Editorial: Nelson Rodrigues no chão do palco
Lídia Kosovski | Henrique Buarque de Gusmão | Henrique Brener Vertchenko
Florianópolis, v.4, n.49, p.1-7, dez. 2023
Comecemos este editorial pelo óbvio ululante: Nelson Rodrigues é presença
obrigatória em qualquer história do teatro brasileiro. Se, por um lado, hoje já não
é mais possível afirmar que
Vestido de Noiva
foi a única peça responsável pela
criação de um teatro moderno no Brasil, por outro, é inegável o impacto que este
segundo texto teatral de Nelson teve entre artista e intelectuais, afirmando-o
como um dramaturgo incontornável do cenário nacional. A partir dessa primeira
consagração, desenvolve-se um estilo dramatúrgico reconhecível logo na primeira
linha de qualquer peça sua. Articulando a linguagem da rua, o modo jornalístico de
tratar o mundo e uma complexa visão trágica da realidade, Nelson Rodrigues cria
um modo próprio de escrever para teatro que se afirmará no cenário cultural
brasileiro até os dias de hoje, impulsionando trabalhos não apenas na cena, mas
no cinema, na literatura, na reflexão crítica e historiográfica.
Partindo de um enfoque específico, os estudos aqui reunidos concentram-se
na prática do universo rodriguiano no chão dos palcos. Desde 1941, quando sua
primeira peça é montada no Rio de Janeiro, até hoje, a história das encenações da
obra de Nelson Rodrigues se confunde com a própria história do teatro brasileiro
no século XX – agora entendida como história do espetáculo, numa concepção
mais recente e provocadora. De fato, inúmeros são os intérpretes que sobem ao
palco para montar um Nelson, de Cacilda Becker a Dercy Gonçalves, de Abdias do
Nascimento a José Wilker. Diretores como Ziembinski, Zé Renato, Bibi Ferreira,
Martim Gonçalves, Marcos Flaksman, Antunes Filho, José Celso Martinez Corrêa,
Aderbal Freire Filho, Antonio Abujamra, Luiz Arthur Nunes e Cibele Forjaz
experimentaram as tantas formas que os textos do dramaturgo permitem.
Inúmeros foram também os cenógrafos, iluminadores e figurinistas que
encontraram desafio nas encenações de Nelson Rodrigues, feitas nas mais
diferentes linguagens e perspectivas estéticas. No mesmo sentido, sua
dramaturgia foi e é continuamente explorada por grupos de menor projeção,
conjuntos amadores, escolas de teatro e cursos universitários.