Fuck Catharsis e a perspectiva da confusão
Entrevista com Carolina Bianchi concedida à Luísa Dalgalarrondo
Florianópolis, v.1, n.50, p.1-19, abr. 2024
que percorrer. A questão de como esse coletivo se insere dentro dessa memória,
dentro desse primeiro capítulo, nesse caso, dentro dessas experiências de
confabulação, de invenção, de dar imagem para isso que está dentro da minha
cabeça, dentro desse sonho, qual é o cuidado, como é que é a relação dessas
pessoas comigo. Não poderia ser diferente, não poderiam ser outras pessoas a
fazer isso, sobretudo nesse primeiro capítulo. Não poderia ser feito um
casting
,
porque há uma relação que está nominada como uma relação de amizade, uma
relação de conhecimento desse coletivo comigo, com o meu corpo, com certas
estratégias e necessidades que precisavam acontecer. Então sinto que sobretudo
há uma responsabilidade do coletivo de como seguir nessa peça uma vez que a
pessoa que começa essa peça, que sou eu, vai perdendo a consciência. Como você
dá corpo para esse mundo interior? É claro que essa pesquisa foi compartilhada
com esse coletivo. É diferente do que dizer para essas pessoas "a gente vai fazer
isso aqui e ir para cá, para cá e para lá", sem contexto nenhum. Houve seminários,
toda essa parte teórica do trabalho foi muito compartilhada, e houve trabalhos de
imersão nas residências [foram feitas, entre 2021 e 2023, 5 residências de duração
média de 4 semanas]. Foi se ampliando essa conversa nesses últimos anos, esse
foi o trabalho. O grande trabalho dos performers dentro do
Cadela Força
foi
entender essas perguntas sobre performar, essa é a grande coisa, o que significa
estar em cena nesse contexto, menos do que um trabalho de criação de cena que
acho que estava mais presente no
O Tremor Magnífico
, por exemplo. Acredito que
aqui era um outro trabalho, um trabalho de escuta, de como se performa, o que
se performa, como atravessar esse espaço e fazer o que precisa ser feito, que é
um trabalho de muita responsabilidade nesse caso, de muita escuta, muita
precisão, muita coisa. Houve também um trabalho muito importante de
construção da equipe técnica, que é um diálogo também muito ativo agora no
Cadela
, uma experiência muito constante de pensar nessas adaptações, de pensar
constantemente, tem uma textura constante de movimento, de ação técnica, que
é muito forte nesse trabalho também, de uma maneira também inédita, como não
tinha trabalhado antes.
Ao mesmo tempo que há esse ineditismo e singularidade em cada obra,
acompanhando o trabalho desde
LOBO (2018)
,
O Tremor Magnífico (2020)
e ainda incluindo aqui outras peças anteriores como
Quiero hacer el amor