O grupo Ponto de Partida: teatro e música unem comunidades em
fábrica de seda restaurada em Barbacena
Evelyn Furquim Werneck Lima | Cláudio Guilarduci
Florianópolis, v.1, n.50, p.1-19, abr. 2024
Sobre o patrimônio industrial da antiga Sericícola
O encerramento das atividades fabris da Estação Sericícola, em 1973, ocorreu
devido à concorrência do mercado nacional, principal consumidor da seda
produzida na Estação, com a seda sintética vinda da China. Desde então, o
conjunto industrial teve outras ocupações efêmeras até ser tombado em 2004
pelo município de Barbacena e foi, aos poucos, sendo ocupado pelo Ponto de
Partida.
Em 1998, o Grupo assumiu o primeiro casarão como sede de suas criações
teatrais e, aos poucos, foi ficando responsável pela preservação daquele
patrimônio. Graças à aliança, à determinação, ao compromisso e ao trabalho do
grupo de artistas da comunidade, das empresas que patrocinam o grupo e ao
poder público, o projeto de restauração foi muito bem conduzido. Conforme
entrevistas realizadas com os três arquitetos-cenógrafos Tereza Bruzzi, Alexandre
Rosset e Luciana Damasceno, as intervenções duraram dezessete anos. Tereza
Bruzzi enfatiza como foi a decisão de realizar as obras de reabilitação da antiga
Sericícola.
Em 1998, quando montávamos o espetáculo A
Roca - História de
Mulheres
, o terceiro edifício, de um conjunto de quatro, foi emprestado
ao grupo Ponto de Partida para montarmos a cenografia e ensaiar. A partir
daí o grupo não saiu mais de lá, virando a sede artística. Foi o início da
saga de cuidar daquele patrimônio. Na época, havia uma invasão no
segundo edifício (que hoje é a Bituca - Universidade de Música Popular);
o primeiro era a Secretaria de Agricultura (do Ministério da Agricultura,
que é a dona do conjunto) e no último prédio funcionava o DETRAN da
cidade. Depois, quando o Ponto de Partida conseguiu a cessão de uso do
edifício invadido, começamos a executar a restauração do imóvel. Em
2015, terminamos a restauração do último prédio que se tornou a Casa
Palavra, que é a sede administrativa do grupo no andar térreo, um
restaurante e uma biblioteca, no andar superior, abertos ao público
(Bruzzi, 2022).
A partir daquela época, o grupo assumiu o conjunto de pavilhões como um
equipamento cultural que inclui a Sede Artística (Figura 3), a escola Bituca9 (Figura
9 O nome da
Bituca – Universidade de Música Popular
é uma homenagem a Milton Nascimento – o
Bituca
–
padrinho do projeto. Os alunos trabalham com o processo de formação integral, com opção de aprender
entre 11 instrumentos, além de canto, engenharia de som & produção, afinação & restauração de piano.