorado por meio de
práticas artísticas, pode se transformar em performance e/ou espetáculo, gerando
saúde para os performers e espectadores. No processo de arte/vida, cada um
deles pode se tornar alvo de investigação específica do performer, que deseja
investigar as poéticas do cuidado, além de poder ser um eixo norteador para a
criação ou ser combinado com um ou mais eixos propostos, ou com outros eixos
que possam surgir, completando os acima listados. Acredito na indissociabilidade
da pesquisa em arte e do desejo de multiplicação das diversas práticas
investigadas, na perspectiva de produção da saúde coletiva física ou mental. Diante
da digitalização crescente que padroniza corpos e mentes, o silêncio meditativo, a
escuta atenta, o espaço para mover-se livremente, o toque cuidadoso, a tentativa
de produção de alegria, a atenção às relações interespécies e, por fim, o cultivo
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dos nossos sonhos podem ser simples pontos de partida, para relembrarmos
aquilo que somos além das funções que assumimos no mundo e das
representações criadas nas redes sociais somos pequenas utopias em
movimento. Antes de tudo, este artigo é um convite para essa caminhada.
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Tania Alice
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Aprovado em: 29/09/2024
Universidade do Estado de Santa Catarina
UDESC
Programa de Pós-Graduação em Teatro
PPGT
Centro de Arte CEART
Urdimento
Revista de Estudos em Artes Cênicas
Urdimento.ceart@udesc.br